Aleijadinho

Aleijadinho foi um escultor e arquiteto que viveu no século XVIII, sendo conhecido como um dos grandes artistas do Brasil durante o período colonial.
“Doze profetas” no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, foi construído por Aleijadinho entre 1800 e 1805.

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho foi um importante escultor e arquiteto que viveu no Brasil durante o século XVIII. Foi o autor de inúmeras esculturas, sobretudo sacras, em Minas Gerais, na época o centro da mineração no Brasil. Na década de 1770, descobriu uma doença degenerativa que prejudicou seus movimentos e causou-lhe muito sofrimento até a sua morte, em 1814.

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Nascimento e juventude

Antônio Francisco Lisboa, popularmente conhecido como Aleijadinho, nasceu em Vila Rica, atualmente Ouro Preto, em Minas Gerais. Sua data de nascimento é incerta, e há duas possibilidades trabalhadas pelos historiadores. Uma delas aponta que ele nasceu por volta do dia 29 de agosto de 1730; e a outra, que seu ano de nascimento foi 1738.

Polêmicas à parte, sabemos que Aleijadinho era filho ilegítimo de Manuel Francisco Lisboa, um português que havia chegado à região de Minas Gerais em meados da década de 1720. Da mãe de Aleijadinho sabe-se muito pouco: ela era uma escravizada africana, e nos registros da época, era chamada de Isabel. Aleijadinho era, portanto, um homem negro.

Seu pai fora um arquiteto e entalhador que trabalhava em Minas Gerais como mestre de obras, atuando principalmente na contratação de homens para trabalhar nas grandes construções de Vila Rica. Manoel Francisco ainda teve outros quatro filhos de seu casamento com Maria Antônia de São Pedro.

Aleijadinho cresceu nessa família junto de seus quatro meio-irmãos, mas, como ele não era filho legítimo, quando seu pai morreu, nenhuma herança foi legada a ele. Entretanto, Manoel Lisboa, pai de Aleijadinho, ensinou a seu filho ilegítimo uma profissão: a de arquiteto e escultor. Ele ainda teve uma boa educação estudando em um internato local.

A influência do pai e do seu tio, Antônio Francisco Pombal, foi crucial no desenvolvimento artístico do futuro artísta. O sucesso de Aleijadinho e suas obras também tem relação com o contexto de Minas Gerais no século XVIII — o período da mineração.

Contexto

No final do século XVII, os bandeirantes paulistas localizaram ouro na região das Minas Gerais, fazendo com que uma verdadeira corrida fosse iniciada. O centro administrativo da capitania era a cidade de Vila Rica, e, em meados do século XVIII, toda a comarca possuía cerca de 80 mil habitantes, uma população bastante expressiva.

Em Minas Gerais desenvolveu-se uma sociedade urbana com a vida bastante agitada. Todo esse desenvolvimento foi bancado pelo ouro, e a prosperidade de Minas atraiu pessoas de outros ofícios, como advogados, padres, fazendeiros, militares, artesãos, e arquitetos e escultores.

Nessas cidades existia um numeroso comércio que prosperava atendendo as demandas da população local. A riqueza de Vila Rica fazia com que todo tipo de mercadoria fosse levada para lá por meio de Caminho Novo, estrada que ligava a cidade ao Rio de Janeiro. A grande quantidade de gente e a riqueza fizeram de Vila Rica uma sociedade complexa que teve um desenvolvimento artístico e cultural notável.

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  • Arte nas Minas Gerais

O projeto arquitetônico da Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, foi elaborado por Aleijadinho

O desenvolvimento de uma sociedade urbana enriquecida pelo ouro contribuiu para que as Minas Gerais tivessem muito contato com as grandes obras da cultura e intelectualidade da época. A elite mineira enviava seus filhos para estudar na França e em Portugal, e o contato com o que havia de mais atualizado em ideias na Europa repercutiu de certa forma em Minas Gerais.

Em Minas Gerais existiram grandes poetas que marcaram a literatura brasileira, mas o barroco mineiro é uma das expressões artísticas mais conhecidas do período da mineração. Foi o desenvolvimento do barroco mineiro que tornou Aleijadinho um dos grandes artistas do Brasil e um dos mais conhecidos do mundo.

