Vladimir Lenin
Vladimir Lenin foi um revolucionário russo conhecido como um dos líderes da Revolução Russa, e, por conta de seu papel nesse acontecimento, tornou-se chefe do primeiro governo da Rússia socialista. Lenin tornou-se marxista ao longo de sua juventude ao ter contato com ideais desse tipo na universidade e após a execução de seu irmão.
Como um dos maiores ideólogos de teoria marxista no mundo, fez com que sua proposta ficasse conhecida como leninismo. Como governante, encabeçou as ações contra os contrarrevolucionários na guerra civil e implantou um governo centralizador. Faleceu no começo de 1924, em consequência de complicações causadas por três derrames.
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Nascimento e juventude
Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido na história como Vladimir Lenin, nasceu em Simbirsk (atual Ulyanovsk), cidade no sul da Rússia, em 22 de abril de 1870. Seus pais chamavam-se Ilya Nikolayevich Ulyanov e Maria Alexandrovna Blank, sua família tinha boa condição financeira e vínculos com a nobreza russa.
O pai de Lenin era um inspetor das escolas públicas na província em que Simbirsk estava localizada; já sua mãe exercia a profissão de professora infantil. Ao todo, seus pais tiveram oito filhos, sendo que Lenin foi o quarto deles. Desses oito descendentes, dois morreram ainda na infância.
Por crescer em uma família abastada, Lenin desfrutou de uma boa educação. No entanto, dois eventos mudaram drasticamente os rumos da vida de sua família. Em 1886, Ilya, seu pai, faleceu de hemorragia cerebral, com 54 anos de idade. No ano seguinte, seu irmão, Alexander Ulyanov, foi acusado de conspirar contra o czar (imperador) Alexander III e foi executado por isso. A execução de Alexander colocou a família em descrédito na sociedade russa, passando a ser vista com desconfiança por ela.
Adesão ao socialismo
Esses dois eventos mencionados fizeram com que Lenin passasse a ter contato com ideais socialistas, sobretudo porque seu irmão fazia parte de grupos que os defendiam e lutavam contra o czarismo. Esse contato com o socialismo aumentou consideravelmente quando Lenin ingressou na Universidade de Kazan, em 1887.
Em Kazan, Lenin engajou-se com os grupos socialistas, mas foi expulso da universidade por participar de um protesto. A má fama de sua família na sociedade russa contribuiu para a sua expulsão. Em seguida, por intermédio da influência de sua mãe, ele ainda conseguiu obter formação em Direito, na Universidade de São Petersburgo, após ser aprovado em um teste.
O envolvimento de Lenin com o socialismo fez com que ele passasse a consumir livros e mais livros sobre o assunto. Ele tirava o seu sustento trabalhando como advogado e tinha participação em grupos revolucionários que se autointitulavam social-democratas. A atuação de Lenin fez com que ele fosse ganhando importância na hierarquia dos social-democratas russos.
Nessa fase de sua vida (que vai de 1897 a 1904) é que ele conheceu Nadezhda Krupskaya, uma professora, também marxista, com a qual se casou em 1898, permanecendo unidos até a morte dele, em 1924. Nesse período de sua vida, ele também produziu o seu primeiro escrito: Quem são os “Amigos do Povo” e como lutam contra os social-democratas.
Em 1897, Lenin foi preso pela primeira vez por causa do seu envolvimento com grupos revolucionários, e sua punição, como era comum na Rússia, foi o exílio na Sibéria. Seu tempo de exílio foi de três anos, portanto, de 1897 a 1900. Nesse período, ele casou-se com Nadezhda Krupskaya, continuou seus estudos sobre a teoria marxista e escreveu o livro O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, publicado em 1899.
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Exílio da Rússia
No começo de 1900, Lenin teve o fim do seu período de exílio na Sibéria e então se mudou para Pskov, cidade próxima da atual fronteira da Rússia com a Estônia. Lenin, que fazia parte do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) desde 1898, quando foi fundado, decidiu fugir da Rússia em julho de 1900 para coordenar um jornal revolucionário chamado Iskra.
O movimento de trabalhadores estava em crescimento na Rússia, assim como a repressão do czarismo. Desse modo, era necessário que o engajamento revolucionário continuasse, mas, ao mesmo tempo, que as precauções devidas fossem tomadas. Foi pensando nisso que Lenin exilou-se em Munique, na Alemanha.
De lá, ele coordenou a produção do jornal e seu contrabando para o território russo. O destino dessas publicações era os trabalhadores do país, mas uma quantidade muito pequena do que era produzido de fato chegava a eles.
À frente do Iskra, ele passou a produzir artigos sobre revolução e marxismo, assinando-os com pseudônimo de Lenin. O primeiro texto com esse pseudônimo é do final de 1901, e o primeiro grande escrito dele usando-o foi o livro Que fazer?. Nessa obra, ele tece sobre a necessidade de existir um partido que conduzisse os trabalhadores para a revolução.
A repressão da polícia da Baviera fez com que Lenin fugisse de Munique e se instalasse em Londres, no Reino Unido. Nessa cidade foi organizado, em 1903, o II Congresso do POSDR, evento que iniciou um desentendimento entre os socialistas russos.
