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Ciclo do Café

O Ciclo do Café no Brasil foi o período no qual o principal produto da economia nacional era o café e em que houve desenvolvimento industrial e ferroviário.
Pintura “A Florada”, de Antonio Ferrigno, retratando o Ciclo do Café.
Pintura A Florada, de Antonio Ferrigno. Nela, está representada uma fazenda de café e os trabalhadores cultivando o produto. [1]

O Ciclo do Café foi o período no qual o produto mais importante da economia brasileira foi o café. Entre os séculos XIX e XX, o café foi o carro-chefe das exportações brasileiras e trouxe grandes mudanças políticas, econômicas e culturais para o país, como o desenvolvimento de ferrovias, indústrias e bancos e o emprego de mão de obra imigrante em larga escala.

Leia também: Ciclo da Borracha — outro ciclo da economia brasileira

Resumo sobre o Ciclo do Café

  • O Ciclo do Café, iniciado no século XIX e com fim no século XX, na década de 1930, foi um período de grande desenvolvimento econômico no Brasil, durante o qual o café foi o produto de maior destaque na economia nacional.
  • O café chegou ao país em 1727 com os imigrantes estrangeiros.
  • As principais áreas de cultivo se localizavam no estado de São Paulo: o Vale do Paraíba, comandado pelos Barões do Café, que utilizavam mão de obra negra escravizada; e o Oeste Paulista, comandado pela burguesia cafeeira, que empregou mão de obra imigrante.
  • Para transportar e escoar o café do Oeste, foram criadas as primeiras ferrovias da história do Brasil, que passaram a cruzar todo o estado de São Paulo, ligando as áreas produtivas aos portos de exportação.
  • O solo paulista, chamado de “terra roxa”, era favorável para o cultivo da planta, que encontrou condições de amplo desenvolvimento na região.
  • Esse ciclo econômico está atrelado ao início da industrialização brasileira, embora voltada aos setores que supriam a demanda do café.
  • O Ciclo do Café gerou uma modernização da economia brasileira, dando também protagonismo internacional para o Brasil.
  • A crise do Ciclo do Café está relacionada à Crise de 1929, e o fim desse ciclo econômico está atrelado à Revolução de 1930.

O que foi o Ciclo do Café no Brasil?

O Ciclo do Café no Brasil foi o período, entre o início do século XIX e o início do século XX, no qual o café foi o produto mais importante da economia brasileira, exportado para diversas nações do mundo. Sua produção desenvolveu estruturas de transporte, modificou estruturas de trabalho e viveu a transição do Segundo Reinado para a República.

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Contexto histórico do Ciclo do Café

O contexto histórico para o Ciclo do Café brasileiro é o intervalo entre 1830 e 1930, aproximadamente. No início do século XIX, a expansão da Segunda Revolução Industrial da Inglaterra para o mundo populariza a bebida, tanto como energético necessário ao trabalho nas fábricas como ingrediente para diversas bebidas e alimentos mais elaborados.

Com características naturais favoráveis, como o solo e o clima, o estado de São Paulo despontou como o maior produtor brasileiro, e a produção nacional foi enorme, tanto que o café chegou a ser negociado como commodity na Bolsa de Valores de Nova York.

Chegada do café ao Brasil

O café chegou ao Brasil em 1727, no Pará, através de comerciantes estrangeiros. Fontes documentais apontam que em 1760 foi introduzido no Rio de Janeiro. Mas é a partir de sua plantação em larga escala, em 1830, no Vale do Paraíba (SP), que adquire protagonismo econômico. Por ser uma planta relativamente pequena, podia ser plantada em larga escala no modelo de plantation, já conhecido dos fazendeiros de cana-de-açúcar.

