Níveis de linguagem

Níveis de linguagem ou níveis de fala são os registros formal ou informal da língua, que estão relacionados à situação comunicativa. O nível ou registro formal é marcado pela variedade culta ou padrão, linguagem que obedece às regras da gramática normativa. Já o nível ou registro informal é caracterizado pela variedade coloquial ou popular.
Leia também: O que é preconceito linguístico?
Resumo sobre níveis de linguagem
- Os níveis de linguagem são os registros formal ou informal.
- Estão relacionados ao contexto de comunicação.
- No nível ou registro formal é utilizada a variedade culta ou padrão da língua.
- No nível ou registro informal é utilizada a variedade coloquial da língua.
O que são os níveis de linguagem?
Níveis de linguagem, também chamados níveis de fala ou registro, estão relacionados a situações de comunicação.
Segundo a mestre em Letras Márcia Christina de Souza Oliveira Caixêta, existem “variedades condicionadas pela situação”. Desse modo, o “ambiente tem o condão de determinar o nível de linguagem (ou nível de fala) a ser escolhido pelo falante em uma situação de uso da língua”. Os fatores situacionais “são aqueles relacionados às circunstâncias em que se dá o ato de fala, ao grau de intimidade entre os usuários da língua, ao assunto do diálogo, bem como ao estado emocional do falante”. Portanto, ocorrem variações “de acordo com o contexto situacional”.|1|
Já as pesquisadoras Sylvia Domingos Barrera e Maria Regina Maluf afirmam: [...], de acordo com a situação, o indivíduo “escolhe” o tipo de linguagem que julga mais conveniente. Pode-se afirmar que a oposição básica se dá, portanto, entre um nível de fala ou registro formal, no qual predomina a linguagem culta, e um nível de fala ou registro coloquial ou informal, com predomínio de estruturas e vocabulário da linguagem popular.|2|
Quais são os níveis de linguagem?
Os níveis de linguagem são os registros formal ou informal da língua.
→ Nível ou registro formal
O nível ou registro formal é utilizado em situações em que se exige a formalidade do usuário da língua. Nesse contexto, ele utiliza a linguagem culta, isto é, de acordo com as regras da gramática normativa. É recorrente o uso de um vocabulário técnico, não afetivo.
Vejamos alguns exemplos de situações de uso do registro ou nível formal:
- Em uma palestra:
Palestrante: “Fui convidado para falar sobre a relação entre ciência e arte. Na história da literatura, essa relação esteve presente em alguns momentos, como vocês podem observar nesse primeiro slide...”.
- Em uma entrevista de emprego:
Entrevistador(a): “Por que você quer trabalhar nesta empresa?”.
Entrevistado(a): “Porque, segundo minhas pesquisas, ela possui um plano de carreira, oferece boas condições de trabalho, possui políticas de diversidade e inclusão, além de ter compromisso com a ética e prestar serviço de qualidade”.
- Em um debate escolar:
Aluna X: “A crise climática é uma realidade e precisa ser enfrentada com seriedade pela classe política e por empresários”.
Aluno Y: “A crise climática é apenas uma especulação, não existem provas de sua existência”.
Aluna X: “Caro colega, as ondas de calor, as chuvas volumosas, as secas intensas, os recorrentes incêndios, a escassez de água não são especulações, são fatos.”
- Em uma apresentação de trabalho:
Autor(a) do trabalho: “O título do trabalho que lhes apresento agora é Considerações sobre o movimento circular. Vou começar pelo movimento circular uniforme...”.
- Em uma reunião de trabalho:
Funcionário X: Um dos fornecedores atrasou a entrega de matéria-prima, o que levou a um atraso também de nossa parte.
Funcionário Y: Não é a primeira vez que esse fornecedor atua dessa maneira. Sugiro que revisemos o contrato dele.
→ Nível ou registro informal
O nível ou registro informal é utilizado em situações em que se permite a informalidade do falante da língua. Nesse contexto, o usuário da língua utiliza linguagem coloquial, ou seja, sem compromisso com as regras da gramática normativa. É recorrente o uso de um vocabulário popular, que denota intimidade.
Vejamos alguns exemplos de situações de uso do registro ou nível informal:
- Em uma conversa com familiares:
— Pai, dá pra me levar mais cedo pra escola amanhã?
— Ah, Dudu, eu tava querendo dormir até mais tarde.
- Em um bate-papo com amigos:
— Cara, eu pirei naquele tênis.
— E cê vai comprá?
— Meu pai é o canal, vô vê com ele.
- Em um diálogo entre namorados:
— Mozinho, cê me ama?
