Chumbo em cosméticos
O chumbo é um metal pesado que é bioacumulativo (acumula-se progressivamente na cadeia alimentar e não é eliminado com o tempo), tóxico, cancerígeno, prejudicial ao cérebro e ao sistema nervoso, pode afetar o sistema circulatório, levar ao desenvolvimento de anemia, saturnismo, gerar alterações neurológicas e do sistema reprodutor, além de disfunção renal.
Todos esses fatores levam muitos a se preocuparem com as formas de contaminação por chumbo, e um dos envolvidos em especulações são os cosméticos. Desde o dia 27 de março de 2013, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamentou o uso de chumbo em cosméticos por meio da resolução RDC 15/2013 e determinou que o uso de acetato de chumbo só pode ocorrer em tinturas capilares, sendo que em outros cosméticos não há nenhuma regulamentação. Além disso, a concentração máxima expressa em chumbo no produto final não poderá ser superior a 0,6%, respeitando-se as especificações da matéria-prima, que podem ser vistas nessa resolução.
De acordo com a Anvisa, nessa concentração de 0,6% de acetato de chumbo, a absorção cutânea é baixa e é pouco provável que ofereça riscos à saúde do usuário.
As tinturas capilares que utilizam o acetato de chumbo (Pb(H3CCOO)2) são as tinturas progressivas, que são compostas de soluções aquosas de sais metálicos. Elas são usadas para escurecer cabelos grisalhos, pois o chumbo combina-se com o enxofre disperso e também com o enxofre das proteínas do cabelo, formando o sulfeto de chumbo, que tem a cor preta.
No entanto, existem algumas limitações para o uso das tinturas progressivas com acetato de chumbo. Mulheres grávidas, por exemplo, não podem usá-las, além de, para as demais pessoas, o seu uso deve ser somente no couro cabeludo, jamais para a coloração de bigodes, sobrancelhas, cílios ou pelos de outras partes do corpo. Além disso, deve-se usar luvas e lavar bem as mãos após o manejo do produto.
Muitos artigos e sites da internet dizem que existem concentrações muito altas de chumbo em batons. Porém, esse metal não é usado nesse tipo de cosmético e ele só aparece na forma de contaminante dos corantes e pigmentos de maquiagens. Além disso, nesses casos, o limite máximo permitido é de 20 ppm.
Veja que as concentrações indicadas e regulamentadas são extremamente pequenas. Entretanto, algo preocupante é que o uso de chumbo em cosméticos remonta desde os períodos da Idade Antiga. Por exemplo, evidências arqueológicas indicam que os egípcios já usavam compostos contendo chumbo em preparações específicas para a região dos olhos na forma de maquiagem em pó, loções ou mesmo pomadas gordurosas. Nas formulações desses cosméticos existiam sais de chumbo, tais como a laurionita (Pb(OH)Cl), a fosgenita (Pb2Cl2CO3), a cerussita (PbCO3) e a galena (PbS).
A laurionita e a fosgenita são sais inorgânicos de cloreto de chumbo que recobrem a pele, escondendo imperfeições, além de também possuir propriedades terapêuticas.
No caso das tinturas usadas no período greco-romano, há relatos do uso de uma mistura de óxido de chumbo (PbO) com hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] e água. O PbO reage com a cisteína, um aminoácido sulfurado que compõe a estrutura da queratina, uma proteína do cabelo:
Porém, em face de todos os malefícios oriundos do uso de chumbo, ele não é mais utilizado com essas finalidades.