História de São Petersburgo

São Petersburgo foi fundada em 1703 e durante mais de 200 anos foi capital da Rússia. Presenciou eventos importantes para a história mundial ao longo do século XX.
Visão aérea da Ilha de Vassiliev, a maior ilha que faz parte do território de São Petersburgo

São Petersburgo é a segunda maior cidade da Rússia, possuindo aproximadamente 5,3 milhões de habitantes. A cidade fica às margens do Rio Neva (que deságua no Golfo da Finlândia), o que faz de São Petersburgo um importante porto comercial da Rússia. A cidade também é um centro industrial importante e é considerada uma das cidades mais europeizadas da Rússia.

Foi construída por ordem do czar Pedro I e fundada em 1703. Também por ordem de Pedro I, foi transformada em capital do Império Russo a partir de 1712 (manteve esse posto até 1918), ficando conhecida por isso como o lar dos czares russos. Ao longo de sua história, a cidade recebeu diferentes nomes das autoridades russas: São Petersburgo (1703-1914 e 1991-atualmente), Petrogrado (1914-1924) e Leningrado (1924-1991).


Fundação de São Petersburgo

São Petersburgo foi fundada oficialmente no dia 27 de maio de 1703 durante o reinado do czar (imperador) Pedro I, também conhecido como Pedro, o Grande. A construção de São Petersburgo aconteceu após aquela região (atual noroeste da Rússia) ter sido conquistada pelos russos em uma guerra travada contra os suecos e conhecida como Grande Guerra do Norte (1700-1721).

A conquista daquela região fazia parte da estratégia de guerra dos russos, que visavam a reduzir o poderio dos suecos no Mar Báltico. Já a construção de São Petersburgo fazia parte da estratégia de Pedro I de ampliar os contatos da Rússia com a Europa Ocidental (uma marca de seu reinado) e também garantia um acesso privilegiado ao Mar Báltico.

Pedro I ordenou que a construção de São Petersburgo fosse realizada a partir de modelos como os de Londres e Amsterdã (locais que Pedro havia visitado ao longo de sua vida). Isso foi uma característica marcante de Pedro I, que ficou conhecido por ter realizado reformas culturais para europeizar a Rússia. Segundo John T. Alexander:

Tal qual um microcosmos, a cidade [São Petersburgo] exibia muitos ideais petrinos. Era europeia em conceito, nome e estilo – o estilo sinónimo do novo termo popular arkhitektura. O seu nome e plano, a fortaleza e a catedral de São Pedro e São Paulo, o escudo da cidade, tudo apontava para paralelos com a Roma imperial|1|*.

A cidade foi construída na região onde o Rio Neva deságua no Golfo da Finlândia. Assim, a cidade de São Petersburgo foi construída em um terreno pantanoso e sujeito a diversas inundações. Para dar suporte à construção da cidade em um terreno tão adverso, o czar ordenou que milhares de pessoas fossem transferidas à força para trabalhar nas obras de construção.


Imagem em homenagem ao czar Pedro I ou Pedro, o Grande, o fundador de São Petersburgo

A dureza do trabalho na construção de São Petersburgo resultou na morte de milhares de pessoas, vítimas de exaustão e de doenças que se espalharam entre os trabalhadores, como disenteria, escorbuto e malária, principalmente. Por isso, os historiadores estimam que a construção da cidade tenha resultado na morte de 30 mil pessoas |2|.

A partir de 1712, a cidade transformou-se na capital do Império Russo, e a estrutura de governo e a corte foram transferidas para a cidade no ano seguinte. A transferência aconteceu alguns anos após uma importante vitória na guerra contra os suecos (Batalha de Poltava). A ação de Pedro de forçar milhares de pessoas a se mudarem para a nova capital fez com que a cidade tivesse 50 mil habitantes em 1725 |3|.


São Petersburgo no século XX

Apesar de sua grande importância para a história russa, São Petersburgo ganhou dimensão internacional a partir de importantes eventos que aconteceram naquela cidade ao longo do século XX. Os destaques sobre a cidade nesse período iniciaram-se com a mudança no nome da cidade a partir de 1914.

