Josef Mengele

Conhecido como “Anjo da Morte de Auschwitz”, Josef Mengele foi um médico nazista que realizou diversas experiências com prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Josef Mengele foi um médico nazista conhecido como “Anjo da Morte de Auschwitz”.

Josep Mengele foi um médico nazista e um dos principais entusiastas e difusores do racismo científico, teoria pseudocientífica que defende que existem raças superiores e inferiores. É conhecido como “Anjo da Morte de Auschwitz”. Nascido em uma próspera família alemã, Mengele estudou nas principais universidades do país e trabalhou nos principais centros de pesquisa médica do Reich. Desde a juventude participou de grupos paramilitares de extrema direita e, no final da década de 1930, filiou-se ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Com a eclosão da guerra foi enviado para o front e acompanhou diversas batalhas na União Soviética. Durante o conflito foi enviado para Auschwitz, onde passou a trabalhar na seleção dos prisioneiros que deveriam ser mortos por não serem considerados aptos ao trabalho escravo. Em Auschwitz passou a realizar diversas experiências com os prisioneiros, sobretudo com gêmeos e pessoas com deficiência física ou mental. Durante o período no qual trabalhou em Auschwitz mais de 3.000 prisioneiros foram mortos nos experimentos feitos por ele e sua equipe.

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Resumo sobre Josef Mengele

  • Josef Mengele foi um médico nazista que trabalhou no campo de extermínio de Auschwitz.
  • Ele era o responsável por selecionar quais prisioneiros permaneceriam vivos ou seriam executados em Auschwitz, recebendo por isso a alcunha de Anjo da Morte.
  • Em Auschwitz ele utilizou os prisioneiros do campo como cobaias em seus experimentos.
  • Após a guerra Mengele se refugiou na América do Sul, onde levou uma vida relativamente tranquila por quatro décadas.
  • Faleceu no Brasil em 1979 ao se afogar após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
  • Em 1985, exames forenses comprovaram que um crânio retirado de um túmulo em Embu das Artes era de Josef Mengele, encerrando a busca por ele que durou 40 anos.

Biografia de Josef Mengele

Josef Mengele nasceu na cidade de Günzburg, na Baviera, em 16 de março de 1911. Ele foi o mais velho de três filhos de Walburga Mengele, dona de casa, e Karl Mengele, um próspero industrial fabricante de máquinas agrícolas.

Após concluir o ensino médio ele se mudou para Munique, cidade-sede do Partido Nazista. Em 1935 se tornou PhD em Antropologia Física pela Universidade de Munique. Durante o doutorado na Universidade em Munique, Mengele conheceu a obra de Otmar von Verschuer, médico geneticista alemão especializado no estudo de gêmeos.

Em 1937, Josef Mengele passou a trabalhar no Instituto de Biologia Hereditária e Higiene Racial de Frankfurt, instituto chefiado por seu ex-professor Otmar von Verschuer. No ano seguinte concluiu um doutorado adicional, publicando sua pesquisa sobre a hereditariedade da fissura labiopalatina.

Durante sua formação Josef Mengele se tornou adepto do racismo científico, teoria pseudocientífica que defende que existem raças humanas superiores e inferiores, um dos pilares da ideologia nazista. Mengele e seu professor, Verschuer, prestaram consultoria para autoridades alemãs que aprovaram as chamadas Leis de Nuremberg. Ele também passou a realizar avalições para determinar quais pessoas, consideradas inferiores pelos nazistas, deveriam ser esterilizadas.

Após ser membro de diferentes grupos de extrema direita, Mengele se filiou ao Partido Nazista em 1938, cerca de um ano antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Josef Mengele no serviço militar

A Segunda Guerra Mundial se iniciou em 1º de setembro de 1939, quando tropas da Alemanha nazista invadiram o território polonês. Em junho de 1940, Josef Mengele foi convocado pelo Reich e enviado ao front. Um mês depois ele foi integrado ao setor médico da SS, servindo na Polônia, ocupada, e tendo como principal função avaliar fisicamente pessoas polonesas que alegavam ter ascendência germânica, atestando ou não tal condição.

No final de 1940 Mengele passou a exercer a função de oficial médico na 5º Divisão Panzer Wiking, divisão composta por voluntários europeus de diversas nacionalidades e sob comando de oficiais alemães. Mengele participou da invasão da União Soviética em 1941 e esteve na frente de batalha por mais de um ano. Por sua participação na guerra ele foi promovido a capitão da SS e recebeu a Cruz de Ferro, maior condecoração do Reich.

Retornou para a Alemanha no início de 1943, passando novamente a trabalhar com seu mentor, Otmar von Verschuer, então diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Genética Humana e Eugenia.