A prosperidade em Minas Gerais permitiu que irmandades, ordens terceiras e confrarias de leigos investissem na construção de igrejas nas grandes cidades da capitania. Essas igrejas eram construídas em locais estratégicos, e para a sua construção e decoração, as associações religiosas leigas passaram a contratar arquitetos, escultores e talhadores. Aleijadinho foi o grande destaque entre aqueles que trabalhavam na construção das igrejas.

Obras de Aleijadinho

Aleijadinho, como vimos, foi um escultor, talhador, arquiteto, perito e carapina (marceneiro). O seu período de formação deu-se ao longo da década de 1750, e, em 1760, ele já era mestre nele. Seu trabalho funcionava por meio de encomendas; uma determinada associação religiosa fazia um pedido específico, e ele a atendia.

Os biógrafos de Aleijadinho contam que ele tinha grandes conhecimentos específicos, e ele mesmo escolhia o bloco de rocha e o pedaço de madeira que seriam usados em seu trabalho. A pedra-sabão e o cedro-rosa foram as duas principais matérias-primas utilizadas pelo artista em suas obras. Em geral, as obras de Aleijadinho são incluídas no barroco mineiro, mas historiadores da arte apontam que os detalhes delas rementem mais ao rococó.

Por volta da década de 1770, Aleijadinho possuía uma oficina que recebia as encomendas. A oficina permitia que ele levasse uma vida confortável, e a cada serviço, ele recebia, em média, meia oitava de ouro — algo em torno de 600 réis. Sua oficina contava com outros escultores aprendizes, isto é, que ainda estavam desenvolvendo suas habilidades. Aleijadinho também possuía escravos que trabalhavam para ele no dia a dia.

As obras de Aleijadinho estão em locais como Ouro Preto, Congonhas, São João del-Rei, Sabará, entre outras cidades surgidas no período da mineração. Ele ficou muito conhecido pelos seus trabalhos em arte sacra, e talvez um dos mais famosos tenha sido elaborado para o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas: os profetas no adro da Igreja.

“A última ceia” reproduzida por Aleijadinho no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.[1]

Ao todo foram construídos 12 profetas entre 1800 e 1805. Os profetas nessa obra são Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Baruc, Oseias, Jonas, Joel, Abdias, Amós, Naum e Habacuque. Para essa igreja, Aleijadinho também construiu esculturas que encenam a paixão de Cristo. Outra obra muito conhecida é a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, construída com base em um projeto arquitetônico feito por ele mesmo. Muitas das obras de Aleijadinho são consideradas patrimônio cultural.

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Doença e últimos anos

Os biógrafos de Aleijadinho contam que, em 1777, ele começou a ter alguns sintomas de um problema de saúde que o acompanhou pelo resto da sua vida. Até hoje não se sabe exatamente o que era, mas algumas doenças como hanseníase, sífilis e porfiria são especuladas por especialistas.

A doença causou graves feridas e deformações no seu corpo, o que prejudicou sua mobilidade, afetou seu trabalho e causou-lhe dores profundas. Alguns biógrafos falam que as deformidades que a doença causou em Aleijadinho fizeram com que ele evitasse as pessoas, optando por trabalhar à noite, usando chapéus grandes e roupas largas.

Com o tempo, ele se tornou manco, até que perdeu a mobilidade porque a doença afetou os dedos do seu pé. Especula-se que, depois disso, ele ficou conhecido como Aleijadinho. Os dedos das suas mãos também ficaram deformados pela doença, e fala-se que ele trabalhava com suas ferramentas amarradas nelas. Existem especialistas que apontam que os hábitos de Aleijadinho (trabalhar à noite e usar roupas largas) eram um indicativo de porfiria, uma doença que causa forte intolerância à luz solar.

Nos últimos anos de vida, a doença avançou e impediu-o de trabalhar, forçando-o a fechar sua oficina. Incapaz de morar sozinho, Aleijadinho passou a viver com a sua nora, até que faleceu em 18 de novembro de 1814. O corpo está enterrado na Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, na cidade de Ouro Preto.

Créditos das imagens

[1] Vanessa Volk e Shutterstock

Publicado por Daniel Neves Silva
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