Eça de Queirós
Eça de Queirós, escritor português, é um dos prosadores mais importantes de Portugal. Suas obras, como O crime do Padre Amaro e O Primo Basílio, escritas à luz do Realismo, escandalizaram a sociedade portuguesa do século XIX, principalmente em razão do teor crítico com que eram retratados os personagens.
Ainda hoje, no século XXI, suas narrativas fazem-se atuais, já que denunciam as hipocrisias e os falsos moralismos humanos, vícios atemporais, o que faz das obras de Eça de Queirós clássicos da literatura ocidental.
Leia também: Machado de Assis – principal representante do Realismo brasileiro
Biografia de Eça de Queirós
José Maria de Eça de Queirós, ou simplesmente Eça de Queirós, nasceu em 25 de novembro de 1845, em Póvoa do Varzim, Portugal. Eça era filho de José Maria Teixeira de Queirós, nascido no Rio de Janeiro, em 1820, e delegado do procurador régio em Viana do Castelo, e de Carolina Augusta Pereira d'Eça, nascida em Monção, em 1827. O casamento de seus pais ocorreu posteriormente ao seu nascimento, quando Eça de Queirós tinha apenas 4 anos de idade, o que era considerado um escândalo na época.
Foi interno do Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com 16 anos, para ingressar no Curso de Direito da Universidade de Coimbra. Em 1866, com a conclusão de sua graduação, passou a viver em Lisboa, exercendo a advocacia e o jornalismo.
Foi diretor de jornais importantes da época, além de colaborar para revistas e periódicos. Posteriormente, esses escritos foram reunidos em um volume com o título de Prosas Bárbaras. Nesse período, travou amizade com o escritor Antero de Quental. Em 1870 ingressou na Administração Pública, sendo nomeado administrador do Concelho de Leiria. Nessa época, Eça de Queirós escreveu a sua famosa obra realista, O Crime do Padre Amaro, publicada em 1875.
Ingressou na carreira diplomática e, em 1873, foi nomeado cônsul de Portugal em Havana, Cuba. Depois, dois anos mais tarde, foi transferido para a Inglaterra, onde escreveu O Primo Basílio. Casou-se aos 40 anos com Emília de Castro, com quem teve quatro filhos. Eça de Queirós morreu em 16 de agosto de 1900, na França, na sua casa de Neuilly-sur-Seine, perto de Paris.
Estilo literário de Eça de Queirós
Eça de Queirós é considerado o mais importante escritor realista de Portugal. Suas obras abordaram temas variados, mas, de modo geral, algumas características são recorrentes, como:
-
enredos centrados no cotidiano da burguesia portuguesa;
-
crítica ao moralismo vigente;
-
crítica ao clero;
-
evidenciação das hipocrisias da sociedade;
-
recorrência de descrições, de modo a conferir verossimilhança ao que é narrado;
-
exploração das dimensões psicológicas de seus personagens;
-
tom humorístico, com vistas a ridicularizar comportamentos duvidosos e vícios de caráter.
Principais obras de Eça de Queirós
-
O Crime do Padre Amaro (1876)
-
O Primo Basílio (1878)
-
O Mandarim (1880)
-
A Relíquia (1887)
-
Os Maias (1888)
-
Uma Campanha Alegre (1890)
-
A Ilustre Casa de Ramires (1900)
-
Correspondência de Fradique Mendes (1900)
-
Dicionário de Milagres (1900)
-
A Cidade e as Serras (1901)
Veja também: Memórias Póstumas de Brás Cubas – primeiro romance realista do Brasil
O Primo Basílio
O romance O Primo Basílio, publicado em 1878, tem seu enredo centrado na história do casal Luísa e Jorge, típicos moradores burgueses de Lisboa. Jorge, que é funcionário público, viaja a trabalho para o interior de Portugal. Luísa, imersa na monotonia, envolve-se amorosamente com seu primo recém-chegado de Paris, Basílio, que, no passado, havia sido seu primeiro amor.
Esse caso amoroso secreto é posto em risco quando Juliana, a invejosa criada da casa de Jorge e Luísa, encontra cartas da patroa dirigidas a Basílio. A partir desse momento, Juliana passa a chantagear Luísa, ameaçando-a de entregar as provas da traição a seu marido, Jorge. Leia um trecho da narrativa em que o narrador apresenta traços da personalidade da vilã Juliana.
“Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir [...].
As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas enraivece um lobo. Fez-se má; beliscava crianças até lhes enodoar a pele; e se lhe ralhavam, a sua cólera rompia em rajadas. Começou a ser despedida. Num só ano esteve em três casas. Saía com escândalo, aos gritos, atirando as portas, deixando as amas todas pálidas, todas nervosas... [...]”
(O Primo Basílio)
Como se observa nesse fragmento, a personalidade de Juliana não é nada fácil, o que vai impor à protagonista da obra, Luísa, um enorme sofrimento e angústia. O mau caráter dessa personagem expressa um dos principais traços do Naturalismo e do Realismo: a concepção de que o meio em que o sujeito é criado determina suas ações e sua personalidade. Sempre marginalizada e explorada por seus patrões, Juliana tornou-se uma pessoa amarga, invejosa e vingativa, o que a torna uma das vilãs mais icônicas da literatura mundial.
Acesse também: Dom Casmurro – obra machadiana de grande repercussão mundial
Frases de Eça de Queirós
-
“O pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia.”
-
“A beleza exterior alegra os olhos, porém a beleza interior, faz com que o coração bata mais rápido.”
-
“A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.”
-
“Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.”
-
“O riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica.”
-
“Não tenha medo de pensar diferente dos outros, tenha medo de pensar igual e descobrir que todos estão errados.”
-
“O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.”
-
“Nos amores deste mundo, desde Eva, há sempre um que ama e outro que se deixa amar.”
-
“Pensar e fumar são duas operações idênticas que consistem em atirar pequenas nuvens ao vento.”
-
“Quando não se tem aquilo que se gosta é necessário gostar-se daquilo que se tem.”
Crédito da imagem
[1] Barry Paterson / Shutterstock