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Gênero dramático

O gênero dramático é um dos gêneros literários. Fazem parte desse gênero peças de teatro e roteiros de cinema. Os textos dramáticos possuem rubricas e falas dos personagens.
Máscaras da tragédia e comédia, componentes do gênero dramático, sobre tecido vermelho.
A tragédia e a comédia fazem parte do gênero dramático.

O gênero dramático é um dos gêneros literários. Ele está relacionado a textos escritos para serem encenados por atores. Assim, uma peça teatral é dividida em atos e cenas, além de apresentar rubricas e falas dos personagens. Os textos teatrais podem ser trágicos (tristes e funestos) ou cômicos (engraçados e grotescos).

Leia também: Gênero épico — textos narrativos caracterizados pela presença de um herói

Resumo sobre o gênero dramático

  • No Ocidente, o gênero dramático se originou na Grécia Antiga.

  • O texto dramático é feito para ser encenado por atores.

  • Atos, cenas, falas e rubricas compõem a estrutura de um texto dramático.

  • A tragédia é um texto dramático sério, funesto, capaz de despertar terror ou piedade.

  • A comédia é um texto dramático cômico, grotesco, capaz de provocar o riso.

Videoaula sobre o gênero dramático

Qual a origem do gênero dramático?

No Ocidente, o gênero dramático teve origem na Grécia Antiga. Desse modo, a principal obra que teoriza sobre esse gênero é a Poética, do filósofo Aristóteles (384-322 a.C.). No entanto, no Oriente, o teatro já era bastante respeitado cerca de 2.000 a. C., ou seja, bem antes de ser desenvolvido na Grécia.

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Principais características do gênero dramático

O gênero dramático se refere a textos teatrais, isto é, próprios para serem encenados. Desse modo, são desse gênero peças teatrais, roteiros cinematográficos, além de roteiros de telenovelas e de séries. No mais, essas obras estão sujeitas a alterações no decorrer de sua produção.

As obras dramáticas trazem uma representação da realidade e podem ser de entretenimento ou críticas (se fazem uma reflexão sobre a existência humana). Elas podem ser trágicas (sérias e funestas) ou cômicas (de caráter grotesco). E estão associadas à catarse (purificação dos sentimentos do público ao sentir terror, piedade ou mesmo rir).

Leia também: Teatro grego — um dos legados culturais mais importantes do Ocidente

Quais são os elementos do gênero dramático?

Um texto dramático apresenta instruções para que atores e diretores possam produzir o espetáculo. Essas instruções são chamadas de rubricas. Portanto, elas são dadas pelo dramaturgo ou autor da peça. Também há a indicação dos personagens e de suas falas. Nesse gênero de texto, há ausência de narrativa.

Afinal, a ação transcorre por meio das falas dos atores e de seu deslocamento no cenário. Assim, o texto dramático é, normalmente, o primeiro passo para a realização de um espetáculo, pois é um projeto a ser posto em prática. Por fim, existem peças teatrais cujas falas dos personagens são escritas em versos rimados. Porém, o mais comum é o texto em prosa.

Estrutura do gênero dramático

Uma peça teatral é dividida em ATOS. Dentro de cada ato, há CENAS. Essas cenas são compostas por RUBRICAS (instruções do autor) e FALAS (dos personagens).

Tipos de texto do gênero dramático

  • Tragédia

Capa do livro Medeia, de Eurípides, um exemplo de tragédia, publicado pela editora Zahar.[1]
Capa do livro Medeia, de Eurípides, um exemplo de tragédia, publicado pela editora Zahar.[1]

Tragédias são textos dramáticos de caráter trágico, ou seja, tristes. Eles são marcados pela seriedade e provocam terror ou piedade no público. Esse tipo de peça teatral lida com as paixões humanas e gera reflexão. Uma das tragédias gregas mais conhecidas é Medeia, de Eurípides, em que a protagonista Medeia, abandonada por Jasão (ou Jáson), se vinga do marido ao matar os próprios filhos:

JÁSON — Monstro! Mulher de todas a mais odiada por mim e pelos deuses, pela humanidade! Tiveste a incrível ousadia de matar tuas crianças com um punhal, tu, que lhes deste a vida, e também me atingiste mortalmente ao me privar dos filhos! E depois do crime ainda tens o atrevimento de mostrar-te ao sol e à terra, tu, sim, que foste capaz de praticar a mais impiedosa ação! Tens de morrer! Hoje, afinal, recuperei minha razão, perdida no dia fatídico em que te trouxe de teu bárbaro país para uma casa grega, tu, flagelo máximo, traidora de teu pai e da terra natal! Lançaram contra mim os deuses um demônio sedento de vingança que te acompanhava, pois já tinhas matado teu irmão em casa antes de entrar em minha nau de bela proa. Foi este o teu começo. Logo te casaste com o homem que te fala e, depois de lhe dar dois filhos, imolaste-os às tuas bodas e ao leito nupcial. Jamais houve uma grega capaz de um crime destes, e eu te preferi em vez de outra. Para desespero meu fui aliar-me a uma inimiga, uma leoa e não uma mulher, ser muito mais feroz que os monstros mais selvagens. Mas, por que falar? Eu não te ofenderia nem com mil injúrias, tão insensível és! Dana-te, pois, infame, nojenta infanticida! Resta-me somente gemer curvado aos golpes deste meu destino. Não provei o sabor, sequer, das novas núpcias e não vou conviver com os filhos, pois perdi-os!

