Poesia na Segunda Geração do Modernismo

A poesia na Segunda Geração do Modernismo apresentou à Literatura nomes como Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Murilo Mendes e Cecília Meireles.
Drummond, Mario Quintana, Murilo Mendes, Cecília Meireles e Vinicius de Moraes: poetas que ampliaram o horizonte da poesia na Literatura brasileira.*

A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, foi um divisor de águas para a Literatura brasileira. Apresentou, entre outros representantes das diversas áreas da arte, alguns dos expoentes da Literatura modernista que romperiam drasticamente com o modelo literário vigente. Nomes como Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida e Mário de Andrade exaltaram o Brasil na página literária e utilizaram à exaustão jogos primitivistas e antropofágicos.

Em sua segunda fase, entre os anos de 1930 a 1945, a poesia modernista alargou seus horizontes temáticos e consolidou-se graças às conquistas de seus precursores. A segunda geração foi marcada pelo amadurecimento e pela ruptura com a fase polêmica de suas primeiras manifestações. A poesia continuou adotando o verso livre, mas resgatou também formas como o soneto ou o madrigal sem que isso fosse necessariamente um retorno às estéticas do passado, tão questionadas pelos poetas que ganharam projeção na Semana de Arte Moderna.

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

A rua dos cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Mario Quintana

A poesia estava em sintonia com as diversas manifestações artísticas e com outras esferas culturais e, por esse motivo, é possível encontrar influências do Surrealismo e até mesmo da psicanálise, que dilataram o campo de experimentações poéticas. Podemos observar essa característica nos versos do poema “O Pastor Pianista”, de Murilo Mendes:

O Pastor Pianista

Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.

Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem

Que reclamando a contemplação,
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.

Murilo Mendes

Quanto à temática da poesia modernista da segunda fase, podemos observar a preocupação dos poetas não apenas com a abordagem do cotidiano, bastante denotada naquilo que alguns estudiosos chamaram de “momento poético”, mas também com problemas sociais e históricos. Drummond apropriou-se dessas características, que podem ser observadas no poema “Congresso Internacional do Medo”.

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

Outra característica presente nesse momento da poesia modernista foi a retomada de elementos simbolistas, sem que isso, novamente, representasse um amplo resgate da produção literária pré-modernista. Essa apropriação de elementos de outras vertentes da Literatura aconteceu em virtude de um alargamento do campo temático, que contemplava aspectos sociais e inquietações religiosas.

Depois do sol...

Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . .

Tudo imóvel . . . Serenidades . . .
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!

Oh! Paisagens minhas de antanho . . .
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho . . .

Seres e coisas vão-se embora . . .
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora
Pelos silêncios a sonhar...

Cecília Meireles

Os poetas da segunda geração do modernismo deram continuidade às conquistas dos primeiros modernistas e criaram novas possibilidades temáticas, perpetuando a nova concepção de Literatura defendida por seus antecessores e levando adiante o projeto de liberdade de expressão que possibilitou até mesmo uma revisitação da Literatura clássica.

* A imagem utilizada para ilustrar este artigo foi feita a partir de fotografias de capas de livros dos autores citados.

Publicado por Luana Castro Alves Perez
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