Marcha da Família com Deus pela Liberdade

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi uma série de manifestações conservadoras e reacionárias que aconteceram no Brasil e que fortaleceram o golpismo em 1964.
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi uma série de manifestações conservadoras que apoiaram o Golpe Civil-Militar de 1964. [1]

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi uma série de manifestações que aconteceram no Brasil durante o ano de 1964. Ao todo foram realizadas 69 marchas do tipo, sendo que essas manifestações tinham uma conotação política conservadora e reacionária que fortaleceu o golpismo no Brasil durante o governo de João Goulart.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade teve sua primeira edição realizada em 19 de março de 1964, como forma de resposta conservadora ao comício realizado por João Goulart na Central do Brasil em 13 de março. Foram manifestações que defendiam a realização de uma intervenção militar no Brasil para barrar o trabalhismo, os movimentos sociais e o governo de João Goulart.

Leia também: Ditadura Militar no Brasil — detalhes sobre o período da história brasileira que teve início nesse contexto

Resumo sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade

  • A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi uma série de manifestações que aconteceram no Brasil em 1964.

  • Essas manifestações tinham um viés político conservador e reacionário, defendendo uma intervenção militar no Brasil.

  • A primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi realizada em São Paulo no dia 19 de março de 1964, mobilizando cerca de 500 mil pessoas.

  • Essas manifestações deram força para a conspiração golpista que estava em curso para destituir o presidente João Goulart.

  • Foi organizada por organizações católicas insatisfeitas com o discurso de João Goulart no comício da Central do Brasil realizado em 13 de março de 1964.

O que foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade?

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi uma série de manifestações que foram realizadas no Brasil durante 1964. Essas manifestações tinham caráter conservador e reacionário, sendo consideradas uma reação dessas parcelas contra o governo de João Goulart, o trabalhismo e os movimentos sociais que estavam em ação no Brasil. Ao todo, foram realizadas 69 Marchas da Família com Deus pela Liberdade no Brasil.

Essas manifestações foram organizadas por grupos que faziam parte da elite econômica do Brasil, além de serem fortemente apoiadas por grupos religiosos e pelos militares, todos grupos que temiam o avanço das reformas defendidas por João Goulart e pelo fortalecimento de políticas públicas progressistas no Brasil.

A primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi realizada na cidade de São Paulo no dia 19 de março de 1964, poucos dias antes do Golpe Civil-Militar de 1964, mobilizando milhares de pessoas. A última Marcha da Família com Deus pela Liberdade aconteceu no Rio de Janeiro em 2 de abril de 1964, sendo uma celebração pelo sucesso da iniciativa golpista dos militares.

O discurso adotado na Marcha da Família com Deus pela Liberdade defendia que o movimento atuava em defesa da liberdade no Brasil, mas esse discurso foi usado para esconder a intenção golpista do movimento, uma vez que ele defendia uma intervenção militar contra o presidente João Goulart.

Além disso, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade usou um discurso que acusava João Goulart de ser um comunista o que a historiografia aponta não ser verdadeiro. Esse discurso do “perigo vermelho” foi adotado fortemente na política daquele período como forma de barrar o trabalhismo e políticas progressistas no Brasil.

Contexto histórico da Marcha da Família com Deus pela Liberdade

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento de caráter político conservador e reacionário que aconteceu no governo de João Goulart, popularmente conhecido como Jango. O governo de João Goulart foi o último governo brasileiro antes do início da Ditadura Militar, período autoritário que se iniciou em 1964.

O governo de João Goulart ficou conhecido como um dos mais atribulados da história brasileira. Havia uma enorme disputa política no Brasil entre esquerda e direita, progressistas e conservadores. Essa disputa política no Brasil foi amplificada pelo contexto da Guerra Fria, contando com a interferência do governo norte-americano, inclusive.

João Goulart assumiu a presidência em um cenário adverso após a renúncia de Jânio Quadros. Os militares e classes conservadoras não aceitavam a posse de João Goulart – que possuía direito de assumir a presidência pela Constituição de 1946 – e isso levou a uma forte disputa na Campanha da Legalidade, em 1961.

Após assumir, o governo de Jango tinha várias questões delicadas a serem resolvidas com urgência, sendo que as principais eram o aumento da inflação e o pagamento de altas quantias da dívida externa brasileira. Outra questão importante era a não aceitação dos Estados Unidos com a política externa independente do Brasil.

O resultado disso foi uma constante intervenção silenciosa dos Estados Unidos na política brasileira. Grupos reacionários começaram a receber pesado investimento para fortalecer um discurso conservador, candidaturas conservadoras e, eventualmente, a conseguir destituir João Goulart da presidência.

Grupos como o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) começaram a defender um discurso altamente conservador e golpista, que acusava Jango de ser um comunista e que tinha como objetivo principal a desestruturação do governo. Houve financiamento de campanhas políticas conservadoras e formulação de um projeto político conservador e autoritário para o Brasil.

O governo de João Goulart tentou fazer reformas estruturais no Brasil por meio das reformas de base. Os projetos de Jango encontraram uma enorme resistência entre a direita reacionária da União Democrática Nacional (UDN), e progressivamente afastou o Partido Social Democrático (PSD) da base governista.

Por fim, os movimentos sociais, em especial o movimento de camponeses, que lutavam pela reforma agrária, o movimento operário e o movimento estudantil, aumentaram a tensão política no Brasil, com as direitas conservadoras e reacionárias temendo as reformas que fossem atender às exigências desses grupos.

