Primavera de Praga
![Tanques do Pacto de Varsóvia nas ruas de Praga em 1968 durante a Primavera de Praga.[1] Tanques do Pacto de Varsóvia nas ruas de Praga em 1968 durante a Primavera de Praga.[1]](https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2025/03/tanques-do-pacto-de-varsovia-nas-ruas-de-praga-em-1968-durante-a-primavera-de-praga1.jpg)
Primavera de Praga foi o breve período da história da Tchecoslováquia no qual diversas reformas liberalizantes foram implementadas no país, na época um Estado satélite da União Soviética. Grandes manifestações ocorreram em Praga em apoio às reformas, contando com grande participação da juventude, de intelectuais e de artistas.
A Primavera de Praga se iniciou em 5 de janeiro de 1968, quando Alexander Dubcek, líder do grupo reformista do Partido Comunista da Tchecoslováquia, assumiu o poder como secretário-geral do partido. As principais leis promulgadas por Dubcek acabaram com a censura, permitiram o direito de associação, o direito à greve e previram o fim do unipartidarismo.
A União Soviética, temendo enfraquecer-se politicamente na Guerra Fria, enviou em 21 de agosto de 1968 tropas do Pacto de Varsóvia para encerrar a Primavera de Praga. Em pouco tempo, a primavera foi contida e os principais reformistas foram afastados do poder e substituídos por conservadores alinhados à União Soviética.
Leia também: Guerra Fria — detalhes sobre o conflito ideológico maior do qual a Primavera de Praga fez parte
Resumo sobre a Primavera de Praga
- Primavera de Praga foi o período no qual a ala reformista do Partido Comunista da Tchecoslováquia aprovou uma série de medidas que promoveram uma abertura política e econômica no país.
- A Tchecoslováquia era uma república satélite da União Soviética e se localizava na fronteira da Cortina de Ferro.
- Durante a Primavera de Praga, grandes manifestações ocorreram na Tchecoslováquia.
- A Primavera de Praga foi um dos principais eventos de 1968, ano marcado por grandes manifestações e acontecimentos históricos em todo o mundo.
- A Primavera de Braga durou pouco mais de sete meses, mas deixou um legado que influenciou o fim do comunismo do país, em 1989.
- Alexander Dubcek iniciou a Primavera de Praga em 5 de janeiro de 1968, quando assumiu o governo do país.
- Dubcek e outros reformistas defendiam um “socialismo com rosto humano”.
- Em 21 de agosto de 1968, a Primavera de Praga se encerrou quando tropas do Pacto de Varsóvia ocuparam a Tchecoslováquia.
- Em 1989, após a Revolução do Veludo, Alexander Dubcek foi eleito presidente do Parlamento da Tchecoslováquia, decretando o fim do comunismo no país.
O que foi a Primavera de Praga?
A Primavera de Praga foi um período de reformas políticas e econômicas na Tchecoslováquia, ocorrido entre 5 de janeiro de 1968 e 21 de agosto do mesmo ano. A expressão “Primavera de Praga” foi adotada pelas mídias tchecoslovacas e ocidentais, com a ideia de que uma nova Tchecoslováquia florescia.
A Primavera de Praga foi um dos eventos marcantes no ano de 1968, marcado por manifestações por liberdade e democracia em todo o mundo, inclusive no Brasil. A participação da juventude foi uma das marcas de 1968, assim como na Primavera de Praga.
Contexto histórico da Primavera de Praga
No contexto regional, a Primavera de Praga ocorreu no período de domínio soviético. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa foi dividida em duas áreas de ocupação, e a Europa Oriental, da qual a Tchecoslováquia fazia parte, ficou sob a tutela da União Soviética.
A Tchecoslováquia foi ocupada por tropas soviéticas após o fim da guerra. Edvard Benes, que era presidente da Tchecoslováquia na época da ocupação nazista e que governou o país no exílio, retornou à presidência.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Partido Comunista da Tchecoslováquia (KSC) foi uma das principais forças de resistência contra os invasores nazistas e da libertação do país, o que fez com que o partido ganhasse a simpatia de parte da população. Após a guerra, o KSC se tornou o principal partido tcheco-eslovaco, elegendo 38% dos legisladores na eleição de 1946.
Mas, em pouco tempo, o KSC perdeu apoio popular e, temendo ser derrotado nas eleições que se aproximavam, promoveu um golpe de Estado em 1948, derrubando o governo de Edvard Benes e assumindo o poder. O Golpe de Praga, como o golpe ficou conhecido, contou com apoio da União Soviética, que objetivava garantir seu controle em uma das principais fronteiras da Cortina de Ferro.
No contexto global, a Primavera de Praga ocorreu no conturbado ano de 1968, um ano marcado por grandes manifestações em diversos países do mundo, capitalistas e socialistas. A maioria das manifestações de 68 foram conduzidas pela juventude. O ano também foi marcado por diversos acontecimentos históricos.
Nos Estados Unidos, ocorreram manifestações contra a Guerra do Vietnã, o movimento hippie atingiu seu ápice e a luta pelos direitos civis se massificou. Em Paris, estudantes e trabalhadores foram às ruas, exigindo reformas no sistema de ensino, direitos trabalhistas, aumento salarial, direitos para as mulheres e maior liberdade sexual.
