O que é poesia?

Poesia é o conteúdo lírico ou poético caracterizado pela subjetividade, plurissignificação, ambiguidade e estranheza. Ela pode ser escrita em forma de prosa ou de versos. Écloga, elegia, epitalâmio, madrigal, ode e sátira são tipos de poesia. Já o poema é uma estrutura textual formada por versos, estrofes e rimas. Ele pode apresentar conteúdo lírico ou narrativo.
Leia também: Quem é o eu lírico de um poema?
Resumo sobre o que é poesia
- Poesia é um texto de caráter conotativo e subjetivo que pode ser escrito em forma de prosa ou de versos.
- Suas principais características são a subjetividade, conotação, ambiguidade e estranheza.
- A poesia é o conteúdo lírico, já o poema é a estrutura do texto poético.
- Os tipos de poesia são:
- écloga;
- elegia;
- epitalâmio;
- madrigal;
- ode;
- sátira.
- O poema é composto por versos, estrofes e rimas.
Videoaula sobre poesia

Principais características da poesia
- Subjetividade.
- Ambiguidade.
- Estranheza.
- Plurissignificação.
- Poder de sugestão.
Diferenças entre poesia e poema
POESIA |
POEMA |
Conteúdo lírico ou poético — ambiguidade, estranheza, conotação. |
Estrutura lírica ou poética — versos, estrofes e rimas. |
Expressão em forma de prosa (prosa poética) ou de versos. |
Contém conteúdo poético (poema lírico) ou narrativo (poema narrativo ou épico). |
Tipos de poesia
Conheça abaixo cada tipo de poesia e suas principais características:
→ Écloga
Apresenta elementos pastoris, bucólicos ou campestres:
Fileno — écloga II
Na margem deleitosa
Do cristalino Tejo,
Sentado um Pescador, a pobre rede
Enquanto tem nas praias estendida,
Ao longe uma harmonia
Nunca ouvida jamais, ao longe escuta
Um canto tão sonoro,
Que nem Glauco suave, nem o cego
Amante da formosa Galateia,
De Sicília entoou na branca areia.
[...]
COSTA, Cláudio Manuel da. Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio). Rio de Janeiro: Garnier, 1903.
→ Elegia
Apresenta tristeza, melancolia ou morbidez:
Elegia a uma pequena borboleta
Como chegavas do casulo,
— inacabada seda viva! —
tuas antenas — fios soltos
da trama de que eras tecida,
e teus olhos, dois grãos da noite
de onde o teu mistério surgia,
como caíste sobre o mundo
inábil, na manhã tão clara,
sem mãe, sem guia, sem conselho,
e rolavas por uma escada
como papel, penugem, poeira,
com mais sonho e silêncio que asas,
[...]
E as lágrimas que por ti choro
fossem o orvalho desses campos,
— os espelhos que refletissem
— voo e silêncio — os teus encantos,
com a ternura humilde e o remorso
dos meus desacertos humanos!
MEIRELES, Cecília. Antologia poética. 3. ed. São Paulo: Global, 2013.
→ Epitalâmio
Apresenta tema relacionado a casamento, à celebração de bodas:
Epitalâmio oferecido ao marquês de Pombal
2
Vejo cisnes de penas prateadas
Trazer do Céu sobre o fecundo leito
Fitas de rosa no pescoço atadas
Estrelas d’oiro no encrespado peito
Já dão caminho as nuvens envoladas,
Já sente a terra o amoroso efeito:
Deixa rastros de luz no ar, que trilha
A bela Deusa das escumas filha.
BASÍLIO DA GAMA. Obras poéticas de Basílio da Gama. São Paulo: Edusp, 1996.
→ Madrigal
Apresenta elementos pastoris e marcas de heroísmo:
Madrigal XXXIII
Temi, ó Glaura bela, os teus rigores,
O duro coração e o peito esquivo;
Cessou esse motivo dos temores,
Depois que me mostraste o puro agrado:
Ah! verei neste prado
Algum dia risonha a Primavera?
Doce prazer feliz minha alma espera;
Mas temo a sorte dura
Que inda pode roubar-me esta ventura.
Madrigal XXXIV
Ditoso e brando vento, por piedade
Entrega à linda Glaura os meus suspiros;
E voltando os teus giros,
Vem depois consolar minha saudade.
Não queiras imitar a crueldade
Do injusto amor, da triste desventura,
Que empenhada procura o meu tormento.
Ditoso e brando vento,
Voa destes retiros,
E entrega à linda Glaura os meus suspiros.
ALVARENGA, Manuel Ignácio da Silva. Glaura: poemas eróticos. Lisboa: Oficina Nunesiana, 1799.
→ Ode
Enaltece ou homenageia pessoa, coisa ou valores nobres:
À televisão
Teu boletim meteorológico
me diz aqui e agora
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora?
A comida suculenta
que pões à minha frente
como-a toda com os olhos.
Aposentei os dentes.
Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
de vida que eu próprio
nem me canso em viver.
Guerra, sexo, esporte
— me dás tudo, tudo.
Vou pregar minha porta:
já não preciso do mundo.
PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
Observação: Note que a ode de José Paulo Paes foi criada com finalidade crítica ou irônica.
→ Sátira
Apresenta crítica irônica direcionada a uma pessoa, fato ou situação:
Soneto
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa, se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção de José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Veja também: O que é poesia concreta?
Estrutura do poema
ESTROFE |
RIMA |
|
Regular, branco ou livre.
|
Monóstico (um verso), dístico (dois versos), terceto (três versos), quarteto (quatro versos), quinteto (cinco versos), sexteto (seis versos), sétima (sete versos), oitava (oito versos), novena (nove versos), décima (dez versos). |
Externa, interna, rica, pobre, emparelhada, alternada, interpolada, mista, aguda, grave, esdrúxula, perfeita, imperfeita. |
Como fazer uma poesia?

