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Abaporu

O quadro Abaporu foi pintado por Tarsila do Amaral. Ele apresenta traços surrealistas e elementos nacionais. A obra levou ao surgimento do movimento antropófago.
Fotografia do quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral.
Fotografia do quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral. [1]

Abaporu é um quadro da pintora modernista Tarsila do Amaral. Ele possui caráter surrealista, nacionalista e apresenta as cores da bandeira do Brasil: verde, amarelo e azul. Essa obra foi feita em 1928, como um presente para o escritor Oswald de Andrade, que, na época, era marido da artista.

O autor viu um antropófago na figura humana retratada na tela. Isso o inspirou a criar o movimento antropófago e a escrever o famoso “Manifesto antropófago”. Tal manifesto valoriza a cultura e a identidade brasileiras. Assim, a obra de Tarsila se tornou um símbolo de nacionalidade.

Leia também: Triste fim de Policarpo Quaresma — pré-modernismo na literatura

Resumo sobre a obra Abaporu

  • Abaporu é uma famosa obra da arte modernista brasileira.

  • Ela foi criada pela pintora Tarsila do Amaral, no ano de 1928.

  • A tela apresenta as cores nacionais (verde, amarelo e azul) e traços surrealistas.

  • Essa obra inspirou o surgimento do movimento antropófago e de seu manifesto.

  • Ela é um símbolo da primeira geração do modernismo brasileiro.

Significado e análise da obra Abaporu

Abaporu é uma pintura modernista e, por isso, apresenta elementos nacionalistas. Assim, é possível perceber a presença das cores verde, amarelo e azul. Essas cores estão na bandeira do Brasil e, portanto, representam a nossa nacionalidade. Já a figura humana representada na tela tem a cor morena, símbolo da miscigenação brasileira.

A palavra “abaporu” vem do tupi-guarani e significa “homem que come”. Desse modo, essa figura humana pode ser vista como um antropófago. Devemos lembrar que algumas tribos indígenas brasileiras, na época do descobrimento, praticavam a antropofagia, que é o hábito de comer carne humana.

Desse modo, a tela dialoga com a história do Brasil e com as nossas origens, o que reforça ainda mais seu caráter nacionalista. No mais, a forma humana retratada se mostra com uma pequena cabeça, desproporcional ao restante do corpo. Isso é uma marca surrealista da obra, já que a artista sofreu influência dos movimentos de vanguarda europeus.

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A obra de Tarsila do Amaral é um símbolo não só de nacionalidade, mas também da primeira geração do modernismo brasileiro. Ela é marcada pela inovação e nos remete à essência do nosso povo. Temos a nossa identidade representada em Abaporu, uma das obras mais importantes da arte brasileira.

Veja também: Pré-modernismo — momento de transição no universo artístico brasileiro e europeu

Qual a história da obra Abaporu?

Tarsila do Amaral pintou Abaporu com a intenção de presentear seu marido, o escritor modernista Oswald de Andrade (1890-1954). Ele ficou fascinado com a tela e, após refletir, compartilhou a sua interpretação com a artista. Para Oswald, Tarsila tinha pintado um antropófago brasileiro.

Em um dicionário de tupi-guarani, o casal descobriu que “homem” significa “aba” e que a expressão “que come” é “poru”. Dessa forma, naquele dia 11 de janeiro de 1928, aniversário do escritor, a obra recebeu o nome de Abaporu, em homenagem a um indígena canibal. Em seguida, o escritor escreveu o “Manifesto antropófago”.

Aliás, quando esse manifesto foi publicado na Revista de Antropofagia, um desenho da tela de Tarsila do Amaral foi reproduzido na primeira página do manifesto, como podemos ver na imagem abaixo:

Abaporu na capa do Manifesto Antropófago.
Abaporu na capa do "Manifesto antropófago". [2]

Abaporu e o movimento antropófago

O movimento antropófago surgiu em 1928, como parte do modernismo brasileiro. Movimento artístico-literário, ele propõe pensar o Brasil a partir de suas origens, mas em diálogo com o mundo, de forma a valorizar o local e o universal. Desse modo, ele busca valorizar a cultura nacional e revelar nossa identidade.

