Neoplatonismo

O neoplatonismo foi uma corrente de pensamento filosófico com várias doutrinas e pensamentos diferentes, mas com a centralidade de inspiração na filosofia platônica. Muito mais que uma corrente filosófica, o neoplatonismo também foi tido como uma seita místico-religiosa por perfazer, em vários grupos neoplatonistas, uma espécie de adoração divina com crenças particulares.

Entre os filósofos neoplatonistas mais influentes, podemos destacar Porfírio e Plotino, e a sua importância pode ser medida, em especial, pelo alcance que eles tiveram em autores da chamada filosofia patrística, como Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho.

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O que é e como surgiu o neoplatonismo?

Há uma primeira dificuldade em se definir o que foi o neoplatonismo, pois o grupo de pensadores denominados hoje neoplatonistas foi amplo, com diferentes ideias, doutrinas e intenções. Em alguns aspectos, o neoplatonismo pode ser considerado como uma seita mística pagã que crescia junto ao cristianismo em seus primeiros séculos de existência.

Filósofos neoplatonistas propuseram interpretações de ideias muito caras ao cristianismo, como a existência e a unidade de Deus, mas com aspectos bem distintos. Por outro lado, podemos considerar o neoplatonismo uma corrente de pensamento filosófico pela centralidade na busca de referencial teórico na filosofia do pensador grego antigo Platão.

Plotino, o homem de barba comprida e túnica vermelha de pé no fundo central, foi um importante filósofo neoplatonista.

Os neoplatonistas não se denominavam assim. Essa formulação é posterior e veio de historiadores e filósofos medievais que compararam a filosofia de Platão com as teorias dos neoplatonistas. O neoplatonismo surgiu na passagem do século II para III da era cristã e teria perdurado até o século VI.

O radical “neo” associado à palavra platonismo indica um novo platonismo, ou seja, uma nova interpretação e leitura das ideias platônicas. No entanto, apesar da forte influência do filósofo idealista grego nas teorias neoplatonistas, esses pensadores não construíram apenas uma doutrina ou teoria que se limitasse a dar uma nova leitura de Platão. A inspiração platônica serviu de base para que os filósofos do período construíssem ideias completamente originais de um ponto de vista filosófico para a época.

O primeiro neoplatonista foi o pensador Amônio (ou Amôncio) Sacas. Ele fundou a Escola de Alexandria e teve ilustres discípulos que entraram para a história, como Orígene, o pagão, Orígene, o cristão (este é considerado um dos mais importantes teólogos e filósofos do início do cristianismo, ainda no século II), e Plotino.

Amônio não deixou escritos, e tudo o que conhecemos dele advém da obra escrita de seus discípulos. Dizem escritos de Porfírio, um discípulo e biógrafo de Plotino, que Amônio seria filho de cristãos, mas que não aceitou o cristianismo quando conheceu os escritos dos filósofos gregos, tornando-se um pagão. Seu paganismo também estava muito alinhado com a noção de Deus cristã, pois se embasava nas ideias de Platão sobre divindade, que estavam muito próximas da noção de divindade expressa pela teologia cristã. Para Amônio, paganismo e cristianismo não eram tão diferentes.

Apesar de menos comentada, talvez pelo fato de a história do pensamento ocidental ser dominada por muito tempo por homens, Hipátia de Alexandria também é considerada uma filósofa neoplatonista. Ela estudou na Escola de Alexandria e ensinou cristãos e pagãos. Suas contribuições pendem mais para os estudos da matemática do que da filosofia propriamente dita, além de muitas de suas obras terem sido destruídas, o que nos deixa poucos vestígios da sua produção filosófica neoplatonista.

Hipátia foi assassinada em 415 d.C. por cristãos revoltados que caçavam, puniam e matavam pagãos após a ascensão ao comando da Igreja Católica em Alexandria. O cristianismo já era a religião oficial do Império Romano, e a caça aos pagãos tornava-se cada vez mais comum.

Neoplatonismo e o Noûs

A noção de Noûs advém da filosofia grega clássica. As mais antigas ideias filosóficas que utilizam essa concepção são de Anaxágoras. A visão grega de Noûs pode ser definida como uma inteligência suprema, racional ou até mesmo divindade. Plotino, um dos principais filósofos do neoplatonismo e o mais promissor discípulo de Amônio, o fundador do neoplatonismo, cunhou uma ideia de divindade superior (e única) que governaria o mundo. Essa divindade era chamada de Noûs.