Josef Mengele em Auschwitz

Josef Mengele, que está entre Richard Baer e Rudolf Hoess na imagem, iniciou suas atividades no campo de extermínio de Auschwitz em 1943.

Em 30 de maio de 1943, Josef Mengele foi enviado ao campo de extermínio de Auschwitz, sendo o médico responsável pelo Zigeunerlager, um campo de concentração exclusivo para ciganos.

Inicialmente Mengele foi um dos médicos responsáveis pela seleção dos judeus que deveriam ser mortos nas câmaras de gás. Quando os trens transportando judeus e outros grupos considerados indesejáveis pelos nazistas chegavam a Auschwitz, uma pequena parte deles era selecionada para trabalhar como escravos, os demais eram mortos nas câmaras de gás do campo.

Além dessa primeira seleção, outras seleções periódicas eram realizadas pelos médicos, que visitavam os galpões onde os judeus, ciganos e outros grupos ficavam, identificando pessoas doentes ou fracas para serem mortas. Mengele realizava periodicamente essas seleções, o que fez com que ganhasse a alcunha de “Anjo da Morte de Auschwitz”.

Além do trabalho de seleção, Mengele desenvolveu diversos experimentos médicos em Auschwitz, utilizando judeus, ciganos e outros grupos como verdadeiras cobaias humanas.

Quais foram os experimentos de Josef Mengele?

Josef Mengele solicita a cabeça do cadáver de uma criança de 12 anos para ser examinada. O documento data de 29 de junho de 1944, Auschwitz.

Em Auschwitz, Mengele foi responsável por enviar para estudos no Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia Genética Humana e Eugenia, sangue, crânios, cadáveres completos e fetos extraídos dos prisioneiros do campo de concentração. Ele também contribuiu com a pesquisa de diversos colegas, realizando experiências no próprio campo de extermínio e enviando os resultados aos seus colegas.

As gêmeas Miriam e Eva Mozes foram vítimas de experimentos conduzidos por Josef Mengele em Auschwitz. Foram libertadas em 27 de janeiro de 1945. [1]

Mengele também desenvolveu suas próprias pesquisas em Auschwitz, a principal delas realizada em gêmeos. Os médicos nazistas realizavam experiências em gêmeos porque um dos irmãos poderia ser utilizado como contraprova. Além disso, equipes de geneticistas alemães buscavam entender o mecanismo responsável pelo nascimento de gêmeos na tentativa de ampliar a taxa de natalidade de alemães. Vale lembrar que na época estava em voga o darwinismo social, crença que dizia que os povos, ou raças para os alemães, competiam por território e recursos. A espécie que se reproduzisse mais rápido, nessa concepção, teria mais soldados e trabalhadores, e eliminaria os concorrentes.

Os gêmeos que chegavam a Auschwitz eram levados para a equipe de Mengele, recebendo melhor alimentação e mantidos isolados dos demais prisioneiros do campo.

Diversas experiências com gêmeos foram realizadas por ele, como infectar os irmãos com tifo ou outras doenças e observar como ela evoluía em cada um. Ele também realizou transfusão de sangue entre os irmãos, injetou tinta nos olhos de outros com o objetivo de modificar a cor da íris, e alguns relatos apontam que ele costurou dois irmãos, apelidados de Tito e Nino, visando criar gêmeos siameses artificiais. Na maioria dos casos as experiências terminavam com a morte de ambos os irmãos. Os que não morriam durante o experimento eram enviados às câmaras de gás.

Entrada principal do campo de extermínio de Auschwitz, local onde Mengele praticou diversos dos seus crimes.

Outra experiência realizada por Mengele foi sobre a noma, também conhecida como cancro oral. Hoje sabemos que a noma é uma infecção bacteriana que atinge principalmente crianças subnutridas e em más condições de higiene, mas na época Mengele acreditava que ela era provocada pela genética de judeus e ciganos.

Durante o período no qual trabalhou em Auschwitz mais de 3.000 prisioneiros foram mortos nos experimentos feitos por ele e sua equipe.

Vida de Josef Mengele no Brasil

Após o suicídio de Hitler e a rendição da Alemanha, diversos nazistas passaram a ser perseguidos e presos pelos Aliados. Muitos nazistas de alta patente foram julgados e condenados pelo Tribunal de Nuremberg. Doze das principais autoridades alemãs foram condenadas à morte, sendo dez delas enforcadas. Um conseguiu fugiu e outro se suicidou na prisão.

Poucos dias antes de os soviéticos libertarem Auschwitz, Josef Mengele fugiu para o oeste, onde passou a utilizar um nome falso e a lutar como um soldado. Ele foi capturado pelos norte-americanos e foi libertado meses depois, uma vez que não sabiam sua verdadeira identidade. Ele se isolou na área rural da Alemanha e passou a viver como agricultor.

