Crise dos Mísseis de Cuba
A Crise dos Mísseis de Cuba, ocorrida em outubro de 1962, foi um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, quando a instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba provocou 13 dias de tensão entre EUA e URSS, com o mundo à beira de uma guerra nuclear.
Inserida no contexto da rivalidade ideológica e estratégica da Guerra Fria, intensificada pela Revolução Cubana e pelo cerco americano, a crise foi causada pela busca soviética de equilíbrio de poder nuclear e pela necessidade de proteger o regime cubano. O episódio atingiu seu ápice no “sábado negro”, com o abatimento de um avião U-2 e a iminência de um ataque nuclear por um submarino soviético.
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Resumo sobre a Crise dos Mísseis de Cuba
- A Crise dos Mísseis de Cuba foi um confronto entre EUA e URSS, em outubro de 1962, provocado pela instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba.
- A crise ocorreu no auge da Guerra Fria, período de rivalidade entre EUA e URSS, intensificada após a Revolução Cubana de 1959 e a aproximação de Cuba com a URSS.
- A instalação dos mísseis em Cuba visou equilibrar o poder nuclear entre EUA e URSS, proteger o regime de Fidel Castro de invasões americanas e responder à presença de mísseis norte-americanos na Turquia.
- A crise se iniciou em outubro de 1962, quando os EUA descobriram mísseis soviéticos em Cuba, impondo uma quarentena naval e exigindo sua retirada, o que gerou 13 dias de negociações tensas, que terminaram com um acordo entre Kennedy e Khrushchev para evitar um conflito nuclear.
- O sábado negro, em 27 de outubro de 1962, foi o momento mais crítico da crise, com o abatimento de um avião U-2 americano em Cuba e a iminência de um ataque nuclear por um submarino soviético, demonstrando o risco extremo de escalada militar naquele dia.
- O Brasil, sob a política externa independente de João Goulart, agiu como mediador ao propor a desnuclearização da América Latina, enviar representantes diplomáticos a Cuba e apoiar soluções pacíficas nos fóruns da ONU e OEA, reforçando seu papel no cenário internacional.
- A crise fortaleceu a liderança de Kennedy, expôs as fraquezas de Khrushchev, consolidou Cuba como aliada soviética e resultou na criação da “linha vermelha” entre EUA e URSS, além de impulsionar tratados de controle de armas e destacar os perigos da guerra nuclear.
Videoaula sobre a Crise dos Mísseis
O que foi a Crise dos Mísseis de Cuba?
A Crise dos Mísseis de Cuba, ocorrida em outubro de 1962, foi um dos episódios mais emblemáticos e perigosos da Guerra Fria, colocando o mundo à beira de uma guerra nuclear. Esse confronto envolveu diretamente as duas superpotências da época, os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e teve como palco central a ilha de Cuba, localizada a menos de 150 quilômetros da costa americana.
A crise foi desencadeada pela descoberta de que a União Soviética havia instalado em território cubano mísseis balísticos de médio alcance equipados com ogivas nucleares. Esses armamentos tinham capacidade para atingir grande parte do território norte-americano em poucos minutos.
A descoberta desses mísseis gerou uma reação imediata do governo dos EUA, liderado pelo presidente John F. Kennedy, que declarou publicamente a existência da ameaça e impôs uma quarentena naval ao redor da ilha. Esse bloqueio tinha o objetivo de impedir que mais armamentos fossem enviados para Cuba, além de forçar a retirada dos mísseis já instalados.
Por 13 dias, entre 16 e 28 de outubro de 1962, o mundo viveu sob a tensão constante de um confronto militar direto entre as duas superpotências, o que poderia desencadear uma guerra nuclear de proporções catastróficas. Ao final, a crise foi resolvida por meio de intensas negociações diplomáticas, que resultaram na retirada dos mísseis soviéticos de Cuba em troca da garantia de que os EUA não invadiriam a ilha e da retirada de mísseis norte-americanos da Turquia.
Esse episódio é considerado um marco na história das relações internacionais, pois destacou a fragilidade do equilíbrio de poder durante a Guerra Fria e a necessidade de mecanismos mais eficazes de diálogo e negociação entre as nações para evitar conflitos de grandes proporções.
