Santo Agostinho

Santo Agostinho foi um dos maiores teólogos e filósofos da história. Seus ensinamentos se tornaram um elo entre a filosofia clássica e o cristianismo.
Santo Agostinho representado nos vitrais de uma igreja vietnamita.[1]

Santo Agostinho foi um dos maiores teólogos e filósofos da história, tendo uma juventude marcada pela inquietação espiritual até sua conversão ao cristianismo, em 386 d.C.

Como bispo de Hipona, ele defendeu a centralidade de Deus na vida humana, enfatizando a necessidade da graça divina para a salvação e a liberdade como escolha pelo bem. Durante a Patrística, Agostinho uniu o pensamento neoplatônico às doutrinas cristãs, influenciando profundamente a teologia com obras como Confissões e A Cidade de Deus, que exploram temas como o pecado original e a busca pela verdade.

Suas orações, impregnadas de arrependimento e louvor, refletem sua busca por Deus, enquanto seu legado espiritual e intelectual transformou vidas, sendo celebrado em 28 de agosto. Frases marcantes como “Ama e faz o que quiseres” sintetizam sua visão do amor como princípio central da moral, e sua obra permanece uma referência essencial para a filosofia e o cristianismo.

Leia também: O que São Tomás de Aquino defendia?

Resumo sobre Santo Agostinho

  • Santo Agostinho foi um teólogo e filósofo cristão.
  • Ele nasceu em 354 d.C., na atual Argélia.
  • Agostinho de Hipona teve uma juventude inquieta até sua conversão ao cristianismo, em 386 d.C.
  • Ele foi ordenado bispo de Hipona, dedicou sua vida à defesa da fé cristã e combateu heresias como o maniqueísmo e o pelagianismo.
  • Agostinho defendia a centralidade de Deus na vida humana, a necessidade da graça divina para a salvação e o papel do livre-arbítrio para escolher o bem.
  • Ele via a iluminação divina como essencial ao verdadeiro conhecimento e acreditava que a liberdade humana só se concretiza no amor e na comunhão com Deus.
  • Na Patrística, Agostinho foi um elo entre a filosofia clássica e o cristianismo, adaptando ideias neoplatônicas às doutrinas cristãs.
  • As obras de Agostinho, como Confissões e A Cidade de Deus, combinam filosofia, teologia e introspecção, explorando temas como a Trindade, o pecado original e o propósito da vida.
  • Sua produção vasta e profunda moldou tanto a doutrina cristã quanto o pensamento filosófico por séculos.
  • As orações de Agostinho refletem sua intensa busca por Deus e seu reconhecimento da graça divina como essencial.
  • Embora não amplamente reconhecido por milagres físicos, Agostinho foi associado à cura de doentes e à reconciliação de inimigos, sendo considerado um instrumento da graça divina.

Videoaula sobre Santo Agostinho

Biografia de Santo Agostinho

Santo Agostinho, também conhecido como Agostinho de Hipona, nasceu em 354 d.C., em Tagaste, uma cidade localizada na província romana da Numídia, na atual Argélia. Filho de Patrício, um pagão que se converteu ao cristianismo antes de morrer, e de Mônica, uma fervorosa cristã, Agostinho recebeu uma educação clássica, aprendendo latim e os fundamentos da retórica, habilidades que utilizaria amplamente em sua vida.

Desde jovem, mostrou grande inteligência e curiosidade intelectual, mas também um espírito inquieto e inclinado às paixões. Em busca de realização, Agostinho experimentou diferentes correntes filosóficas e religiosas, incluindo o maniqueísmo, que professava uma visão dualista do mundo. Sua busca por respostas levou-o a estudar filosofia neoplatônica, influenciado por Plotino, e a se mudar para Milão, onde lecionou retórica.

Foi em Milão que sua vida começou a mudar significativamente. Sob a influência de sua mãe e do bispo Ambrósio, Agostinho começou a reconsiderar sua visão de mundo. Em 386 d.C., após uma intensa luta interior, converteu-se ao cristianismo, decisão relatada com grande emoção em sua obra Confissões. Ele foi batizado em 387 d.C. por Ambrósio e, ao retornar à África, decidiu dedicar sua vida a serviço de Deus.

Agostinho tornou-se sacerdote em 391 d.C. e, mais tarde, bispo de Hipona, posição que ocupou até sua morte, em 430 d.C. Durante esse período, escreveu extensivamente sobre temas teológicos, filosóficos e pastorais, defendendo a fé cristã contra heresias como o donatismo e o pelagianismo. Sua influência perdura até hoje, sendo considerado um dos maiores teólogos e filósofos da Igreja.

