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Ciclo do Ouro

O Ciclo do Ouro foi um período do Brasil Colônia marcado pela exploração de ouro e de pedras preciosas em Minas Gerais, em Goiás e em Mato Grosso.
Ouro Preto, em Minas Gerais, cidade que era o centro econômico da mineração na época do Ciclo do Ouro.
A atual cidade de Ouro Preto (MG), na época do Ciclo do Ouro, se chamava Vila Rica e era o centro econômico da mineração no Brasil colonial. [1]

O Ciclo do Ouro foi um período na história do Brasil Colônia (século XVIII) no qual a economia estava centralizada na mineração de ouro e pedras preciosas, como diamante e esmeraldas. O ouro foi descoberto pelos bandeirantes paulistas no interior, o que gerou modificações econômicas, políticas, sociais e culturais na Colônia.

Leia também: Exploração do pau-brasil — a primeira atividade exploratória realizada pelos portugueses no Brasil

Resumo sobre o Ciclo do Ouro

  • O Ciclo do Ouro foi um período do Brasil Colônia que ocorreu durante o século XVIII e representou a exploração da economia mineradora.

  • O ouro foi descoberto pelos bandeirantes paulistas, o que gerou a interiorização do território nacional e levou a colonização às atuais regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

  • Foi encontrado ouro em leitos e margens de rios, os chamados ouros de aluvião, e também em minas (galerias subterrâneas).

  • Os mineradores eram membros da antiga elite colonial (senhores de engenho do Nordeste), comerciantes e autônomos. Ao redor da mineração, foi construída uma infraestrutura de alimentação e transporte de carga

  • Alguns dos conflitos que ocorreram nesse período foi a Guerra dos Emboabas (1708–1709) e a Inconfidência Mineira (1789).

  • A mineração deixou como consequências nas regiões exploradas diversas manifestações culturais, como o Barroco mineiro. Já Portugal obteve grandes recursos com a atividade, os quais investiu no comércio com a Inglaterra.

O que foi o Ciclo do Ouro no Brasil?

O Ciclo do Ouro foi um período do século XVIII no qual a atividade econômica mais importante do Brasil Colônia foi a mineração de ouro, diamantes e esmeraldas, concentrada na região dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Durante esse período, se desenvolveram nessa região modelos políticos, econômicos, sociais e culturais que modificaram o sistema colonial e a própria vida da colônia.

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Contexto histórico do Ciclo do Ouro

O Ciclo do Ouro tem início no contexto das bandeiras, expedições paulistas que ingressaram no interior até então inexplorado do território colonial com o objetivo de escravizar indígenas, cumprir contratos de captura de escravizados fugidos, destruir quilombos e procurar metais preciosos.

Desde o início da colonização no Brasil, Portugal procurava ouro e pedras preciosas no território do Brasil Colônia. Porém, essas riquezas se localizavam no interior, em regiões até então inexploradas, chamadas à época de “sertão”. Por conta do modelo de exploração açucareiro, Portugal, até o século XVIII, se limitava a ocupar e explorar o litoral brasileiro, assim desconhecendo as reservas minerais. Foi com as “bandeiras de prospecção” que essas riquezas foram encontradas no interior do país.

Causas do Ciclo do Ouro

A atividade bandeirante, sobretudo as chamadas “bandeiras de prospecção”, procurava ouro e pedras preciosas no interior do território brasileiro. Portugal acreditava que esses recursos existiam por aqui, uma vez que os espanhóis os exploravam em larga escala em suas colônias americanas. Então, a causa do Ciclo do Ouro é a importância do metal dentro da economia europeia, sobretudo na lógica do sistema mercantilista.

O mercantilismo era a doutrina econômica que definia o sistema econômico das monarquias absolutistas europeias, e dentro dele o acúmulo de ouro e seu uso como moeda e riqueza (o chamado metalismo) eram muito importantes. Outro dos valores mercantilistas era o colonialismo, ou seja, a exploração de colônias para o benefício comercial da metrópole. Assim, esses dois pontos se alinharam como causas do Ciclo do Ouro no Brasil.

Descoberta do ouro no Brasil colonial

A descoberta do ouro no Brasil colonial se deve à atividade bandeirante, sobretudo às bandeiras de prospecção, que tinham por objetivo encontrar recursos minerais preciosos. Em 1695, o bandeirante Borba Gato encontrou ouro no rio das Velhas, no atual estado de Minas Gerais. Nos anos subsequentes, foram encontradas mais reservas desse metal, além de diamantes e esmeraldas, nos atuais territórios de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso.

