Motins do Maneta
No século XVIII, a concorrência comercial entre as nações européias levava reis a se lançarem no mais variado tipo de afronta a seus concorrentes. Nesse período, a Inglaterra desfrutava de uma notória ascensão que, paulatinamente viria a viabilizar sua supremacia econômica sobre os demais países da Europa. Entre outras ações empreendedoras, destacamos a série de vantajosos acordos firmados com a Coroa Portuguesa.
Essas alianças, além de agitarem o ambiente econômico europeu, também reconfiguraram as relações entre Portugal e Brasil. Isso porque a relação de dependência de Portugal em relação à economia inglesa obrigava a metrópole lusitana a aumentar os ganhos com a exploração colonial, principalmente, por meio da elevação dos impostos. As conseqüências trazidas de tal situação puderam ser visivelmente observadas durante os chamados Motins do Maneta.
Nesse contexto, ainda temos que destacar a influência da Guerra de Sucessão Espanhola (1702 – 1714) que acirrou os ânimos das monarquias européias. A guerra contou com uma aliança entre Portugal e Inglaterra contra a possibilidade de unificação das coroas francesa e espanhola. A vitória luso-britânica frente às pretensões francesas contou com intensas batalhas que motivaram o envio de uma esquadra francesa contra as possessões coloniais portuguesas no Brasil.
Porém, um pouco antes dessa tentativa de invasão francesa, o governo português impôs o aumento dos impostos cobrados sobre o sal e os escravos comercializados no Brasil. A elevação tributária e a Guerra de Secessão se encontram neste ponto, tendo em vista os gastos excessivos da coroa lusitana na guerra européia. Os colonos, insatisfeitos com os reajustes, mobilizaram uma revolta a ser liderada pelo comerciante João de Figueiredo da Costa, conhecido como Maneta.
A primeira revolta, acontecida na cidade de Salvador, contou com uma distribuição de cartazes convocando a população contra os novos impostos. Mobilizados, os revoltosos se dirigiram contra a casa de comércio de Manuel Dias Figueiras, considerado o maior negociador de sal da região. Depois de realizarem o saque e a depredação da casa de comércio, os manifestantes foram à Casa do Governador exigindo o fim da medida. Acuada, a autoridade local cedeu à pressão anistiando os insurgentes e anulando os impostos.
Em meio à Guerra de Sucessão, a coroa francesa decidiu atacar a cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1711. Os cidadãos de Salvador, aterrorizados pela invasão estrangeira, organizaram uma nova revolta exigindo a organização de tropas contra a ocupação francesa. Nesse meio tempo, o corsário francês René Duguay-Trouin exigia das autoridades cariocas um carregamento de gado e açúcar – e uma indenização em dinheiro para não atacar o Rio de Janeiro.
A pressão dos populares baianos – agora liderados por Domingos da Costa Guimarães, Luís Chafet e Domingos Gomes – ficou conhecida como Motim Patriota. Os protestos e a organização de tropas brasileiras não chegou a se consolidar, pois o comandante francês recebeu seu resgate e partiu para as Guianas. O fim da presença francesa acabou desarticulando o novo movimento. Em contrapartida, as autoridades portuguesas resolveram punir com o degredos os líderes do motim, reafirmar os impostos e indicar um novo governador para o Rio de Janeiro.
Por Rainer Sousa
Mestre em História