— Amo de montão!
- Em uma conversa com vizinhos:
— Seu Juca, seu cachorro tá revirando o meu lixo de novo.
— Me desculpa. Vô dá um xingo naquele pilantra.
Por fim, vale mencionar que a formalidade e a informalidade, em alguns casos, pode ser variável. Afinal, a relação entre determinados vizinhos pode ser formal, da mesma forma que uma palestra pode apresentar caráter informal de acordo com o tema e o tipo de palestrante.
Diferenças entre níveis de linguagem e variação linguística
Os níveis de linguagem são registros formal ou informal da língua. Tais registros determinam a variação linguística conhecida como diafásica ou de estilo. Essa variação se refere ao contexto ou situação comunicativa. Isso quer dizer que as escolhas linguísticas do falante são determinadas pelo contexto formal ou informal.
Em um registro formal, é utilizada a variedade culta da língua. Já no registro informal, é utilizada a variedade coloquial. Dessa forma, os níveis ou registros de linguagem fazem referência a uma situação comunicativa (formal ou informal). Já a variação linguística está relacionada às diferenças linguísticas.
Regionalismos (vocábulos ou estruturas linguísticas típicas de uma região) e gírias (termos próprios de determinados grupos sociais) são exemplos de variação linguística. Além disso, a variação linguística pode ser influenciada pela idade, sexo, classe social, entre outros fatores.
Saiba mais: Dialetos e registros do português brasileiro — um fenômeno característico da nossa língua
Exercícios resolvidos sobre níveis de linguagem
Questão 1 (Enem)
Para falar e escrever bem, é preciso, além de conhecer o padrão formal da Língua Portuguesa, saber adequar o uso da linguagem ao contexto discursivo. Para exemplificar esse fato, seu professor de Língua Portuguesa convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luis Fernando Verissimo. No texto, o autor brinca com situações de discurso oral que fogem à expectativa do ouvinte.
Aí, Galera
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
— Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
— Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
— Como é?
— Aí, galera.
— Quais são as instruções do técnico?
— Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
— Ahn?
— É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
— Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
— Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
— Pode.
— Uma saudação para a minha progenitora.
— Como é?
— Alô, mamãe!
— Estou vendo que você é um, um...
— Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
— Estereoquê?
— Um chato?
— Isso.
Correio Braziliense, 13/05/1998.
A expressão “pegá eles sem calça” poderia ser substituída, sem comprometimento de sentido, em língua culta, formal, por:
A) pegá-los na mentira.
B) pegá-los desprevenidos.
C) pegá-los em flagrante.
D) pegá-los rapidamente.
E) pegá-los momentaneamente.
Resolução:
Alternativa B.
A expressão “pegá eles sem calça”, em nível ou registro formal, corresponde a “pegá-los desprevenidos”.
Questão 2 (Enem)
No romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:
Não se conformou: devia haver engano. [...] Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não.
Graciliano Ramos. Vidas secas. 91. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho:
A) “Não se conformou: devia haver engano”.
B) “e Fabiano perdeu os estribos”.
C) “Passar a vida inteira assim no toco”.
D) “entregando o que era dele de mão beijada!”.
E) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou”.
Resolução:
Alternativa A.
O trecho “Não se conformou: devia haver engano” está escrito de acordo com a norma culta, variedade condizente com o nível ou registro formal da linguagem. Os outros trechos apresentam marcas da linguagem coloquial, condizentes com o nível ou registro informal da linguagem: “perdeu os estribos”, “passar a vida [...] no toco”, “mão beijada”, “amunhecou”.
Notas
|1| CAIXÊTA, M. C. de S. O. Variação diatópica de aspecto semântico-lexical e ensino de língua portuguesa. 2015. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras e Linguística, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2015.
|2| BARRERA, S. D.; MALUF, M. R. Variação linguística e alfabetização: um estudo com crianças da primeira série do ensino fundamental. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 8, n. 1, jun. 2004.
Fontes
BARRERA, S. D.; MALUF, M. R. Variação linguística e alfabetização: um estudo com crianças da primeira série do ensino fundamental. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 8, n. 1, jun. 2004.
CAIXÊTA, M. C. de S. O. Variação diatópica de aspecto semântico-lexical e ensino de língua portuguesa. 2015. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras e Linguística, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2015.
LACERDA, P. F. A. da C; SILVA, T. A. da. A variação linguística no contexto de ensino-aprendizagem da língua materna: uma proposta a partir do uso de corpora de fala. Instrumento, Juiz de Fora, v. 14, n. 1, jan./ jun. 2012.
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