José Sarney

José Sarney é um político e escritor brasileiro. Iniciou sua carreira política na década de 1950. Foi deputado federal, governador, senador e presidente do Brasil.
José Sarney foi uma figura importante da política brasileira durante décadas.[1]

José Sarney é um político e escritor brasileiro que nasceu no estado do Maranhão. Teve uma origem familiar privilegiada, ingressando na política na década de 1950. Ocupou diversos cargos na política, sendo deputado federal, senador, governador do Maranhão, e presidente do Brasil no período entre 1985 e 1990.

José Sarney foi membro do Arena, o partido político que apoiou a Ditadura Militar, e, no final desse período, rompeu com os militares, ingressando na candidatura de Tancredo Neves como vice-presidente. Assumiu a presidência porque Tancredo Neves teve problemas de saúde e faleceu. Aposentou-se da política em 2015.

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Resumo sobre José Sarney

  • José Sarney é um político e escritor brasileiro.
  • Ingressou na carreira política na década de 1950, ocupando posições como deputado federal, senador, governador do Maranhão e presidente do Brasil.
  • Foi membro do Arena, o partido político que apoiou a Ditadura Militar no Brasil.
  • Foi eleito vice-presidente do Brasil em 1985, mas assumiu a presidência com o falecimento de Tancredo Neves.
  • Aposentou-se da política em 2015.

Biografia de José Sarney

Nacionalmente conhecido como José Sarney, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu na cidade de Pinheiros, no Maranhão, no dia 24 de abril de 1930. Recebeu a alcunha “Sarney” por conta de seu pai, que se chamava Sarney de Araújo Costa. O pai de José Sarney foi promotor e desembargador.

A mãe de José Sarney se chamava Kyola Ferreira de Araújo Costa. Ele foi criado em um ambiente familiar de boa condição econômica e, por isso, teve acesso a uma boa educação. Fez o seu ensino médio em uma escola importante de São Luís, capital do Maranhão, e lá teve contato com o movimento estudantil.

José Sarney chegou a participar de protestos contra o governo de Getúlio Vargas durante o período de sua graduação. Formou-se em Direito, no ano de 1953, pela Universidade Federal do Maranhão. Uma vez finalizada essa etapa de sua vida, Sarney ingressou na política.

Carreira política de José Sarney

A década de 1950 ficou marcada pela partidarização da política brasileira. Nesse processo de crescimento e fortalecimento da política brasileira, José Sarney ingressou no Partido Social-Democrático (PSD) em 1954. Já no ano seguinte, conseguiu ser eleito para a posição de deputado suplente, mantendo-se na função entre 1955 e 1959.

Em 1958, José Sarney se mudou para a União Democrática Nacional (UDN), e, por esse partido, procurou se eleger como deputado federal. Nesse mesmo ano, ele se elegeu como deputado federal, mantendo sua posição em 1962, quando foi reeleito para a função. Em 1964, aconteceu o Golpe Civil-Militar no Brasil, e, apesar de ser do partido que apoiou o golpe, Sarney foi contra as perseguições aos opositores.

De toda forma, José Sarney se adaptou rapidamente ao novo cenário, e, quando os militares estabeleceram o bipartidarismo, ele aderiu ao Arena, o partido que apoiava os militares no poder. Em 1965, já pelo Arena, candidatou-se a governador do estado do Maranhão, elegendo-se para a função. O mandato de Sarney como governador se estendeu até 1970.

Em 1970, José Sarney se candidatou ao Senado Federal, elegendo-se novamente e se mantendo na função de 1971 a 1985. Seu segundo mandato se deu no momento em que a Ditadura Militar conduzia a sua abertura lenta, gradual e controlada. A sociedade brasileira, por sua vez, não queria que a redemocratização se desse nos termos dos militares.

Com o retorno do pluripartidarismo, em 1979, o Arena deixou de existir e tornou-se Partido Democrático Social (PDS), do qual José Sarney fez parte e chegou a ser presidente. Na década de 1980, o desejo da população pela redemocratização se manifestou por meio das Diretas Já, campanha popular para o retorno das eleições presidenciais com o voto direto.

