Textos narrativos
Os textos narrativos são produções com a finalidade de se contar algo a alguém. Há uma diversidade de textos assim, como os contos, os romances, as fábulas e as crônicas. Essa modalidade apresenta alguns elementos essenciais, como narrador, espaço, tempo e trama a ser contada.
Com relação aos aspectos estruturais, os textos narrativos organizam-se em apresentação, complicação, clímax e desfecho, não necessariamente nessa ordem. Além disso, o discurso na narrativa pode ser direto, indireto ou indireto livre.
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Elementos do texto narrativo
O texto narrativo possui cinco elementos constituintes essenciais. São eles:
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Enredo (ou o que está sendo contado): corresponde aos acontecimentos que formam a narrativa. Trata-se de dizer quais são os acontecimentos (reais ou fictícios) ao seu leitor. O enredo pode ser linear, começando pela apresentação das personagens e seguindo a estrutura narrativa, ou não linear, iniciando-se em outro momento da história e fazendo com que o leitor monte o quebra-cabeça da narrativa.
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Personagens (quem participa da história): trata-se de identificar ao leitor os participantes e a importância de cada um deles na trama.
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Tempo (quando se passa a narrativa): é a marcação cronológica ou não do momento em que a história ocorre. Ela pode ser no presente, no passado ou em um futuro distópico. É possível que haja uma temporalidade não cronológica, isto é, que ocorre na cabeça da personagem, configurando-se como um tempo psicológico.
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Espaço (onde acontece): pode ser um lugar físico, por exemplo, uma casa, uma cidade ou uma região do globo. Também é possível que a história se passe em um espaço psicológico, na mente da personagem.
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Foco narrativo (sob qual perspectiva é contada a narrativa): um enredo pode ser narrado em 1ª ou 3ª pessoa. Esse é o chamado foco narrativo em um texto predominantemente narrativo.
Estrutura do texto narrativo
Do ponto de vista estrutural, o texto narrativo apresenta-se da seguinte forma:
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Apresentação: geralmente é o primeiro momento da narrativa, quando são introduzidos ao leitor as personagens, o espaço, o tempo e as informações iniciais do enredo.
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Complicação/conflito: trata-se do problema que tira a personagem de sua rotina/zona de conforto. Ela é convocada a agir, e esse processo é o que faz a trama acontecer de fato.
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Clímax: é o ponto alto da narrativa. Pode ser o momento mais emocionante ou o mais tenso e desafiador.
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Desfecho: é a resolução (ou não) do conflito. É comum a existência também de desfechos que se mostram abertos, seja para provocar uma ideia de continuidade, seja para fazer o leitor imaginar os momentos finais da narrativa construída.
Tradicionalmente, os textos narrativos apresentam uma estrutura linear, com a sequência que acabamos de descrever (apresentação, complicação, clímax e desfecho). Porém existem obras em que a ordem se inverte, podendo começar do desfecho, retornar à apresentação, e assim sucessivamente. Dessa forma, seguir uma estrutura linear não é obrigatório, e a escolha vai muito das intenções do leitor.
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Tipos de discurso no texto narrativo
Em um texto narrativo, temos três tipos de discurso: direto, indireto e indireto livre. No primeiro caso, temos a transcrição exata da fala das personagens. Vejamos:
Logo que viu o que aconteceu, Flávia disse:
— Não posso acreditar!
O discurso indireto é a reprodução das falas da personagem feita pelo narrador. Em outros termos, ele diz o que a personagem disse.
O homem, sentado próximo da entrada, disse que as coisas não estão boas ali dentro.
Por fim, o discurso indireto livre é quando as falas da personagem se misturam com as do narrador.
“Mentalmente jurava não emendar nada, porque estava tudo em ordem, e o amo só queria mostrar autoridade, gritar que era dono. Quem tinha dúvida?”
(Vidas secas, Graciliano Ramos)
Exemplo de texto narrativo
Cafezinho
Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.
Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é exatamente esta frase:
— Ele foi tomar café.
A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um “cafezinho”. Para quem espera nervosamente, esse “cafezinho” é qualquer coisa infinita e torturante.
Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer:
— Bem cavaleiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.
Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago:
— Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.
Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar:
— Ele está?
Alguém dará o nosso recado sem endereço.
Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo:
— Ele disse que ia tomar um cafezinho...
Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão:
— Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu dele está aí...
Ah! fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar.
Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.
Por Rubem Braga
O texto acima é uma crônica, gênero textual que se enquadra na modalidade narrativa. Nele é possível identificar os elementos estudados, como as personagens, o tempo e o espaço que envolvem a trama. Além disso, o foco narrativo é composto por um narrador em primeira pessoa, e há, em diversos momentos, o uso do discurso direto, em que o narrador reproduz exatamente a fala das personagens que participam da história.