Lenin passou a defender a existência de uma liderança forte no partido, enquanto Julius Martov exigiu uma liderança mais flexibilizada. Essa questão não foi resolvida, e o partido rachou-se. Lenin e a maioria formaram a ala dos bolcheviques, e Martov e a minoria formaram a ala dos mencheviques.
Revolução Russa
Depois do racha em 1903, Lenin abriu mão da editoria do Iskra e passou a criticar contundentemente os mencheviques. Durante a Revolução de 1905, ele retornou para a Rússia, mas não teve nenhum tipo de envolvimento direto com as manifestações que aconteceram nesse momento. Essa tentativa de revolução popular fracassou e foi chamada por Lenin de “ensaio geral”.
A situação na Rússia continuou deteriorando-se, e a participação do país na Primeira Guerra Mundial foi a pá de cal na popularidade de Nicolau II, o czar do país. O acumulo de derrotas agravou a situação da economia e levou milhares de pessoas a um estado de pobreza severa. Em 23 de fevereiro, de acordo com o calendário usado pelos russos na época (8 de março, no calendário gregoriano), o czarismo caiu.
A queda do czarismo deu-se com milhares de protestos acontecendo em Petrogrado (São Petersburgo). Os manifestantes ocuparam prédios estratégicos da antiga capital russa, e o Parlamento do país, a Duma, formou um Governo Provisório. Esse novo governo foi liderado, primeiro, por Georgy Lvov, e depois, por Alexander Kerensky. A revolução que derrubou o czarismo ficou conhecida como Revolução de Fevereiro.
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Revolução de Outubro
Com esses acontecimentos políticos, Lenin resolveu pôr fim no seu exílio e retornou para a Rússia. Nessa fase, formou-se também o Soviete de Petrogrado, um comitê revolucionário de trabalhadores que passou a acompanhar as ações do Governo Provisório.
Muitos estudiosos do marxismo, como Noam Chomsky, falam que o retorno de Lenin à Rússia marcou uma mudança significativa em seu discurso. Ele passou a defender que os trabalhadores deveriam conduzir a revolução e a importância de organizações como os sovietes. A antiga postura de Lenin, que defendia a liderança do partido, foi abandonada|1|.
De toda forma, o fracasso do Governo Provisório em dar respostas satisfatórias à população e a continuidade da Rússia na guerra levaram os bolcheviques a agirem. Além disso, havia uma mobilização gigantesca de trabalhadores em todo o território russo.
Assim, em 24 de outubro (7 de novembro no calendário gregoriano), os bolcheviques tomaram o poder, com grupos armados. Além disso, um Conselho do Comissariado do Povo foi formado. O Governo Provisório tinha caído, e os bolcheviques assumiram o comando da Rússia. Caso tenha maior interesse por esse importante movimento político do século XX, leia: Revolução de Outubro.
Governo Lenin
Uma vez no governo, Lenin teve de assumir desafios imediatos: negociar a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial e lutar contra forças contrarrevolucionárias que começavam a formar-se contra o seu governo. Ele também procurou realizar uma reestruturação do Estado russo, embora tenha se utilizado, para isso, de instituições de poder existentes desde o período czarista.
Lenin não aceitou formar uma coalizão com outros socialistas, considerando apenas os bolcheviques no poder. Impôs um governo centralizador que rapidamente pavimentou o caminho para desarticular os sovietes e os comitês de trabalhadores. Além disso, foi formada uma polícia secreta, a Cheka, para silenciar os seus opositores.
Lenin realizou nacionalização das terras em controle da aristocracia, iniciou reforma agrária, nomeou Leon Trotski para assumiu as negociações da saída do país da guerra, procurou combater o analfabetismo por meio do incentivo à educação etc. As negociações de paz com a Alemanha resultaram no Tratado de Brest-Litovsk.
Entre 1918 e 1921, ele liderou o país na luta contra as forças contrarrevolucionárias que tentaram tirar os bolcheviques do poder na Guerra Civil Russa. Com a vitória na guerra, efetivou um plano econômico que reimplantou a economia de mercado na Rússia como forma de reerguer o país. Esse plano foi o NEP, sigla em russo para Nova Política Econômica.
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Morte
A partir de 1922, a saúde de Lenin começou a declinar e a transição política passou a ser organizada nos bastidores do governo. Lenin sofreu três derrames cerebrais, em maio e dezembro de 1922 e em março de 1923. Sua saúde fragilizou-se, e ele faleceu em 21 de janeiro de 1924.
A sucessão do poder na União Soviética (formada em 1922) deu início a uma disputa que resultou na confirmação de Josef Stalin como novo governante da Rússia, oficialmente falando, a partir de 1927. A cidade de Petrogrado foi renomeada em sua homenagem como Leningrado (atualmente se chama São Petersburgo). Os escritos em teoria marxista de Lenin tornaram-se conhecidos entre os estudiosos do assunto como teoria marxista-leninista.
Nota
|1| Chomsky sobre Lenin, Trotsky, socialismo e União Soviética. Para acessar, clique aqui.