Segunda geração do Romantismo no Brasil
Leia o seguinte poema de Álvares de Azevedo, presente na segunda parte de seu livro Lira dos vinte anos:
Meu anjo
Meu anjo tem o encanto, a maravilha
Da espontânea canção dos passarinhos;
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pelo sedoso dos arminhos.
Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto
É leve a criatura vaporosa
Como a frouxa fumaça de um charuto.
Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...
Formosa a vejo assim entre meus sonhos
Mais bela no vapor do meu cachimbo.
Como o vinho espanhol, um beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso.
Dá morte num desdém, num beijo vida,
E celestes desmaios num sorriso!
Mas quis a minha sina que seu peito
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de um charuto!
É possível perceber nesse poema que o autor apresenta a figura feminina pela descrição de seu corpo, trazendo a ideia da sensualidade, mas apenas de modo sugestivo e indireto. Além disso, ao compará-la a elementos comuns, como o vinho, o cachimbo e o charuto, e a um ser angélico, ele mostra um dualismo e um receio em relação ao amor. Esse tipo de descrição da mulher é uma das características da segunda geração romântica.
Entretanto, antes de adentrarmos nessas características, convém retomarmos alguns aspectos históricos que podem explicá-las melhor.
- Contexto histórico
Nas décadas de 1850 e 1860, houve uma ruptura com o idealismo exagerado em relação ao nacionalismo, o que levou à adoção, por parte dos autores desse período, de uma postura exageradamente pessimista diante da vida como escapismo dos problemas sociais da época, atitude que ficou conhecida como mal do século. Isso se deve ao fato de que os jovens desse período não se sentiam atraídos pelos ideias da Revolução Francesa, ou seja, ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, e optavam por mergulhar em seu mundo íntimo, tendo um apego a atitudes mundanas, como a bebida e o vício, e uma atração pela morte. Assim, com o desenvolvimento da literatura romântica na década de 1840, as produções literárias começaram a apresentar maior subjetividade. Os autores dessa época eram indiferentes a temas como o nacionalismo e o indianismo, mas apresentavam uma intensificação do sentimentalismo.
Um dos grandes influenciadores desse período romântico no Brasil foi o poeta inglês Lord Byron, autor que possuía um estilo poético agressivo contra a sociedade e um estilo de vida que escandalizava a Europa. Seu cinismo e seu pessimismo inspiraram muitos outros poetas por todo o mundo.
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Características da segunda geração do Romantismo no Brasil
⇒ Liberdade de criação e valorização do conteúdo em detrimento da forma;
⇒ Versificação livre;
⇒ Dualismo;
⇒ Tédio, morbidez, sofrimento, pessimismo, negativismo, satanismo, masoquismo, cinismo e autodestruição;
⇒ Fuga da realidade;
⇒ Idealização do amor e da mulher;
⇒ Subjetivismo e egocentrismo;
⇒ Gosto pelo escuro ou noturno;
⇒ Presença da solidão;
⇒ Sarcasmo e ironia;
⇒ Morte como fuga definitiva e solução dos problemas.
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Principais autores e obras
Álvares de Azevedo: Lira dos vinte anos; Noite na Taverna e Macário.
Fagundes Varela: Noturnas; Cantos e Fantasias e Anchieta ou O Evangelho nas Selvas.
Casimiro de Abreu: As Primaveras e A cabana.
Junqueira Freire: Inspirações do Claustro e Contradições poéticas.
Fique sabendo! Pelo estilo de vida desregrado, marcado por exageros na bebida e no cigarro e pela falta de cuidados com a saúde, muitos poetas ultrarromânticos morreram antes dos 20 anos de idade.