Locuções prepositivas
As locuções prepositivas são grupos de palavras que, juntas, têm função de preposição. Geralmente são compostas por um advérbio e uma preposição e formam-se a partir de combinação ou de contração das preposições com o outro termo que as acompanha. As preposições que comumente formam uma locução prepositiva são a, de e com, mas outras também podem ser usadas.
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Usos da locução prepositiva
Vejamos alguns exemplos de uso de locução prepositiva:
Vimos diversos animais ao longo do caminho.
No exemplo acima, a expressão “ao longo do” possui função de preposição ao relacionar dois termos da oração: “animais” e “caminho”.
Por apresentar mais de uma palavra, dizemos que se trata de uma locução prepositiva. Note que ela poderia ser substituída por uma preposição:
“Vimos diversos animais pelo caminho.”
Observe este outro caso:
“Eu esperarei notícias por meio de uma mensagem sua.”
Novamente temos dois termos – “notícias” e “mensagem” – ligados por uma locução prepositiva, formada pela preposição “por”, pelo advérbio “meio” e pela preposição “de”.
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Combinação e contração
Quando uma preposição liga-se a qualquer outra palavra sem sofrer modificação, ocorre um processo de combinação. A preposição “a” ligada ao artigo definido “o” gera a palavra “ao”, sendo, portanto, uma combinação das duas primeiras.
-
Eu fui ao seu encontro.
-
Dê meus cumprimentos aos chefes por esta refeição deliciosa!
A contração acontece quando a preposição que se liga a qualquer outra palavra sofre modificação. No caso da preposição “de”, quando ligada ao artigo “o”, tem-se a palavra “do” (ou seja, perde-se a letra “e”, que é substituída pelo artigo).
Veja o quadro abaixo com algumas junções de preposição e artigo:
|
|
artigo |
|||
|
|
a |
o |
as |
os |
Preposição |
a |
a + a = à |
a + o = ao* |
a + as = às |
a + os = aos* |
Preposição |
de |
de + a = da |
de + o = do |
de + as = das |
de + os = dos |
Preposição |
em |
em + a = na |
em + o = no |
em + as = nas |
em + o = nos |
Preposição |
per/por |
por + a = pela |
por + o = pelo |
por + as = pelas |
por + os = pelos |
Com exceção das locuções pintadas de amarelo, que resultam de combinação, as restantes resultam de contração, porque sua forma foi alterada ao se juntar com o artigo. Assim, temos, por exemplo:
-
Como você não aprendeu o caminho do ônibus ainda?
-
O celular não está no meu bolso.
-
Andou pelas ruas sem saber o que fazer.
Em contextos informais, a preposição “para” pode ser contraída da seguinte forma:
para |
para + a = pra |
para + o = pro |
para + as = pras |
para + os = pros |
Mas lembre-se de que essa contração não é aceita em contextos formais:
-
Você já levou a comida pros seus irmãos?
-
Você já entregou o relatório para os dirigentes da empresa?
Crase
O acento indicador da crase gera constantes dúvidas, mas pudemos ver no quadro acima que seu uso é bastante simples: havendo preposição “a” junto com artigo definido “a” ou “as”, usa-se crase (“à” ou “às”). Note, ainda no quadro, que a crase aparece apenas com o artigo definido feminino, pois no masculino temos a combinação “ao” (ou “aos”). Assim, se for possível substituir “à”/“às” por “ao”/“aos”, aplica-se crase. Observe:
Você disse à sua mãe o que pretende fazer?
(disse a + a sua mãe = disse à sua mãe)
Neste caso, a regência verbal pede que o verbo “dizer” seja acompanhado da preposição “a” (pois dizemos algo a alguém).
Caso quiséssemos substituir por um termo no masculino, teríamos:
Você disse ao seu pai o que pretende fazer?
(disse a + o seu pai = disse ao seu pai)
Caso não haja artigo, a preposição aparece sozinha e, portanto, sem acento:
Você disse a ela o que pretende fazer?
(disse a + ela = disse a ela)
Observe que não se usa artigo antes do pronome “ela”. Portanto, a preposição “a” não está contraída com nenhum artigo e não há crase.