Características e funcionamento do Ciclo do Café

O café foi produzido no estado de São Paulo de forma simultânea em duas áreas distintas, cada qual com características próprias:

  • Vale do Paraíba: área cujo auge ocorreu entre 1830 e 1870. Os fazendeiros do Vale do Paraíba, chamados de Elite Tradicional ou Barões do Café pela historiografia especializada, eram antigos membros da elite açucareira e mineradora, utilizavam a mão de obra negra escravizada e modelos de transporte animal, sobretudo de tropas de burros.
  • Oeste Paulista: área cujo auge ocorreu entre 1840 e 1930. Dada sua maior distância em relação aos principais portos exportadores (Santos e Rio de Janeiro), inovações eram necessárias. O solo fértil do Oeste era mais abundante e vasto, a chamada terra roxa, mas não havia formas simples de transportar a produção para as regiões exportadoras. Assim, essa necessidade gerou soluções inovadoras e industriais: a criação de ferrovias que cortavam todo o estado, transportando a carga para os portos.
Pintura “O lavrador de café”, de Candido Portinari, representando um trabalhador escravizado no contexto do Ciclo do Café.
Pintura O lavrador de café, de Candido Portinari. Nela, um trabalhador escravizado negro é representado trabalhando no cultivo de café. [2]

Ciclo do Café e a industrialização brasileira

A expansão do café para o Oeste Paulista trouxe diversas consequências para a economia brasileira da época. A elite cafeeira dessa região passou a diversificar investimentos: em vez de reinvestir todos os seus recursos na expansão do café, também investiu em bancos, ferrovias e indústrias. Com isso, coube a ela a classificação, atribuída pelo economista Celso Furtado e reiterada pelo historiador Sérgio Milliet, de “burguesia do café”.

Apesar disso, a industrialização desse período não foi a responsável por transformar a economia brasileira em industrial. Tratou-se de uma evolução concentrada em setores têxteis e metalúrgicos específicos, que supriam algumas demandas do café, ainda centrais na economia nacional. Foi apenas a partir do século XX, notadamente no governo de Wenceslau Brás (1914–1918) e no governo de Getúlio Vargas (1930–1945), que a economia industrial se desenvolveu a ponto de superar o café.     

Importância do Ciclo do Café para o Brasil

A importância do Ciclo do Café para o Brasil pode ser observada a partir de diferentes aspectos. Um desses aspectos é o grande protagonismo internacional brasileiro que essa atividade econômica gerou. Outro aspecto foi o desenvolvimento de grandes núcleos urbanos no Oeste Paulista, como Campinas, Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Ribeirão Preto.

Além desses aspectos, também é possível destacar o desenvolvimento de linhas ferroviárias e companhias ferroviárias que as administraram, como a Companhia Paulista e a São Paulo Railway Company. Hove ainda a adoção da mão de obra imigrante, sobretudo italiana, em um contexto de desmonte da escravidão negra no país.

Consequências do Ciclo do Café

O Ciclo do Café levou à formação de núcleos urbanos, ao desenvolvimento da malha ferroviária no estado de São Paulo e à modernização na economia brasileira, esta última causada pelo grande volume de recursos resultantes dos lucros da atividade, que foram reinvestidos em negócios como bancos, indústrias e melhorias urbanas.

Crise do Ciclo do Café

A crise do Ciclo do Café se refere à redução de importância desse produto na matriz econômica nacional. Isso ocorreu por regiões: o café do Vale do Paraíba entrou em crise a partir de 1870, momento no qual foi superado pelo café do Oeste, que enfrentou sua grande crise em 1930.

A crise foi intensificada com a Crise de 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e seus reflexos no Brasil, entre eles a queda na compra do café feita pelos Estados Unidos, que eram o maior comprador. O evento que está relacionado ao fim definitivo desse ciclo econômico é a Revolução de 1930, golpe por meio do qual Getúlio Vargas tomou o poder. 

