Aldous Huxley
Aldous Huxley, escritor inglês, legou à história da literatura ocidental um clássico da narrativa distópica: o romance Admirável mundo novo. Nessa obra, os impactos da valorização excessiva da produção capitalista são projetados em um futuro ausente de utopia, em que a ciência impera determinando o destino do homem, o qual é constantemente despido de sua humanidade a fim de tornar-se, cada vez mais, alienado ao poder autoritário vigente.
Outras obras de Huxley também apresentam esse tom distópico, espécie de alerta não só aos seus leitores da época em que escreveu suas narrativas, mas também aos leitores do século XXI, os quais encontram em suas obras constantes paralelos com a realidade contemporânea.
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Biografia de Aldous Huxley
Aldous Leonard Huxley, mais conhecido como Aldous Huxley, nasceu em 26 de julho de 1894, no condado de Surrey, na Inglaterra. Pertencente a uma família de tradicionais intelectuais ingleses, estudou medicina e literatura inglesa. Iniciou os estudos de medicina na Eton College, mas, devido a uma doença nos olhos que quase o cegou, teve de interromper sua graduação. Posteriormente, ele recuperou a visão o suficiente para se formar pela Universidade de Oxford.
Viveu na Itália durante o regime fascista de Mussolini, período que viria a exercer influência sobre seus livros. No ano de 1937, Aldous Huxley mudou-se para Los Angeles com sua esposa, Maria, o filho, Matthew Huxley, e seu amigo Gerald Heard, que apresentou Huxley à Vedanta (filosofia centrada em Upanishad), meditação e vegetarianismo. Em 1938, no auge da sua carreira literária, mudou-se para Hollywood com o objetivo de trabalhar como roteirista.
No exercício dessa função, Huxley foi muito bem remunerado, o que lhe possibilitou custear o transporte de escritores e artistas judeus e de esquerda refugiados da Alemanha de Hitler para os Estados Unidos. Em 1932, publicou Admirável mundo novo e, em 1954, narrou suas experiências com mescalina em As portas da percepção, livros fundamentais para a cultura e as artes. Huxley morreu nos EUA, em 22 de novembro de 1963.
Premiações de Aldous Huxley
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James Tait Black Memorial Prize (por Também o Cisne Morre), 1939.
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American Academy of Arts and Letters Award of Merit (por Admirável Mundo Novo), 1959.
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Companion of Literature (Royal Society of Literature), 1962.
Estilo literário de Aldous Huxley
Aldous Huxley é um dos grandes autores da chamada literatura distópica. Essa vertente literária é caracterizada pela narração de enredos que se passam em épocas futuras ao momento de sua produção. Nesse cenário futurista, situações absurdas acontecem, sempre ligadas ao autoritarismo de um pequeno grupo que impõe seu domínio à maioria. As obras distópicas são, na verdade, grandes alegorias de situações da realidade, ou seja, por meio do exagero de situações extremas e ficcionais passadas no futuro, o autor alerta a sociedade sobre os perigos de a sociedade ir aceitando o que lhe é imposto. Nesse sentido, há, nas obras de Aldous Huxley, as seguintes características:
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visão pessimista da realidade;
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projeção de problemas atuais para um futuro distante;
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presença de personagens que vão se sentir subjetivamente impactados pela distopia;
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crítica à alienação política;
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presença de elementos ficcionais futuristas;
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crítica ao capitalismo e à objetificação imposta ao homem por esse sistema;
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crítica à louvação tecnológica;
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presença de construções narrativas alegóricas.
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Obras de Aldous Huxley
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Folhas inúteis (1925)
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Contraponto (1930)
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Admirável mundo novo (1932)
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Sem olhos em Gaza (1936)
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Também o cisne morre (1939)
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O tempo deve parar (1944)
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A filosofia perene (1945)
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O macaco e a essência (1948)
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Os demônios de Loudun (1952)
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As portas da percepção e Céu e inferno (1954)
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A situação humana (1959)
- A ilha (1962)
Admirável mundo novo
Nessa obra, a mais importante de Aldous Huxley, o personagem Bernard Marx, protagonista da ficção distópica, sente-se insatisfeito com o mundo onde vive. Num reduto onde vivem pessoas dentro dos moldes do passado, uma espécie de "reserva histórica" onde são preservados os costumes "selvagens" do passado, Bernard encontra uma mulher oriunda da civilização, Linda, e o filho dela, John. Bernard vê uma possibilidade de conquista de respeito social pela apresentação de John.