Plotino, um dos principais pensadores do neoplatonismo. [1]

O Noûs é responsável pela agregação e desagregação dos seres, pelas mudanças, pelos ciclos naturais, entre outros fatores, ou seja, o Noûs seria como a alma do mundo, conferindo a ele movimento e ordem. Tudo estava embasado na alma humana, que, para os neoplatonistas, era superior, mas envolta em problemas que a tiravam de sua superioridade. O movimento da alma deveria ser de se reconectar ao Noûs.

Esse movimento em direção ao Noûs era o único princípio que separava Plotino de Platão. Plotino era monista, pois conferia o sentido e o princípio de tudo a um único ser, que seria também a fonte do conhecimento. Platão, por sua vez, era dualista, pois acreditava em uma dupla e distinta realidade, constituída pelo Mundo das Ideias e pelo mundo físico.

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Ceticismo e neoplatonismo

Talvez a única semelhança entre ceticismo e neoplatonismo seja o fato de que eles coexistiram, durante algum tempo, na mesma época. Ao retomarmos a história da filosofia grega, o pensamento helenístico (século IV a.C. a século III d.C.) produziu escolas de pensamento, como o cinismo, o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo. No mesmo século III d.C., quando desaparecia o ceticismo, surgia o neoplatonismo. Também podemos apontar como semelhança o fato de que ambos são doutrinas que apontam caminhos para uma vida humana plena e feliz.

Enquanto o ceticismo afirmava que o ser humano não poderia chegar a um conhecimento correto, portanto ele deveria abandonar essa pretensão, o neoplatonismo afirmava que o conhecimento estava ao alcance do ser humano. Bastava ele saber onde procurar e se reconectar com esse conhecimento.

Filósofos importantes do neoplatonismo

  • Plotino

Plotino foi um dos discípulos do fundador do neoplatonismo, Amônio Sacas. Ele escreveu um extenso conjunto de livros chamado Enéadas, que foi editado por Porfírio (discípulo de Plotino), provavelmente no ano da morte do mestre, em 270 d.C. A complexa obra é composta por 54 tratados filosóficos sobre escritos de Platão e a doutrina neoplatonista. Cada tratado corresponde a um assunto específico, e cada livro (são seis ao todo) é dividido em nove partes, o que origina o título da obra (seria derivado de enéa, nove em grego).

A interpretação de Platão e as ideias autênticas de Plotino misturam-se na obra. No entanto, o mais importante de se notar, além dos comentários e das traduções da obra de Platão, é a diferença básica entre o grego antigo e Plotino: enquanto Platão defendia o dualismo psicofísico como maneira de se conceber o ser humano e o conhecimento como dividido em dois (material e imperfeito e imaterial e perfeito), Plotino recorreu a um monismo que levaria o ser humano a uma unidade essencial.

  • Porfírio

Porfírio foi discípulo de Plotino.

Porfírio, além de ter escrito uma biografia de Plotino e editado sua obra Enéadas, também lançou uma filosofia própria de extrema importância para o neoplatonismo. No entanto, as contribuições de Porfírio se dão muito mais como um estudioso e comentador, uma espécie de intérprete da filosofia, do que de alguém que criou uma vasta e extensa obra filosófica original, o que não tira o valor do trabalho do pensador.

Porfírio foi um grande estudioso de Aristóteles, talvez o maior do neoplatonismo. Ele uniu a filosofia aristotélica com as ideias do mestre Plotino, a fim de demonstrar por um viés lógico e metafísico clássico o pensamento neoplatonista. O principal livro deixado por Porfírio chama-se Isagoge e possui um esforço de erudição do filósofo, que traduziu trechos de Platão e Aristóteles direto do grego antigo.

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Santo Agostinho e o neoplatonismo

Agostinho, o Bispo de Hipona, também conhecido por Santo Agostinho após a sua canonização, foi um filósofo do chamado período patrístico da filosofia cristã. Viveu entre 354 e 430 d.C, no início da filosofia cristã, quando os esforços filosóficos voltavam-se para uma fundamentação e difusão dos ideais cristãos.

Apesar de Porfírio e Plotino serem pagãos, Agostinho estudou muito do que foi deixado pelos filósofos como bibliografia disponível e importante sobre a filosofia grega antiga. Dessa maneira, podemos dizer que o neoplatonismo influenciou pensadores da patrística, como Agostinho e Boécio, além de influenciar o período posterior da filosofia cristã medieval: a escolástica.

Crédito da imagem

[1] Sailko / Commons

Publicado por Francisco Porfírio
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