Estátua de Borba Gato, o bandeirante que descobriu ouro no Brasil, dando início ao Ciclo do Ouro.
Estátua do bandeirante Borba Gato, no Museu do Ipiranga (USP), em São Paulo. [1]

Funcionamento do Ciclo do Ouro

Em primeiro lugar, é importante destacar que o ouro encontrado em Minas Gerais era de um tipo específico chamado ouro de aluvião, que tem por características seu depósito em leitos e margens de rios em pequena concentração. Isso significa que o ouro brasileiro era facilmente explorável, mas se esgotava rápido.

Também se encontrou ouro em minas (galerias subterrâneas), mas sua exploração era limitada: quanto mais os trabalhadores aprofundavam as minas, mais água as inundava, chegando ao limite de tornar a exploração inviável. Esse problema poderia ser contornado utilizando bombas d’água, mas essa tecnologia fora inventada na Primeira Revolução Industrial (na primeira metade do século XVIII, na Inglaterra) e não estava disponível a custos acessíveis.

Os exploradores do ouro foram os ricos fazendeiros de açúcar do Nordeste, os fazendeiros das fazendas mistas de São Paulo e pessoas que não faziam parte dessa elite econômica e enriqueceram com a mineração. Além disso, construiu-se toda uma estrutura de alimentação, hospedagem, transportes e comércio em torno do ouro. A mão de obra era a escravizada africana, que exercia o trabalho pesado nas lavras e minas.

Pintura Mineração de ouro por lavagem perto do morro do Itacolomi, de Johan Rugendas, retratando o contexto do Ciclo do Ouro.
Pintura Mineração de ouro por lavagem perto do morro do Itacolomi, de Johan Rugendas. Nela, se vê a busca pelo ouro de aluvião.

Importância do Ciclo do Ouro para o Brasil

O Ciclo do Ouro foi importante a partir de um aspecto social, político e econômico. Do ponto de vista social, contribuiu para a prática da libertação de escravizados em maior escala, os quais podiam comprar sua liberdade com o pouco ouro que conseguiam desviar em seu trabalho cotidiano. Do ponto de vista político, interiorizou o território brasileiro e criou formas de organização, como a criação da capitania de São Paulo e Minas Gerais, desenvolvendo a região Sudeste. Do ponto de vista econômico, trouxe grande riqueza aos exploradores e mais ainda a Portugal.

Com relação a Portugal, tão logo a notícia da descoberta do ouro chegou à Metrópole, foram adotadas medidas para taxar e controlar sua produção. Com isso, os mineradores pagavam grandes impostos sobre a sua produção, com destaque para o Quinto, que equivalia a 20% sobre todo o ouro produzido.

Esses recursos, no entanto, não foram acumulados ou investidos por Portugal, que os gastou em relações comerciais com a Inglaterra. Por isso, o historiador brasileiro Caio Prado Júnior afirma que a mineração no Brasil deixou buracos em Minas Gerais, igrejas em Portugal e fábricas na Inglaterra|1| — referência ao fato de a mineração brasileira ter ajudado indiretamente a financiar a Revolução Industrial inglesa, sobretudo devido aos laços comerciais entre os dois países.

Um exemplo desses laços é o Tratado de Methuen (1703), também chamado de tratado dos “panos e vinhos”, por meio do qual Portugal comprava tecidos ingleses em preços preferenciais em troca da exportação de vinho em valores preferenciais. No contexto da Revolução Industrial, como o preço dos tecidos era maior do que o do vinho, o tratado favoreceu a economia inglesa.

Conflitos que ocorreram no período do Ciclo do Ouro

Naturalmente, a exploração do ouro gerou conflitos por seu controle. O primeiro deles é a Guerra dos Emboabas (1708-1709), motivada pelo embate entre paulistas e forasteiros (chamados de emboabas) pelo monopólio da exploração. Em campo de batalha, os paulistas foram derrotados, e a Coroa portuguesa aumentou seu controle na região, através da criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro (1709), que em 1720 foi desmembrada em duas: São Paulo e Minas Gerais.

O mais importante conflito durante a época do Ciclo do Ouro foi a Inconfidência Mineira (1789). A partir da ameaça de cobrança dos impostos atrasados, Portugal criou um clima de tensão em Vila Rica (atual Ouro Preto). Com isso, membros da elite local, influenciados pelas ideias liberais iluministas, pensaram uma revolta, que tinha como pauta a independência de Minas Gerais e adoção da forma de governo republicana. O movimento foi denunciado antes de começar, e os responsáveis, punidos com exílio e mortes, como é o caso de Tiradentes, feito exemplo e esquartejado publicamente.

