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José de Anchieta

José de Anchieta é um escritor e santo católico cujas obras, de cunho catequético, fazem parte do Quinhentismo. Ele escreveu poesias, peças teatrais e um poema épico.
Pintura do padre José de Anchieta, um escritor e santo católico.
O padre José de Anchieta é um escritor e santo católico.

José de Anchieta é um escritor e santo da Igreja Católica. Ele nasceu em San Cristóbal de la Laguna, na Espanha, em 19 de março de 1534. Mais tarde, ingressou na Companhia de Jesus e se mudou para o Brasil. Como jesuíta, tinha a função de catequizar os indígenas brasileiros. Para isso, escreveu poesias e peças teatrais.

O escritor, que faleceu em 9 de junho de 1597, no estado do Espírito Santo, escreveu obras catequéticas pertencentes ao Quinhentismo. Sua poesia e suas peças teatrais apresentam caráter teocêntrico e trazem elementos tanto da cultura europeia quanto da cultura indígena brasileira.

Leia também: Pero Vaz de Caminha — o autor do primeiro documento escrito sobre a história do Brasil

Resumo sobre José de Anchieta

  • José de Anchieta é um padre e santo católico.

  • Ele nasceu em 1534 e faleceu em 1597.

  • Além de padre e missionário, também foi poeta e dramaturgo.

  • Ele é autor de obras pertencentes à literatura de catequese e ao Quinhentismo.

  • Suas obras apresentam visão teocêntrica, com objetivo de catequização.

  • Anchieta escreveu poesias, um poema épico e peças teatrais.

  • Em 2014, José de Anchieta foi canonizado e se tornou um santo católico.

Biografia de José de Anchieta

José de Anchieta nasceu em San Cristóbal de la Laguna, na Espanha, no dia 19 de março de 1534. Em 1548, começou a estudar no Colégio das Artes, na Universidade de Coimbra, em Portugal. Dado seu talento para a poesia, passou a ser chamado de “canário de Coimbra”. Em 1551, ingressou na ordem religiosa Companhia de Jesus.

Por essa época, foi acometido por uma doença na coluna que o acompanharia pela vida afora. Por recomendações médicas, decidiu vir para o Brasil, cujo clima poderia ajudar na cura de sua doença. No ano de 1553, desembarcou na cidade de Salvador. No Brasil, aprendeu a língua indígena.

No ano de 1554, estava em São Paulo (apenas uma vila, na época), onde continuou a estudar a língua dos nativos. Buscou intensificar sua relação com os indígenas, com o objetivo de catequizá-los. Para isso, aprendeu não só sua língua, mas elementos de sua cultura.

Nessa vila, também foi professor de latim no Colégio de Piratininga, fundado pelos jesuítas. Em 1565, esteve diretamente implicado no conflito que envolvia os franceses e os tamoios em oposição aos portugueses, acontecimento histórico conhecido como Confederação dos Tamoios, ocorrido na Baía de Guanabara.

Nesse episódio da história brasileira, atuou como enfermeiro, em auxílio aos portugueses feridos, e esteve refém dos indígenas durante sete meses, por vontade própria. Em seguida, foi para a Bahia, estudou teologia e se tornou padre em 1566. E continuou com sua tarefa de missionário, viajando por várias partes do país.

Na sua tarefa de catequização (conversão dos indígenas ao catolicismo), escrevia e fazia encenar suas peças teatrais, de cunho religioso. Em 1577, assumiu o cargo de provincial da Companhia de Jesus no Brasil, o qual ocuparia nos próximos dez anos. Portanto, por volta de 1587, padre Anchieta se mudou para o estado do Espírito Santo. Faleceu em Reritiba, no dia 9 de junho de 1597.

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Ações missionárias de José de Anchieta

Anchieta, assim como outros membros da Companhia de Jesus, tinha a função de catequizar os indígenas. Ao aprender a língua nativa, logo o missionário Anchieta teve trânsito livre entre diversos povos nativos. Suas ações, portanto, tinham o objetivo de converter os nativos brasileiros em católicos.

