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Moral

A moral é um conjunto de normas e princípios que orientam o comportamento humano em sociedade, com o objetivo de promover o bem-estar coletivo e a justiça.
Quadro com o conceito de moral.
A moral foi discutida largamente por filósofos ao longo da história.

A moral é um conjunto de normas e princípios que orientam o comportamento humano em sociedade, definindo o que é certo e errado, com o objetivo de promover o bem-estar coletivo e a justiça. Ela se manifesta em diferentes tipos, como a moral individual, a social, a religiosa e a laica, e é caracterizada por sua normatividade, coerção social, e historicidade.

Práticas como a valorização da verdade e o respeito aos mais velhos exemplificam a moralidade em ação, enquanto filósofos como Aristóteles, Kant e Hume exploraram seu fundamento, relacionando-a à virtude, ao dever e aos sentimentos respectivamente. Diferente da ética, que estuda criticamente essas normas, a moral regula as ações práticas, e frequentemente se entrelaça com a religião, embora possa existir de forma independente, segundo Hume.

Leia também: Por que importa estudar Filosofia?

Resumo sobre moral

  • A moral é um conjunto de normas e princípios que orientam o comportamento humano na sociedade, definindo o que é certo e errado segundo valores culturais, religiosos e éticos.
  • Os tipos de moral incluem a moral individual, baseada nos valores pessoais; a moral social, regulada por normas coletivas; a moral religiosa, orientada por ensinamentos divinos; e a moral laica, que se fundamenta em princípios universais de respeito e convivência independente de crenças religiosas.
  • A moral é normativa e impõe regras de conduta; apresenta coerção social, sendo reforçada por sanções da comunidade; evolui com a história, refletindo mudanças culturais; e, embora seja subjetiva, busca estabelecer normas objetivas para guiar o comportamento humano.
  • Práticas como a valorização da verdade, o respeito aos mais velhos e a compaixão são exemplos de moralidade, variando entre culturas e tradições religiosas, mas sempre promovendo o bem comum e a convivência pacífica.
  • Aristóteles vincula a moral à busca da virtude, Kant a define como um dever racional guiado pelo imperativo categórico, enquanto Hume argumenta que a moralidade é fundamentada nos sentimentos, especialmente a simpatia e o prazer.
  • Enquanto a moral refere-se a normas e valores de uma sociedade, a ética é o estudo crítico e racional dessas normas, buscando compreender e justificar os princípios morais que guiam o comportamento humano e as relações sociais.
  • A origem da moral é vista como uma construção social e cultural, mas também pode ser considerada inata ou racional, com filósofos como Kant e Hume propondo que a moralidade é uma inclinação humana natural voltada para a cooperação e o bem comum.

O que é moral?

A moral pode ser entendida como um conjunto de normas, valores e princípios que regulam o comportamento humano em um contexto social. Ela visa estabelecer um entendimento coletivo do que é certo ou errado, justo ou injusto, e é fundamental para a convivência humana.

Na perspectiva filosófica, a moral não é apenas um conjunto de normas arbitrárias; ela representa a busca pelo bem comum e pela justiça. Essa definição se solidifica com o estudo da ética, que busca fundamentar a moral por meio de uma análise racional e crítica dos valores que norteiam a vida humana​.

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Tipos de moral

Os tipos de moral são variados e refletem diferentes perspectivas sobre como a vida deve ser conduzida. Alguns dos tipos mais destacados são:

  • Moral individual: refere-se ao conjunto de valores pessoais que um indivíduo adota, os quais podem ser influenciados por experiências e crenças pessoais. Esse tipo de moral é, em parte, moldado pelo caráter e pelas escolhas individuais de cada pessoa.
  • Moral social: baseia-se nas normas aceitas por uma comunidade e visa regular o comportamento social. As práticas sociais e as tradições influenciam fortemente esse tipo de moral, que estabelece padrões coletivos de conduta.
  • Moral religiosa: deriva dos ensinamentos de uma religião específica, buscando alinhar o comportamento humano com o que é percebido como uma vontade ou lei divina. Por exemplo, no cristianismo, valores como compaixão, perdão e justiça têm grande peso moral.
  • Moral laica: É baseada em princípios universais e não em dogmas religiosos, promovendo o respeito e a cooperação independentemente de uma fé específica. Ela é central nas discussões filosóficas que separam moral e religião​.

