Campos de concentração

Os campos de concentração nazistas surgiram inicialmente em 1933 para abrigar comunistas e transformaram-se em fábricas da morte para o extermínio de judeus durante a guerra.
Portal encontrado no campo de concentração de Auschwitz. No portal, está escrito “o trabalho liberta”.

Os campos de concentração nazistas são os locais que melhor simbolizam os horrores do Holocausto. O primeiro campo de concentração nazista foi Dachau, construído em 1933 para abrigar comunistas e social-democratas. Com o tempo, passou a ser utilizado contra deficientes físicos e mentais e, por fim, no extermínio dos judeus. Estima-se que milhões de pessoas tenham morrido em campos de concentração nazistas, e o maior campo de concentração foi Auschwitz, na Polônia.

O que são campos de concentração?

Campo de concentração designa uma construção militar cujo propósito é deter prisioneiros de guerra ou prisioneiros políticos. Ao longo da história, ocorreram diversos exemplos de campos de concentração que foram desenvolvidos como forma de segregar determinada população. O foco deste texto concentra-se na análise dos campos de concentração desenvolvidos pelos nazistas ao longo do período entre 1933 e 1945.

Os campos de concentração são caracterizados pelo rígido controle que é imposto sobre os prisioneiros a partir de um forte esquema de segurança. Nesses locais os prisioneiros são, geralmente, colocados sob condições duras, como pouca higiene, alimentação de baixa qualidade e nenhuma privacidade. São comuns também os registros de violência contra os prisioneiros.

História dos campos de concentração

A história dos campos de concentração está diretamente ligada com a Alemanha Nazista em razão da dimensão dos campos de concentração construídos na Europa entre 1933 e 1945. Houve, porém, campos de concentração em outros locais do mundo, mas sempre com o mesmo propósito: aprisionar e segregar determinada população enxergada como inimiga.

Houve campos de concentração construídos em Cuba pelos colonizadores espanhóis durante o século XIX, assim como foram construídos campos de concentração para os indígenas no território do atual Estados Unidos, durante o processo de expansão territorial desse país conhecido como “marcha para o oeste”.

Outros exemplos estão no continente africano. Os britânicos, por exemplo, construíram campos de concentração para abrigar seus inimigos na Guerra dos Bôeres. Também há o caso dos alemães, que construíram campos de concentração para abrigar hererós e nama, dois povos que habitavam a colônia alemã conhecida como Sudoeste Africano Alemão (território que atualmente corresponde à Namíbia). O caso alemão ganhou notoriedade porque ocorreu um genocídio contra os dois povos africanos citados e estima-se que 80 mil pessoas tenham morrido1.

Durante a Segunda Guerra Mundial, foram construídos campos de concentração aqui no Brasil também. Esses campos foram designados para receber italianos, alemães e japoneses (povos de nações com as quais o Brasil estava em guerra). Houve a construção de campos de concentração também nos Estados Unidos para japoneses e nipo-americanos.

Acesse também: Campos de concentração construídos nos Estados Unidos

Campos de concentração nazistas

Prisioneiros encontrados no campo de concentração de Dachau em foto de 1945.

A expressão “campo de concentração” tornou-se muito conhecida em nosso vocabulário por causa dos campos construídos pelos nazistas durante o período que estiveram no poder da Alemanha (1933-1945). Os campos de concentração nazistas foram utilizados para receber todas as pessoas que eram entendidas como opositoras ao regime e “inferiores” (do ponto de vista racial da ideologia nazista).

O primeiro campo de concentração construído pelos nazistas foi o de Dachau, inaugurado em 1933. Dachau foi criado após um anúncio de Heinrich Himmler (um dos grandes líderes do partido nazista) de que um campo de concentração para prisioneiros políticos seria construído naquela região (Dachau estava nas imediações de Munique, na Alemanha). Esse campo foi designado para receber comunistas e social-democratas, e os primeiros 200 prisioneiros chegaram em 22 de março de 19332.