Essa alteração está diretamente relacionada com o início da Primeira Guerra Mundial. Os russos e os alemães entraram em guerra, e o nome da capital russa foi considerado “muito germânico” (escreve-se Sankt-Peterburg em russo). Assim, para retirar as “influências germânicas” (sankt e burg, no caso), foi sugerida a mudança para Petrograd no russo (Petrogrado, no português), que significa “cidade de Pedro”.

A cidade sofreu nova alteração de nome a partir de 1924, quando Vladimir Lenin faleceu. Em homenagem a um dos líderes da Revolução de Outubro, o nome da cidade foi alterado para Leningrado. Esse nome permaneceu até a fragmentação da União Soviética em 1991, quando a partir de um plebiscito a população local optou por restabelecer o nome original da cidade.

A respeito dos eventos, a trajetória de São Petersburgo no século XX foi marcada inicialmente por um evento ocorrido em 1905 e conhecido como Domingo Sangrento. Esse evento aconteceu em 9 de janeiro de 1905, quando as tropas do czar Nicolau II (o último monarca russo) abriram fogo contra uma multidão que protestava pacificamente na frente do palácio do imperador, o Palácio de Inverno.


O Palácio de Inverno foi casa dos czares russos e palco, em 1905, do Domingo Sangrento

Não existe consenso entre os historiadores se o massacre foi intencional ou não, pois alguns historiadores afirmam que a ação dos soldados não foi intencional e que eles agiram sem receber uma ordem para abrir fogo. De qualquer forma, a insatisfação espalhou-se na Rússia após esse evento e motivou o Ensaio Geral de 1905.

Poucos anos depois, a cidade foi palco da Revolução de Outubro, na qual os bolcheviques tomaram o poder na Rússia em 1917 e transformaram-na no primeiro país socialista da história. O sucesso da Revolução de Outubro resultou em grande parte da atuação do soviete (organização de trabalhadores) de Petrogrado. Com o sucesso dos bolcheviques, Moscou foi novamente instituída como capital da Rússia.

A mudança da capital pode ser entendida dentro do contexto da Guerra Civil Russa (1918-1921). Nesse período, a Rússia foi invadida por coalizões estrangeiras que visavam a destituir o governo dos bolcheviques. A proximidade da capital com a fronteira e de nações inimigas fez com que o governo optasse por transferir a capital para o interior do território russo.

Durante a Segunda Guerra, a cidade (agora renomeada como Leningrado) sofreu duramente as consequências da invasão nazista. Os alemães invadiram a União Soviética a partir de junho de 1941 e estipularam a conquista do país para oito semanas. Durante os desdobramentos dessa invasão, as tropas alemãs assediaram a cidade de Leningrado e iniciaram um cerco, que se estendeu por quase 900 dias.

O cerco a Leningrado fez parte de uma estratégia dos alemães de deixar a cidade literalmente morrer de fome. Os nazistas haviam desenvolvido um plano de matar cerca de 30 milhões de eslavos de fome (Hungerplan) ao longo da guerra para poder iniciar a povoação daquelas regiões por alemães como parte da ideia de “espaço vital”. A cidade de Leningrado foi escolhida para analisar os efeitos práticos dessa estratégia.

Leningrado definhou aos poucos, pois, cercada, a única forma de receber provisões era pelo Lago Ladoga, sobretudo quando ele congelava. Com a fome espalhada pela cidade, as pessoas passaram a comer de tudo e cozinhavam couro, comiam grama e caçavam obstinadamente todos os animais que pudessem (desde cavalos até os ratos). O desespero foi tamanho que se registraram casos de canibalismo na cidade.

Leningrado só foi libertada pelas tropas soviéticas em janeiro de 1944, quando as forças alemãs foram forçadas a recuar em razão do avanço do Exército Vermelho. Com o fim da União Soviética, o nome da cidade, conforme mencionado, foi novamente alterado após consulta pública. Hoje a cidade é um centro importante para a economia da Rússia, além de ser visitada por milhões de turistas. No entanto, tem sofrido com problemas urbanos, como a alta da criminalidade.

|1| ALEXANDER, John T. A Era Petrina e depois. In.: FREEZE, Gregory L. História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 149.
|2| The bloody founding of St Petersburg. Para acessar clique aqui [em inglês].
|3| ALEXANDER, John T. A Era Petrina e depois. In.: FREEZE, Gregory L. História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 149.

* O trecho em questão foi retirado de uma publicação em português de Portugal.

Publicado por Daniel Neves Silva
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