Quando a Emenda Dante de Oliveira foi derrotada, o PDS se organizou para as eleições presidenciais de 1985, que seriam realizadas pelo voto indireto. José Sarney quis que a escolha do candidato do partido se desse por meio de prévias internas, mas João Figueiredo, presidente do Brasil, indicou Paulo Maluf para a eleição, sem prévias.

José Sarney ficou irritado com isso e liderou um racha no interior do PDS, resultando em uma debandada em massa no apoio do partido à candidatura de Paulo Maluf. José Sarney costurou uma aliança com Tancredo Neves, candidato da oposição, filiando-se ao Partido da Mobilização Democrática Brasileira (PMDB).

Sua filiação foi acompanhada pela de outros políticos que pertenciam ao PDS. Por fim, a situação resultou em um convite da campanha de Tancredo Neves para que Sarney fosse o candidato à vice-presidência do Brasil.

→ Governo de José Sarney

A eleição de 1985 foi um momento importante na história do Brasil, pois marcou a vitória da candidatura de Tancredo Neves, que tinha José Sarney como vice-presidente, com 480 votos contra 180 votos para Paulo Maluf, que tinha Flávio Marcílio como vice-presidente. A posse de Tancredo Neves aconteceria dia 15 de março de 1985, mas, um dia antes, ele foi internado, às pressas, com dores abdominais.

Tancredo Neves sofria de um tumor benigno infeccionado em seu intestino. O problema resultou no  falecimento do recém-eleito presidente, que não assumiu o cargo. José Sarney, que havia assumido interinamente a presidência, com a morte de Tancredo Neves, foi oficializado na condição de presidente do Brasil.

Foto presidencial oficial de José Sarney.[2]

O governo de José Sarney foi marcado por barrar todas as iniciativas de investigar e punir os crimes cometidos por agentes da Ditadura Militar. Além disso, o presidente foi marcado por ter tido uma relação ruim com a Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição Federal de 1988. Foi durante os trabalhos da Constituinte que se definiu que o mandato de Sarney teria cinco anos de duração.

O governo de Sarney ficou marcado pela forte crise econômica que afetava o país. A alta da inflação era o maior problema da economia brasileira e chegou a alcançar a níveis elevadíssimos. Ele tentou contornar a situação com o Plano Cruzado, mas o plano segurou o aumento inflacionário até as eleições estaduais de 1986. Depois, o plano fracassou, levando a inflação a quase 2000% no ano.

José Sarney se despedindo do Congresso Nacional devido à sua aposentadoria.[3]

Por fim, seu governo também foi marcado por diferentes casos de corrupção. Depois da presidência, elegeu-se como senador pelo estado do Amapá, mantendo-se na posição de 1991 a 2015, quando, então, aposentou-se da política.

Veja também: Fernando Collor de Melo — o primeiro presidente civil eleito pelo povo após a Ditadura Militar

José Sarney e a literatura

José Sarney teve também uma carreira como escritor literário, produzido poemas, contos, romances etc. Sua carreira literatura foi marcada pelo seu envolvimento com revistas literárias bem como pela publicação de diversas obras. Sua escrita literária é considerada como a de um representante do pós-modernismo no Maranhão.

→ Obras de José Sarney

José Sarney tem uma longa lista de livros que foram publicados ao longo de sua carreira na literatura. Algumas das obras publicadas são as seguintes:

  • Brejal dos guajás e outras histórias (1985);
  • Norte das águas (1969);
  • Marimbondos de fogo (1978);
  • O dono do mar (1995);
  • A duquesa vale uma missa (2007);
  • Saraminda (2000).

→ Poemas de José Sarney

A seguir, alguns poemas de José Sarney extraídos de suas obras A canção inicial (1952) e Saudades mortas (2002).

A Varanda

Nos esquadros da varanda
o corrimão escorria
na meia parede de taipa,
suja e gasta de abandono.
No parapeito das janelas,
nada além de um horizonte
nuvens cinzas.
Tudo desmoronara.
Ficou um quintal molhado.