Leia também: Filosofia da religião — a parte da Filosofia que se ocupa de examinar as explicações religiosas

Características da moral

A moralidade apresenta algumas características principais que ajudam a compreendê-la e distingui-la de outros conceitos:

  • Normatividade: Ela impõe normas que guiam a conduta dos indivíduos dentro de uma sociedade.
  • Historicidade: A moral evolui ao longo do tempo, sendo influenciada pelo contexto histórico e cultural.
  • Subjetividade e objetividade: Embora a moral inclua percepções individuais, há um esforço para se estabelecer normas objetivas que sejam aplicáveis a todos.
  • Coerção social: Embora muitas vezes não tenha uma punição legal, a moral é reforçada por sanções sociais, como aprovação ou desaprovação da comunidade​.

Exemplos de moral

Diversas práticas sociais ilustram o que é considerado moral em diferentes contextos. Por exemplo, a valorização da verdade é uma prática moral comum em muitas culturas. Outro exemplo é o respeito aos mais velhos, uma prática fortemente destacada em sociedades orientais. Além disso, a caridade e a compaixão, promovidas por muitas tradições religiosas, são ações vistas como moralmente elevadas em várias sociedades​

Visão dos principais filósofos sobre a moral

A visão sobre moralidade varia significativamente entre filósofos:

  • Aristóteles: Para ele, a moral está intrinsecamente ligada à busca pela virtude e pelo bem maior, que ele chama de eudaimonia ou felicidade completa. Aristóteles considera a prática de virtudes, como prudência, coragem e justiça, fundamentais para a moralidade, e acredita que elas devem ser cultivadas como hábitos.
  • Immanuel Kant: Kant desenvolve uma moral formal baseada no “imperativo categórico”, que determina que a ação moral deve ser realizada por dever e não por interesse. Para Kant, a moralidade é autônoma e não depende de consequências ou de sentimentos, mas da razão pura, que exige que as ações possam ser universalizadas.
  • David Hume: Hume contrapõe-se à ideia de uma moralidade baseada na razão, defendendo que o fundamento moral é o sentimento. Para ele, a moralidade é guiada por sentimentos de prazer e dor, e, por isso, é profundamente subjetiva. Ele também introduz o conceito de simpatia como central na moralidade, argumentando que é o sentimento de simpatia que nos leva a agir moralmente para o bem comum.

Diferenças entre moral e ética

A moral e a ética são conceitos que, embora relacionados, têm distinções fundamentais. Enquanto a moral é entendida como o conjunto de normas que orientam o comportamento humano em uma sociedade, a ética é o campo filosófico que estuda e analisa criticamente esses valores. A ética procura entender e justificar as bases da moralidade, investigando questões como “O que é o bem?” e “Por que devemos agir moralmente?”. Segundo Kant, a ética é autônoma e objetiva, enquanto a moral pode ter variações de acordo com o contexto social​.

Moral e religião

A relação entre moral e religião é um tema central na Filosofia e Teologia, revelando como a moralidade pode estar profundamente enraizada na fé e nos ensinamentos religiosos. A moral é frequentemente vista como um guia para o comportamento humano, fundamentada em princípios que promovem o bem comum, enquanto a religião oferece uma base transcendental que orienta esses valores, ligando-os a uma dimensão espiritual.

No pensamento de João Calvino, a moralidade está intimamente ligada à visão cristã reformada da vida. Calvino argumenta que a moralidade decorre do relacionamento entre Deus e o homem, sendo o homem criado à imagem e semelhança de Deus. Assim, valores como justiça, santidade e amor são reflexos dos atributos divinos que a humanidade deve espelhar em suas ações.

Calvino acredita que a obediência a Deus e a vivência moral são inseparáveis, já que é pela moralidade que o homem cumpre seu propósito de honrar a Deus e viver em harmonia com seus semelhantes. Calvino postula que Deus é soberano e que o ser humano deve alinhar sua vontade com a vontade divina, respeitando as orientações morais dadas nas Escrituras. Esse alinhamento com a moralidade divina se expressa, por exemplo, na ética do trabalho e na ideia de vocação, em que todo trabalho justo é visto como serviço a Deus​.

Já no contexto da Encíclica Veritatis Splendor, o papa João Paulo II defende a ideia de que a moralidade é fundamentalmente ancorada na verdade absoluta, Deus. O papa ressalta que a moralidade cristã deve ser baseada em princípios universais que transcendam a cultura e a época, sendo enraizada na lei divina. Ele defende que Jesus Cristo é a fonte última da moral, e o “esplendor da verdade” que brilha na doutrina cristã é um guia moral seguro para os fiéis.

A Encíclica enfatiza que, mesmo em tempos de relativismo moral, a verdade de Deus permanece constante e que a moralidade autêntica é aquela que segue os ensinamentos de Cristo, especialmente no amor a Deus e ao próximo. João Paulo II sugere que o caminho moral cristão não é apenas uma lista de normas a serem seguidas, mas, ainda, uma resposta ao amor de Deus e uma forma de refletir a dignidade humana​.