A figura do indígena tem papel importante nesse movimento. No passado, o indígena foi herói romântico e representou os valores burgueses. Durante a primeira fase do modernismo, ele foi visto em seu caráter selvagem, não civilizado, um antropófago. Essa antropofagia é simbólica e se refere a algo bem maior.

No irônico “Manifesto antropófago”, Oswald de Andrade defende uma antropofagia cultural. O nacionalismo de Oswald não é xenofóbico, o autor reconhece que o Brasil recebeu influências de várias culturas. E não vê essa influência estrangeira como algo ameaçador para a cultura brasileira.

O canibal modernista, portanto, “come” a cultura estrangeira e aproveita o que de melhor ela tem. Assim, damos a ela uma cara toda brasileira. Oswald de Andrade teve a sensibilidade de perceber que, apesar de tantas influências estrangeiras, os brasileiros têm algo único, uma identidade.

O “Manifesto antropófago” é um documento que registra os fundamentos do movimento antropófago. Mas, acima de tudo, é um texto literário, dado o seu caráter fragmentário, ambíguo e, portanto, sujeito a interpretações:

Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

[...]

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.

A alegria é a prova dos nove. No matriarcado de Pindorama [terra de palmeiras].

Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

[...]

A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura — ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modus vivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo — a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.

[...]

Importância da obra Abaporu

É possível afirmar que, sem Abaporu, não haveria o movimento antropófago. Como já mencionamos, foi essa tela que inspirou o escritor Oswald de Andrade a criar o movimento. Assim, com a participação de outros modernistas, foi criada a Revista de Antropofagia, dirigida por Antônio de Alcântara Machado (1901-1935).

Quem foi Tarsila do Amaral?

 Tarsila do Amaral.
 Tarsila do Amaral.

Tarsila do Amaral foi uma pintora modernista brasileira. Ela nasceu no dia 1º de setembro de 1886, em Capivari, no interior de São Paulo. Era filha de um fazendeiro e viveu sua infância em fazendas. Mais tarde, foi estudar na cidade de São Paulo e também em Barcelona, na Espanha.

Foi nesse país que, em 1904, a artista pintou sua primeira tela — Sagrado coração de Jesus —, com técnicas tradicionais. Estava em Paris durante a Semana de Arte Moderna. Mas, de volta ao Brasil, a pintora se filiou ao modernismo. Tarsila morreu no dia 17 de janeiro de 1973, na cidade de São Paulo.

Saiba mais: Anita Malfatti — outra importante pintora do modernismo brasileiro

Releituras da obra Abaporu

  • Abaporu, de Eloir Jr

  • Abaporu, de Luciano Martins

  • Abaporu, de Romero Britto

  • Abaporu, de Valdsom Braga

  • Abaporu do sertão, de Eduardo Lima

  • Auauporu, de Tarik Klein

  • Girl from Rio, de Hendrio Hendrix

  • Tríptico, de Ricardo Negro

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura brasileira: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2015.

ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3. ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.

LUCERO, María Elena. Relatos de la modernidad brasileña. Tarsila do Amaral y la apertura antropofágica como descolonización estética. Historia y Memoria, n. 10, p. 75-96, 2015.

SANTOS JÚNIOR, Moisés Gonçalves dos; BRITO, Luciana. Presença da estética surrealista na arte moderna brasileira: Abaporu e Manifesto antropofágico. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO, 11, 2011, Jacarezinho. Anais... Jacarezinho: UENP/ CCHE/ CLCA, 2011. p. 626-636.

TARSILA. Site Oficial. Biografia. Disponível em: http://tarsiladoamaral.com.br/biografia/.

VEIGA, Edison. Abaporu: a história do quadro mais valioso da arte brasileira. BBC News, Brasil, 03 abr. 2019. 

Publicado por Warley Souza

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