Futurismo
O futurismo é um dos movimentos artísticos de vanguarda ocorridos na Europa do início do século XX. Ele surgiu em 1909, com a publicação do Manifesto futurista, de Filippo Tommaso Marinetti, em um contexto de tensão política entre as grandes potências que antecedeu a Primeira Guerra Mundial e de uma evidente evolução tecnocientífica. Assim, o movimento é conhecido pelo seu radicalismo ao propor a “destruição do passado”.
São características do futurismo o antitradicionalismo e o culto à guerra e à velocidade, principalmente. Esse movimento, na Europa, foi representado por artistas como os pintores Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Giacomo Balla, Gino Severini e Luigi Russolo. No Brasil, ele foi responsável pelo surgimento do modernismo, que assimilou o seu antitradicionalismo, com vistas à criação de uma arte nova e libertária.
Resumo sobre o futurismo
→ Contexto histórico:
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Tensão política entre as grandes potências mundiais;
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Inovação tecnocientífica;
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Primeira Guerra Mundial.
→ Origem:
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Publicação do Manifesto futurista, em 1909.
→ Características:
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Antitradicionalismo;
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Liberdade de criação;
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Renovação estética;
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Otimismo;
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Dinamismo;
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Culto à guerra e à violência;
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Iconoclastia;
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Mecanização;
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Culto à velocidade e à tecnologia.
→ Principais artistas:
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Filippo Tommaso Marinetti;
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Umberto Boccioni;
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Carlo Carrà;
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Giacomo Balla;
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Gino Severini;
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Luigi Russolo;
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Antonio Sant’Elia;
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Francesco Balilla Pratella.
→ Relevância no Brasil:
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Surgimento do modernismo.
Leia também: Expressionismo – vanguarda que valorizou aspectos irracionais e instintivos
Contexto histórico e origem do futurismo
O futurismo é um dos movimentos de vanguarda surgidos no início do século XX. Oficialmente, nasceu em 1909, com a publicação do primeiro Manifesto futurista, assinado pelo seu líder, o escritor Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944). Esse autor cultuava a violência e a guerra, devido ao seu patriotismo extremista. A partir de 1919, quando se filiou ao Partido Nacional Fascista, passou a usar o movimento como propaganda do fascismo.
Assim como os outros movimentos de vanguarda, o futurismo surgiu em uma época de tensão política entre as superpotências mundiais — o que levou à Primeira Guerra Mundial — e de grande desenvolvimento tecnológico nas áreas de comunicação e transporte, o que permitiu a diminuição das distâncias e, portanto, favoreceu a velocidade nas comunicações. Desse modo, esses dois fatores — tecnologia e velocidade — foram influências essenciais no futurismo, mais do que em outros movimentos de vanguarda.
Além disso, o advento da Primeira Guerra Mundial mostrou que o futurismo estava em consonância com o seu tempo, pois, já no primeiro manifesto, o culto à guerra e à violência estava evidente. Dessa maneira, a estética futurista, desde a sua fundação, mostrou ser um dos movimentos de vanguarda mais radicais, dada a sua agressividade, que parecia extrapolar os limites estéticos.
Características do futurismo
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Antitradicionalismo: liberdade de criação, sem as amarras da arte acadêmica;
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Defesa da “higiene mental”: eliminar a “sujeira”, isto é, o pensamento tradicional;
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Renovação: para construir algo novo é preciso destruir o que já existe;
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Perspectiva otimista, inspirada pela evolução tecnológica, em relação ao futuro da humanidade;
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Valorização do heroico, grandioso e dinâmico;
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Culto à guerra e à violência;
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Iconoclastia: contrário a símbolos, convenções e tradições;
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Exaltação das máquinas: automóveis e aviões;
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Culto à velocidade e à tecnologia.
Principais artistas e obras
O futurismo deixou sua marca principalmente na pintura, mas também na literatura e arquitetura, entre outras artes. Assim, seus principais artistas são:
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Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944): Mafarka, o futurista (1909), romance.
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Umberto Boccioni (1882-1916): Carga dos lanceiros (1915), pintura.
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Carlo Carrà (1881-1966): O funeral do anarquista Galli (1911), pintura.
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Giacomo Balla (1871-1958): Velocidade abstrata e ruído (1914), pintura.
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Gino Severini (1883-1966): Blue dancer (1912), pintura.
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Luigi Russolo (1885-1947): Dinamismo de um automóvel (1913), pintura.
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Antonio Sant’Elia (1888-1916): Central elétrica (1914), projeto de arquitetura.
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Francesco Balilla Pratella (1880-1955): Música futurista (1912), música.
Leia também: Dadaísmo – vanguarda que propunha a ruptura radical com as estruturas tradicionais
Futurismo no Brasil
A importância do futurismo para a arte brasileira está na sua perspectiva radical de quebra com a tradição e consequente valorização da liberdade de criação, base do modernismo brasileiro. Portanto, esse movimento de vanguarda de origem europeia foi a principal influência para a criação do nosso modernismo. No entanto, não houve, no Brasil, uma estética futurista, isto é, pinturas, esculturas ou textos literários com características definidoras desse movimento.
Mário de Andrade (1893-1945) foi o responsável pela adoção do termo “modernismo” para definir a nova estética que estava sendo construída no país. Até então, os artistas de vanguarda brasileiros estavam sendo chamados de “futuristas”. Mas a importação desse termo não condizia com a visão nacionalista dos modernistas brasileiros, que buscavam definir uma identidade nacional. Apesar disso, a imprensa do país, naquele momento, parecia não entender a diferença entre modernismo e futurismo, e tratava os dois movimentos como uma coisa só, tamanha era a força dessa influência.