Na época frases como “Queremos tudo e queremos agora”, “É proibido proibir” e “Faça amor, não faça a guerra” se tornaram populares. No Brasil, que vivia sob a Ditadura Militar desde 1964, greves de trabalhadores abalaram o governo, assim como grandes manifestações estudantis que ocorreram em todo o país, entre elas a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro.
Quais causas da Primavera de Praga?
A principal causa da Primavera de Praga foi o domínio soviético sobre a Tchecoslováquia, após o Golpe de Praga. Desde o Golpe de Praga, o Partido Comunista da Tchecoslováquia controlou com mão de ferro o poder, utilizando as forças armadas e policiais para reprimir os opositores bem como impondo censura, o unipartidarismo e o alinhamento irrestrito com a União Soviética.
Outra causa da Primavera de Praga foi a questão econômica. Desde meados da década de 1960, o país sofria com uma crise provocada, em parte, pela ineficiência do burocrático estado tcheco-eslovaco, que aumentou o custo de vida.
Em 1967, uma crise política se abateu sobre o Partido Comunista da Tchecoslováquia, ocorrendo uma divisão entre as lideranças da sigla. Parte do partido, chamada de ortodoxos, era fortemente alinhada à União Soviética e favorável à manutenção do status quo. Esse grupo era liderado pelo primeiro-secretário do Partido Comunista, quem de fato governava o país, Antonin Novotný.
Já o grupo dos reformadores defendia um processo de abertura política e econômica, além de menor alinhamento com Moscou. Alexander Dubcek era o principal líder reformista, sendo defensor do que ele chamou de “socialismo com rosto humano”.
No final de 1967, os reformadores descobriram um plano de Antonin Novotný no qual este pretendia suspender as eleições gerais do partido e se manter no poder. O plano enfraqueceu Novotný, e Alexander Dubcek foi eleito, assumindo o cargo de primeiro-secretário em 5 de janeiro de 1968, considerado o marco inicial da Primavera de Praga.
Objetivos da Primavera de Praga
Os principais objetivos da Primavera de Praga foram anunciados por Alexander Dubcek durante a sua posse e implementados por meio do Programa de Ação, que estabeleceu:
- a permissão para a fundação de novos partidos socialistas no país;
- o fim da censura e a garantia da liberdade de expressão;
- garantia do direito de realização de assembleias e greves;
- liberdade para a realização de pesquisas científicas, para os artistas e para cultos religiosos;
- medidas econômicas que estimulavam a iniciativa privada.
As medidas adotadas por Alexander Dubcek foram populares em diversos setores da sociedade tcheca, mas o principal apoio veio do mundo acadêmico e dos estudantes do país. Manifestações em apoio as reformas ganharam as ruas de Praga e cresceram com o desenrolar de 1968.
Com o fim da censura, jornais, canais de televisão, artistas e intelectuais passaram a criticar o controle soviético, o autoritarismo e a burocratização. A Tchecoslováquia desfrutou de um período de euforia durante a Primavera de Praga.
Como terminou a Primavera de Praga?
A União Soviética controlava com mão de ferro suas repúblicas satélites, e a Primavera de Praga caiu como uma bomba na cúpula do Partido Comunista. Os soviéticos temiam perder o controle sobre o país e que isso enfraquecesse politicamente a União Soviética na Guerra Fria.
Brejnev, o secretário-geral do PC da União Soviética, convocou uma reunião dos líderes do Pacto de Varsóvia que ocorreu em 23 de março na cidade de Dresden, então Alemanha Oriental. Houve divisão entre os países do pacto, com a Hungria sendo favorável às mudanças propostas pela Primavera de Praga e a Polônia não se opondo a ela.
Em maio a KGB iniciou a Operação Progresso, infiltrando agentes dentro de organizações que eram a favor da Primavera de Praga, identificando as lideranças e plantando informações falsas para desestabilizar o movimento.
Em 17 de junho, foi publicado o Manifesto das Duas Mil Palavras, escrito por Ludvík Vaculík e assinado por dezenas de intelectuais tchecoslovacos. O manifesto exaltava as mudanças da Primavera de Praga e alertava a população para o futuro de repressão que viria. Ele foi publicado em diversos periódicos do país e se tornou um dos símbolos da Primavera de Praga.
O manifesto, para muitos historiadores, foi o fator decisivo para os líderes soviéticos optarem por reprimir a Primavera de Praga. Na madrugada de 20 para 21 de agosto, tropas do Pacto de Varsóvia, compostas por tropas da União Soviética, Polônia, Hungria e Bulgária, invadiram Praga para acabar com as manifestações e abolir as reformas da Primavera de Praga. Mais de meio milhão de soldados e mais de sete mil tanques foram utilizados na ocupação da Tchecoslováquia.
Em abril de 1969, Alexander Dubcek foi substituído por um secretário-geral alinhado ao Kremlin, que revogou as últimas leis da Primavera de Praga.
