Cora Coralina

Cora Coralina foi uma escritora brasileira do século XX. Poetisa e contista, seu trabalho é um dos mais relevantes da literatura nacional.
Busto de Cora Coralina com a torre da Igreja Matriz da Cidade de Goiás ao fundo. [1]

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina, é um importante nome da literatura brasileira. Entre seus temas mais abordados, está a Cidade de Goiás, onde nasceu e viveu boa parte da vida, o que trouxe ao local um maior reconhecimento, inclusive nacional.

Biografia de Cora Coralina

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas nasceu em 20 de agosto de 1889, na Cidade de Goiás, cenário privilegiado por excelência em sua obra. Cora Coralina foi contista, cronista e poetisa.

Embora não se tenha associado a nenhuma escola literária, sua produção carrega elementos da tradição modernista, tais como a preferência por elementos do cotidiano como matéria-prima lírica – os becos de Goiás, as lavadeiras do Rio Vermelho, a “Casa Velha da Ponte”, os meninos na lida com a roça, a senhora que pedia esmolas à porta da Matriz são recorrentes protagonistas em seus poemas e contos, bem como o passado senhorial da cidade, herança presente em sua vida desde a infância.

Em 25 de novembro de 1911, Cora Coralina saiu da Cidade de Goiás com destino ao interior do estado de São Paulo. Embora já quisesse ganhar o mundo, sedenta por conhecer outras paisagens, a mola propulsora da mudança foi seu envolvimento com o advogado Cantídio Tolentino Bretas. Ele era 22 anos mais velho que ela e separado de sua primeira esposa, o que gerou um grande falatório na cidade e levou a mãe de Cora a proibir a união do casal.

Moraram em diversas cidades paulistas, como Jaboticabal e São Paulo. Tiveram seis filhos, dos quais dois morreram pouco depois do parto. Cora Coralina ficou viúva em 1934 e, desde então, passou a trabalhar para garantir o seu sustento. Por todas as cidades onde viveu, incluindo Penápolis e Andradina, a autora publicou artigos em jornais locais e engajou-se em diversas atividades comunitárias. Sua vida foi marcada por muito trabalho, da culinária ao roçado.

A Casa Velha da Ponte (Cidade de Goiás – GO), onde Cora Coralina passou a infância e onde voltou a viver quando regressou à sua cidade natal. [2]

Em 1956, regressou à Cidade de Goiás para inventariar os bens da família. “Não tinha a intenção de permanecer; tinha a intenção de matar saudades velhas e carregar saudades novas”, dizia Cora Coralina. O reencontro com o passado impulsionou o desejo de ficar.

Com poucos recursos, passou a se sustentar a partir da produção e venda de doces, ofício que por muito tempo realizou. Sou mais doceira e cozinheira / do que escritora, sendo a culinária / a mais nobre de todas Artes: / objetiva, concreta, jamais abstrata / à que está ligada à vida e / à saúde humanas (Versos de “Quem é Cora Coralina?”).

Às voltas com o velho fogão de lenha, Cora dividia o tempo entre o fazer literário e a culinária. Aprendeu a datilografar com 70 anos e, em 1965, publicou finalmente seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, publicado pela editora José Olympio.

Leia também: Clarice Lispector – a escritora da epifania e do intimismo

Morte de Cora Coralina

Detalhe da fachada do Museu Casa de Cora Coralina, na Casa Velha da Ponte (Créditos: acervo pessoal).

Cora Coralina faleceu em 10 de abril de 1985, em Goiânia, onde estava hospitalizada com forte gripe, que a levou a um quadro de pneumonia. O casarão onde passou a infância e para onde retornou na velhice, a Casa Velha da Ponte, que estava sempre aberta a quem quisesse visitá-la, tornou-se, em 1989, o Museu Casa de Cora Coralina, cujo acervo abriga manuscritos, cartas, objetos pessoais, fotos, mobiliário, utensílios domésticos, livros, entre outros itens.

Primeiros passos de Cora Coralina na literatura

Cora Coralina teve pouco acesso à escolaridade, tendo concluído apenas dois anos de ensino regular, mas muito jovem desenvolveu o gosto pela leitura e ainda na adolescência começou a escrever poesias e contos. Foi então que, aos 14 anos, criou o pseudônimo Cora Coralina – segundo a própria autora, havia muitas outras com o nome Ana habitando a Cidade de Goiás, justamente por ser Santa Ana a padroeira do município.

Em 1910, Cora Coralina teve publicado seu primeiro conto, “Tragédia na Roça”, no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Seus escritos começaram a figurar em jornais por volta de 1911. A autora viveu em diversas cidades ao longo de sua vida, e o início de sua carreira literária foi marcado principalmente pelas produções publicadas em periódicos diversos.

Acesse também: Rachel de Queiroz: outra importante mulher da literatura brasileira

Primeiro livro de Cora Coralina

Embora tenha escrito desde jovem e com muita frequência, foi apenas aos 75 anos que Cora Coralina viu consolidado em forma de livro o seu trabalho literário. Já de volta à Cidade de Goiás, a autora datilografou o original de Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais e o enviou a diversos escritores e à editora José Olympio, que o publicou em 1965. O livro é dividido em duas partes e possui textos em poesia e em prosa, criações líricas cujo tom narrativo conta e canta o presente e o passado da Cidade de Goiás.