Consequências do Ciclo do Ouro

As consequências do Ciclo do Ouro foram múltiplas, entre as quais é possível destacar:

  • deslocamento do eixo administrativo colonial para o Sudeste, com a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763;

  • desenvolvimento de fazendas mistas que produziam gêneros agrícolas diversos em São Paulo e Minas Gerais;

  • desenvolvimento de rotas de comércio que interligavam áreas distantes da colônia;

  • surgimento de modelos artísticos e culturais próprios, como o Barroco mineiro.

Curiosidades sobre o Ciclo do Ouro

Esculturas de Aleijadinho, no Santuário de Congonhas, típicas do período histórico do Ciclo do Ouro.
Esculturas de Aleijadinho, no Santuário de Congonhas. Os temas religiosos são comuns na arte barroca mineira. [3]
  • Durante o Ciclo do Ouro, a atividade artística foi muito incentivada e desenvolvida. Artistas como Mestre Ataíde e Aleijadinho desenvolveram obras de pintura e escultura até hoje presentes na região. A arquitetura barroca também foi típica da época, com igrejas e casarões em estilo específico, ornamentadas de ouro.

  • A religião na região das minas era experenciada de modo diferente: as ordens religiosas, como a Jesuíta, não podiam entrar lá, e existiam diversas comunidades voltadas exclusivamente ao auxílio de ex-escravizados e pessoas negras, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Ouro Preto. Igrejas desse tipo acolhiam ex-escravizados libertos, lhes davam trabalho remunerado, moradia e alimentação, além de auxiliar escravizados fugidos, escondendo-os.

Veja também: Ciclo do Açúcar — o ciclo econômico que antecedeu o ciclo do ouro

Exercícios resolvidos sobre o Ciclo do Ouro

Questão 1

(Unesp)

A Portugal, a economia do ouro proporcionou apenas uma apa­rência de riqueza [...]. Como agudamente observou o Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII, o ouro era uma riqueza puramente fictícia para Portugal.

(Celso Furtado. Formação econômica do Brasil, 1971. Adaptado.)

A afirmação do texto, relativa à economia do ouro no Brasil colonial, pode ser explicada

A) pelos acordos diplomáticos entre Portugal e Espanha, que definiam que as áreas mineradoras, embora estivessem em território sob domínio português, fossem exploradas prioritariamente por espanhóis.

B) pelas sucessivas revoltas contra os impostos na região das Minas, que paralisavam seguidamente a exploração do minério e desperdiçavam a oportunidade de enriquecimento rápido.

C) pela forte dependência comercial de Portugal com a Inglaterra, que fazia com que boa parte do ouro obtido no Brasil fosse transferido para os cofres ingleses.

D) pela incapacidade portuguesa de explorar e transportar o ouro brasileiro, o que levava a Coroa de Portugal a conceder a estrangeiros os direitos de extração do minério.

E) pelo grande contrabando existente na região das Minas Gerais, que não era reprimido pelos portugueses e impedia que os minérios chegassem à Metrópole.

Resolução:

Alternativa C.

Portugal tinha laços comerciais antigos com a Inglaterra, e, por isso, praticamente todos os seus rendimentos com a mineração brasileira foram esgotados em favor dos britânicos.

Questão 2

(IFRR) As minas de ouro do Brasil, na realidade, serviram para alimentar a industrialização inglesa. Portugal teve acesso à riqueza, porém não teve condições de retê-la, em razão do escoamento de quase sua totalidade para a Inglaterra. Um tratado entre Portugal e Inglaterra possibilitou a evasão do ouro de Minas Gerais para mãos inglesas. Estamos nos referindo:

A) ao Tratado de Comércio e Navegação.

B) ao Tratado de Utrecht.

C) ao Tratado de Methuen, ou Panos e Vinhos.

D) ao Tratado de Haia.

E) ao Tratado de Madri.

Resolução:

Alternativa C.

O Tratado de Methuen simboliza a dependência portuguesa em relação ao comércio britânico e a forma pela qual a riqueza proveniente do Ciclo do Ouro no Brasil escoou para os cofres ingleses.

Notas

|1| PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Editora Brasiliense, 2008.

Créditos de imagem

[1] Raquel Mendes Silva / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Mike Peel / Wikimedia Commons (reprodução)

[3] Ricardo André Frantz / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Editora Brasiliense, 2008.

SOUZA, Laura de Mello. Opulência e Miséria das Minas Gerais. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.

SOUZA, Laura de Mello. Os desclassificados do Ouro. Rio de Janeiro: Editora Ouro sobre Azul, 2004.

Publicado por Tiago Soares Campos
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