Eram mangueiras e figos,
laranjeiras e limão.
Oitis perfumados, pés de jasmim e de estrela,
erva cidreira, murta e romã.

Chão aberto por sulcos escondidos
na malva braba,
caminhos das corredeiras
que das biqueiras caíam
serpenteando em desníveis
na fuga ligeira
das prisões que prendem as águas.

Olho o corrido da taipa
o ondulado do barro
descascado em manchas
a marca de minhas mãos
marcadas no branco cal.

Há figuras debruçadas:
avô, avó, Tomásia, Emília e
quantos
olhavam a chuva cair
desabando do telhado
nas calhas de zinco velho.

Os galhos balançavam
como pêndulos verdes
de relógios que dormiam.

O varandão das lembranças,
com o caixão negro-dia
do meu avô preparado.
Fraque, colete e botina
para uma festa de cinzas
onde se chega
e não volta.

Olhos fechados,
mãos cruzadas,
lábios cerrados.
E os cravos dos defuntos,
amarelos e sombrios
cores de sonho, choros
e gemidos gementes
para quem viaja
com as mãos sem poder
apertar um gesto de adeus.

De novo as biqueiras jorrando
no vazio do varandão.
Silêncio nesse cantar
feito de tempo e tristeza
da vida que já passou.

Jasmineiros apodrecidos,
roseiras, avencas, cravinhose as águas coloridas:
água branca, pingo azul,
água verde, água amarela,
que tem a cor dos meus olhos
presos na noite da tarde.

Varandão, varanda, chuva,
verde alegria molhada.
Só o silêncio vazio
habita no varandão.

Águas conversam e murmuram,
falam de invernos passados,
contam contos de besouros,
pedem perdão das goteiras.

Remoem como moendas,
em voltas que não acabam
as chuvas dos verdes campos.
Enterrados vivem os olhos
que olhavam ventanias,
sacudindo os galhos verdes,
onde pousado cantava
o pássaro do meu destino.

Meditação sobre o Bacanga
As águas passam
É lua e as casas aparecem.
Sou eu. Narciso que se olha
E fenece.

Tudo é sombra, sombra e nada,
água e silêncio nas folhas e vales
rompidos pelo Bacanga em sulcos
de madrugada.
Faixa de vento na montanha a encher e vazar:
címbalos onde o tédio geme.

É o gigante do não esquecer e as vozes do mangue.
Sangue correndo das imagens mordidas
pelos dentes estranguladores da noite.

Narciso se olha
Satanicamente o brilho dos olhares
buscam
o que não existe mais.

Ele vivia além e tinha fome, mas pensava.
Comeu os pensamentos devorando os dias
o nome e a noite.
Doce rio que vem e bóia
na enseada.
Águas barrentas, sujas,
Liberdade que morreu
e se afoga
no Mar.

Medito sobre mim que já sou morto:
as canções fúnebres que me pesam
como pedras no vazio do
lembrar.

— Barquinho de vela
que vai sobre o mar.
Boneca amarela
que me vem roubar.

meus olhos fenecem e o presságio dorme
no espelho das águas que
escorrem.

Revisitando a Casa da Infância, no Outono

Na máquina em que escrevo
o teclado
de santa alucinação.

Sozinha brilha e aparece
entre tipos e aranhas
a amarga madrugada
do recordar.

Na terra em que meus olhos descobriram o mundo
abre-se
a flor da memória.
Verdes campos
em que me fiz igual a eles.
Surgem
nuvens, um pântano, uma cacimba.
Depois o velho poço.
O poço que amarga o relembrar
onde enchi de água o balde ralado
pedras pretas, musgos do tempo
plantas penduradas que teimavam em crescer
nos encaixes das juntas de fungos negros.
Sapos boiando,
o lancear da corda trazendo o balde.
O poço não é o poço
é um espelho
meu rosto copiado
nas águas guardadas
no fundo de mim.