Contexto histórico da Crise dos Mísseis de Cuba
O contexto histórico da Crise dos Mísseis de Cuba esteve profundamente enraizado na dinâmica geopolítica da Guerra Fria, que emergiu no pós-Segunda Guerra Mundial. Após 1945, o mundo foi dividido em dois grandes blocos ideológicos: o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e o bloco socialista, sob a liderança da URSS. Essa divisão gerou uma disputa intensa por influência política, econômica e militar em várias regiões do mundo.
Na América Latina, o avanço das ideias socialistas encontrou resistência, especialmente por parte dos Estados Unidos, que consideravam a região como sua esfera de influência exclusiva. Nesse cenário, a Revolução Cubana de 1959, liderada por Fidel Castro, representou uma ruptura significativa. A derrubada do governo pró-americano de Fulgencio Batista e a subsequente aproximação de Cuba com a URSS alarmaram Washington, que passou a ver a ilha como uma ameaça estratégica.
A falha dos EUA na invasão da Baía dos Porcos, em 1961, reforçou a aliança entre Cuba e a União Soviética. Esse evento não apenas consolidou o regime de Castro como também incentivou Nikita Khrushchev, líder soviético, a expandir a influência de seu país na região.
A instalação de mísseis nucleares em Cuba foi uma resposta direta ao cerco militar e político imposto pelos EUA à URSS e seus aliados. Ao mesmo tempo, foi uma tentativa de equilibrar a presença de mísseis americanos na Turquia e na Itália, que representavam uma ameaça direta à segurança soviética.
O período que antecedeu a crise também foi marcado por avanços tecnológicos na área de armamentos nucleares e por uma corrida armamentista desenfreada. A possibilidade de destruição mútua assegurada tornou qualquer escalada militar entre as superpotências extremamente perigosa. Nesse contexto, Cuba tornou-se um ponto focal da rivalidade entre os dois blocos.
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Causas da Crise dos Mísseis de Cuba
As causas da Crise dos Mísseis de Cuba foram complexas e multifacetadas, envolvendo tanto fatores estratégicos quanto ideológicos. Uma das principais motivações foi a necessidade soviética de reequilibrar a distribuição de poder nuclear no mundo. A presença de mísseis americanos na Turquia e na Itália representava uma vantagem estratégica para os EUA, que poderiam atingir alvos dentro da União Soviética com rapidez e precisão. Em resposta, Khrushchev decidiu instalar mísseis em Cuba, posicionando-os a uma curta distância dos Estados Unidos.
Outro fator determinante foi o contexto político de Cuba. Após a Revolução Cubana, a ilha tornou-se um símbolo de resistência ao imperialismo americano. Fidel Castro buscava proteção contra futuras tentativas de invasão por parte dos EUA, o que levou à assinatura de acordos de cooperação militar com a URSS. A instalação de mísseis soviéticos em território cubano foi vista por Castro como uma garantia de segurança para seu regime.
A crise também foi alimentada por erros de cálculo e falhas de comunicação entre as partes envolvidas. A decisão da URSS de instalar os mísseis foi mantida em segredo, com a expectativa de que os EUA não descobririam as bases até que estivessem completamente operacionais. No entanto, o reconhecimento aéreo americano expôs os planos soviéticos antes que fossem concluídos, precipitando a crise.
Além disso, a retórica ideológica da Guerra Fria contribuiu para a escalada do conflito. Tanto os EUA quanto a URSS estavam determinados a demonstrar força e a proteger seus interesses estratégicos, o que dificultou inicialmente a busca por uma solução diplomática.
Como ocorreu a Crise dos Mísseis de Cuba?
A Crise dos Mísseis de Cuba começou oficialmente em 14 de outubro de 1962, quando aviões de reconhecimento U-2 dos Estados Unidos capturaram imagens de instalações de mísseis em construção em Cuba. Essas fotografias mostraram que a URSS estava montando bases para mísseis balísticos de médio alcance, capazes de transportar ogivas nucleares.
Após a confirmação da ameaça, o presidente Kennedy convocou reuniões de emergência com seus principais assessores, formando o Comitê Executivo do Conselho de Segurança Nacional (ExComm). Em 22 de outubro, Kennedy anunciou publicamente a descoberta e impôs uma quarentena naval ao redor de Cuba. Essa ação foi cuidadosamente planejada para evitar uma declaração formal de guerra, mas serviu como um aviso claro à URSS.