O que Santo Agostinho defendia?

Santo Agostinho defendia a centralidade de Deus na vida humana e na busca pela verdade. Ele acreditava que a natureza humana estava marcada pelo pecado original, um estado herdado de Adão e Eva que corrompia a vontade e inclinava o ser humano ao pecado. Para Agostinho, apenas a graça divina poderia restaurar a alma e torná-la capaz de alcançar a salvação.

Ele elaborou a doutrina da iluminação divina, sustentando que o conhecimento verdadeiro só é possível por meio da luz de Deus, que ilumina a mente humana. Essa iluminação não é um simples ato intelectual, mas uma experiência espiritual que conecta o ser humano à verdade eterna.

Santo Agostinho acreditava que é a luz de Deus que ilumina a mente humana, numa experiência espiritual.[2]

A liberdade era outro tema central no pensamento de Agostinho. Ele argumentava que a verdadeira liberdade consiste em escolher o bem e amar a Deus, enquanto o pecado escraviza o indivíduo. Essa visão está relacionada ao conceito de livre-arbítrio, que, embora permita ao ser humano fazer escolhas, é limitado pela condição pecaminosa.

Agostinho também foi um defensor fervoroso da unidade da Igreja, combatendo heresias como o donatismo, que negava a validade dos sacramentos ministrados por clérigos considerados indignos. Ele acreditava que a Igreja era uma comunidade de pecadores redimidos, guiada pelo Espírito Santo, e que sua santidade não dependia da perfeição de seus membros individuais.

Santo Agostinho e a Patrística

Na Patrística, período que marca o desenvolvimento inicial do pensamento cristão, Santo Agostinho destacou-se como um dos maiores expoentes. Ele integrou elementos da filosofia clássica, especialmente do neoplatonismo, à teologia cristã, criando uma síntese única que moldou o pensamento ocidental.

Agostinho utilizou conceitos neoplatônicos, como a ideia de que o mal é a ausência de bem, para abordar questões teológicas complexas, como a origem do mal. Ele rejeitava a visão dualista do maniqueísmo, defendendo que Deus, sendo onipotente e perfeitamente bom, não poderia ser a fonte do mal. Em vez disso, o mal resulta do uso indevido do livre-arbítrio pelos seres humanos e pelos anjos caídos.

Suas reflexões sobre a natureza da alma, a graça, o tempo e a eternidade influenciaram profundamente a teologia e a filosofia medievais. Ele também estabeleceu as bases para o conceito de história providencial, argumentando que os eventos do mundo são parte de um plano divino que culmina na união final entre Deus e a humanidade.

Obras de Santo Agostinho

A produção literária de Santo Agostinho é vasta e variada, abrangendo tratados teológicos, filosóficos, cartas e sermões. Entre suas obras mais influentes, estão:

  • Confissões: obra autobiográfica que não apenas narra sua conversão ao cristianismo como também reflete sobre a natureza do tempo, da memória e da graça. É considerada uma das primeiras introspecções psicológicas da literatura ocidental.
  • A Cidade de Deus: escrita em resposta às acusações de que o cristianismo teria causado a queda de Roma, essa obra monumental discute a relação entre a cidade terrena, marcada pelo pecado, e a cidade celestial, onde reina a justiça divina.
  • De Trinitate: um tratado teológico que explora o mistério da Santíssima Trindade, argumentando que o ser humano, criado à imagem de Deus, reflete esse mistério em sua própria natureza.
  • De Doctrina Christiana: um manual de exegese bíblica e formação cristã que combina princípios filosóficos e teológicos com uma metodologia para a interpretação das Escrituras.

Oração de Santo Agostinho

As orações de Santo Agostinho revelam sua intensa espiritualidade e seu profundo amor a Deus. Uma das mais conhecidas é encontrada em Confissões:

Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Te amei! Eis que habitavas dentro de mim, e eu lá fora a Te procurar.

Essa oração reflete a luta interior de Agostinho e sua alegria ao encontrar Deus como o centro de sua vida.

Outro aspecto notável de suas orações é o reconhecimento da dependência da graça divina. Agostinho frequentemente pedia a Deus sabedoria, humildade e força para resistir às tentações, mostrando sua consciência da fragilidade humana. Um exemplo de oração de Santo Agostinho é:

Senhor, a Ti que desejo ir: o que Te peço, ainda, é que digas como alcançar-Te. Se nos abandonas, perecemos. Mas Tu não nos abandonas, porque é o sumo bem, a quem todos encontram, quando retamente Te procuram. Ensina-me, pois, ó Pai, a procurar-Te, liberta-me do erro, faze que, na minha busca, nada que não seja Tu apresente-se em meu caminho. Pois, visto ser verdade que a ninguém mais desejo senão a Ti, faze, eu Te suplico, ó Pai, que eu possa encontrar-Te.