Logo nos primeiros dias de funcionamento de Dachau, tornaram-se públicas informações que mencionavam a violência com a qual os prisioneiros eram tratados. Com pouco mais de um mês de funcionamento, cerca de 12 prisioneiros haviam sido assassinados pelos guardas de Dachau3. A criação de Dachau serviu como precedente e de inspiração para que outros campos de concentração fossem criados na Alemanha.

O historiador Richard J. Evans fala que o surgimento dos campos de concentração durante o período nazista não foi um acaso ou uma necessidade de abrigar uma população carcerária que aumentou consideravelmente com a perseguição promovida pelos nazistas, mas foi um ato premeditado que fazia parte da ideologia nazista e que havia sido defendido por Hitler e denunciado por outros grupos da sociedade alemã ao longo da década de 19204.

Ao longo dos anos, os nazistas construíram novos campos de concentração, que recebiam, além dos opositores políticos do regime, os considerados “inválidos”, isto é, pessoas com distúrbios mentais e físicos. Essas pessoas eram enviadas para campos de extermínio específicos, que foram construídos entre 1939 e 1941.

Os campos de extermínio desenvolveram um método que foi utilizado em larga escala pelos alemães contra os judeus: o uso das câmaras de gás. A princípio, as câmaras de gás construídas assassinavam as pessoas com o uso de monóxido de carbono. As vítimas eram encaminhadas para chuveiros, mas em vez de água saía o gás da tubulação, matando as vítimas de asfixia.

Ao todo, nesse programa de extermínio de pessoas “inválidas”, foram mortas 70.273 pessoas até agosto de 1941, quando o programa foi interrompido5. Esse programa foi exportado em uma dimensão muito maior para a Solução Final, o programa de extermínio dos judeus. O desenvolvimento do projeto de uso das câmaras de gás para o extermínio dos judeus foi designado por Odilo Globocnik, que trouxe parte da equipe responsável pelo projeto de extermínio dos “inválidos”.

O primeiro campo de concentração para o extermínio de judeus desenvolvido por Globocnik foi o de Belzec, na Polônia. Esse campo foi designado para matar os judeus que lá chegassem o mais rápido possível. A ideia era construir as câmaras de gás e utilizar o monóxido de carbono para a execução. Posteriormente, os nazistas passaram a utilizar o Zyklon-B, produzido inicialmente para ser um pesticida, mas que se mostrou eficaz na execução de seres humanos.

Um parêntese importante é que os nazistas ordenaram a construção de campos de concentração, aqueles cuja função era abrigar os judeus, campos de trabalho forçado, cuja função era a de explorar sua mão de obra, e também campos de extermínio, aqueles cuja única função era atuar como uma fábrica da morte.

Neste texto, consideramos o uso de campos de concentração em referência aos três casos. Sendo assim, segue uma lista que inclui os principais campos de concentração (inclusive os de extermínio) construídos pelos nazistas:

Nome do campo

Tipo

Qtd. de prisioneiros

Mortes estimadas

Auschwitz

Extermínio

-

Aprox. 1.200.000

Belzec

Extermínio

-

Aprox. 400.000

Sobibor

Extermínio

-

Aprox. 170.000

Chelmno

Extermínio

-

Aprox. 150.000

Buchenwald

Concentração

Aprox. 260.000

Aprox. 30.000

Dachau

Concentração

Aprox. 200.000

Aprox. 55.000

Ravensbrück

Concentração

Aprox. 130.000

Aprox. 30.000

Plaszow

Trabalho

Aprox. 150.000

Aprox. 9.000

Todo o horror dos campos de concentração nazistas foi sendo descoberto ao longo da guerra, e as evidências foram acumuladas após ela. Documentos nazistas, as instalações construídas e os relatos dos sobreviventes foram a chave para a reconstituição dos crimes contra a humanidade cometidos pelos alemães nesses locais. Os sobreviventes foram encontrados em situação de saúde deplorável.

Prisioneiros do campo de concentração de Wobbelin resgatados em 1945. [1]

Os nazistas, na fase final da guerra, tentaram livrar-se das evidências, destruindo documentos, aumentando a velocidade das execuções e exumando os corpos dos mortos (alguns dos campos possuíam grandes fornalhas para cremar os corpos). Essas ações não foram o bastante, e os crimes cometidos pelos alemães na Segunda Guerra Mundial foram julgados no Tribunal Militar Internacional de Nuremberg.

