As rimas e suas combinações

A identidade dos sons presentes dentro dos versos de um poema pode organizar-se de diferentes maneiras. Esse processo é chamado de combinação de rimas.
Os versos podem possuir diferentes combinações rímicas

Observe as rimas dos seguintes poemas:

Relíquia íntima

Ilustríssimo, caro e velho amigo,
Saberás que, por um motivo urgente

Na quinta-feira, nove do corrente,
Preciso muito de falar contigo.

(Machado de Assis)

….............................................

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

(Manuel Bandeira)

É possível notar que as combinações rímicas, isto é, de rimas são diferentes entre os poemas acima. No poema de Machado de Assis, há a combinação rímica do primeiro verso com o quarto verso, e do segundo com o terceiro verso. Já no poema de Manuel Bandeira, as rimas aparecem alternadas na estrutura da estrofe.

Veja a seguir a denominação das combinações rímicas existentes.

a) Rimas emparelhadas: quando se sucedem de duas a duas (AABB).

Vagueio campos noturnos (A)
Muros soturnos (A)

paredes de solidão (B)
sufocam minha canção (B)

(Ferreira Gullar)

b) Rimas alternadas: quando, de um lado, rimam os versos ímpares (o primeiro com o terceiro, etc.) e, de outro, os versos pares (ABAB).

Minha desgraça, não, não é ser poeta, (A)
Nem na terra de amor não ter um eco, (B)

É meu anjo de Deus, o meu planeta (A)
Tratar-me como trata-se um boneco (B)

(Álvares de Azevedo)

c) Rimas opostas ou interpoladas: quando o primeiro verso rima com o quarto, e o segundo, com o terceiro verso (ABBA).

Relíquia íntima

Ilustríssimo, caro e velho amigo, (A)
Saberás que, por um motivo urgente, (B)

Na quinta-feira, nove do corrente, (B)
Preciso muito de falar contigo. (A)

(Machado de Assis)

d) Rimas encadeadas: quando o primeiro verso rima com o terceiro; o segundo com o quarto e com o sexto; o quinto com o sétimo e o nono, e assim por diante.

Uma Criatura

Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira do abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e egoísmo.

(Machado de Assis)

Publicado por Mariana Rigonatto
Português
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