Cabe destacar o uso com os pronomes “aquilo” e “aquele” (bem como suas variantes “aquela”, “aqueles”, “aquelas”). Quando essas palavras estão antecedidas pela preposição “a”, ocorre crase em qualquer circunstância, visto que há contração da preposição “a” com a primeira letra da palavra “aquele” ou “aquilo”.
-
Eu já fui àquelas sítio.
(fui a + aquele sítio = fui àquelas sítio)
-
Eu já fui àquelas praia.
(fui a + aquela praia = fui àquelas praia)
-
Eu já fui àquelasparques.
(fui a + aqueles parques = fui àquelas parques)
-
Eu já fui àquelas cachoeiras.
(fui a + aquelas cachoeiras = fui àquelas cachoeiras)
Veja também: Demais ou de mais?
Preposições
As preposições por si só são invariáveis, ou seja, elas não variam de acordo com gênero e número. Por isso, os artigos se juntam a elas para concordar com o gênero e o número do termo que acompanham, gerando as locuções prepositivas que acabamos de aprender.
As preposições são:
a – ante – após – até – com – contra – de – desde – em – entre – para – per – perante – por – sem – sob – sobre – trás
Exercícios resolvidos
Questão 1 – (COPS-UEL) A repercussão sobre o tratamento ofensivo dispensado a um menino negro de 7 anos que acompanhava os pais adotivos em uma concessionária de carros importados no Rio de Janeiro, há algumas semanas, jogou luz sobre uma discussão que permeia a história do Brasil: afinal, somos um país racista?
Apesar de não haver preconceito assumido, o relato dos negros brasileiros que denunciam olhares tortos, desconfiança, apelidos maldosos e tratamento “diferenciado” em lojas, consultórios, bancos ou supermercados não deixa dúvidas de que são discriminados em função do tom da pele. Estatísticas como as divulgadas pelo Mapa da Violência 2012, que detectou 75% de negros entre os jovens vitimados por homicídios no Brasil em 2010, totalizando 34.983 mortes, chamam a atenção em um país que aparentemente não enfrenta conflitos raciais.
A disparidade entre o nível de escolaridade é outro indicador importante. De acordo com o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os brasileiros com nível superior completo há 9,8 milhões de brancos e 3,3 milhões de pardos e pretos. Já entre a população sem instrução ou que não terminou o Ensino Fundamental os números se invertem: são 40 milhões de pretos e pardos e 26,3 milhões de brancos.
“O racismo no Brasil é subjetivo, mas as consequências dele são bem objetivas”, afirma o sociólogo Renato Munhoz, educador da Colmeia, uma organização que busca despertar o protagonismo em entidades sociais, incluindo instituições ligadas à promoção da igualdade racial.
Ele enfatiza que os negros, vitimizados pela discriminação em função da cor da pele, são minoria nas universidades, na política, em cargos de gerência e outras esferas relacionadas ao poder. “Quando chegam a essas posições, causam ‘euforia”’, analisa, referindo-se, na história contemporânea, ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa e ao presidente dos EUA, Barack Obama.
Munhoz acrescenta que o racismo tem raiz histórica. “Remete ao sequestro de um povo de sua terra para trabalhar no Brasil. Quando foram supostamente libertados, acabaram nas periferias e favelas das cidades, impedidos de frequentar outros locais”, afirma.
Esse contexto, para ele, tem sido perpetuado através dos tempos, apesar da existência da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define como crime passível de reclusão os preconceitos de raça ou de cor. “A não aceitação de negros em alguns espaços é evidente”, reforça. A subjetividade do racismo também se expressa no baixo volume de denúncias nas delegacias. No Paraná, de acordo com dados do Boletim de Ocorrência Unificado da Polícia Civil, de 2007 a 2012 foram registrados 520 crimes de preconceito, o que resulta em uma média de apenas 86 registros por ano.