A poesia é um conteúdo poético, ou seja, conotativo, ambíguo e capaz de provocar estranheza. Portanto, para fazer poesia é preciso explorar essas características. Tal conteúdo, geralmente, é estruturado em versos. Mas também pode ser expresso em forma de prosa.
Imagine que queremos dizer, de forma não poética:
O gato matou um rato que entrou na cozinha.
Para transformar isso em poesia, o enunciado deve apresentar conotação, ambiguidade e estranheza:
Na mortal cozinha amiga
Do gato com fome de vida
O rato encontrou eternidade
Não deixou sequer saudade
Devemos frisar que, apesar de essa poesia (de nossa autoria) estar expressa em forma de versos, o que define a poesia é seu conteúdo e não elementos estruturais.
Exemplos de poesia
Soneto
Um mancebo no jogo se descora,
Outro bêbedo passa noite e dia,
Um tolo pela valsa viveria,
Um passeia a cavalo, outro namora.
Um outro que uma sina má devora
Faz das vidas alheias zombaria,
Outro toma rapé, um outro espia...
Quantos moços perdidos vejo agora!
Oh! não proíbam, pois, no meu retiro
Do pensamento ao merencório luto
A fumaça gentil por que suspiro.
Numa fumaça o canto d’alma escuto...
Um aroma balsâmico respiro,
Oh! deixai-me fumar o meu charuto!
ÁLVARES DE AZEVEDO. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
A criança
Que tens criança? O areal da estrada
Luzente a cintilar
Parece a folha ardente de uma espada.
Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.
À sombra do palmar
O lavrador se inclina sonolento.
É triste ver uma alvorada em sombras,
Uma ave sem cantar,
O veado estendido nas alfombras.
Mocidade, és a aurora da existência,
Quero ver-te brilhar.
Canta, criança, és a ave da inocência.
Tu choras porque um ramo de baunilha
Não pudeste colher,
Ou pela flor gentil da granadilha?
Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,
Para em teus lábios ver
O riso — a estrela no horizonte da alma.
Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite
Dos seus algozes vis.
E vagas tonto a tatear à noite.
Choras antes de rir... pobre criança!...
Que queres, infeliz?...
— Amigo, eu quero o ferro da vingança.
CASTRO ALVES. Os escravos. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Vênus
Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara,
Que lhe serve de trono, a formosa escultura,
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.
Um sopro, um quê de vida o gênio lhe insuflara;
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura,
A majestade real de uma beleza rara.
Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono
De minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono.
E, na mesma atitude a que a insolência a obriga,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na régia perfeição da formosura antiga.
SILVA, Francisca Júlia da. Mármores. Brasília: Senado Federal, 2020.
Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
CRUZ E SOUSA. Broquéis. Porto Alegre: L&PM, 2011.
inverno europeu
Daqui é mais difícil: país estrangeiro, onde o creme de leite é desconjunturado e a subjetividade se parece com um roubo inicial. Recomendo cautela. Não sou personagem do seu livro e nem que você queira não me recorta no horizonte teórico da década passada. Os militantes sensuais passam a bola: depressão legítima ou charme diante das mulheres inquietas que só elas? Manifesto: segura a bola; eu de conviva não digo nada e indiscretíssima descalço as luvas (no máximo), à direita de quem entra.
CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
→ Exemplos de poesias curtas
noite carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio. Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo.
CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
Data
Duas laranjas
Um copo dágua ao lado
As moedinhas da luz em torno
Perto
A folhinha marca 13 de janeiro
QUINTANA, Mario. Apontamentos de história sobrenatural. São Paulo: Globo, 2005.
Epigrama no 12
A engrenagem trincou pobre e pequeno inseto.
E a hora certa bateu, grande e exata, em seguida.
Mas o toque daquele alto e imenso relógio
dependia daquela exígua e obscura vida?
Ou percebeu sequer, enquanto o som vibrava,
que ela ficava ali, calada mas partida?
MEIRELES, Cecília. Antologia poética. 3. ed. São Paulo: Global, 2013.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
[barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. 6. ed. São Paulo: Global, 2013.
Saiba mais: Qual a diferença entre poesia, poema e soneto?
Exercícios resolvidos sobre poesia
Questão 1 (Enem)
O trecho a seguir é parte do poema “Mocidade e morte”, do poeta romântico Castro Alves:
Oh! eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
–– Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.
Esse poema, como o próprio título sugere, aborda o inconformismo do poeta com a antevisão da morte prematura, ainda na juventude.
A imagem da morte aparece na palavra
A) embalsama.
B) infinito.
C) amplidão.
D) dormir.
E) sono.
Resolução:
Alternativa E.
A palavra “sono” é uma metáfora e significa “morte”, no contexto expresso pelo conteúdo conotativo da poesia.
Questão 2 (Enem)
Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e cheirando.
Um cão cheirando o futuro
Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. Adaptação.
O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi
A) o modo raro como foi tratado o “futuro”.
B) a referência ao cão como “animal de estimação”.
C) a flexão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio).
D) a aproximação não usual do agente citado e a ação de “cheirar”.
E) o emprego do artigo indefinido “um” e do artigo definido “o” na mesma frase.
Resolução:
Alternativa A.
O caráter inovador, poético, conotativo e estranho do verso de Drummond reside no fato de o futuro ser algo que pode ser cheirado.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
CLAVER, Ronald. Uma pitada de poesia em cada dedo de prosa. Belo Horizonte: RHJ, 2009.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 14. ed. São Paulo: Ática, 2006.
Ferramentas Brasil Escola





Artigos Relacionados

Últimas notícias
Outras matérias


