Pronome átono no início de oração
Para dar início à discussão que ora se apresenta, analise alguns trechos de uma música, conhecida por muitos:
Me chama - Lobão
Chove lá fora
E aqui tá tanto frio
Me dá vontade de saber...
Aonde está você?
Me telefona
Me Chama! Me Chama!
Me Chama!...
Nem sempre se vê
Lágrima no escuro
Lágrima no escuro
Lágrima!...
Tá tudo cinza sem você
Tá tão vazio
E a noite fica
Sem por que...
[...]
No refrão dessa letra reside o ponto central de nossa conversa, uma vez que, como você pode perceber, há orações iniciadas com pronome oblíquo átono, demarcadas por “me chama”/ “me telefona”. Diante de tal ocorrência emerge um aspecto relevante: se estamos submetidos a um conjunto de pressupostos preconizados pela gramática, estariam os exemplos mencionados adequados a esse conjunto de regras?
Vale dizer que na oralidade isso ocorre frequentemente, mesmo porque poucos usuários diriam “Dê-me um abraço”, em vez de “Me dê um abraço”. É natural, mas o que ocorre é que em se tratando da linguagem escrita, o correto é optarmos por fazer uso da ênclise (dê-me um abraço). Em se tratando de letra musical, artistas, bem como poetas, usufruem da licença poética, ou seja, mesmo que cometam “alguns desvios”, tal prática é aceitável.
Mas vamos supor que você queira que o pronome não se desloque da posição primeira (antes do verbo). Como agir assim sem que nenhuma infração seja cometida ao molde padrão da linguagem? É simples, coloque antes o pronome pessoal do caso reto, o qual atuaria como sujeito da oração. Assim, em vez de dizer “Me deu um beijo e saiu”, prefira dizer:
Ela me deu um beijo e saiu.
Aí sim, você contínua fazendo uso da próclise e agindo corretamente mediante a posição de usuário do sistema linguístico.