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Enredo

O enredo é um dos elementos que estruturam o texto narrativo. Ele configura uma sucessão de fatos que constituem a ação em uma narrativa.
Ilustração traz pessoa ao lado de máquina de escrever.
O enredo é um dos elementos fundamentais na composição de um texto narrativo.

O enredo é considerado a sucessão de fatos de uma história. Em outros termos, ele trata de um conjunto de acontecimentos sucessivos executados pelas personagens em espaço e tempo específicos. É muito comum o uso dos termos trama, intriga ou argumento para se referir aos fatos de uma narrativa.

Leia também: Conto — gênero textual marcado pelo enredo conciso

Resumo sobre enredo

  • Enredo pode ser definido como uma estrutura de natureza ficcional ou não ficcional composta por uma série de acontecimentos formando uma ação a ser executada por personagens, com tempo e espaço específicos.

  • Pode ser classificado em três tipos: linear, não linear e psicológico.

  • Para desenvolver um enredo, é importante escolher a temática e o conflito que será utilizado para narrá-la, ter definida a ambientação e as personagens que vão compor a obra e definir qual será o tipo de enredo utilizado.

  • A narrativa é formada por meio de cinco elementos essenciais: personagens, tempo, espaço, foco narrativo e enredo.

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Tipos de enredo

O enredo pode ser classificado considerando sua organização estrutural e natureza ficcional em linear, não linear e psicológico.

Enredo linear

O enredo é linear quando ele apresenta, sucessivamente, os seguintes elementos:

  • Apresentação: também conhecida como introdução. É a primeira parte da trama. Ela é dedicada a apresentar as personagens e proporcionar ao leitor noções iniciais sobre a ambientação (cenário e tempo).

  • Complicação: trata-se do desenvolvimento da história. Algo acontece para que haja uma trama. A complicação é, portanto, a maior parte da composição de um enredo.

  • Clímax: é ponto mais intenso da narrativa. A depender do gênero, ele pode se apresentar com maior ou menor intensidade ao leitor.

  • Desfecho: refere-se ao momento de declínio da história, em que os conflitos se encaminham para um encerramento. É importante destacar que encerrar o conflito em uma narrativa não significa necessariamente resolvê-lo. Muitos autores optam pelo uso de recursos para oferecer continuidade e manter o interesse do leitor. Isso ocorre principalmente com obras periódicas e seriadas.

Enredo não linear

Quando os fatos de uma história não são dispostos de maneira sucessiva, conforme os elementos expostos acima, podemos dizer que se tratam de um enredo não linear.

Um enredo não linear pode apresentar uma ordem como a seguinte: 1) desfecho, 2) apresentação, 3) complicação, 4) clímax e 5) desfecho. O romance Clube da Luta, escrito por Chuck Palahniuk, segue uma estrutura não linear, pois a obra começa a partir do fim, gerando curiosidade no leitor de saber o que realmente aconteceu.

No cinema, o clássico Pulp Fiction, do diretor Quentin Tarantino, apresenta uma organização estrutural do enredo completamente não linear. O espectador, nesse caso, precisa construir em sua cabeça a sucessão dos acontecimentos de maneira linear e de uma forma compreensível.

Enredo psicológico

Por fim, temos o terceiro e último tipo: o enredo psicológico. Dentro da perspectiva ficcional, o enredo psicológico pode apresentar fatos que nem sempre são evidentes. Em outros termos, ele aborda especificamente o interior da personagem.

As obras de Virginia Woolf e Clarice Lispector são bons exemplos da construção de enredo que não possui trama delineada por meio dos critérios acima. Em um enredo psicológico, prevalece a estrutura psíquica da personagem, incluindo o tempo e espaço abordados por ela e introduzidos pelo narrador.

Leia também: Epopeia – gênero clássico que deu origem às narrativas atuais

Como é feito um enredo?

Para fazer um enredo, é necessário que o autor defina algumas bases em seu texto, tais como:

  • escolher qual é a temática e o conflito que será utilizado para narrá-la;

  • ter definida a ambientação e as personagens que vão compor a obra;

  • definir qual será o tipo de enredo utilizado.

Em primeiro lugar, o autor precisa definir o que será contado. Em segundo lugar, é preciso estabelecer o quando e o onde (ambientação) da trama. Em terceiro lugar, é definido o como, a depender do tipo de enredo (linear, não linear ou psicológico).

Feito isso, a etapa seguinte consiste em estruturar o enredo, isto é, adequar o seu texto dentro de cada um dos elementos da narrativa: introdução (apresentação), desenvolvimento (complicação) e conclusão (clímax e desfecho). É válido lembrar que em um enredo não linear ou psicológico a ordem se dará de acordo com o que o autor propuser.