Passaporte falso usado por Josef Mengele para fugir para a Argentina em 1949. [2]

Mengele, através de uma rede de ex-nazistas e simpatizantes, conseguiu documentos falsos e fugiu para a Argentina em 1949, país que vivia sob o governo de Juan Domingos Péron. Muitos outros nazistas fugiram para o país sul-americano após a guerra e foram acobertados pelas autoridades locais.

Na Argentina Mengele chegou a utilizar o próprio nome e a solicitar a cidadania do país. Em 1959, ao saber que era um dos procurados pelas autoridades da Alemanha Ocidental e de Israel, fugiu para o Paraguai. Em 1960, ao saber da captura de Eichmann em solo argentino pela Mossad, fugiu novamente, desta vez para o Brasil, onde mais uma vez mudou seu nome e passou a viver na clandestinidade.

Foi na cidade de Nova Europa, no Estado de São Paulo, que Mengele se tornou amigo de Wolfgang Gerhard, austríaco simpatizante do nazismo que vivia no Brasil desde 1948. Wolfgang contratou Mengele para trabalhar como administrador em uma fazenda de café no município de Serra Negra, em São Paulo, onde residiu até 1975.

Em Serra Negra, Mengele viveu em uma grande casa, com uma torre de onde Mengele observava os arredores da fazenda e os pássaros da região, que ele caçava e realizava neles taxidermia (técnica de empalhamento).

Em 1975 ele deixou a fazenda, adotando a identidade de Wolfgang Gerhard e utilizando seus documentos. O verdadeiro Wolfgang Gerhard voltou para a Áustria. Mengele passou então a migrar por diversas cidades de São Paulo.

Mengele morreu afogado após sofrer um acidente vascular cerebral em 7 de fevereiro de 1979 na Praia da Enseada, em Bertioga-SP. Ele foi sepultado em um cemitério de Embu das Artes, com o nome de Wolfgang Gerhard.

Em 1985, membros da polícia da Alemanha Ocidental invadiram casas de familiares e amigos de Mengele. Com um deles foram encontradas cartas de Mengele e uma carta de Bossert, um amigo em cuja casa Mengele estava hospedado em Bertioga. A informação foi repassada para policiais brasileiros, que capturaram Bossert. Durante o interrogatório, Bossert revelou onde Mengele estava sepultado.

Superposição crânio-rosto, uma das ferramentas usadas para ajudar a identificar Josef Mengele, que faleceu no Brasil em 1979.

Os restos mortais de Josef Mengele foram exumados em junho de 1985, e exames forenses feitos na época revelaram que os ossos eram realmente de Mengele. Na década de 1990, um exame de DNA provou definitivamente que os restos mortais de Embu das Artes eram realmente de Mengele.

Qual o legado de Josef Mengele?

O maior legado de Mengele foi o de mostrar que a ciência, se praticada e utilizada de forma errada, pode ser usada como instrumento legitimador para o assassinato de milhões de pessoas. Mengele é visto como um médico sem escrúpulos, que torturou e assassinou milhares de pessoas com a desculpa de estar praticando ciência e contribuindo para o progresso da humanidade.

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Josef Mengele na cultura popular

Alguns autores, cineastas, músicos e outros artistas produziram obras inspiradas nas atrocidades praticadas por Mengele durante o período nazista. A seguir, veremos algumas dessas obras:

  • Meninos do Brasil: livro de ficção científica escrito pelo autor estadunidense Ira Levin e publicado pela primeira vez em 1976, sob o título de The boys from Brazil. Na história, que em parte se passa no Brasil, ex-membros da SS tentam colocar em prática um plano para realizar uma espécie de clonagem de Hitler, inspirados nas ideias de Mengele. Um judeu, uma espécie de caçador de nazistas, passa então a investigar o grupo.
  • Meninos do Brasil: o longa-metragem, inspirado no livro homônimo, foi lançado no cinema estadunidense em 1978 e teve Gregory Peck como ator principal.
  • Angel of Death: a música é a faixa de abertura do álbum Reign in Blood, da banda de trash metal Slayer, e é considerada uma das mais polêmicas da banda. Na música, diversas atrocidades praticadas por Mengele em Auschwitz são citadas.
  • Josef Mengele – Caçando um criminoso nazista: documentário de 2017, produzido por Emmanuel Amara, cineasta francês, sobre os crimes de Mengele e a busca pelo criminoso nazista, que durou quase quatro décadas.

Créditos de imagem

[1] Camila Meneses Castro / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Jackdawson1970 / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

LIFTON, Robert Jay. The nazi doctors: medical killing and the psychology of genocide. Basic Books, Nova Iorque, 1988.

POSNER, Gerald L. Mengele: a história completa do anjo da morte de Auschwitz. Editora Cultrix, São Paulo, 2019.

Publicado por Jair Messias Ferreira Junior
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