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Raimundo Correia

Raimundo Correia (1859-1911) foi um dos principais poetas do parnasianismo no Brasil. Seu soneto “As pombas” (1883) é um dos mais conhecidos poemas em língua portuguesa.
Desenho de Raimundo Correia, um dos principais nomes do parnasianismo brasileiro.
Raimundo Correia é um dos principais nomes do parnasianismo brasileiro.

Raimundo Correia foi um grande escritor e, principalmente, poeta brasileiro do fim do século XIX. Também teve extensa carreira política e diplomática. Ele foi uma figura central no parnasianismo, uma vertente da escola realista que pregava o rigor formal e a “arte pela arte”. Seu soneto “As Pombas” (1883) é um dos mais conhecidos poemas em língua portuguesa. 

Leia também: Casimiro de Abreu — um dos poetas mais importantes do romantismo brasileiro

Resumo sobre Raimundo Correia

  • Raimundo Correia nasceu em 13 de maio de 1859.

  • Tinha família abastada.

  • Estudou na Faculdade de Direito de São Paulo.

  • Lançou a Revista de Ciências e Letras junto de Augusto de Lima (1859-1954).

  • Estreou na literatura em 1879 com o livro de poemas Primeiros Sonhos.

  • É conhecido como “Poeta das pombas” por seu poema “As pombas”, um dos sonetos mais conhecidos do Brasil e da língua portuguesa.

  • Contraiu tuberculose e faleceu em 13 de setembro de 1911.

  • É o fundador da cadeira número 5 da Academia Brasileira de Letras.

  • É um símbolo do parnasianismo no Brasil.

  • Uma das principais características de suas obras é o rigor formal.

Biografia de Raimundo Correia

Raimundo da Mota de Azevedo Correia nasceu em 13 de maio de 1859 a bordo do navio São Luís, que estava ancorado na Baía de Mogúncia (MA). Era filho de José Mota de Azevedo Correia, um desembargador e descendente dos duques de Caminha, e de Maria Clara Vieira da Silva.

Seu pai era bacharel em Direito e tinha diversas transferências, o que fez com que Raimundo vivesse em algumas cidades diferentes na infância, como Sergipe, Santa Catarina e Rio de Janeiro, até se instalar na última, em 1872. Concluiu seus estudos preparatórios no Colégio Nacional (atual Colégio D. Pedro II) em 1876.

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Após a formatura, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo (Largo São Francisco). Lá, lançou a Revista de Ciências e Letras junto de Augusto de Lima (1859-1954), que também seria um poeta conhecido. Em 1879, estreou com seu primeiro livro de poemas, Primeiros Sonhos. Na faculdade, conheceu um grupo seleto de intelectuais que viria a ser importante nas áreas das Letras, Jornalismo e política (como Raul Pompeia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim). Durante sua graduação, colaborou em diversos jornais paulistas e cariocas até se formar, em 1882. Após sua formatura, seguiu a carreira na magistratura.

No ano seguinte, publicou a obra Sinfonias (1883), o livro que contém um dos sonetos mais conhecidos do Brasil e da língua portuguesa, “As pombas”. O poema lhe rendeu o apelido de “Poeta das pombas” (do qual não gostava). Raimundo foi para o Rio de Janeiro e foi nomeado promotor de Justiça de São João da Barra. No final de 1884, trabalhava como juiz municipal e de órfãos e ausentes de Vassouras (RJ). Casou-se no fim desse ano com Mariana Sodré, que também tinha uma família abastada e conhecida.

Publicou poesia e prosa no jornal O Vassourense, do também escritor Lucindo Filho (1847-1896). Em 1889, foi nomeado secretário da província do Rio de Janeiro (seria exonerado no ano seguinte). Com a Proclamação da República, foi preso, mas liberado rapidamente pelo seu apoio ao regime republicano. Tornou-se juiz de Direito em São Gonçalo de Sapucaí (MG).

Em 1892, Correia foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto e também foi professor na Faculdade de Direito da cidade. Em 1897, cinco anos depois, tornou-se segundo secretário da Legação do Brasil em Portugal. Nesse momento, editou a obra Poesias, que seria publicada em quatro volumes ao longo dos próximos 18 anos.

