Sigmund Freud
Sigmund Freud é conhecido como o “pai da psicanálise”, por conta da sua extensa contribuição para o surgimento desse campo clínico que tem enfoque na psique humana. Formulou teorias como a do “id, ego e superego” e a do “complexo de Édipo”, que até hoje possuem enorme importância e são extensamente debatidas pelos psicanalistas.
As contribuições de Freud, porém, não se resumem ao campo da psicanálise, uma vez que suas teorias repercutiram bastante no campo científico e influenciaram diretamente áreas como a psicoterapia. A obra de Freud também repercutiu até em campos como a filosofia e a literatura. Até hoje alguns dos métodos de tratamento criados por Freud são utilizados por psiquiatras.
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Biografia
Sigmund Freud nasceu na cidade de Freiburg in Mähren, no dia 6 de maio de 1856. A cidade em que Freud nasceu fazia parte do Império Austríaco (futuro Império Austro-Húngaro) e hoje se chama Příbor e faz parte do território da Tchéquia. O nome original de Freud era Sigismund Schlomo Freud (mudou seu nome para Sigmund em 1878).
Freud foi o primeiro de oito filhos do casal de judeus formado por Jakob Freud e Amalia Nathansohn. Os outros filhos do casal, e irmãos de Freud, chamavam-se Julius, Anna, Regine, Marie, Esther, Pauline e Alexander. Quando ainda era uma criança pequena, os pais de Freud decidiram mudar-se para Viena, local onde Freud passou quase toda a sua vida.
Durante sua fase escolar, Freud ficou conhecido por ser um bom estudante, possuía boas notas, lia muito e tinha enorme facilidade para aprender idiomas. Os biógrafos de Freud falam que ele tinha ótimo desempenho em idiomas como francês, inglês, latim e grego, por exemplo. Em 1873, Freud concluiu o ensino médio e, com 17 anos, ingressou na Universidade de Viena.
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Início da carreira profissional
Na Universidade de Viena, Freud estudava medicina e, a princípio, interessou-se pela bacteriologia. Tempos depois, Freud envolveu-se com pesquisas no laboratório de neurofisiologia, dedicando-se à dissecação de enguias macho para estudar o seu sistema reprodutivo. Depois se dedicou a estudos que faziam a comparação da estrutura do cérebro humano com a de outros animais.
Em 1881, depois de quase nove anos de graduação, Freud conseguiu formar-se em medicina e, naquele ano, conseguiu um emprego no Hospital Geral de Viena. Freud continuou realizando suas pesquisas, que eram focadas no campo da neurologia, e logo começou a realizar palestras nessa área do conhecimento da medicina.
O interesse de Freud voltava-se para as doenças psíquicas – chamadas na época de histeria. Freud considerava os tratamentos da época inadequados, pois associavam essas doenças a transtornos físicos.
Um dos primeiros experimentos de Freud foi procurar tratar dores de cabeça e ansiedade por meio do uso de cocaína. Nessa época, drogas como cocaína e metanfetamina não eram proibidas e eram usadas indiscriminadamente por muitos. Freud chegou, inclusive, a autoadministrar cocaína como parte do seu experimento.
Inicialmente, ele acreditava que a cocaína era um meio eficaz de combater a ansiedade, mas acabou abandonando esse tratamento quando passou a ter conhecimento das consequências do uso dessa substância. Outro estudo promovido por Freud nessa fase de sua vida está relacionado com a afasia, distúrbio neurológico em que a pessoa tem grande dificuldade com a formulação e compreensão da linguagem.
Em 1885, Freud foi a Paris para realizar estudos com Jean-Martin Charcot, um importante neurologista da época. Charcot era conhecido por tratar os seus pacientes por meio da hipnose. O que Freud aprendeu com Charcot teve enorme peso para que ele formulasse suas teorias anos depois.
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Vida pessoal
Em 1882, Freud conheceu Martha Bernays, amiga de uma de suas irmãs. Pouco tempo depois, iniciaram um relacionamento e, com dois meses de namoro, ficaram noivos. Em 1886, Freud e Martha casaram-se e, ao longo de sua vida, tiveram seis filhos: Mathilde, Jean-Martin, Oliver, Ernst, Sophie e Anna. Dois filhos de Freud, Ernst e Anna, tiveram grande sucesso em suas carreiras profissionais. O primeiro foi arquiteto, e a segunda seguiu os passos do pai e tornou-se psicanalista.
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Problemas com o nazismo
Com a ascensão do nazismo, na década de 1930, Freud começou a enfrentar alguns problemas. Em 1933, alguns dos seus livros foram queimados pelos nazistas na Alemanha. Isso aconteceu por conta do antissemitismo do nazismo, que associava as ideias de Freud à decadência do “mundo moderno”. Por conta dessa ocasião, Freud escreveu ironicamente para um amigo dizendo: “Que progresso estamos fazendo! Na Idade Média, teriam me queimado na fogueira. Agora eles se contentam em queimar meus livros”|1|.
Em 1938, Freud foi obrigado a fugir da Áustria, por conta do Anschluss, nome como ficou conhecida a anexação da Áustria à Alemanha Nazista. Como era judeu, Freud acabou tendo que se mudar para Londres, na Inglaterra, local onde faleceu pouco mais de um ano depois.
A princípio, Freud estava relutante da ideia de se mudar de Viena, mas se convenceu da necessidade de abandonar a Áustria depois que sua filha, Anna Freud, foi presa temporariamente pela Gestapo, a polícia política do nazismo. Tempos depois, quatro das irmãs de Freud foram mortas em campos de concentração.
