Saci-pererê
O saci-pererê é um ser mítico que faz parte do folclore brasileiro, sendo uma das lendas mais conhecidas do nosso folclore. Essa lenda fala desse ser como um menino travesso que realiza inúmeras brincadeiras contra as pessoas por onde passa. Essa lenda, provavelmente, surgiu no final do século XVIII e foi popularizada por meio da obra literária de Monteiro Lobato.
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Lenda do saci-pererê
A lenda do saci é muito conhecida em todo o Brasil e existem diferentes versões dela. De toda forma, nesta parte do texto, conheceremos um pouco da lenda na sua versão mais popularizada no Brasil e veremos algumas variações dela em outros países.
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Saci-pererê no Brasil
Tendo em vista as características físicas mais conhecidas, o saci possui pequena estatura (geralmente, meio metro de altura), é negro, não possui cabelo e nenhum tipo de pelo no corpo. Além disso, usa um gorro vermelho e fuma com frequência no seu cachimbo. Outra característica marcante é o fato de que ele possui apenas uma perna e, por isso, locomove-se saltitando. Além disso, não é um ser único, podendo existir vários sacis.
Como mencionado, a lenda do saci pode sofrer grandes variações dependendo da região do Brasil, sendo assim, algumas dessas versões mencionam que o saci pode alcançar até três metros de altura e pode ter olhos vermelhos.
O saci é um ser muito agitado e, por isso, está frequentemente realizando alguma molecagem nos locais em que passa. Ele é bastante conhecido pelas brincadeiras que realiza com as pessoas. Essas brincadeiras podem ser coisas simples, como o desaparecimento de objetos, mas também podem levar a consequências ruins, como danificar o freio de carroças. Por isso, para muitos, ele é um ser maléfico.
O saci gosta de amedrontar os cavalos e, quando a noite baixa, costuma colocá-los em pânico. Também gosta de sugar o sangue dos cavalos. Assim, quando as pessoas viam que os cavalos estavam agitados, logo sabiam que ali tinha um saci aprontando das suas. Uma marca deixada pelo saci nos cavalos era um nó ou trança na crina do cavalo.
O saci também gosta de importunar viajantes em estradas e gosta de assoviar um som estridente e contínuo para incomodar as pessoas. Aqueles que ouvem o assovio do saci ficam desorientados porque não conseguem localizar de onde vem o som e quem o está emitindo. O saci também danifica as carroças usadas pelos viajantes, derruba o chapéu das pessoas etc.
Alguns acontecimentos são sinais claros que denunciam a presença do saci. Ele gosta de apagar o fogo de fogueiras, apagar lamparinas, espantar o gado, queimar e azedar comidas, tirar as coisas do lugar e desaparecer permanentemente com objetos da casa. Quando ocorre um redemoinho, o saci sempre está presente nele para levantar a poeira e sujar as casas.
Conta a lenda que o saci vive até os 77 anos de idade e, então, transforma-se em um cogumelo venenoso, embora outras versões falam que ele se transforma em um cogumelo chamado orelha-de-pau.
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Saci-pererê em outros países
A lenda do saci, segundo apontam os especialistas em folclore, também é encontrada nos países vizinhos do Brasil. No Paraguai, Argentina e Uruguai, ela é conhecida como yasi-yateré, e os especialistas acreditam que a lenda do saci derivou desta, mas se modificou radicalmente por conta das influências da cultura africana e europeia na versão brasileira.
O yasi-yateré, assim como o saci, é um ser de pequena estatura, possui cabelos loiros e anda com um bastão de ouro, que funciona como varinha mágica e tem como função deixar o yasi invisível. Ele também gosta de atrair crianças com brincadeiras e pode fazer alguma maldade com elas, como roubá-las, deixá-las loucas, surdas (isso varia de acordo com a versão) etc.
Esse ser possui as duas pernas e, na versão argentina, gosta de raptar moças solteiras para, em seguida, engravidá-las. As crianças que nascem dessa relação acabam tendo ataques epilépticos quando o rapto de sua mãe completa aniversário. Além disso, de acordo com a lenda, aquele que conseguir tomar o bastão do yasi faz com que ele perca seus poderes mágicos.
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Quem criou a lenda do saci-pererê?
Os estudiosos não sabem que foi o autor dessa história, e podemos dizer que é impossível obter esse tipo de informação. De toda forma, estudos realizados pelos folcloristas conseguiram identificar que a lenda do saci surgiu na Região Sul do Brasil, no final do século XVIII, na região habitada pelos índios guaranis.
Essa lenda era conhecida entre os índios guarani como Çaa cy perereg, sendo que Çaa Cy significa “olho mau” e pérérég significa “saltitante”. À medida que a lenda do saci foi espalhando-se pelo território brasileiro, ela foi incorporando elementos originários de outras culturas. Além da cultura indígena, a lenda foi fortemente influenciada pela cultura europeia e africana, como citamos.
Da cultura portuguesa, algumas referências podem ser extraídas, como o trasgo e o pesadelo, dois seres míticos maléficos que fazem parte do folclore português. O gorro vermelho do saci, inclusive, pode ter vindo de um desses dois. Algumas versões do saci apresentam-no com a mão furada, sendo essa uma característica extraída do “pesadelo”.
Já o ato de fumar está relacionado com a cultura indígena, mas também era uma influência da cultura africana. A influência africana, por sua vez, está no fato que o saci havia perdido sua perna durante uma luta de capoeira.
Saci e o Sítio do Picapau Amarelo
A lenda do saci-pererê ficou nacionalmente famosa por conta da influência de um escritor chamado Monteiro Lobato, que criou o Sítio do Picapau Amarelo, obra literária infantil que fez bastante sucesso e que incluiu histórias sobre o saci-pererê. Monteiro Lobato era um escritor pré-modernista e seu entusiasmo pela valorização dos elementos nacionais despertou seu interesse pelo folclore brasileiro.
Por essa razão, ele publicou um inquérito no jornal O Estado de São Paulo no qual convidava os leitores a enviarem o que as pessoas tinham ouvido falar sobre o saci-pererê. Monteiro Lobato recebeu inúmeras respostas, sobretudo, vindas de São Paulo e Minas Gerais, e por meio delas organizou a lenda em um livro.
Esse livro foi nomeado como Sacy-Pererê: resultado de um inquérito e foi publicado em 1918 com tiragem de dois mil volumes. Três anos depois, Monteiro Lobato adaptou a lenda do saci para o público infantil e inseriu-o no Sítio do Picapau Amarelo, uma das obras literárias infantis mais conhecidas do Brasil.
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Dia do Saci
Existe atualmente em nosso país uma data comemorativa em homenagem ao saci-pererê. Essa data é comemorada em 31 de outubro e foi criada em 2003, por meio do projeto de lei federal nº 2.479, de 2003. A proposta de lei visava a promover o resgate das figuras do nosso folclore e reduzir um pouco da influência da cultura estrangeira, uma vez que o dia 31 de outubro é mundialmente conhecido como o “Dia das Bruxas”, ou Halloween.
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[1] Commons