Tipos de verso
Os tipos de verso são classificados segundo o número de sílabas que possuem. Assim, o verso, isto é, cada linha de um poema, pode ser monossílabo, dissílabo, trissílabo, tetrassílabo, pentassílabo (redondilha menor), hexassílabo, heptassílabo (redondilha maior), octossílabo, eneassílabo, decassílabo, hendecassílabo, dodecassílabo (alexandrino) ou bárbaro.
Leia também: O que é poema?
O que é verso?
Verso é o nome que se dá a cada linha de um poema. Assim, neste trecho do poema Rimbaud, de Horácio Costa, é possível contar oito versos:
Talvez devêssemos imaginá-lo
Aos 16
Chegando a Paris
Com a roupa dos 14
Cresceu um palmo em alguns meses
A roupa continuava igual
Enquanto escrevia
Suas Iluminações
[…]
Tipos de verso
O verso é classificado segundo o número de sílabas poéticas. Assim, indicamos, a seguir, os tipos de verso, exemplificados com trechos de poemas de Manuel Bandeira (1886-1968). Antes, porém, devemos esclarecer que a escansão é a contagem de sílabas poéticas do verso. Dessa forma, existem duas regras básicas para escandir versos:
-
A contagem de sílabas do verso é feita até a última sílaba tônica.
-
Quando a última sílaba de uma palavra terminar com som de vogal e a primeira sílaba da palavra seguinte começar com som de vogal, é possível (não é uma regra fixa) juntar essas sílabas, que, assim, transformam-se em uma sílaba só.
Portanto, vamos fazer a escansão dos seguintes tipos de verso:
-
Monossílabo: verso de uma sílaba.
[...]
flé-bil
lá-bil
[...]
-
Dissílabo: verso de duas sílabas.
[...]
Be-beu
Can-tou
Dan-çou
[...]
-
Trissílabo: verso de três sílabas.
[...]
Com- as- u-nhas
Com- os- den-tes
[...]
-
Tetrassílabo: verso de quatro sílabas.
[...]
Da- ves-te- bran-ca
À- lar-ga- tú-nica
Por- fim- ar-ran-ca
A- ro-sa- pú-nica
Em- um- so-lu-ço.
[...]
-
Pentassílabo ou redondilha menor: verso de cinco sílabas.
[...]
Pa-ra- que o- me-ni-no
Dur-ma- sos-se-ga-do,
Sen-ta-da a- seu- la-do
A- mãe-zi-nha- can-ta:
[...]
-
Hexassílabo: verso de seis sílabas.
[...]
Três- di-as- e- três- noi-tes
Fui as-sas-si-no e- sui-ci-da
La-drão,- pu-lha,- fal-sá-rio
[...]
-
Heptassílabo ou redondilha maior: verso de sete sílabas.
Vou-me em-bo-ra- pra- Pa-sár-gada
Lá- sou- a-mi-go- do- rei
Lá- te-nho a- mu-lher- que eu- que-ro
Na- ca-ma- que es-co-lhe-rei
[...]
-
Octossílabo: verso de oito sílabas.
[...]
O- que- res-ta- de- mim- na- vi-da
É- a a-mar-gu-ra- do- que- so-fri.
Pois- na-da- que-ro,- na-da es-pe-ro.
E em- ver-da-de es-tou- mor-to a-li.
-
Eneassílabo: verso de nove sílabas.
[...]
Com- os- gre-gos- e- com- os- troi-a-nos
Com- o- pa-dre e- com- o- sa-cris-tão
Com- o- le-pro-so- de- Pou-so- Al-to
[...]
-
Decassílabo: verso de dez sílabas.
Fres-cu-ra- das- se-rei-as- e- do or-va-lho,
Gra-ça- dos- bran-cos- pés- dos- pe-que-ni-nos,
Voz- das- ma-nhãs- can-tan-do- pe-los- si-nos,
Ro-sa- mais- al-ta- no- mais- al-to- ga-lho:
[...]
-
Hendecassílabo: verso de onze sílabas.
És- na- mi-nha- vi-da- co-mo um- lu-mi-no-so
Po-e-ma- que- se- lê- co-mo-vi-da-men-te
En-tre- sor-ri-sos- e- lá-gri-mas- de- go-zo...
[...]
-
Dodecassílabo ou alexandrino: verso de doze sílabas.
Meu- ca-ro- Rui- Ri-bei-ro- Cou-to, a- mo-ci-da-de
Pro-me-te- mais- que- dá.- So-nha-mos- se- dor-mi-mos,
E- so-nha-mos- quan-do a-cor-da-dos.- Al-tos- ci-mos
Da as-pi-ra-ção,- que em- tor-no- vê- só a i-men-si-da-de!
[...]
-
Verso bárbaro: com mais de doze sílabas.
O ar-ra-nha-céu- so-be- no ar- pu-ro- la-va-do- pe-la- chu-va
E- des-ce- re-fle-ti-do- na- po-ça- de- la-ma- do- pá-tio.
[...]
Leia também: Poesia, poema e soneto – conceitos e diferenças
Exercícios resolvidos
Questão 01 (Enem)
Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e cheirando.
Um cão cheirando o futuro
Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. Adaptação.
O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi
a) o modo raro como foi tratado o “futuro”.
b) a referência ao cão como “animal de estimação”.
c) a flexão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio).
d) a aproximação não usual do agente citado e a ação de “cheirar”.
e) o emprego do artigo indefinido “um” e do artigo definido “o” na mesma frase.
Resolução:
Alternativa “a”.
O futuro foi tratado de modo raro, já que o verso diz que o futuro foi cheirado.
Questão 02 (Enem)
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.
Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor.
a) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v. 1)
b) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,” (v. 5)
c) “Os meus fiéis, meus doces companheiros,” (v. 6)
d) “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v. 7)
e) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,” (v. 11)
Resolução:
Alternativa “a”. O interlocutor são os montes.
Questão 03
Leia este fragmento da poesia Meus amores, de Luiz Gama:
Meus amores são lindos, cor da noite
Recamada de estrelas rutilantes;
Tão formosa crioula, ou Tétis negra
Tem por olhos dois astros cintilantes.
Em rubentes granadas embutidas
Tem por dentes as pérolas mimosas,
Gotas de orvalho que o inverno gela
[...]
Os braços torneados que alucinam,
Quando os move perluxa com langor.
A boca é roxo lírio abrindo a medo,
Dos lábios se destila o grato olor.
[...]
Os versos desse poema podem ser assim classificados:
a) redondilhas menores.
b) redondilhas maiores.
c) decassílabos.
d) alexandrinos.
e) bárbaros.
Resolução:
Alternativa “c”. Os versos possuem dez sílabas poéticas.