Aparecem o pé de urucu
com as cachopas espocadas
a mangueira onde dormiam as galinhas
e a horta onde as mãos de minha avó
esmagavam folhas de vinagreiras
e onde o cavalo preto, Graúna,
relinchava com a descarga
das cargas de palmito.
Este remoer
acorda solidões esquecidas
junto aos pés de figo, no limoeiro,
no pé de romã, de grumos que
traziam a felicidade dos bons anos.

Encontro uma moça de cabelos longos
ajoelhada.
É minha mãe rezando.
Meu pai a falar das coisas de Deus
meus irmãos com as pequenas mãos
entrelaçadas nas cantigas de roda
na pureza de que tudo seria eterno
e nada tombaria.

Os anos se escondem nas saudades
que desaparecem
deixando apenas encardidos ossos.
Onde estão? Esmagados no silêncio.
Só tu, alma minha, tens a ressurreição
que surge sem sol
cresce sem água, abre flores,
dá frutos e ilumina
esse travo do ter existido
na sombra da memória.

O padroeiro no altar.
A seus pés a oração
de implorantes perdões
por todos os pecados
que depois soubemos não eram.

Nas colunas pobres do templo
cobrindo as pedras carcomidas
as tintas imitavam o mármore
esperança do fausto dos grandes santuários.
A Basílica de São Pedro
não tem a beleza da cor de terra
da capela-morta da igreja
do Senhor São Bento.

Acorda, saudade do possível.
Abram meus olhos
para ver estas sombras
da alma que corre em busca
de agarrar-se ao que passou, para fugir.
Casa da minha infância.

As janelas pintadas de azul
bancos toscos, mesas gastas
os gostos dos pratos do angu
de todos.

Meu avô, minha avó, meu pai,
minha mãe, meus irmãos,
o riso de festa
na algazarra daqueles dias
em torno dessa mesa de alegrias e mangas.
Aos meus olhos, boiava a felicidade eterna.

Lágrimas chegaram. Flores murchas.
Um corpo velado: José Adriano.
Foi o primeiro.
E começou o mistério do vazio.
Os anos foram se amontoando no corredor
até serem tantos que não se pode ver.
A varanda é um só longo espaço morto.
Limpa a mesa, sem cadeiras e olhos.

Tudo é um instante
que sobrevive com lágrimas secas.
Não está morto. Vive eterno.
Volto à casa
Posso vê-la aberta, janelas e portas escancaradas
o vento derrubando as mangas-caianas, a chuva caindo
as biqueiras correndo
dos telhados envelhecidos
a água santa no sortilégio do amor passado.
Volto ao batente da despedida.
Olho para trás.
O que viveu vive e
está morto
e foge dos meus olhos
e de minhas mãos.

As candeias de azeite
não iluminam mais
porque o escuro clareia.
A luz não existe mais.
Toda memória está cega
na saudade morta.

Eu mesmo não estou em mim,
liberto para sempre da felicidade.

Homenagens a José Sarney

Ao longo de sua vida, e apesar das inúmeras contradições de sua carreira política, José Sarney recebeu algumas homenagens. Entre elas, destaca-se:

  • Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul;
  • Ordem de Rio Branco;
  • Ordem do Mérito Judiciário Trabalhista.

Créditos de imagem

[1] Geraldo Magela / Agência Senado / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Wikimedia Commons (reprodução)

[3] Edilson Rodrigues / Agência Senado / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 484.

FERREIRA Jorge. O presidente acidental: José Sarney e a transição democrática. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da Nova República – da transição democrática à crise política de 2016. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

RIBEIRO, José Augusto. Tancredo Neves: a noite do destino. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

Publicado por Daniel Neves Silva
Química
Cigarro eletrônico, faz mal assim mesmo?
Dispositivos amplamente difundidos hoje e sem relatos concretos sobre os seus malefícios são os cigarros eletrônicos. Por mais que não saibamos de maneira clara o quão fazem mal a saúde é claro e evidente que não fazem bem! Vamos entender o seu funcionamento e desvendar o motivo pelo qual com certeza ele fazem mal a saúde.
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