Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda foi um historiador, escritor, sociólogo, jornalista e crítico literário brasileiro. No início de sua carreira, o pensador contribuiu com o movimento modernista brasileiro, resultado da Semana de Arte Moderna de 1922, além de destacar-se como jornalista.
Foi enviado como correspondente de jornais brasileiros a Berlim e atuou como professor universitário em prestigiadas universidades brasileiras, como a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (na época Universidade do Distrito Federal) e a Universidade de São Paulo (USP), instituição na qual se aposentou.
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Biografia de Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda nasceu em 11 de julho de 1902, na cidade de São Paulo. Filho de Heloísa Gonçalves Buarque de Holanda e do farmacêutico e professor universitário Cristóvão Buarque de Holanda, Sérgio seguiu o caminho do pai tornando-se também professor universitário. Quando adolescente, muda-se com a família para o Rio de Janeiro.
Sérgio Buarque bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, em 1925. Enquanto estudava ciências jurídicas, escrevia contos e poesias, além de participar como correspondente carioca do movimento modernista, que efervescia em São Paulo com nomes como o da artista plástica Tarsila do Amaral e o do escritor Oswald de Andrade, por meio da Revista Klaxon, de arte moderna.
Enquanto graduava-se, o pensador brasileiro trabalhou para diversos jornais, atividade que manteve durante certo período após o término de seu bacharelado em Direito. Após formado, foi residir em Berlim, para atuar como correspondente internacional, a convite do magnata da imprensa brasileira Assis Chateaubriand. Nesse período, viveu na Alemanha e na Polônia, e conheceu o pensamento do sociólogo clássico alemão Max Weber.
Retornou para o Brasil, no início da década de 1930, por conta da ascensão do nazismo na Alemanha e passou a trabalhar para agências estatais de notícias. No mesmo período e com anotações trazidas da Europa, o pensador escreveu a sua grande obra historiográfica e sociológica Raízes do Brasil, um clássico sobre a formação de nosso país.
O livro foi publicado em 1936 e tornou-se uma das maiores obras sobre a formação do povo brasileiro, o que conferiu a Sérgio Buarque prestígio enquanto historiador brasileiro. Nesse mesmo período, o pensador inicia seu trabalho como professor assistente na Universidade do Distrito Federal (UDF), extinta em 1939.
Até 1955, Sérgio Buarque passou a trabalhar para jornais, atuar como crítico literário, além de participar e presidir a curadoria de museus e atuar como membro de organizações políticas ligadas ao socialismo brasileiro e contrárias ao governo de Getúlio Vargas. Também foi palestrante e professor visitante nos Estados Unidos.
Em 1956, o pensador assumiu uma cátedra interina de História da Civilização Brasileira na Universidade de São Paulo (USP), posto em que permaneceu até 1969. Em 1969, ele requisitou a sua aposentadoria e afastou-se da USP em solidariedade e protesto contra os professores afastados da universidade pelo Ato Institucional n. 5, promulgado pelo governo militar e que afastou, entre outros, o sociólogo brasileiro Fernando Henrique Cardoso da instituição.
Até os anos de 1980, Sérgio Buarque atuou como crítico literário e escritor, e, no início da década de 1980, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). O historiador, sociólogo, jornalista e crítico literário brasileiro faleceu em 24 de abril de 1982, na cidade de São Paulo.
Filhos e família de Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda foi casado com a intelectual e escritora Maria Amélia de Holanda, apelidada Memélia. Com Maria Amélia, Sérgio teve sete filhos, entre os quais: o músico, cantor e compositor Chico Buarque de Holanda; a cantora e compositora Miúcha; a cantora, compositora, atriz, dramaturga e produtora Ana de Holanda; e a cantora e compositora Cristina Buarque. Miúcha, filha já falecida de Sérgio, era mãe da cantora, compositora e produtora Bebel Gilberto, cujo pai era o cantor e compositor João Gilberto.
Sociologia
Apesar de ser considerado um dos maiores sociólogos do período pré-científico do Brasil, Sérgio Buarque é mais reconhecido enquanto historiador. No entanto, as suas contribuições para o estudo da formação da sociedade brasileira são inegáveis.
Sérgio Buarque de Holanda dedicou-se, desde o fim da década de 1920, a entender a formação plural do povo brasileiro. Vivendo em Berlim e em outras cidades europeias, o pensador percebeu o quanto o povo brasileiro é diversificado em comparação ao povo europeu, sumariamente homogêneo. A teoria histórica proposta por Sérgio Buarque tornou-se uma teoria sociológica da formação do povo brasileiro, com apontamentos sobre como a sociedade brasileira estabeleceu-se.
Raízes do Brasil
O primeiro e mais difundido livro de Sérgio Buarque, Raízes do Brasil, trata da formação do povo brasileiro baseada em uma visão muito controversa que foi objeto de críticas e elogios ao longo do século XX. Para alguns críticos, como o sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Jessé de Souza, a teoria de Sérgio Buarque de Holanda apenas tentava superar o racismo das teorias sociológicas racistas sobre a formação do povo brasileiro. No entanto, algumas afirmações interessantes podem ser retiradas dela.
Sérgio Buarque identificou uma interessante diferença de migração dos colonos que resultou numa diferente formação dos povos: enquanto os colonos norte-americanos (provenientes da Inglaterra) foram para as terras da América do Norte com suas famílias, os primeiros colonos portugueses vieram para o Brasil acompanhados de expedições aventureiras compostas apenas por homens.
Esse fato, segundo Buarque, teria resultado na imensa miscigenação do povo brasileiro: colonos portugueses, supostamente, relacionaram-se com negras e índias, formando uma população miscigenada. Essa teoria parece aproximar-se da teoria do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre sobre a miscigenação, porém ambas desconsideram a questão do estupro e do abuso de homens brancos sobre as mulheres negras e indígenas.
No entanto, o traço mais forte da formação do povo brasileiro identificado pela sociologia de Sérgio Buarque foi a questão da prioridade das relações privadas em relação às relações públicas.
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Homem cordial
A palavra cordial vem do latim cordis, que significa coração. A população brasileira que se formou a partir da colonização era uma população cordial nos vários sentidos da palavra: eram cordiais ao aceitar os mandos da colonização e eram cordiais ao sucumbir às prioridades da formação familiar em detrimento do bem público. Segundo Buarque, desde o início da formação do Brasil, havia uma tendência em colocar o âmbito privado à frente do âmbito público.
O homem cordial era, segundo Sérgio Buarque, o brasileiro nato que preferiria privilegiar os seus em detrimento de contribuir com o público. Essa complicada fórmula teria dado origem ao povo brasileiro: estruturalmente corrupto.
Tendo convivido com outras culturas e com outras nações, Sérgio Buarque atribuiu essa característica não a uma visão etnocentrista, como era comum na época, mas como culpa dos colonos portugueses. Os portugueses, segundo Buarque, eram desprovidos de qualquer nacionalismo, diferentemente de outros grandes povos europeus, o que fez com que a colônia portuguesa findasse-se de maneira antiética.
Créditos das imagens
[1] Acervo Arquivo Nacional/Domínio Público
[2] Companhia das Letras (Reprodução)