Paradoxo

Paradoxo ou oximoro é uma figura de linguagem caracterizada pela expressão de uma ideia contrastante e contraditória. Contudo, se o enunciado apresenta apenas contraste, ele se configura em uma antítese, portanto, para ocorrer o paradoxo, obrigatoriamente, é preciso haver uma contradição. Desse modo, os paradoxos podem ser verídicos, falsídicos ou condicionais.

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O que é paradoxo?

O paradoxo é uma figura de linguagem ou figura de pensamento. É chamado também de oximoro ou oxímoro, e consiste na expressão de uma ideia contrastante, isto é, em que há oposição, além de conter em si uma contradição, uma incoerência, por apresentar elementos que se contradizem. Portanto, não basta haver oposição na ideia expressa, os elementos contrastantes precisam também ser contraditórios.

No entanto, a característica do contraditório não invalida o enunciado, pelo contrário, dá a ele a possibilidade de plurissignificar, ou seja, significar mais do que o óbvio, ir além do sentido denotativo. Trata-se, por conseguinte, de uma forma elaborada de expressão, que exige do enunciador e do interlocutor ou receptor um maior conhecimento linguístico e de mundo.

Tipos de paradoxo

O paradoxo ocorre quando há incoerência.

Na filosofia, matemática e psicologia, existem os seguintes paradoxos:

  • Paradoxo verídico

É aquele que, com base em um raciocínio lógico correto, leva a resultados improváveis. Como exemplo, citamos o paradoxo do hotel de Hilbert, que afirma: “Mesmo que um hotel com infinitos quartos esteja completamente cheio, ele ainda pode receber mais hóspedes”. A princípio, é paradoxal, contraditória essa afirmação, não é mesmo?

No entanto, se você considerar que o hotel possui “infinitos quartos”, é possível aceitar que ele ainda pode receber mais hóspedes. É só deslocar o hóspede do quarto 1 para o quarto 2, o hóspede do quarto 2, para o 3, e assim por diante, de forma simultânea. Nesse exemplo, um experimento mental da matemática, temos um paradoxo verídico, já que, apesar da contradição, a afirmação pode ser comprovada com base no raciocínio lógico.

  • Paradoxo falsídico

É aquele que, com base em um raciocínio falso, leva a resultados incorretos. Como exemplo, citamos o paradoxo do enforcamento inesperado, que ocorre na seguinte situação. Imagine que, no sábado, é decretado que determinado prisioneiro será enforcado na semana seguinte, ao meio-dia, e que o enforcamento acontecerá em um dia inesperado.

O prisioneiro, então, chega à conclusão de que sua morte não pode acontecer no sábado seguinte, pois, na sexta-feira, depois do meio-dia, ele saberá o dia do seu enforcamento, ou seja, sábado, o que impede que o fato seja inesperado. Parece coerente, não? No entanto, seguindo esse raciocínio, ele conclui que seu enforcamento, pelo mesmo motivo, não pode acontecer em nenhum dia da semana. Afinal, em todos os dias, após o meio-dia, ele esperará que o ato aconteça no dia seguinte, o que eliminaria o caráter inesperado do fato.

Isso faz com que o prisioneiro, baseado nesse raciocínio, fique confiante de que não será enforcado. No entanto, na quinta-feira, ele é pego de surpresa quando o diretor da prisão decide que o enforcamento acontecerá nesse dia, já que, segundo o raciocínio falso do condenado, isso não poderia ocorrer. Consequentemente, seu raciocínio equivocado leva a um resultado incorreto, isto é, o seu enforcamento, que, segundo toda a lógica descrita, não aconteceria.

  • Paradoxo condicional

É aquele que depende da relação entre causa e consequência e gera, muitas vezes, um problema de difícil resolução, pois um fato originaria outro, que, por sua vez, originaria aquele, como se pode ver na pergunta: “O que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?”. Se o ovo depende da galinha para existir, e a galinha depende do ovo para existir, o que surgiu primeiro?

Outro exemplo é o chamado paradoxo da predestinação. Ele se refere à viagem no tempo. Imagine que um viajante do tempo volte ao passado e acabe tendo uma filha com sua jovem avó, sem saber quem ela era. Essa filha é a mãe do viajante. Então, se o viajante não voltar ao passado, a sua existência torna-se impossível. Assim, ele depende de sua própria existência para existir. Se ele não existe no presente, não pode engravidar sua avó, no passado, e existir no futuro desse passado.

Leia também: Metáfora – figura de linguagem que compara dois elementos de forma implícita

Exemplos de paradoxo

O paradoxo gera estranhamento no receptor da mensagem.

São exemplos de paradoxo:

  • Estamos vivendo uma guerra pacífica.

  • O prazer é doloroso para aqueles que amam.

  • Estou cansado de ouvir essas verdades mentirosas.

  • A sua sinceridade falsa enganava muita gente.

  • Não me esquecerei do ódio amoroso que ele sentia por mim.

  • Ela demonstrava sua humildade arrogante em palavras de suposta sabedoria.

  • A covardia do herói nunca mais foi esquecida.

  • A confiança dos céticos é inabalável.

  • O som do silêncio, para algumas pessoas, é perturbador.