No entanto, entre os artistas modernistas brasileiros da década de 1920, houve grande preocupação em rejeitar qualquer vínculo direto com a estética futurista, o que muito tem a ver com uma postura ideológica de oposição ao fascismo que Marinetti representava. Assim, com exceções como Graça Aranha (1868-1931), Ronald de Carvalho (1893-1935) e Manuel Bandeira (1886-1968), que recepcionaram Marinetti em sua primeira palestra no Brasil em 1926, outros modernistas preferiram manter distanciamento do criador do futurismo.
Essa origem futurista do movimento modernista no Brasil, contudo, não pode ser negada e se deve, também, ao contexto histórico em que estava inserida a cidade de São Paulo, berço do modernismo brasileiro, no início do século XX. A cidade era uma metrópole em ascensão, em processo de modernização, industrialização e urbanização. Nada mais natural que a estética futurista, que valorizava a tecnologia e a mecanização, conquistasse a simpatia dos artistas da época.
Em conclusão, a estética futurista não teve representatividade nas artes visuais brasileiras. Na literatura, sua influência principal está na estrutura do texto, construído a partir da liberdade formal. Assim, todos os autores dos textos modernistas da primeira geração trazem em suas obras essa perspectiva libertária do futurismo, como bem ilustra o poema “Poética”, do livro Libertinagem (1930), de Manuel Bandeira, que defende essa liberdade em seu conteúdo e a demonstra em sua estrutura, construída com versos livres (sem métrica e sem rima):
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Veja também: Surrealismo – vanguarda que rompe com a busca dos sentidos nas representações
Exercícios resolvidos sobre futurismo
Questão 1 - (Enem)
Texto I
Texto II
A existência dos homens criadores modernos é muito mais condensada e mais complicada do que a das pessoas dos séculos precedentes. A coisa representada, por imagem, fica menos fixa, o objeto em si mesmo se expõe menos do que antes. Uma paisagem rasgada por um automóvel, ou por um trem, perde em valor descritivo, mas ganha em valor sintético. O homem moderno registra cem vezes mais impressões do que o artista do século XVIII.
LEGÉR, F. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989.
A vanguarda europeia, evidenciada pela obra e pelo texto, expressa os ideais e a estética do
a) Cubismo, que questionava o uso da perspectiva por meio da fragmentação geométrica.
b) Expressionismo alemão, que criticava a arte acadêmica, usando a deformação das figuras.
c) Dadaísmo, que rejeitava a instituição artística, propondo a antiarte.
d) Futurismo, que propunha uma nova estética, baseada nos valores da vida moderna.
e) Neoplasticismo, que buscava o equilíbrio plástico, com utilização da direção horizontal e vertical.
Resolução
Alternativa D.
O autor do Texto I é Gino Severini, um conhecido pintor do futurismo. Além disso, o conteúdo do Texto II acaba sendo uma análise dessa pintura futurista quando diz que, nas obras dos “criadores modernos”, a “coisa representada, por imagem, fica menos fixa”, o que indica a ilusão de movimento produzida pelo Texto I, uma característica do futurismo.
Questão 2 – (UFPA) As ideias de Marinetti influenciaram muito os nossos autores. Dele, os escritores brasileiros seguiram:
a) a exacerbação do nacional e a sintaxe tradicional.
b) a paixão pela metáfora, intelectualista e rebuscada, e pelas frases de efeito.
c) a negação do passado e o uso de palavras em liberdade.
d) conceito de felicidade na vida em contato com a natureza e a fé na razão e na ciência.
e) gosto pelo psicologismo na ficção e a supervalorização da natureza.
Resolução
Alternativa C.
O fturismo realizou a negação do passado e defendeu a liberdade de criação, bases do modernismo brasileiro.
Questão 3 – (UEL) Algumas vanguardas artísticas europeias criadas na primeira metade do século XX foram manifestações artístico-literárias que criticavam uma concepção tradicional de museu, introduzindo uma estética marcada pela experimentação e pela subjetividade, que influenciaria fortemente diversas manifestações culturais em todo o mundo.
Sobre as principais correntes vanguardistas e suas respectivas características, assinale a alternativa correta.
a) O Surrealismo apresentava a exaltação da tecnologia, das máquinas, da velocidade e do progresso.
b) O Expressionismo evidenciava a decomposição e a fragmentação das formas geométricas, afirmando que um mesmo objeto poderia ser visto de vários ângulos.
c) O Cubismo valorizava a subjetividade e buscava transmitir ao mundo a situação do homem, com seus vícios e horrores.
d) O Futurismo defendia a criação por meio das experiências nascidas no imaginário e na atmosfera onírica, sem interferências da razão.
e) O Dadaísmo surgiu como oposição à guerra e ressaltava a espontaneidade da arte pautada na liberdade de expressão, no absurdo e na irracionalidade.
Resolução
Alternativa E.
O dadaísmo se opunha à guerra e defendia a arte espontânea, não racional. No entanto, como recurso de exclusão de alternativas, é preciso saber que a alternativa “d” está incorreta, pois o futurismo não “defendia a criação por meio de experiências nascidas no imaginário e na atmosfera onírica”, isso é uma característica do surrealismo. O futurismo cultuava a guerra, as máquinas, o movimento e a velocidade.