Mas, se ainda subsiste em mim algum desejo vão, despoja-me dele. Purifica-me, Tu mesmo, e torna-me capaz de Te ver. Permite-me, enquanto tiver de conduzir e levar este meu corpo, que eu seja puro, magnânimo, justo e prudente, perfeito amante e conhecedor de Tua sabedoria. Torna-me digno da Tua morada e que possa assim vir a habitar no Teu beatíssimo reino. Assim seja! (Solilóquios 1,6) Santo Agostinho, rogai por nós!

Milagres de Santo Agostinho

Embora não seja amplamente conhecido por realizar milagres, relatos de sua época indicam que Santo Agostinho foi associado a atos considerados extraordinários, como a cura de doentes e a reconciliação de inimigos. Esses eventos eram vistos como manifestações da graça divina operando por meio de sua vida e ministério.

Além disso, seus escritos e sermões eram frequentemente descritos como “milagrosos” em seu impacto espiritual, transformando vidas e inspirando conversões. O verdadeiro “milagre” de Agostinho, no entanto, pode ser considerado sua capacidade de articular verdades espirituais profundas que continuam a influenciar milhões de pessoas ao longo dos séculos.

Dia de Santo Agostinho

Túmulo de Santo Agostinho em uma basílica, na Itália. O Dia de Santo Agostinho marca a data de sua morte.[3]

O dia de Santo Agostinho é comemorado em 28 de agosto, marcando o aniversário de sua morte, em 430 d.C. Essa data é celebrada em todo o mundo cristão como uma homenagem à sua vida e ao seu legado. A festa litúrgica é especialmente significativa para a Ordem de Santo Agostinho, que segue sua regra de vida comunitária e espiritualidade.

Durante essa celebração, fiéis refletem sobre os ensinamentos de Agostinho, buscando inspiração em sua dedicação à verdade e à busca por Deus. É também um momento para renovar o compromisso com os valores que ele defendeu, como a humildade, a caridade e a unidade da Igreja.

Saiba mais: Escolástica — tradição filosófica que aproxima conhecimento científico, fé e razão

Frases de Santo Agostinho

Santo Agostinho é conhecido por suas frases memoráveis, que capturam a essência de seu pensamento e espiritualidade:

  • “Ama e faz o que quiseres.” Essa frase ilustra sua crença de que o amor a Deus é o princípio orientador de toda ação moral.
  • “Se você compreendeu, não é Deus.” Aqui, Agostinho expressa a transcendência divina e a limitação do entendimento humano.
  • “A medida do amor é amar sem medida.” Esse ensinamento reflete a centralidade do amor na vida cristã.

Essas frases, entre muitas outras, continuam a inspirar fiéis e estudiosos, oferecendo uma visão atemporal da relação entre Deus, o ser humano e o mundo. O legado de Santo Agostinho permanece vivo em seus escritos e na tradição cristã, tornando-o uma figura essencial para compreender o desenvolvimento do pensamento ocidental. Sua vida e obra são um testemunho da busca incessante pela verdade e da transformação que ocorre quando se encontra em Deus o propósito último da existência.

Créditos das imagens

[1] godongphoto/ Shutterstock

[2] e [3] Renata Sedmakova/ Shutterstock

Fontes

ABBUD, Cristiane Negreiros. Iluminação trinitária em Santo Agostinho. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2007.

AMATO, R. de C. F. A música em Santo Agostinho. Em Pauta, Porto Alegre, v. 16, n. 26, jan./jun. 2005.

BIGNOTTO, N. O conflito das liberdades: Santo Agostinho. Síntese Nova Fase, v. 19, n. 58, 1992.

JESKE VAHL, M. Santo Agostinho: os fundamentos ontológicos do agir. Série Dissertatio Filosofia. Pelotas: NEPFIL, Universidade Federal de Pelotas, 2016.

MELO, J. J. P. Santo Agostinho e a formação educacional. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 24, n. 48, 2020.

RUSSELL, B. História da filosofia ocidental. Tradução de Hugo Langone. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

STREFLING, S. R. A atualidade das confissões de Santo Agostinho. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 156, p. 259-272, jun. 2007.

Publicado por Tiago Soares Campos

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