Francisca Júlia
Olavo Bilac (1865-1918), o poeta parnasiano mais famoso do Brasil.
Francisca Júlia nasceu em 31 de agosto de 1871, na cidade de Eldorado Paulista. Publicou seu primeiro livro — Mármores — em 1895. Estreou, assim, como escritora parnasiana e teve relativo sucesso. Chegou, inclusive, a receber elogios deAs principais obras da autora, que faleceu em 01 de novembro de 1920, em São Paulo, são caracterizadas pela linguagem objetiva e descritiva. Seus versos são antirromânticos, obedecem ao rigor formal e apresentam referências greco-latinas. Dessa forma, a poetisa passou a ser chamada de “musa impassível”, título de um de seus poemas.
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Biografia de Francisca Júlia
Francisca Júlia nasceu em 31 de agosto de 1871, na cidade de Eldorado Paulista, em São Paulo, mas ainda era criança quando sua família se mudou para a capital do estado, onde iniciou seus estudos. Em 1891, publicou seu primeiro poema no jornal O Estado de S. Paulo.
No ano seguinte, passou a escrever poesias para periódicos de São Paulo e Rio de Janeiro. Alguns leitores chegaram a acreditar que seu nome não passava de um pseudônimo e que seus versos eram da autoria de um homem, mas a dúvida se dissipou quando, em 1895, ela publicou seu primeiro livro: Mármores.
O livro teve uma boa recepção e recebeu elogios até de Olavo Bilac, o mais conhecido poeta parnasiano do Brasil, além de Vicente de Carvalho (1866-1924). Contudo, alguns críticos contestaram a originalidade dos versos da autora. Segundo eles, a obra apresentava semelhanças com a poesia do cubano José María de Heredia (1842-1905).
Já seu segundo livro foi direcionado às crianças e publicado em 1899. O Livro da infância mostrou, portanto, a preocupação da autora com a educação literária de meninas e meninos. Assim, três anos depois, em 1902, ela foi uma das pessoas responsáveis pela fundação da revista Educação.
Em 1906, Francisca Júlia morava em Cabreúva, onde sua mãe trabalhava como professora. Nessa cidade, acabou se envolvendo romanticamente duas vezes, mas os relacionamentos não deram certo. Dois anos depois, realizou a palestra “A feitiçaria sob o ponto de vista científico”, em Itu, o que indicava sua visão mística da realidade e possível filiação ao simbolismo.
Seu casamento com o telegrafista Filadelfo Edmundo Munster aconteceu, provavelmente, em 1909. Ele faleceu 11 anos depois, devido à tuberculose, e, no dia de seu enterro, em 01 de novembro de 1920, Francisca Júlia também morreu, em São Paulo, possivelmente devido a uma hemorragia cerebral, apesar de haver, também, a hipótese de suicídio.
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Características da obra de Francisca Júlia
Francisca Júlia, apesar de também ter escrito poemas com marcas simbolistas, é considerada uma poetisa parnasiana. Desse modo, a escritora fez versos caracterizados pela objetividade, em oposição à subjetividade romântica. Foi, portanto, autora de poesias antirromânticas.
O rigor formal pode ser verificado na metrificação de suas poesias, normalmente compostas em versos alexandrinos (12 sílabas poéticas). Além disso, o caráter descritivo é um recurso usado para evitar um conteúdo sociopolítico, temática rejeitada pelos poetas parnasianos.
Outra característica da poesia parnasiana é o distanciamento do eu lírico, o que contribui para a objetividade do texto, caracterizado pela busca da beleza. Essa beleza está na forma, ou seja, na harmonia dos versos, mas também no conteúdo agradável, com referências greco-latinas e, algumas vezes, traços metalinguísticos.
Obras de Francisca Júlia
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Mármores (1895)
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Livro da infância (1899)
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Esfinges (1903)
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Alma infantil (1912) — em coautoria com Júlio César da Silva
Poemas de Francisca Júlia
O soneto “Vênus”, do livro Mármores, faz a descrição de uma escultura da deusa do amor e da beleza. Assim, o eu lírico diz que ela é branca, hercúlea e está de pé sobre um bloco de carrara, que é seu trono. Altiva, ela olha para o mundo com seus olhos de pedra. No entanto, a impassível e branca estátua tem um quê de vida, de tal forma que parece se movimentar, descer de seu trono e ficar diante do eu lírico:
Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara,
Que lhe serve de trono, a formosa escultura,
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.
Um sopro, um quê de vida o gênio lhe insuflara;
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura,
A majestade real de uma beleza rara.
Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono
De Minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono,
E, na mesma atitude a que a insolência a obriga,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na régia perfeição da formosura antiga.
No texto, é possível identificar as seguintes características do parnasianismo:
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descritivismo (descrição de Vênus);
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rigor formal (metrificação — versos alexandrinos — e rimas);
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referência greco-latina (deusa do amor e da beleza).
No entanto, ao se mostrar na poesia, o eu lírico acaba comprometendo a objetividade parnasiana.
Já no poema “Em sonda”, também do livro Mármores, o eu lírico descreve uma serpente e um búfalo, além de narrar, com certo suspense, o ataque da jiboia ao ruminante. Assim, a cobra, enrolada em um tronco, sonda em busca de alimento. Então, quando um búfalo passa, ela o ataca e o prende em “suas roscas de aço”:
Quieta, enrolada a um tronco, ameaçadora e hedionda,
A boa espia... Em cima estende-se a folhagem
Que um vento manso faz oscilar, de onda em onda,
Com a sua noturna e amorosa bafagem.
Um luar mortiço banha a floresta de Sonda,
Desde a copa da faia à esplêndida pastagem;
O ofidiano escondido, olhos abertos, sonda...
Vai passando, tranquilo, um búfalo selvagem.
Segue o búfalo, só... mas suspende-lhe o passo
O ofidiano cruel que o ataca de repente,
E que o prende, a silvar, com suas roscas de aço.
Tenta o pobre lutar; os chavelhos enresta;
Mas tomba de cansaço e morre... Tristemente
No alto se esconde a lua, e cala-se a floresta...
Nesse soneto, podemos apontar as seguintes características do parnasianismo:
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descritivismo (descrição do ofidiano, do búfalo e da paisagem);
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rigor formal (metrificação — versos, possivelmente, alexandrinos — e rimas).
Além disso, nesse caso, é possível observar o distanciamento do eu lírico, de forma a garantir mais objetividade ao poema.
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Homenagem a Francisca Júlia
Em 1923, o escultor Victor Brecheret (1894-1955) criou a obra Musa impassível, uma estátua que foi colocada sobre o túmulo da autora, no cemitério do Araçá, em São Paulo. Dessa forma, o governo do estado e Brecheret homenagearam a poetisa, que, de acordo com o Correio Paulistano, em 1898, era “branca, muito branca, fria, muito fria”.
Assim, a estátua de mármore reproduz a “musa impassível” de um poema da autora, mas também a visão idealizada que todos tinham de Francisca Júlia, como se ela fosse a personificação da alma parnasiana. No entanto, em 2007, a obra de Brecheret foi substituída por uma réplica e passou a fazer parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
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