Acesse também: Veja a história dos grupos de extermínio nazistas, o Einsatzgruppen

O que acontecia nos campos de concentração nazistas?

Nos campos de concentração, os prisioneiros (na grande maioria, judeus) foram sujeitos a todo tipo de maus-tratos e violência que se pode imaginar. Os prisioneiros eram colocados a uma carga de trabalho exaustiva e em tarefas que, em sua maioria, eram manuais. Os alojamentos que eram construídos e as roupas distribuídas aos prisioneiros tinham condições precárias.

Além disso, havia execuções sumárias por motivos banais, prisioneiros torturados até a morte, pessoas que morriam em decorrência de doenças contraídas pelas péssimas condições e, claro, aqueles que eram executados nas câmaras de gás.

Judeus enfileirados para embarcar no vagão que os transportaria para Auschwitz.

Para se ter uma ideia do que acontecia nesses locais e do tratamento que os judeus e outros prisioneiros recebiam, os relatos feitos pelos sobreviventes são de grande valor. Um desses relatos foi feito por Primo Levi, judeu italiano que foi capturado pelos fascistas italianos e deportado para Auschwitz, local onde permaneceu até ser resgatado em 1945.

No relato de Primo Levi, ele menciona desde a dureza do transporte até as péssimas condições encontradas em Auschwitz, particularmente em Monowitz, um dos complexos desse campo. Primo Levi afirma que Auschwitz, em 1944, recebia vagões de trem abarrotados de pessoas (cada vagão tinha 50 pessoas).

Os judeus sofriam com o frio da viagem, o vagão lotado, o chão molhado e sem espaço para as pessoas deitarem-se para dormir. Os judeus recebiam uma provisão simples de comida e nada para beber, o que tornava a viagem extremamente desgastante. Primo Levi afirma que a viagem durou quatro dias (partiram da Itália em direção à Polônia).

Em Monowitz, os judeus eram levados para trabalhar e partiam cedo em marcha acelerada e em formação rígida. O trabalho exercido era quase sempre braçal e bastante exaustivo. Atividades como cavar fossos e descarregar carvão e sacos de cimento eram realizadas. O trabalho possuía apenas uma hora de pausa (para o almoço), ocorrendo de forma incessante no restante do dia.

As condições de higiene eram as piores possíveis. Nas aparências, o campo de concentração possuía certa organização imposta pelos nazistas, mas nos detalhes viam-se toda a sujeira e os maus-tratos dispensados aos judeus. Em outubro, os judeus recebiam roupas de inverno e podiam permanecer com elas até abril. Depois as peças de frio eram tomadas independentemente se ainda estivesse frio ou não.

Os judeus recebiam uma peça de roupa íntima e um par de meias. Muitas peças eram produzidas de talitot, o manto sagrado usado pelos judeus nas orações. Isso era feito propositalmente como forma de zombar dos judeus. Além disso, era função dos prisioneiros realizar o conserto da própria roupa, pois os alemães não repunham as peças danificadas.

Os alojamentos, em geral, eram abarrotados de pessoas e, para dormir, eram disponibilizados cobertores sujos, muitos estragados e incapazes de proteger do frio. Nas camas (beliches), Primo Levi fala que havia percevejos e pulgas aos montes. Somente os piolhos eram tratados da maneira adequada para evitar a propagação de doenças.

Fornalha construída em Lublin para cremar os corpos dos judeus mortos nas câmaras de gás. [2]

Os prisioneiros acabavam sendo vítimas de todo tipo de doenças, maus-tratos, pouca higiene e má alimentação. Na questão da alimentação, Primo Levi narra que na massa de pão era encontrada até serragem de madeira, tamanha a má qualidade dos alimentos. Eram distribuídas também pequenas doses de margarina e uma sopa na janta. A água não era potável.