  • Ela acreditava na vida após a morte.

Diferença entre paradoxo e antítese

A antítese é a expressão de uma ideia em que há elementos opostos, mas não contraditórios. Por exemplo:

A alegria e a tristeza habitam o meu peito diariamente.

Veja que, nesse enunciado, há uma antítese, pois “alegria” e “tristeza” são substantivos opostos. Apesar disso, não há contradição na frase, pois é aceitável que, em um mesmo dia, uma pessoa possa sentir alegria e também tristeza.

Entretanto, o uso desses mesmos antônimos, em outro enunciado, pode gerar um paradoxo, como é possível perceber na seguinte estrofe do soneto Inconstância dos bens do mundo, do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696):

“Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.”

Observe que, no último verso, há uma antítese, uma vez que a palavra “alegria” opõe-se à “tristeza”, e também há um paradoxo, pois, por essas palavras apresentarem sentidos opostos, é incoerente, contraditório, afirmar que alguém possa sentir tristeza na alegria. Contudo, essa construção conotativa faz sentido no poema como um todo, já que indica que a alegria é passageira e, por isso, está acompanhada da tristeza gerada pela lembrança de sua finitude.

Dessa maneira, paradoxo e antítese são duas figuras de pensamento que possuem uma relação direta entre si, pois o paradoxo surge de uma expressão antitética, isto é, em que há oposição. O paradoxo, portanto, além da oposição, apresenta uma contradição. A antítese, por sua vez, é apenas contrastante.

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Exercícios resolvidos

Questão 1 – (Enem) Oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa significados que se excluem mutuamente. Para Garfield, a frase de saudação de Jon (tirinha abaixo) expressa o maior de todos os oxímoros.

Folha de S. Paulo, 31 de julho de 2000.

Nas alternativas abaixo, estão transcritos versos retirados do poema “O operário em construção”. Pode-se afirmar que ocorre um oxímoro em:

a) “Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.”

b) “... a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.”

c) “Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.”

d) “... o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.”

e) “Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.”

MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

Resolução

Alternativa B.

Já que as palavras “liberdade” e “escravidão” são opostas, ao afirmar-se que “a casa que ele fazia” era sua liberdade e também sua escravidão, tem-se um paradoxo, uma vez que é contraditória a afirmação.

Questão 2 – (Enem) Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é:

a) “Dos dois contemplo
rigor e fixidez.
Passado e sentimento
me contemplam” (p. 91).

b) “De sol e lua
De fogo e vento
Te enlaço” (p. 101).

c) “Areia, vou sorvendo
A água do teu rio” (p. 93).

d) “Ritualiza a matança
de quem só te deu vida.
E me deixa viver
nessa que morre” (p. 62).

e) “O bisturi e o verso.
Dois instrumentos
entre as minhas mãos” (p. 95).

Resolução

Alternativa D.

Nos versos “E me deixa viver/ nessa que morre”, é possível apontar-se um paradoxo, já que é contraditório viver na morte.

Questão 3 – (Enem) A obra de Túlio Piva poderia ser objeto de estudo nos bancos escolares, ao lado de Noel, Ataulfo e Lupicínio. Se o criador optou por permanecer em sua querência — Santiago, e depois Porto Alegre, a obra alçou voos mais altos, com passagens na Rússia, Estados Unidos e Venezuela. Tem que ter mulata, seu samba maior, é coisa de craque. Um retrato feito de ritmo e poesia, uma ode ao gênero que amou desde sempre. E o paradoxo: misto de gaúcho e italiano, nascido na fronteira com a Argentina, falando de samba, morro e mulata, com categoria. E que categoria! Uma batida de violão que fez história. O tango transmudado em samba.

RAMIREZ, H.; PIVA, R. (Org.). Túlio Piva: pra ser samba brasileiro. Porto Alegre: Programa Petrobras Cultural, 2005. (adaptado)

O texto é um trecho da crítica musical sobre a obra de Túlio Piva. Para enfatizar a qualidade do artista, usou-se como recurso argumentativo o(a)

a) contraste entre o local de nascimento e a escolha pelo gênero samba.

b) exemplo de temáticas gaúchas abordadas nas letras de sambas.

c) alusão a gêneros musicais brasileiros e argentinos.

d) comparação entre sambistas de diferentes regiões.

e) aproximação entre a cultura brasileira e a argentina.

Resolução

Alternativa A.

O contraste, no texto, está indicado no seguinte trecho: “E o paradoxo: misto de gaúcho e italiano, nascido na fronteira com a Argentina, falando de samba, morro e mulata, com categoria. [...]. O tango transmudado em samba”. Portanto, ao apontar a contradição, o paradoxo, o autor aponta também o contraste, a oposição. 

Publicado por Warley Souza
Matemática do Zero
Matemática do Zero | Moda e Mediana
Nessa aula veremos como calcular a moda e a mediana de uma amostra. Mosrarei que a moda é o elemento que possui maior frequência e que uma amostra pode ter mais de uma moda ou não ter moda. Posteriormente, veremos que para calcular a mediana devemos montar o hall (organizar em ordem a amostra) e verificar a quantidade de termos dessa amostra.
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