Ambos os pensadores concordam que a moralidade se fundamenta em uma compreensão do bem que é, em última análise, transcendental. Para Calvino, o bem é aquilo que reflete a vontade de Deus, e a moralidade é uma expressão de submissão a essa vontade.

Ele entende que a vida moral é um compromisso de viver de acordo com os princípios divinos, independentemente das consequências materiais ou pessoais. Por isso, a ética protestante, como estudada por Max Weber, associa a moralidade ao trabalho e à disciplina como um meio de glorificar a Deus, trazendo uma perspectiva ética que também molda a sociedade.

O papa João Paulo II, um dos pensadores contemporâneos a pensar a moral.[1]
O papa João Paulo II, um dos pensadores contemporâneos a pensar a moral.[1]

Importância da moral

A moralidade é essencial para o funcionamento harmonioso das sociedades, pois estabelece os alicerces para a convivência pacífica e justa entre os indivíduos. Ela fomenta a confiança e a solidariedade, permitindo que as pessoas trabalhem juntas para o bem comum.

Kant argumenta que o dever moral é fundamental para a dignidade humana, pois permite que o ser humano aja de acordo com princípios universais de justiça e respeito, elevando-o acima dos desejos puramente individuais​.

Origem da moral

A origem da moral é um tema amplamente discutido na Filosofia. Aristóteles sugere que a moral surge da natureza humana à medida que os seres humanos buscam a felicidade e o bem-estar social.

Hume, por outro lado, acredita que a moralidade tem raízes nos sentimentos, especialmente na simpatia, enquanto Kant propõe que a moralidade é um imperativo racional, um dever que surge da própria razão humana.

Essas diversas teorias revelam que a moralidade pode ser vista como uma construção tanto social quanto racional, ou como algo inerente à condição humana​. Além disso, elas apresentam uma visão ampliada e crítica das influências filosóficas e sociais, demonstrando a importância da moral como um dos pilares do desenvolvimento humano e da organização das sociedades.

Leia também: Estoicismo — filosofia que busca a paz interior por meio do autodomínio

Exercícios resolvidos sobre moral

1. No contexto do pensamento de filósofos como Aristóteles, Kant e Hume, a moralidade é um tema central que busca compreender o que fundamenta o comportamento humano e como ele se alinha com princípios éticos. Com base nessas teorias, qual das seguintes alternativas melhor exemplifica a ideia de moralidade segundo Hume?

a) Praticar atos de caridade, pois são essenciais para atingir a virtude, conforme descrito por Aristóteles.
b) Ajudar alguém sem esperar nada em troca, seguindo o dever moral e o princípio universal de Kant.
c) Agir de forma compassiva com outras pessoas, guiado pela empatia, como sugere Hume.
d) Obedecer a uma regra social para evitar o julgamento alheio e manter a reputação pessoal.
e) Tomar decisões morais com base em uma análise racional das consequências das ações.

Resposta correta: c)

Hume considera que a moralidade não é guiada pela razão, mas pelos sentimentos. Ele acredita que o fundamento das ações morais está no sentimento de simpatia e na busca do prazer, diferentemente das visões de Aristóteles e Kant, que valorizam a virtude e o dever. Agir por compaixão e empatia é o que melhor reflete a moralidade conforme a filosofia de Hume.

2. A moral e a ética são conceitos frequentemente discutidos na Filosofia, especialmente no que diz respeito ao comportamento humano em sociedade. Com base nessa distinção, qual das alternativas a seguir diferencia corretamente moral e ética?

a) A moral impõe normas de comportamento, enquanto a ética é uma reflexão crítica sobre esses comportamentos.
b) A ética define o que é certo ou errado para as religiões, enquanto a moral não possui qualquer base religiosa.
c) A ética prescreve as normas sociais, e a moral é seu fundamento filosófico universal.
d) A moral é aplicada universalmente, enquanto a ética só se aplica a indivíduos religiosos.
e) A moral não influencia o comportamento humano, sendo limitada ao campo teórico.

Resposta correta: a)

A moral orienta o comportamento com base em normas e valores partilhados em uma sociedade, enquanto a ética analisa esses valores, buscando justificativas racionais para as normas morais. A ética não se limita a uma base religiosa e questiona criticamente as práticas morais, enquanto a moral costuma ser aplicada como um código prático de conduta.

Créditos da imagem

[1] Rob Croes / Anefo | Wikimedia Commons

Fontes

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia antiga, v. 1. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia antiga, v. 3. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia antiga, v. 4. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

GOMES, Antônio Máspoli de Araújo. O pensamento de João Calvino e a ética protestante de Max Weber: aproximações e contrastes. Fides Reformata, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 71-90, 2002.

JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Veritatis Splendor. 1993.

Publicado por Tiago Soares Campos
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