Degradação do Cerrado
O Cerrado brasileiro é popularmente conhecido como “a savana mais rica do planeta” — apesar de ele apresentar não apenas formações savânicas, mas também campestres e florestais — e abrange um elevado número de espécies animais e vegetais. Esse bioma, além disso, também é conhecido como “a caixa d'água do Brasil” por conter nascentes ou abrigar leitos de alguns dos mais importantes rios brasileiros. No entanto, tal importância não serviu de justificativa para conter a expansão das práticas humanas sobre o seu espaço natural, e esse domínio natural foi amplamente devastado ao longo do século XX.
Originalmente, o Cerrado apresentava uma área superior a 204 milhões de hectares. Atualmente, 57% desse total já foi totalmente degradado, e o restante encontra-se subdividido em áreas modificadas e fortemente modificadas, o que foi responsável pelo baixíssimo nível de conservação de suas reservas naturais. Além disso, há dados divulgados por ONGs ambientalistas que afirmam que o processo de desmatamento de suas áreas avança em 1,5% ao ano, o que é considerado um índice elevado.
No mapa a seguir, amplamente divulgado pela organização Conservação Internacional, podemos melhor visualizar o comparativo do bioma Cerrado entre suas áreas originais e seu espaço atual.
Mapa comparativo entre as áreas originais e a vegetação remanescente do Cerrado ²
O que se pode notar é que uma mancha composta apenas por áreas naturais foi gradativamente substituída por pequenas áreas localizadas e não conectadas entre si. Os principais efeitos da degradação do Cerrado são a perda da biodiversidade e o risco de extinção de muitas espécies, algumas delas endêmicas (só existem nessa região), tais como a raposa-do-campo e o lobo-guará. Importantes rios brasileiros também são afetados, tais como o Rio São Francisco e o Tocantins, cursos d'água que não se restringem às áreas desse bioma, sendo importantes também para outras regiões brasileiras.
Uma das principais causas da degradação do Cerrado foi a expansão da fronteira agrícola brasileira, em que as atividades agropecuárias passaram a ocupar em larga escala os domínios antes pertencentes ao domínio natural em questão. Tal processo foi, em grande parte, facilitado pelos avanços no que diz respeito às diferentes técnicas de cultivo, notadamente a partir dos processos de correção dos solos ácidos do Cerrado brasileiro, antes pouco favoráveis à inserção de monoculturas.
É claro que tal processo foi importante para o aumento da produtividade agrícola brasileira, embora a maior parte do cultivo tenha sido direcionada para o mercado externo, sobretudo pelo cultivo da soja e, mais recentemente, da cana-de-açúcar. Por outro lado, a expansão foi desordenada e não respeitou, em muitos casos, os limites naturais, como matas ciliares ou áreas de grande necessidade de conservação, espaço de morada de várias espécies.
Outro problema vivenciado pelo Cerrado é a ação do fogo. Naturalmente, as queimadas são até benéficas e fazem parte do ciclo de renovação da vegetação local, mas geralmente ocorrem em pequena escala e causam poucos prejuízos. Por outro lado, as queimadas causadas pelos seres humanos ocasionam a total perda das espécies, além de contribuir para o desgaste dos solos da região.
Nos últimos anos, ações coordenadas pelo Ministério do Meio Ambiente e algumas organizações ambientais vêm trabalhando para conservar as áreas do Cerrado, fazendo-se respeitar os termos, já bastante limitados, do Código Florestal brasileiro. Monitora-se também o avanço do desmatamento através do Plano de Ação de Prevenção e Controle do Desmatamento no Bioma do Cerrado (PPCerrado). No entanto, ainda há muito o que avançar, pois as Unidades de Conservação são apenas 0,85% das áreas desse domínio e, mesmo elas, sofrem com a pressão de ruralistas e agronegociantes que buscam expandir suas áreas de cultivo.
A importância natural e ambiental do bioma Cerrado é um imperativo para que os programas de conservação de suas áreas sejam intensificados, uma vez que alguns dados apontam que, caso o nível de devastação atual seja mantido, esse importante domínio natural conhecerá o seu fim no ano de 2030.
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¹ Créditos da Imagem: Agência Brasil / Wikimedia Commons
² Créditos da Imagem: Conservação Internacional Brasil