Para essa função, utilizou a sua poesia e o seu teatro. Suas obras, assim, eram escritas em português, espanhol e tupi. Suas peças eram encenadas por indígenas e também por colonos. Elementos da cultura indígena eram utilizados em suas peças, não para serem valorizados, mas sim criticados ou adaptados em benefício da fé católica.

Auxiliava, desse modo, no processo de aculturação indígena e na imposição da cultura cristã europeia. A princípio, porém, acabou ocorrendo uma hibridização cultural, de forma que, por exemplo, o deus Tupã se confundia com o deus cristão. Essa foi a forma que Anchieta encontrou de trazer a cultura europeia para o universo indígena.

Totalmente inserido entre os nativos, Anchieta também teve um papel político, já que fazia as vezes de diplomata ou de intérprete entre indígenas e portugueses. Assim, envolvia-se em conflitos bélicos, como o da Confederação dos Tamoios. E, desse modo, trabalhava em prol da Igreja e da Coroa portuguesa.

Beatificação de José de Anchieta

A beatificação de José de Anchieta ocorreu no dia 22 de junho de 1980, durante a gestão do papa João Paulo II (1920-2005).

Canonização de José de Anchieta

O papa Francisco (1936-) canonizou José de Anchieta no dia 3 de abril de 2014. Assim, atualmente, padre José de Anchieta é um santo católico.

Características literárias de José de Anchieta

Anchieta é autor da chamada “literatura de catequese”, pertencente ao Quinhentismo. A princípio, suas obras não possuem uma função literária, mas sim utilitária, já que foram produzidas com o intuito de catequizar ou evangelizar. São, portanto, marcadas por uma visão teocêntrica.

Além disso, suas obras apresentam caráter lírico, épico e dramático, pois suas principais obras são poemas líricos e épico, além de peças teatrais. Ainda, suas obras trazem elementos da cultura cristã mesclados a elementos da cultura indígena. E têm o objetivo de converter os povos indígenas ao catolicismo e ao modo de vida europeu, considerado civilizado.

Como exemplo de sua obra épica, vamos ler um trecho do poema Feitos de Mem de Sá a seguir:

Tu, ó Jesus, ó clara luz do firmamento sereno,
ó fulgor sem ocaso, ó imagem do brilho paterno,
ilumina-me a mente cega, aclara-me a alma
com esplêndidos lampejos. Tu és a fonte ubertosa
donde, em torrentes, se inebriam os habitantes celestes.
[...]
Assim cantarei os prodígios que teu braço potente
há pouco operou em favor da gente brasileira,
quando fez raiar, rasgando as trevas do inferno,
na arcada celeste, esplendoroso arrebol.
Envolta, há séculos, no horror da escuridão idolátrica,
houve nas terras do Sul uma nação que dobrara a cabeça
ao jugo do tirano infernal, e levava uma vida
vazia de luz divina. Imersa na mais triste miséria,
soberba, desenfreada, cruel, atroz, sanguinária,
mestra em trespassar a vítima com a seta ligeira,
mais feroz do que o tigre, mais voraz que o lobo,
mais assanhada que o lebréu, mais audaz que o leão,
saciava o ávido ventre com carnes humanas.
Por muito tempo tramou emboscadas: seguia,
no seu viver de feras, o exemplo do rei dos infernos,
que por primeiro trouxe a morte ao mundo, enganando
nossos primeiros pais. Dilacerava os corpos de muitos,
com atrozes tormentos, e, embriagada de furor e soberba
ia enlutando os povos cristãos com mortes frequentes.
Mas um dia o pai onipotente volveu os olhares
dos reinos da luz à noite das regiões brasileiras,
às terras que suavam, em borbotões, sangue humano.
Então mandou-lhes um herói das plagas do Norte,
um herói que vingasse os crimes nefandos,
que banisse as discórdias, freasse o assassínio,
bárbaro e contínuo, acabasse com as guerras horrendas,
abrandasse os peitos ferozes e não sofresse impassível
cevar-se em sangue de irmãos queixadas humanas.
[...]
Eis que, liberta dos perigos do mar e de há muito esperada,
uma esquadra fundeia na baía a que todos os Santos
legaram o nome. Trazia, salvo das fauces do oceano,
um singular herói, de extraordinária coragem,
Mem, que do sangue de nobres antepassados
e de seiva ilustre de longa ascendência
herdara o sobrenome de Sá. […] |1