Nos dias seguintes, a tensão aumentou significativamente, com a movimentação de tropas americanas e soviéticas em várias partes do mundo. Enquanto isso, as negociações diplomáticas prosseguiam nos bastidores. Khrushchev enviou duas cartas a Kennedy, propondo condições para a retirada dos mísseis. A primeira sugeria um acordo público em que a URSS retiraria os mísseis de Cuba em troca da garantia de não invasão. A segunda carta, mais agressiva, exigia também a remoção dos mísseis americanos da Turquia.
No dia 28 de outubro, após intensas negociações, Khrushchev concordou em retirar os mísseis de Cuba em troca da garantia de que os EUA não invadiriam a ilha. Embora a remoção dos mísseis da Turquia não tenha sido incluída oficialmente no acordo, foi posteriormente cumprida de forma discreta.
Crise dos Mísseis de Cuba e o sábado negro
O sábado negro, ocorrido em 27 de outubro de 1962, foi o ponto mais crítico da Crise dos Mísseis de Cuba. Nesse dia, um avião de reconhecimento U-2 foi abatido sobre o território cubano, resultando na morte do piloto americano. Esse evento quase desencadeou uma resposta militar imediata dos EUA, que poderiam ter atacado as bases de mísseis em Cuba.
Simultaneamente, outro incidente agravou a situação: um submarino soviético, armado com torpedos nucleares, foi detectado por forças navais americanas. Desconhecendo que o submarino estava equipado com armas nucleares, os americanos lançaram cargas de profundidade como um aviso. Dentro do submarino, os oficiais soviéticos quase autorizaram o uso de torpedos nucleares, mas decidiram não fazê-lo após intensa discussão.
Esses eventos evidenciaram o risco real de que erros de cálculo ou decisões impulsivas pudessem levar a uma guerra nuclear. O sábado negro reforçou a urgência de uma solução negociada para a crise, alcançada no dia seguinte.
Crise dos Mísseis de Cuba e o Brasil
O Brasil teve um papel importante durante a Crise dos Mísseis de Cuba, atuando como mediador em várias frentes diplomáticas. Na época, o governo de João Goulart adotava uma política externa independente (PEI), que buscava equilibrar as relações do Brasil com os blocos capitalista e socialista. Essa postura permitiu ao país dialogar tanto com os Estados Unidos quanto com Cuba e a URSS.
Uma das contribuições mais significativas do Brasil foi sua defesa da desnuclearização da América Latina. O Brasil também enviou o general Albino Silva como representante em missões diplomáticas, visando facilitar o diálogo entre as partes envolvidas. Além disso, a posição brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização dos Estados Americanos (OEA) foi de promover a resolução pacífica do conflito e o respeito à soberania cubana.
Essas iniciativas reforçaram a imagem do Brasil como um ator relevante no cenário internacional e destacaram a importância de uma política externa equilibrada em tempos de crise.
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Consequências da Crise dos Mísseis de Cuba
As consequências da Crise dos Mísseis de Cuba foram amplas e duradouras, tanto no âmbito regional quanto no âmbito global. Politicamente, a crise fortaleceu a imagem de liderança de John F. Kennedy nos EUA, ao mesmo tempo que expôs as limitações de Khrushchev, que enfrentou críticas internas por sua gestão do conflito.
Internacionalmente, a crise levou à criação de mecanismos para evitar futuras escaladas militares, como a instalação de uma linha direta de comunicação entre Washington e Moscou, conhecida como linha vermelha. Também impulsionou a assinatura de tratados de controle de armas, como o Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares, em 1963.
Para Cuba, a crise consolidou seu papel como aliada da União Soviética, mas também aumentou seu isolamento na América Latina. A garantia de não invasão por parte dos EUA deu a Fidel Castro maior segurança para manter seu regime socialista.
No longo prazo, a Crise dos Mísseis de Cuba serviu como um lembrete poderoso dos perigos da guerra nuclear e da necessidade de diálogo e cooperação internacional para resolver conflitos.
Fontes
BRAVO, Juliano dos Santos. A política internacional e a crise dos mísseis: 13 dias sob o terror nuclear. Trabalho acadêmico. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2024.
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