Curiosidades sobre o Ciclo do Café

Imigrantes italianos trabalhando em uma fazenda de café em São Paulo, no contexto do Ciclo do Café.
Fotografia das primeiras décadas do século XX, na qual se veem imigrantes italianos em uma fazenda de café em São Paulo.
  • A mão de obra que trabalhou no Ciclo do Café na região Oeste de São Paulo foi praticamente toda imigrante. Inicialmente, entre 1847 e 1870, vigorou um sistema de parcerias, criado pelo senador Vergueiro, importante político paulista da época. Nesse modelo, vieram para São Paulo muitos imigrantes suíços e austríacos. O modelo, porém, fracassou: em uma relação de parceria, os trabalhadores não recebem salários, mas uma parte do lucro final da produção. O que ocorreu na época foi que os imigrantes, sem salários e vindos de condições já empobrecidas em seus países de origem, se endividaram muito. Isso ocasionou muitas revoltas e crises diplomáticas, que levaram ao fim do modelo.
  • A partir de 1871, o governo do estado de São Paulo estabeleceu um novo modelo de imigração, que vigorou entre 1871 e 1927, chamado imigração subvencionada, no qual os imigrantes, em maioria italianos, receberiam salários e auxílio do estado no transporte até o Brasil e às fazendas onde trabalhariam.

Veja também: Ciclo do Ouro — outro importante ciclo econômico brasileiro

Exercícios resolvidos sobre o Ciclo do Café

Questão 1

(Encceja)

Elixir do mundo moderno

A fruta vermelha que nasce da flor branca do pé de café foi descoberta por volta do ano 525 no interior da Etiópia. Os etíopes se alimentavam de sua polpa doce, por vezes macerada, ou misturada em banha, para refeição. O café da Etiópia atravessou o mar Vermelho e foi levado para a península Arábica, onde era consumido como bebida após a torrefação. Impregnado na cultura do mundo islâmico, o café foi incluído até mesmo na legislação turca, segundo a qual as esposas podiam pedir divórcio caso os maridos não provessem a casa com uma cota de café. Porém, o uso excessivo do café, libertador de emoções, levou o governador de Meca a proibi-lo em casas públicas e mosteiros em 1511.

MARTINS, A. L.  Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 57, jun. 2010.

A história do fruto mencionado o apresenta como uma iguaria

A) considerada originalmente sagrada.

B) apropriada de diferentes maneiras pelas sociedades.

C) conhecida em vários países pelo seu valor medicinal.

D) valorizada internacionalmente por seu potencial econômico.

Resolução:

Alternativa B.

O texto apresenta o café como usado por diferentes sociedades e de maneiras diversas.

Questão 2

(UFF)

Segundo Antonio Barros de Castro, o café foi, entre nós, uma “cultura itinerante”, “uma atividade em movimento”, compreendendo, simultaneamente, “uma faixa pioneira, onde o café estaria penetrando; uma zona onde estaria consolidado e plenamente produtivo; e uma região decadente, onde a cultura se encontra em regressão”.

(7 Ensaios sobre a economia brasileira).

Aplicando a classificação contida no texto acima à cafeicultura brasileira na primeira década do século XX, é possível associar:

A) a faixa pioneira à fértil região do Oeste Paulista; a região madura ao Vale do Paraíba de São Paulo.

B) a faixa pioneira à região de Vassouras e Valença; a área consolidada à região de Campinas; e a retaguarda ao oeste do Paraná.

C) a frente pioneira de terras férteis e produtivas ao Vale do Paraíba paulista; a região madura e plenamente produtiva ao Vale do Paraíba fluminense; e a área de retaguarda aos velhos cafezais da Bahia.

D) a região pioneira a Cantagalo; a zona consolidada aos municípios da baixada fluminense; e a área decadente a Angra dos Reis e Parati.

E) a região do Vale do Médio Paraíba à produção paulista; a frente de expansão à baixada do Rio Jequitinhonha; e a área decadente ao Oeste Paulista.

Resolução:

Alternativa A.

A produção de café se concentrou no estado de São Paulo. Inicialmente, no Vale do Paraíba e depois, no Oeste Paulista. No texto, a região onde o café estaria consolidado é o Vale do Paraíba paulista e a região onde o café estaria ingressando é o Oeste Paulista.

Créditos de imagem

[1] Acervo Museu Paulista (USP) / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] paulisson miura / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

CATELLI JUNIOR, Roberto. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Brasiliense, 1990.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

MILLIET, Sérgio. Roteiro do Café e Outros Ensaios. São Paulo: HUCITEC, 1996.

Publicado por Tiago Soares Campos

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