No banho, os judeus recebiam um sabonete de má qualidade, que não atendia as necessidades de limpeza. Após o banho, eram obrigados a se dirigir aos seus alojamentos totalmente nus e independentemente da temperatura que estivesse fazendo. No caso de uma sessão de limpeza de piolhos, os judeus passavam a noite inteira sem roupas e recebiam-nas desinfectadas e ainda molhadas no outro dia6.

Doenças nos campos de concentração

Prisioneiro judeu que estava com disenteria e foi libertado pelos americanos do campo de Flossenburg em 1945. [3]

Nos campos de concentração, a crueldade do trato aos prisioneiros (aqui se incluem as agressões, o trabalho descomunal, a falta de alimentos etc.) tornava esses locais perfeitos para a proliferação de doenças, que se manifestavam nos prisioneiros por diferentes motivos. Nesta parte do texto, assim como foi na anterior, usaremos como base o relato feito por Primo Levi7. Seu relato faz menção exclusiva a Monowitz, local onde esteve, e serve de base para entendermos esse tópico.

Existiam diversas doenças que surgiam nos prisioneiros judeus por causa da má alimentação. Isso é explicado pelo autor como consequência de uma alimentação pobre em gorduras, proteína animal e vitaminas em geral. Sendo assim, algo que acontecia com grande frequência era de os prisioneiros manifestarem edemas (inchaço anormal de alguma parte do corpo).

Os prisioneiros com uma alimentação pobre manifestavam diferentes tipos de infecções, e escoriações simples acabavam tornando-se problemas graves. A falta de vitaminas também causava uma série de doenças. Não são citados casos clínicos específicos.

A má alimentação também causava surtos frequentes de diarreia, úlceras, além de outros casos, como apendicite. Doenças do estômago e do intestino estavam muito relacionadas também ao fato de muitos prisioneiros comerem alimentos estragados como forma de diminuir a fome.

O frio também era o causador de muitas doenças. Bronquite e pneumonia eram as mais comuns e, naturalmente, mais frequentes durante o inverno (apesar de casos serem registrados durante todo o ano). Prisioneiros que tivessem seus membros congelados durante a jornada de trabalho eram diretamente encaminhados para amputação.

Existiam diversos outros tipos de doenças também relacionadas às duras condições de trabalho, mas a maioria dos casos estava relacionada a acidentes de trabalho. Primo Levi menciona que pessoas que contraíssem sífilis, tuberculose e malária eram rapidamente enviadas para Birkenau (parte do complexo de Auschwitz) e encaminhadas para a câmara de gás.

Campo de concentração de Auschwitz

Quando o assunto é os campos de concentração nazistas, o complexo de Auschwitz-Birkenau é geralmente o primeiro a ser lembrado. Isso porque Auschwitz foi o maior campo de extermínio dos nazistas e responsável por, aproximadamente, 1,2 milhão de mortes. Foi o campo conhecido por receber judeus de diferentes partes da Europa (os outros campos de extermínio ficaram marcados por terem recebido maior número de judeus poloneses).

Auschwitz foi criado em 1940 e recebeu primeiramente prisioneiros poloneses soviéticos que lutavam contra o exército alemão. Além disso, o campo foi inicialmente designado para fazer a exploração do trabalho escravo dos prisioneiros enviados para lá. Foi só em 1942, quando o complexo de Auschwitz foi ampliado, que o campo tornou-se, além de campo de concentração e trabalho, um campo de extermínio.

Em Auschwitz, o uso das câmaras de gás com Zyklon B, pesticida que em contato com o ar solta um gás mortal, foi responsável pela morte de milhões de pessoas (a maioria, judeus). Auschwitz foi o único campo de extermínio que recebeu mais judeus de outras partes da Europa do que judeus poloneses.

Notas

1 Por que a Alemanha não se desculpou até hoje pelo primeiro genocídio do século 20. Para acessar, clique aqui.

2 EVANS, Richard J. A Chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2016, p. 421.

3 Idem, p. 421.

4 Idem, p. 422.

5 SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 313.

6 LEVI, Primo. Assim foi Auschwitz: testemunhos 1945-1986. São Paulo. Companhia das letras, 2015, pp. 11-46.

7 Idem a nota 6.

Publicado por Daniel Neves Silva
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