MEDEIA — Se Zeus pai não soubesse como te tratei e como e quanto me ofendeste, esta resposta à tua falação teria de ser longa. Não deverias esperar, após o ultraje contra meu leito, que fosses passar a vida rindo de mim, tranquilo com a filha do rei; Creonte, que te deu a filha para esposa, não haveria de querer impunemente expulsar-me daqui, onde cheguei contigo. Chama-me agora, se quiseres, de leoa e monstro; quis apenas devolver os golpes de teu instável coração como podia.

[...]

  • Comédia

Comédias são textos dramáticos de caráter cômico, ou seja, engraçados. Eles são marcados pelo humor e pelo grotesco. E, portanto, provocam o riso do público. Esse tipo de peça teatral pode ser usado para fazer crítica social ou política.

Uma das comédias brasileiras mais famosas é Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, em que João Grilo e Chicó vivem cômicas situações que mostram, de forma crítica, a cultura brasileira:

CHICÓ — Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer.

PADRE — Para eu benzer?

CHICÓ — Sim.

PADRE, com desprezo — Um cachorro?

CHICÓ — Sim.

PADRE — Que maluquice! Que besteira!

JOÃO GRILO — Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque benze, vim com ele.

PADRE — Não benzo de jeito nenhum.

CHICÓ — Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.

JOÃO GRILO — No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor não o benzeu?

PADRE — Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.

CHICÓ — Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.

PADRE — É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?

JOÃO GRILO — É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é o motor do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do major Antônio Morais.

PADRE, mão em concha no ouvido — Como?

JOÃO GRILO — Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio Morais.

PADRE — E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?

JOÃO GRILO — É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse a Chicó: o padre vai se zangar.

PADRE, desfazendo-se em sorrisos — Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito de se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!

JOÃO GRILO, cortante — Quer dizer que benze, não é?

PADRE, a Chicó — Você o que é que acha?

CHICÓ — Eu não acho nada de mais.

PADRE — Nem eu. Não vejo mal nenhum em abençoar as criaturas de Deus.

JOÃO GRILO — Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e todo mundo satisfeito.

PADRE — Digam ao major que venha. Eu estou esperando.

Entra na igreja.

CHICÓ — Que invenção foi essa de dizer que o cachorro era do major Antônio Morais?

JOÃO GRILO — Era o único jeito de o padre prometer que benzia. Tem medo da riqueza do major que se pela. Não viu a diferença? Antes era “Que maluquice, que besteira!”, agora “Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus!”.

[...]

Leia também: Literatura grega — características e história da base dos gêneros literários

Exercícios sobre gênero dramático

QUESTÃO 01 (Enem)

Lições de motim

DONA COTINHA — É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta da solidão não é um solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro fundo da alma.) Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se para o homem.) É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM TORNA A SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DISCURSO E VOLTA A LHE DAR AS COSTAS, COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não inquilinos, me entende? Quem é inquilino da solidão não passa de um abandonado. É isso aí.

ZORZETTI, H. Lições de motim. Goiânia: Kelps, 2010 (adaptado).

Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral?

A) O tom melancólico presente na cena.

B) As perguntas retóricas da personagem.

C) A interferência do narrador no desfecho da cena.

D) O uso de rubricas para construir a ação dramática.

E) As analogias sobre a solidão feitas pela personagem.

Resolução:

Alternativa D.

O texto teatral pertence ao gênero dramático. E uma de suas características é o uso de rubricas, que, no texto em análise, estão entre parênteses.

Questão 02 (Enem)

FABIANA, arrepelando-se de raiva — Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa… Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé). Um dia arrebento, e então veremos!

PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 dez. 2012.

As rubricas em itálico, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem

A) necessidade, porque as encenações precisam ser fiéis às diretrizes do autor.

B) possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como outros elementos.

C) preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a encenação.

D) exigência, porque elas determinam as características do texto teatral.

E) imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor.

Resolução:

Alternativa B.

Em um texto dramático, as rubricas são uma possibilidade, já que, durante o processo de produção do espetáculo teatral, tais instruções podem ser alteradas ou mesmo desconsideradas, de acordo com a visão de quem dirige a peça.

Créditos da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução)

Fontes:

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.

CAMPOS-TOSCANO, Ana Lúcia Furquim. Reflexões sobre gêneros do discurso. In: CAMPOS-TOSCANO, Ana Lúcia Furquim. O percurso dos gêneros do discurso publicitário: uma análise das propagandas da Coca-Cola. São Paulo: UNESP/ Cultura Acadêmica, 2009.

CEBULSKI, Márcia Cristina. Introdução à história do teatro no Ocidente: dos gregos aos nossos dias. Guarapuava: Unicentro, 2013.

EURÍPIDES. Medeia. Tradução de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 11. ed. Rio de Janeiro: AGIR, 1975. 

Publicado por Warley Souza

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