Por todas essas evidências, Munhoz defende a transformação da questão racial em políticas públicas, a exemplo das cotas para negros nas universidades. “Quando se reconhece a necessidade de políticas públicas, se reconhece também que há racismo”, diz. Ele acrescenta, ainda, que os desafios dessas políticas passam pela melhoria no atendimento em saúde à população negra e no combate à intolerância religiosa. “Não reconhecer as religiões de matriz africana é outro indicador de racismo”.
(Adaptado de: AVANSINI, C. Preconceito velado, mas devastador. Folha de Londrina. 3 fev. 2013, p.9.)
Sobre a locução prepositiva “Apesar de”, no 2º parágrafo, assinale a alternativa correta.
A) A locução tem a finalidade de introduzir um obstáculo hipotético que impede parcialmente a concretização dos acontecimentos descritos no restante da frase.
B) A locução tem o propósito de enunciar uma situação que reduzirá o impacto do conteúdo dos relatos e das denúncias dos negros brasileiros, exposto no restante da frase.
C) A posição da locução logo no início da frase é estratégica para estabelecer o contraste entre as ideias expressas no primeiro parágrafo e o conteúdo exposto na frase inicial do segundo.
D) A situação introduzida pela locução tem sua relevância diminuída diante da apresentação das demais ideias expressas – as denúncias.
E) Há uma relação de equilíbrio, no que se refere à relevância, entre as ideias introduzidas pela locução – a inexistência de preconceito assumido – e o restante da frase: as denúncias e os relatos dos negros.
Resolução
Alternativa D. A locução prepositiva é usada para diminuir a relevância da primeira afirmação (sobre não haver preconceito assumido) diante da relação que se estabelece com o outro enunciado: as denúncias.
Questão 2 - (Ibade)
Como comecei a escrever
Já contei em uma crônica a primeira vez que vi meu nome em letra de forma: foi no jornalzinho "O ltapemirim", órgão oficial do Grêmio Domingos Martins, dos alunos do colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim. O professor de Português passara uma composição "A Lágrima" — e meu trabalho foi julgado tão bom que mereceu a honra de ser publicado.
Eu ainda estava no curso secundário quando um de meus irmãos mais velhos — Armando — fundou em Cachoeiro um jornal que existe até hoje — o "Correio do Sul". Fui convidado a escrever alguma coisa, o que também aconteceu com meu irmão Newton, que fazia principalmente poemas. Eu escrevia artigos e crônicas sobre assuntos os mais variados; no verão mandava da praia de Marataízes uma crônica regular, chamada "Correio Maratimba".
Quando fui para o Rio (na verdade para Niterói) por volta dos 15 anos, mandava correspondência para o “Correio”. Continuei a fazer o mesmo em 1931, quando mudei para Belo Horizonte. A essa altura meu irmão Newton trabalhava na redação do "Diário da Tarde" de Minas. No começo de 1932 ele deixou o emprego e voltou para Cachoeiro; herdei seu lugar no jornal. Passei então a escrever diária e efetivamente, e fui aprendendo a redigir com os profissionais como Octavio Xavier Ferreira e Newton Prates.
Quando terminei meu curso de Direito, resolvi continuar trabalhando em jornal. Fazia crônicas, reportagens e serviços de redação. Ainda em 1932 tive uma experiência bastante séria: fui fazer reportagem na frente de guerra da Mantiqueira, missão aventurosa porque a direção de meu jornal era favorável à Revolução Constitucionalista dos paulistas, e eu estava na frente getulista. Acabei preso e mandado de volta.
A essa altura eu já era um profissional de imprensa, e nunca mais deixei de ser.
CONY, C. Heitor. In: https://cronicasbrasil.blogspot.com/search/label/Cony
“Eu escrevia artigos e crônicas sobre assuntos os mais variados;” (2º §)
A preposição sublinhada na frase acima exprime o valor semântico de assunto. Ela pode ser substituída, sem alteração de sentido, pela seguinte locução prepositiva:
A) há cerca de.
B) acerca de.
C) a cerca de.
D) de acordo com.
E) a despeito de.
Resolução
Alternativa B. A locução prepositiva que mantém sentido de conteúdo e que está escrita de acordo com a norma-padrão do português é “acerca de”.