Este livro:
Versos... Não.
Poesia... Não.
Um modo diferente de contar velhas estórias.

(Cora Coralina, “Ressalva”, epígrafe de Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais)

Em 1979, Carlos Drummond de Andrade publicou uma carta no Jornal do Brasil elogiando seu primeiro livro:

“Cora Coralina.

Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina.
Todo o carinho, toda a admiração do seu.”

O poeta foi um grande propulsor para a projeção nacional da obra de Cora Coralina. Publicou, também no Jornal do Brasil, em 1980, a crônica “Cora Coralina de Goiás”, que foi de grande valia para a divulgação de seu primeiro livro e para a consolidação de seu nome no cânone literário brasileiro.

Prêmios de Cora Coralina

1980 – Homenageada pelo Conselho Nacional das Mulheres do Brasil (Rio de Janeiro – RJ).

1981 – Troféu Jaburu, concedido pelo Conselho de Cultura do Estado de Goiás.

1982 – Prêmio de Poesia nº 01, Festival Nacional de Mulheres nas Artes (São Paulo – SP).

1983 – Doutora Honoris Causa, Universidade Federal de Goiás.

1983 – Ordem do Mérito no Trabalho, concedida pelo Presidente da República João Batista de Figueiredo.

1983 – Medalha Anhanguera, Governo do Estado de Goiás.

1983 – Homenageada pelo Senado Federal.

1984 – Grande Prêmio da Crítica/Literatura da Associação Paulista de Críticos de Arte.

1984 – Primeira escritora brasileira a receber o Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE).

1984 – Homenageada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação como símbolo da mulher trabalhadora rural.

1984 – Ocupou a cadeira nº 38 da Academia Goiana de Letras.

1999 – A obra Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais é eleita pelo jornal O Popular (Goiânia – GO), uma das 20 obras mais importantes do século XX.

2006 – Condecorada com a classe Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural (OMC), concedida pelo Ministério da Cultura.

Obras de Cora Coralina

Cidade de Goiás, berço de Cora Coralina e tema recorrente de seus poemas e contos. [2]

As obras de Cora Coralina são marcadas pelo protagonismo de temas e personagens marginalizados – a feiura dos becos, o menor abandonado, a lavadeira, a mulher da vida, o cotidiano da vivência rural. Seus textos frequentemente resgatam também o passado histórico da Cidade de Goiás, desde a exploração do ouro e sua decadência até o estágio de pobreza e miséria em que o município se encontraria no século XX.

É característica de seus versos a estética epilírica ou epiliricodramática, já que o tom marcadamente narrativo da poesia, muito relacionado à tradição oral, evidencia sempre a interferência dos gêneros épico e dramático – vários dos poemas assemelham-se a histórias e causos contados em forma de verso.

A linguagem de seus textos, portanto, é simples, informal e harmoniosa: seu fazer poético evoca a forma coloquial da contação de histórias das pessoas humildes, de pouca instrução, em resgate do conto popular, ora em forma de prosa, ora em forma de poesia.

Em 1965, publicou o primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais. O segundo livro saiu apenas em 1976, intitulado Meu Livro de Cordel. Em 1983, foi lançado Vintém de Cobre - Meias confissões de Aninha. Em 1985, ano de sua morte, publicou Estórias da Casa Velha da Ponte.

A obra de Cora Coralina conta ainda com as seguintes edições póstumas: os livros infantis Meninos Verdes (1986), A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999) e O Prato Azul-Pombinho (2002), e os livros de poesia Tesouro da Casa Velha (1996) e Villa Boa de Goyaz (2001).

Leia também: Destaques femininos na literatura brasileira

Exemplo de poema de Cora Coralina

Cora Coralina, Quem É Você?

Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.

Nasci numa rebaixa de serra
entre serras e morros.
"Longe de todos os lugares".
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.

Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.

Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentro da imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.

Numa ânsia de vida eu abria
o voo nas asas impossíveis
do sonho.

Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia
caída e a república
que se instalava.

Todo o ranço do passado era
presente.
A brutalidade, a incompreensão,
a ignorância, o carrancismo.

Veja também: Cinco poemas de Cora Coralina

Frases de Cora Coralina

  • “Venho do século passado. Pertenço a uma geração ponte, entre a libertação dos escravos e o trabalhador livre. Entre a monarquia caída e a república que se instalava. Todo ranço do passado era presente. A criança não tinha vez, os adultos eram sádicos e aplicavam castigos humilhantes.”

  • “A vida é boa. Você pode fazê-la sempre melhor, e o melhor da vida é o trabalho.”

  • “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”

  • “Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”

  • “Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver.”

  • “Coração é terra onde ninguém vê.”

  • “Procuro suportar todos os dias minha própria personalidade renovada, despencando dentro de mim tudo que é velho e morto.”

Créditos de imagens

[1] Commons

[2] ANDRE DIB / Shutterstock

Publicado por Luiza Brandino
Matemática do Zero
Matemática do Zero | Princípio fundamental da contagem
Nessa aula veremos o que é o princípio fundamental da contagem. O princípio fundamental da contagem é uma técnica para calcularmos de quantas maneiras decisões podem combinar-se. Se uma decisão pode ser tomada de n maneiras e outra decisão pode ser tomada de m maneiras, o número de maneiras que essas decisões podem ser tomadas simultaneamente é calculado pelo produto de n · m.
Outras matérias
Biologia
Matemática
Geografia
Física
Vídeos