Observe o caráter teocêntrico do poema, já que a chegada do herói é vista como resultado da vontade divina. Além disso, a história e a cultura indígenas são mostradas como algo negativo e bárbaro. Contudo, vale lembrar que os europeus matavam muitas pessoas durante as guerras, escravizavam povos, sem falar das torturas que praticaram durante a Inquisição.

Acesse também: Afinal, o que é o Quinhentismo?

Principais obras de José de Anchieta

  • Auto da festa do Natal (1561) — peça teatral.

  • Feitos de Mem de Sá (1563) — poema épico.

  • Poema da bem-aventurada Virgem Maria, mãe de Deus (1563) — poema lírico.

  • Auto da festa de São Lourenço (1583) — peça teatral.

  • Auto de São Sebastião (1584) — peça teatral.

  • Na aldeia de Guaraparim (1585) — peça teatral.

  • Auto de Santa Úrsula (1595) — peça teatral.

  • Auto de São Maurício (1595) — peça teatral.

  • Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil (1595) — gramática.

Homenagens a José de Anchieta

Monumento em homenagem ao padre José de Anchieta, em São Paulo. [1]
Monumento em homenagem ao padre José de Anchieta, em São Paulo. [1]
  • Monumento ao padre José de Anchieta, em Tenerife, na Espanha.
  • Monumento ao padre José de Anchieta, em São Paulo.

  • A criação do Dia de São José de Anchieta, comemorado em 9 de junho.

  • Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo.

  • Cidade de Anchieta, no estado do Espírito Santo.

  • Estátua de padre José de Anchieta, em São Vicente, no estado de São Paulo.

Notas

|1| ANCHIETA, José de. Feitos de Mem de Sá. São Paulo: Ministério da Educação e Cultura, 1970.

Crédito de imagem

[1] Giovanna Valentim / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

ALVES FILHO, Paulo Edson. As traduções do jesuíta José de Anchieta para o tupi no Brasil colonial. TradTerm, São Paulo, v. 17, p. 11-30, 2010.

ANCHIETA, José de. Feitos de Mem de Sá. São Paulo: Ministério da Educação e Cultura, 1970.

FERREIRA, Júlio César. As fontes culturais elaboradas sincreticamente no teatro anchietano. 2011. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

FLECK, Eliane Cristina Deckmann. José de Anchieta: um missionário entre a história e a glória dos altares. Projeto História, São Paulo, n. 41, p. 155-194, dez. 2010.

KASSAB, Yara. As estratégias lúdicas nas ações jesuíticas, nas terras brasílicas (1549-1597), “para a maior glória de Deus”. 2010. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

LOPES, Jacqueline. A representação da mulher indígena nas cartas de José de Anchieta. 2019. Dissertação (Mestrado em História Ibérica) – Instituto de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal de Alfenas, Alfenas, 2019.

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Vida e obra de José de Anchieta. Disponível em: http://tupi.fflch.usp.br/sites/tupi.fflch.usp.br/files/Vida%20e%20obra%20de%20Jos%C3%A9%20de%20Anchieta.pdf.

NISKIER, Arnaldo. Anchieta, o santo. Folha Dirigida, Rio de Janeiro, 24 abr. 2014.

RAMALHO, Américo da Costa. José de Anchieta em Coimbra. HVMANITAS, v. XLIX, 1997.

SILVA, Fabiane Alves da; CAPRA, Jânia Maria Teixeira; REIS, Michele Salete. O inferno de Dante e a Santa Inquisição. In: CONGRESSO DIREITO E HUMANOS, 1., 2019, Barra do Garças. Anais [...]. Barra do Garças: UniCathedral, 2020.   

Publicado por Warley Souza

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