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Morte
Durante sua juventude, Freud adquiriu o hábito de fumar – primeiro cigarros, depois, charutos. Esse hábito acabou fazendo com que Freud adquirisse câncer de boca na década de 1920. Freud passou por mais de 30 intervenções cirúrgicas no combate à doença e acabou tendo que retirar parte de sua mandíbula, passando a viver nos seus últimos anos com uma prótese.
O câncer na boca de Freud passou a causar-lhe dores intensas. Por essa razão, convenceu seu amigo, Max Schur, a aplicar-lhe doses excessivas de morfina, que o levaram à morte em 23 de setembro de 1939. As casas em que Freud viveu em Freiberg in Mähren, Viena e Londres foram transformadas em museus em homenagem ao seu legado.
Teorias de Freud
Ao longo de sua carreira, Freud ficou conhecido por formular inúmeras teorias que influenciaram de maneira considerável o campo da psicologia. Vejamos algumas delas:
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Psicanálise
Depois de ter contato com a hipnose como forma de tratamento, Freud procurou utilizá-la em seus pacientes. Isso aconteceu depois de ter aberto um consultório em Viena para tratar de “doenças nervosas”. O contato com a hipnose levou Freud a concluir, tempos depois, que as doenças mentais eram, de fato, causadas por distúrbios em uma parte que ele chamou de inconsciente.
Freud passou a defender a ideia de que a forma de tratar essas doenças deveria acontecer por meio das palavras. Inicialmente, Freud hipnotizava seus pacientes e os incentivava a falar sobre todos os seus traumas. Esse procedimento ficou conhecido como “cura pela palavra” e foi resultado da influência de um neurologista chamado Josef Breuer.
Breuer era um dos mais importantes neurologistas de Viena, e o relato dele a respeito de uma de suas pacientes teve grande impacto em Freud. Essa paciente, que sofria de depressão, era Bertha Pappenheim, também conhecida como Anna O. Breuer hipnotizava sua paciente e a orientava a falar sobre os seus sintomas e traumas, tendo como resultado a melhora do quadro de Anna O.
Após esse caso, Freud passou a aplicar a “cura pela palavra” em seus próprios pacientes. Ele os incentivava a falar sobre os traumas e anotava tudo o que era dito pelos seus pacientes. Com o tempo, começou a identificar que a parte consciente da mente humana não tinha acesso a todas as lembranças e grande parte dos pensamentos ficava reprimida no “inconsciente”. Assim, o tratamento por meio da psicanálise só seria de fato eficaz se fosse possível acessar os pensamentos e traumas do inconsciente, levando-os para a consciência do paciente.
Os atendimentos realizados por Freud aconteciam em um apartamento localizado no mesmo prédio (Berggasse 19) que ficava sua casa. Freud colocava seus pacientes em um sofá (chamado de divã), em uma posição em que não havia contato visual com os pacientes. Os resultados foram mostrando-se satisfatórios, e Freud começou a ganhar popularidade. Esses resultados foram importantes porque conseguiram provar a teoria de Freud a respeito da existência do inconsciente na mente humana.
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Complexo de Édipo
Freud continuou a dedicar-se ao estudo da mente humana e passou a se autoanalisar. Aplicando a psicanálise sobre si mesmo, ele conseguiu acessar memórias da sua infância, e essa autoanálise lhe permitiu formular a teoria do Complexo de Édipo. Freud realizou essa autoanálise após associar pesadelos e períodos depressivos que enfrentou com a morte de seu pai.
No Complexo de Édipo, Freud argumentou que crianças do sexo masculino passam por uma fase em que se apaixonam pela sua mãe e, por isso, criam sentimentos hostis em relação a seus pais. Tempos depois, Carl Jung, famoso psicanalista influenciado por Freud, teorizou que isso também acontecia na relação de filhas com seus pais, o que ficou conhecido como Complexo de Electra.
Freud também teorizou que, durante o Complexo de Édipo, o desejo sexual surge nas crianças e essa experiência se dá por meio de diferentes sintomas em meninos e meninas. Os meninos, segundo Freud, experimentam o “complexo da castração”, e as meninas experimentam a “inveja do pênis”. Essas teorias de Freud foram, posteriormente, bastante criticadas por outros psicanalistas.
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Outras teorias
Ao longo de sua carreira, Freud teorizou ideias a respeito da interpretação dos sonhos e do papel destes em retratar desejos que são reprimidos na mente humana ou memórias recentes que estão bloqueadas no inconsciente. A respeito do inconsciente, disse que a mente humana funciona como um iceberg, em que parte dos pensamentos é perceptível, e a outra parte, não.
Com base nessa metáfora, formulou os conceitos de id, ego e superego. O id é o local da mente onde ficam os nossos impulsos e instintos. O ego é a parte lógica e racional da psique e é responsável pela tomada de decisões. O superego, por sua vez, é a parte da psique responsável pela repressão aos impulsos que são contrários às normas sociais.
Livros
Ao longo de sua carreira como psicanalista, Freud escreveu uma série de livros que são hoje um grande legado de sua obra. Dentre os livros escritos por Freud, podem ser destacados:
- A interpretação dos sonhos (1900);
- Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901);
- Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905);
- Cinco lições de psicanálise (1910);
- Além do princípio do prazer (1920);
- O futuro de uma ilusão (1927);
- O mal-estar na civilização (1930);
Notas:
|1| Tradução livre da frase “What a progress we are making. In the Middle Ages they would have burned me. Now they are content with burning my books”. Para acessar o texto de que ela foi retirada, clique aqui.
Créditos das imagens:
[1] Yuri Turkov e Shutterstock