Foi nesse contexto que a conspiração golpista começou a ganhar força a partir de 1963, envolvendo os militares, grupos religiosos conservadores, alto empresariado, grande imprensa, multinacionais, o governo norte-americano, entre outros. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi parte desse esforço conservador para derrubar o governo de Jango.

Quais os objetivos da Marcha da Família com Deus pela Liberdade?

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi parte de um esforço conservador e reacionário para barrar o avanço das reformas progressistas em curso no Brasil, o projeto político trabalhista e destituir o governo de João Goulart. A forma encontrada para conquistar esses objetivos foi associar os progressistas com o comunismo e reforçar o discurso anticomunista no Brasil.

Além disso, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade e os grupos que a apoiavam eram defensores de uma intervenção militar que derrubasse o governo de Jango e retornasse o poder aos civis ou então que estabelecesse uma república liberal autoritária. Dentro desse objetivo, estava inserida a defesa de valores moralistas, como a família, a religião cristã, entre outros.

Causas defendidas pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade

Entre as causas defendidas pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade incluem-se:

  • Anticomunismo: as reformas progressistas, o trabalhismo e o governo de Jango foram associados ao comunismo com o intuito de criar uma rejeição aos três entre a população brasileira. No contexto da Guerra Fria, o anticomunismo tornou-se uma arma política brasileira.

  • Liberdade religiosa: dentro de um viés conservador, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade defendia a liberdade religiosa para os cristãos e a moralidade cristã.

  • Capitalismo: defendiam-se os valores e princípios capitalistas, como livre mercado e a propriedade privada, rejeitando ideologias que se opusessem a isso ou propusessem um discurso de igualdade social.

  • Intervenção militar: alegavam serem defensores da democracia, mas, contraditoriamente, apoiavam uma intervenção militar no Brasil.

Onde aconteceram as Marchas da Família com Deus pela Liberdade?

As marchas da família com Deus pela liberdade foram realizadas em 1964, concentrando-se, principalmente, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As duas principais foram organizadas nas capitais dos dois estados.

Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade realizada em São Paulo foi a primeira marcha do tipo, acontecendo no dia 19 de março de 1964 e mobilizando cerca de 500 mil pessoas. Essa manifestação foi uma resposta conservadora ao discurso de João Goulart na Central do Brasil em 13 de março de 1964.

Nesse comício, Jango anunciou que conduziria as reformas de base a todo custo, dando uma guinada à esquerda como forma de enfrentar a crise política que acossava o seu governo. A disposição de Jango de conduzir as reformas progressistas “na lei ou na marra” alarmou os grupos conservadores no país.

Essa primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi sugerida por uma freira chamada Irmã Ana de Lourdes, indignada com o discurso do presidente João Goulart no comício da Central do Brasil. A União Cívica Feminina, um grupo de mulheres conservadoras que estavam vinculadas ao Ipes, foi mobilizada para organizar a revolta. Outras organizações, como a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), também atuaram na organização da marcha.

Essa revolta marchou por diversas ruas de São Paulo, contando com a presença de políticos importantes, como Auro de Moura, Ademar de Barros e Carlos Lacerda – todos eles foram parte do esforço golpista para derrubar o governo de Jango. Depois dessa marcha, outras foram organizadas no interior do estado de São Paulo.

Marcha da Família com Deus pela Liberdade no Rio de Janeiro

A marcha realizada no Rio de Janeiro aconteceu em 2 de abril de 1964 e é conhecida também como Marcha da Vitória, porque reuniu a direita conservadora para celebrar a vitória da intervenção militar e o Golpe Civil-Militar que destituiu João Goulart. Essa marcha foi a maior de todas as realizadas por esses movimentos políticos conservadores, mobilizando cerca de 800 mil pessoas.

Veja também: O que foi o Golpe Civil-Militar de 1964?

Igreja x Marcha da Família com Deus pela Liberdade

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade recebeu muito apoio da Igreja Católica. [2]

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi fortemente apoiada por diversos grupos da Igreja Católica. O papel da Igreja Católica, portanto, foi fundamental para o sucesso das diferentes marchas que se realizaram no Brasil, mas também para o sucesso do projeto político reacionário e autoritário que se estabeleceu com a Ditadura Militar.

Grupos católicos importantes atuaram de maneira intensa na política para se posicionar contra o trabalhismo, adotaram o discurso anticomunista e se posicionaram fortemente contra o governo de João Goulart. O envolvimento de sacerdotes católicos em ações políticas conservadoras foi comum durante o período.

Um sintoma disso foi o fato de que a primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi realizada por ideia de uma freira irritada com o discurso do presidente no comício da Central do Brasil.

Quais as consequências da Marcha da Família com Deus pela Liberdade?

Entre as consequências da Marcha da Família com Deus pela Liberdade destacam-se:

  • fortalecimento da conspiração golpista contra a democracia brasileira e o governo de João Goulart;

  • legitimação da ação dos militares e de sua permanência no poder do Brasil;

  • interrupção da democracia brasileira e estabelecimento de um governo ditatorial que reprimiu as liberdades políticas e individuais dos brasileiros;

  • violação dos direitos humanos no Brasil.

Créditos de imagem

[1] FGV/CPDOC (reprodução)

[2] FGV/CPDOC (reprodução)

Fontes

CORDEIRO, Janaína Martins. Direitas em movimento: a Campanha da Mulher pela Democracia e a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2009.

FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Publicado por Daniel Neves Silva
Geografia
CEI - Comunidade dos Estados Independentes
Assista à videoaula e conheça a CEI — Comunidade dos Estados Independentes. Saiba como essa organização surgiu e seus objetivos. Entenda o contexto geopolítico de formação da CEI.
Outras matérias
Biologia
Matemática
Geografia
Física
Vídeos