O enredo desenvolve-se, assim, a partir do contraponto entre a civilização extremamente controlada, alegoria de regimes autoritários, e as impressões causadas em seus moradores pela presença "selvagem" de John, visto como uma aberração, pois tem mãe e vem do reduto tido como incivilizado. Esse elemento exótico cria um fascínio entre os habitantes do "Admirável Mundo Novo".
Capítulo l
Um edifício feio cinzento e acachapado, de trinta e quatro andares apenas. Acima da entrada principal, as palavras Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central e, num escudo, o lema do Estado Mundial: Comunidade, Identidade, Estabilidade.A enorme sala do andar térreo dava para o norte. Apesar do verão que reinava para além das vidraças, apesar do calor tropical da própria sala, era fria e crua a luz tênue que entrava pelas janelas, procurando, faminta, algum manequim coberto de roupagem, algum vulto acadêmico pálido e arrepiado, mas só encontrando o vidro, o níquel e a porcelana de brilho glacial de um laboratório. À algidez hibernal respondia a algidez hibernal. As blusas dos trabalhadores eram brancas, suas mãos estavam revestidas de luvas de borracha pálida, de tonalidade cadavérica. A luz era gelada, morta, espectral. Somente dos cilindros amarelos dos microscópios lhe vinha um pouco de substância rica e viva, que se esparramava como manteiga ao longo dos tubos reluzentes. - E isto - disse o Diretor, abrindo a porta - é a Sala de Fecundação. No momento em que o Diretor de Incubação e Condicionamento entrou na sala, trezentos Fecundadores, curvados sobre os seus instrumentos, estavam mergulhados naquele silêncio em que apenas se ousa respirar, naquele cantarolar ou assobiar inconsciente por que se traduz a mais profunda concentração. Uma turma de estudantes recém-chegados, muito jovens, rosados e bisonhos, seguia com certo nervosismo, com uma humildade um tanto abjeta, as pisadas do Diretor. Todos traziam um caderno de notas, no qual, cada vez que o grande homem falava, rabiscavam desesperadamente. Eles bebiam ali seu saber na própria fonte. Era um privilégio raro. O D. I. C. de Londres Central sempre fazia questão de conduzir pessoalmente seus novos alunos na visita aos vários serviços e dependências.
O romance distópico Admirável mundo novo, como se observa nesse trecho inicial da obra, tematiza, de forma ficcional, projetando em um futuro distante da época de sua escrita, uma sociedade subjugada pelo poder de um Estado autoritário.
Nessa narrativa de Aldous Huxley, há uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual conceitos como “pai” e “mãe” foram abolidos. As pessoas são programadas em laboratório e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Nesse cenário ausente de utopia, a literatura, a música e o cinema só têm a função de consolidar a mentalidade conformista das pessoas.
Huxley estabelece, com sua ficção, uma crítica à sociedade capitalista, industrial e tecnológica, na qual a racionalidade científica é louvada em detrimento da valorização da subjetividade humana.
Como outras obras filiadas à vertente distópica da literatura, Admirável mundo novo alerta para os perigos do crescimento de formas autoritárias de governo no seio da sociedade.
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Frases de Aldous Huxley
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“E se este mundo for o inferno de outro planeta?”
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“Viajar é descobrir que todo mundo está errado sobre os outros países.”
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“O silencioso nunca depõe contra si próprio.”
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“A democracia permite que criaturas abomináveis conquistem o poder.”
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“Os homens são animais muito estranhos: uma mistura do nervosismo de um cavalo, da teimosia de uma mula e da malícia de um camelo.”
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“As paródias e as caricaturas são as formas mais agudas de crítica.”
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“As palavras nos permitiram elevar-nos acima dos animais, mas também é pelas palavras que não raro descemos ao nível de seres demoníacos.”
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“Experiência não é aquilo que acontece conosco; é o que fazemos com aquilo que acontece conosco.”
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“As únicas pessoas completamente constantes são os mortos.”
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“À medida que diminui a liberdade política e econômica, a liberdade sexual tende a aumentar como compensação.”