Voltou a ser juiz de Direito e, em 1889, foi diretor e professor de um colégio em Niterói. De 1900 a 1911, foi juiz de vara cível no Rio de Janeiro. Contudo, adquiriu tuberculose e buscou tratamento em Paris, mas morreu na capital francesa em 13 de setembro de 1911.

→ Raimundo Correia na Academia Brasileira de Letras

Raimundo Correia é o fundador da cadeira número 5 da Academia Brasileira de Letras. O patrono da cadeira é Bernardo Guimarães (1825-1884), um autor romântico. Posteriormente, essa cadeira também pertenceu a outros intelectuais importantes, como Osvaldo Cruz e Rachel de Queiroz.

Características literárias de Raimundo Correia

Apesar de seu primeiro livro, Primeiros Sonhos (1879), ainda fazer parte do movimento do romantismo, o autor é consagradíssimo no parnasianismo brasileiro.

O parnasianismo foi uma das vertentes realistas da segunda metade do século XIX cuja principal característica era o foco na forma e na construção dos textos. Assim, os autores aplicavam um rigor na métrica, ritmo, tipos de rimas e diversos outros aspectos, pois tratavam a escrita como um modo de lapidar e perfeccionar.

Dessa forma, tinham temas mais objetivos (menos ligados ao sujeito) e não tinham tanto engajamento social. Seu maior lema era a “arte pela arte”, ou seja, produzir da melhor forma possível, não pelo conteúdo ou pelas demandas do mercado. Junto de Olavo Bilac (1865-1918) e Alberto de Oliveira (1857-1937), formou a Trindade Parnasiana.

Veja também: Francisca Júlia — outro importante nome do parnasianismo brasileiro

Obras de Raimundo Correia

  •  Primeiros Sonhos (1879)

  • Sinfonias (1883)

  • Versos e versões (1887)

  • Aleluias (1891)

  • Poesias (1898, 1906, 1910, 1916)

Poemas de Raimundo Correia

A poesia era a forma marcada do parnasianismo e, assim, as características da escrita de Raimundo Correia ficam claras em seus poemas. No poema “Chuva e Sol”, do livro Versos e versões (1887), algumas podem ser vistas:

Agrada à vista e à fantasia agrada
Ver-te, através do prisma de diamantes
Da chuva, assim ferida e atravessada
Do sol pelos venábulos radiantes.

Vais e molhas-te, embora os pés levantes:
— Par de pombos, que a ponta delicada
Dos bicos metem nágua e, doidejantes,
Bebem nos regos cheios da calçada.

Vais, e, apesar do guarda-chuva aberto,
Borrifando-te colmam-te as goteiras
De pérolas o manto mal coberto;

E estrelas mil cravejam-te, fagueiras,
Estrelas falsas, mas que assim de perto,
Rutilam tanto, como as verdadeiras. |1|

A própria forma do soneto (poema de forma fixa composto por 14 versos) já é muito presente no parnasianismo, pois é considerada clássica e elevada. A métrica de “Chuva e Sol” é regular, sempre com dez sílabas poéticas (recurso conhecido como medida nova), e as rimas seguem o esquema: ABAB BABA CDC DCD. O tema, que trata da natureza e seus ciclos, não tem cunho social, e fica claro que o foco está na forma dessa construção.

Soneto “As pombas”, de Raimundo Correia

O soneto “As pombas” é um dos mais conhecidos poemas em língua portuguesa. Ele foi publicado por Raimundo Correia na obra Sinfonias (1883).

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais… |2|

O tema principal do poema é o voo das pombas: dezenas delas saem no início da manhã, quando “Raia sanguínea e fresca a madrugada…” e voltam, “serenas”, apenas de tarde. Nas últimas duas estrofes, contudo, o autor compara esse movimento com o dos sonhos, que voam, mas nunca voltam aos corações.

As principais características da escrita de Raimundo e do parnasianismo também estão presentes no soneto, como a métrica (versos decassílabos), rimas regulares (seguindo o esquema ABBA ABBA CCD CCD) e o tema sem engajamento social.       

Notas

|1| CORREIA, R. Versos e versões (1883-1886). Rio de Janeiro: Typ. e Lith. Moreira Maximino & C., 1887. 

|2| ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Raimundo Correia. Disponível aqui. Acesso em: 15 abr. 2023.

Publicado por Luiza Pezzotti Pugles

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