Escassez de Água no Oriente Médio
Em contraposição ao fato de a região do Oriente Médio possuir as maiores reservas de petróleo em todo o mundo (cerca de 60%), essa região é a que possui a menor quantidade de água potável disponível para consumo doméstico e para atividades industriais e agrárias. Em razão disso, esse imprescindível recurso natural foi, é e será um dos principais elementos de acirramentos das disputas geopolíticas na região.
Na verdade, os analistas políticos são quase que unânimes em afirmar que a água (no caso, a ausência dela) será a principal causa dos conflitos do século XXI, a começar pelo Oriente Médio. Essa região conta com 5% da população mundial, mas apenas 1% das reservas de água no planeta. A cota atual de consumo de água pelos habitantes é de, aproximadamente, 1500m³, com estimativas de que, em 2025, essa taxa caia para 700m³, segundo dados do Banco Mundial.
Mas se engana quem pensa que a água é um fator geopolítico característico apenas do século XXI. Na verdade, várias disputas foram travadas na região do Oriente Médio, tendo como base o acesso a recursos hídricos, a citar o tão conhecido embate entre judeus e árabes.
Apesar de outros fatores geopolíticos também estarem envolvidos, como a posse por território e o conflito entre diferentes troncos étnico-religiosos, a água é um dos principais elementos em disputa. Nesse contexto, estiveram em disputa o acesso e o controle do curso do Rio Jordão, dos lençóis freáticos da Cisjordânia e do Mar da Galileia.
Outro foco de tensão envolve a Turquia, a Síria e o Iraque quanto ao uso dos rios Tigre e Eufrates, que nascem na cidade de Anatólia – território turco – e deságuam no Golfo Pérsico. Esses dois cursos d’água são extremamente importantes para o abastecimento desses países. No entanto, como a Turquia dispõe do uso e do controle da montante dos rios (isto é, dos locais onde eles surgem), isso pode afetar as outras duas nações.
Mapa com localização dos Rios Tigre e Eufrates, que nascem na Turquia
Na década de 1990, quando a Turquia represou parte do leito dos dois rios para construir a Usina de Ataturk, enfrentou muitos protestos e até ameaças de invasão por parte da Síria e do Iraque. Ainda hoje, essa questão é muito polêmica e pode render sérios problemas para o futuro.
Uma estratégia recentemente desenvolvida vem sendo adotada na região, com destaque para Israel, que desenvolveu a maior usina de dessalinização do mundo. Ela consiste, basicamente, em retirar a água do mar e transformá-la em água potável, própria para consumo. Apesar de o país ser dominante nesse tipo de tecnologia (além de ser o líder mundial em técnicas de aproveitamento do uso da água), esse processo é considerado muito caro, além de ser considerado altamente poluente. Assim, dificilmente os demais países da região irão adotar esse recurso em um futuro próximo, em função de seus elevados graus de subdesenvolvimento e dependência econômica.
Diante desses fatos, evidencia-se o caráter geopolítico da água que, mais do que um simples recurso natural, é um dos mais cobiçados elementos territoriais em todo o mundo.
___________________________
* Créditos da imagem: Wikimedia Commons