Escassez hídrica e segurança alimentar

Há uma direta relação entre escassez hídrica e segurança alimentar, no sentido de que a falta de água pode comprometer a produção de alimentos e o seu acesso pela população.
A falta de água compromete os solos e a produção de alimentos

Existe uma relação nem sempre muito perceptível entre a disponibilidade de água e a produção de alimentos. Afinal, tudo o que consumimos demanda a utilização de uma grande quantidade de água em seu processo produtivo, a chamada água virtual, ou seja, aquela que você consome indiretamente e não percebe. Por exemplo: na produção de um quilo de carne, 15 mil litros de água são utilizados.

Diante disso, é óbvio que existe uma grande questão envolvendo várias localidades do Brasil e do mundo referente à escassez hídrica e à segurança alimentar. A falta de água vai além da dificuldade no acesso a esse recurso natural, pois ocasiona um problema socioeconômico de graves impactos.

O que é segurança alimentar?

O conceito de segurança alimentar refere-se à capacidade das sociedades de garantirem aos seus habitantes o acesso a alimentos em quantidades e qualidades suficientes sem comprometer a realização de outras atividades e direitos essenciais com respeito à saúde pública, ao meio ambiente, à cultura, à educação e ao lazer. A alimentação adequada, por esse princípio, é considerada como um direito humano fundamental que deve estar acima de qualquer realidade econômica, social ou política nacional e internacional.

A falta de água afeta a segurança alimentar?

Não há dúvidas de que a escassez hídrica prejudica e ameaça a segurança alimentar em várias partes do planeta, interferindo, consequentemente, no nível de desenvolvimento humano. Em vários países – como no Oriente Médio e na África, a exemplo do Qatar, do Kuwait, da Líbia, da Mauritânia, dentre muitos outros – existem registros de insegurança alimentar causada pela falta de água.

Em alguns casos, a insegurança alimentar é ocasionada pelo estresse hídrico, ou seja, quando o consumo de água é superior à capacidade de renovação cíclica e natural desse recurso. Em outros, a ocorrência de secas ou as condições climáticas naturais são as principais causas. Mas as situações mais preocupantes são de ordem econômica e estrutural, quando a gestão pública e a renda dos países e governos não são capazes de fornecer água tanto para a população quanto para as atividades produtivas, afetando, desse modo, a produção de alimentos.

Mesmo aqueles países com maior abundância de recursos hídricos não estão livres da insegurança alimentar causada pela falta de água, com destaque para o Brasil. Embora o nosso país disponha das maiores reservas hídricas internacionais, existem algumas áreas no território que sofrem com o problema, que pode se generalizar.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil encontra-se ameaçado por esse problema, que precisa ser combatido por meio de medidas de estocagem de alimentos e adoção de métodos de economia de água no campo, nas indústrias e nas cidades, isso sem falar da conservação dos cursos d'água.

A FAO também realizou algumas previsões sombrias para o planeta em seu relatório “Mudança Climática, Água e Segurança Alimentar”, produzido no ano de 2011 e que ainda se encontra atual. Segundo o documento, o mundo conhecerá casos cada vez mais frequentes de ameaça ou interrupção da segurança alimentar em vários lugares em razão das transformações climáticas, que gerarão impactos sobre aquíferos, cursos d'água e bacias hidrográficas em geral.

Por esse motivo, são necessárias não só a conservação e utilização racional das reservas hídricas, mas também a preservação do meio ambiente, que deve envolver o solo, a vegetação e a natureza como um todo. Além disso, técnicas alternativas na produção de alimentos também são necessárias, como a dessalinização da água do mar, o combate à desertificação e o emprego da água de reúso na agricultura.

Publicado por Rodolfo F. Alves Pena
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