Consequências da Primavera de Praga
A primeira consequência da Primavera de Praga foi imediata, com a intervenção dos soviéticos no país por meio do uso das forças do Pacto de Varsóvia. Todas as medidas progressistas tomadas na Primavera de Praga foram abolidas. A censura retornou e houve repressão aos jornais e jornalistas alinhados à Primavera de Praga.
Além disso, a intervenção nas repúblicas soviéticas aumentou após a Primavera de Praga, com o deslocamento considerado de tropas soviéticas para elas assim como a ampliação do sistema de repressão.
Alexander Dubcek foi expulso do Partido Comunista da Tchecoslováquia e recebeu um cargo de guarda florestal, ficando no ostracismo por quase duas décadas. Em seu lugar passou a governar o país Gustáv Husák, alinhado à URSS. Assim como Dubcek, diversos outros membros foram expurgados do partido e dos importantes cargos públicos.
Apesar de reprimida por tanques e tropas, a Primavera de Praga deixou sementes que, 1989, germinaram e promoveram uma nova primavera em Praga, em toda a Tchecoslováquia e no bloco soviético. Em novembro de 1989, eclodiu a Revolução do Veludo, um imenso movimento que levou às ruas de Praga milhões de pessoas que pediam o fim do governo comunista. O mesmo ocorria em quase todas as repúblicas soviéticas e na própria superpotência da Guerra Fria.
Em 10 de dezembro de 1989, Gustáv Husák, no poder desde o fim da Primavera de Praga, renunciou. Alexander Dubcek, o personagem que iniciou a Primavera de Praga em 1968, foi eleito presidente do Parlamento da Tchecoslováquia, finalizando o período comunista no país.
Anos após deixar o cargo, Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, afirmou que a Glasnost e a Perestroika, suas famosas políticas de abertura que levaram ao fim da União Soviética, foram inspiradas no “socialismo de rosto humano” da Primavera de Praga.
Acesse também: Como se deu o fim da União Soviética?
Exercícios resolvidos sobre a Primavera de Praga
Questão 1
(FMJ)
A Primavera de Praga, em 1968, precedida e acompanhada de fermentação e agitação político-culturais, coincidiu com a explosão geral de radicalismo estudantil: um dos raros movimentos que cruzaram oceanos e as fronteiras de sistemas sociais, e produziram movimentos sociais simultâneos, sobretudo centrados nos estudantes, da Califórnia e México à Polônia e Iugoslávia.) A Primavera de Praga, em 1968, precedida e acompanhada de fermentação e agitação político-culturais, coincidiu com a explosão geral de radicalismo estudantil: um dos raros movimentos que cruzaram oceanos e as fronteiras de sistemas sociais, e produziram movimentos sociais simultâneos, sobretudo centrados nos estudantes, da Califórnia e México à Polônia e Iugoslávia.
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos, 1999. Adaptado.)
Sobre essas mobilizações de 1968, é correto afirmar que:
A) o bloco soviético estava coeso em favor dos movimentos estudantis no mundo.
B) o reformismo do bloco socialista foi apoiado pela burocracia estatal de Moscou.
C) o caráter revolucionário do movimento estudantil concretizou-se no fim do socialismo.
D) o levante estudantil da França estimulou a ascensão de ditaduras na América Latina.
E) o movimento democrático na Tchecoslováquia foi reprimido pelos soviéticos.
Resolução:
Alternativa E.
A Primavera de Praga, ocorrida entre janeiro e agosto de 1968, foi um movimento em defesa das medidas de abertura política e econômica adotadas pelo governo da Tchecoslováquia. Considerada uma ameaça pela União Soviética, o movimento foi reprimido por tropas do Pacto de Varsóvia em agosto.
Questão 2
(PUC) Em 2008 comemoram-se os quarenta anos do emblemático ano de 1968, um ano que modificou profundamente o mundo em que vivemos. Sobre os significados dos acontecimentos que marcaram o ano de 1968, estão corretas as afirmativas abaixo, à exceção de:
A) Neste ano ocorreu a “Primavera de Praga”, na Tchecoslováquia, que representou a “luta por um socialismo com a face mais humana”, nas palavras de seus líderes.
B) O ano de 1968 foi marcado pela defesa dos valores tradicionais, como a família, pelo conservadorismo, pelo repúdio às utopias igualitárias e à política.
C) Na França os estudantes universitários foram para as ruas defender o “direito de pedir o impossível e proibir as proibições”.
D) No Brasil ocorreram diversas manifestações estudantis contra a ditadura militar e pelo retorno da democracia.
E) Nos Estados Unidos a juventude protestou contra a Guerra do Vietnã, participou do movimento hippie e lutou pelos direitos civis dos negros.
Resolução:
Alternativa B.
O ano de 1968 foi marcado por movimentos estudantis nas manifestações que ocorreram em diversas partes do globo. A juventude exigia, entre outras coisas, maior liberdade sexual e o fim do autoritarismo.
Crédito de imagem
[1] Engramma.it / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
APPLEBAUM, Anne. A Cortina de Ferro. Editora Bertrand, Rio de Janeiro, 2023.
JUDT, Tony. Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945. Editora Objetiva, São Paulo, 2008.
Ferramentas Brasil Escola




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