Exemplos de enredo

Um jardineiro desceu ao fundo de um poço para tirar seu cão que caíra lá dentro. Pensando que seu dono descera para enterrá-lo ainda mais, o cão voltou-se contra ele e mordeu-o. O jardineiro saiu do poço lamentando sua dor: “Bem empregado. Quem mandou eu querer tirar do aperto quem lá se meteu voluntariamente?”

“O jardineiro e o cão”, Esopo

O texto acima é uma fábula escrita por Esopo. As fábulas são textos conhecidos por serem estruturados dentro da estrutura narrativa. Sendo assim, na obra de Esopo, conta-se um fato: a história de um jardineiro que tenta ajudar o seu cão.

Do ponto de vista estrutural, a narrativa é linear, pois apresenta de maneira sucessiva os elementos de introdução, desenvolvimento e conclusão da narrativa. Como introdução, temos a apresentação do jardineiro e do seu cachorro. A complicação se dá porque o animal havia caído no fundo do poço. O ponto alta da história, o clímax, está no ataque inesperado que o cão faz ao dono. Por fim, o desfecho ocorre quando o jardineiro, lamentando sua dor, diz: “Bem empregado. Quem mandou eu querer tirar do aperto quem lá se meteu voluntariamente?”

Veja outro exemplo:

Capítulo I — Óbito do Autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco. [...]

Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.

Em uma narrativa linear, a obra se inicia pela introdução. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, apresentar as personagens dentro de um enredo linear seria tratar do nascimento e do desenvolvimento da personagem. No entanto, Machado de Assis inverte a lógica e decide começar pelo fim. O primeiro capítulo trata justamente do óbito do autor ou o que seria o clímax e/ou desfecho da obra. No trecho acima, é possível identificar essa alteração. Em vez de começar pelo início (introdução/apresentação), ele parte do fim (conclusão/desfecho).

Por último, veja um exemplo de enredo psicológico:

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente — é a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. [...]

A hora da estrela, Clarice Lispector

O trecho acima corresponde aos primeiros momentos da obra A hora da estrela, de Clarice Lispector. Nele, percebemos uma configuração diferente do enredo linear, pois a narrativa não apresenta uma cronologia bem marcada.

Quando a narradora personagem começa falando sobre a origem da vida a partir de uma molécula, ela parece deixar em aberto uma ampla possibilidade de marcação temporal e espacial. Os fatos ali narrados, seja a dor ou a infelicidade mencionada, tratam do interior da personagem. Assim, como havíamos estudado, os fatos nem sempre se mostram precisos ou evidentes, pois podem ocorrer, em grande medida, na cabeça da personagem. Podemos dizer, portanto, que o enredo acima é um exemplo de enredo psicológico.

Leia também: Técnicas de estrutura da narrativa — a arte de contar histórias

Elementos da narrativa

A narrativa apresenta cinco elementos essenciais em sua construção. O enredo é apenas um dos fatores que constituem um texto estruturado por meio de um fato de natureza ficcional ou não. Assim, além do enredo, temos:

  • Personagens: são as responsáveis por contarem e/ou conduzirem os acontecimentos dentro de uma narrativa. Elas podem ser protagonistas, antagonistas, coadjuvantes ou figurantes. Cada uma dessas classificações determina o grau de importância e interferência das personagens na história.

  • Tempo: é o quando da narrativa. Uma narrativa pode ocorrer em um momento longínquo não especificado ou especificado, no presente ou mesmo em uma sociedade a milhares de anos à frente da nossa. Outra possibilidade é a existência de um tempo psicológico em que predomina o tempo da personagem.

  • Espaço: trata-se do onde da obra. Em resumo, o espaço pode ser um quarto, uma casa, uma cidade, um país, um planeta ou ainda se passar dentro da cabeça da personagem.

  • Foco narrativo: refere-se ao ponto de vista de quem conta a história. Assim, toda história é narrada por meio de uma perspectiva, e o foco narrativo é justamente o elemento responsável por proporcionar essa visão ao leitor. O ponto de vista pode ser de uma personagem protagonista ou coadjuvante, e a obra pode estar em primeira pessoa, o que lhe confere maior subjetividade. No entanto, a narrativa pode ser apresentada de forma mais neutra e menos subjetiva, por meio de um narrador que se coloca distante dos acontecimentos narrados.

Todos os elementos acima funcionam junto do enredo, responsável por elencar uma série de ações dentro de uma narrativa, associando-as aos personagens, ao tempo, ao espaço e sendo contadaa sob uma perspectiva específica (foco narrativo).

Videoaula sobre os elementos da narrativa

Publicado por Rafael Camargo de Oliveira

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