Massacre de Babi Yar
O Massacre de Babi Yar foi um dos muitos horrores cometidos pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial contra os judeus. Nesse evento, que aconteceu nos dias 29 e 30 de setembro de 1941, os nazistas realizaram um dos maiores fuzilamentos em massa de toda a guerra, no qual quase 34 mil pessoas foram mortas em cerca de 36 horas.
Contexto
O Massacre de Babi Yar aconteceu no contexto de invasão da União Soviética pela Alemanha nazista durante a Operação Barbarossa. Essa operação foi responsável por coordenar esse ataque com milhões de soldados e tinha como objetivo principal erradicar o bolchevismo soviético.
Além da erradicação do bolchevismo soviético, a invasão da União Soviética fazia parte da formação do “espaço vital” nazista. Essa ideia, propagada por Hitler, defendia a formação de um grande reino germânico com a ocupação e colonização das terras do Leste Europeu pelos cidadãos arianos.
Por fim, a invasão da União Soviética cumpria um papel estratégico econômico muito grande, pois essa conquista permitiria à Alemanha ter acesso a importantes fontes de recursos, como os minérios e o petróleo do Cáucaso e a produção de grãos da Ucrânia. Isso garantiria o funcionamento da economia alemã durante a guerra.
Para isso, a ofensiva alemã foi organizada a partir de três grandes grupos:
- Grupo de Exércitos do Norte: centrou-se contra Leningrado;
- Grupo de Exércitos do Centro: atacaria Moscou;
- Grupo de Exércitos do Sul: o foco dos ataques seria Kiev e, depois, Stalingrado.
Originalmente, a Operação Barbarossa previa a conquista da União Soviética em cerca de oito semanas, mas, apesar dos grandes avanços iniciais, os exércitos alemães foram barrados e, por isso, perderam o fôlego e a intensidade. A falta de recursos necessários para viabilizar essa ofensiva, a resistência obstinada dos soviéticos e as mudanças climáticas contribuíram para o fracasso dessa operação.
Grupos de extermínio
O Massacre de Babi Yar foi realizado, em grande parte, pelos Einsatzgruppen (força-tarefa em alemão), mais conhecidos como grupos nazistas de extermínio. A atuação desses grupos contra os judeus de Kiev fez parte da política imposta pelos nazistas nas zonas ocupadas do Leste Europeu, a qual pretendia promover a eliminação dos judeus no que ficou conhecido como “Solução Final”.
Esse plano foi arquitetado por Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler a partir de outras ideias que já haviam sido cogitadas pelos nazistas contra a população judia e eslava. Heydrich e Himmler convenceram Hitler a dizimar os judeus com a guerra em andamento. Antes disso, o líder nazista pretendia realizar esse plano somente após vencer esse conflito.
Com a autorização de Hitler, Heydrich e Himmler estipularam que todo judeu que pudesse ser aproveitado como escravo permaneceria vivo, mas aqueles que não pudessem ser escravizados seriam fuzilados, incluindo mulheres e crianças. O Einsatzgruppen atuou exatamente nessas missões de fuzilamento e disseminaram o terror pelo Leste Europeu.
Os principais grupos de extermínio foram:
- Einsatzgruppen A: atuou nos Países Bálticos;
- Einsatzgruppen B: agia na Bielorrússia;
- Einsatzgruppen C: concentrou suas ações na Ucrânia.
Os fuzilamentos cometidos pelo Einsatzgruppen tiveram grande apoio de membros da Wehrmacht, o exército alemão. Além disso, membros da Schutzstaffel (SS) e colaboradores locais também tiveram participação nesse extermínio de judeus. No caso de Babi Yar, os fuzilamentos aconteceram com a atuação de membros de todas essas unidades citadas, além de contar com a ajuda da polícia local.
Massacre de Babi Yar
O Massacre de Babi Yar ocorreu durante a ocupação dos nazistas na cidade de Kiev, localizada na Ucrânia. Essa cidade havia sido conquistada pelos nazistas no dia 19 de setembro de 1941, após dois meses de batalha. A conquista da cidade foi realizada pelo Grupo de Exércitos do Sul, com o apoio do Grupo de Exércitos do Centro.
Antes da invasão nazista, Kiev era conhecida, assim como muitos lugares do Leste Europeu, por sua grande comunidade judaica. Anteriormente à guerra, estima-se que 20% da população local fosse judia, o que totalizava em torno de 200 mil judeus. À medida que os nazistas avançavam pelo território soviético, grande parte dos judeus de Kiev mudou-se para o leste.
No dia 24 de setembro, alguns prédios utilizados pela administração dos nazistas nessa cidade foram alvos de ataques a bombas. As bombas detonadas nesses prédios foram instaladas por membros da polícia secreta soviética (NKVD), antes da conquista da cidade pelos alemães. Apesar disso, esse ataque enfureceu os nazistas.
Os nazistas reuniram-se nos dias seguintes e decidiram executar todos os judeus de Kiev como retaliação pelo ataque sofrido. Com essa decisão, cartazes com os seguintes dizeres foram espalhados pela cidade:
Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam à esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8 horas de segunda-feira, 29 de setembro de 1941, portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que não comparecerem serão fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serão fuzilados|1|.
A administração nazista calculou que um total de sete mil pessoas compareceria ao local estipulado, porém, mais de 33 mil pessoas apresentaram-se naquele momento. Muitos dos judeus afirmavam que os nazistas não fariam nada em razão da proximidade de um importante feriado judaico, o Yom Kippur, e outros acreditavam que a convocação dos nazistas tratava-se de um reassentamento.
Reassentamento era o termo utilizado pelos nazistas para designar o deslocamento de população de judeus de um local para outro, geralmente, para guetos ou campos de concentração e extermínio. Entretanto, o que se seguiu, naquelas 36 horas, foi um massacre de dimensões assustadoras, em que pessoas foram sistematicamente fuziladas. Um historiador relembra a ação dos nazistas a partir do relato de uma sobrevivente:
Tendo entregado seus objetos de valor e documentos, as pessoas eram forçadas a se despir completamente. Em seguida, eram conduzidas sob ameaças e disparos para o alto em grupos de cerca de dez pessoas até a beira de um barranco conhecido como Babi Yar. Muitas eram espancadas: Pronichieva [a sobrevivente] se lembraria mais tarde que as pessoas “já estavam ensanguentadas antes de serem fuziladas”. Elas tinham de deitar de bruços sobre os cadáveres já empilhados sob elas e aguardar os tiros que viriam de cima e por trás. Depois era a vez de um novo grupo|2|.
Ao final dessas 36 horas de fuzilamento, o saldo de mortos foi assombroso: 33.761 pessoas haviam morrido|3|. Posteriormente, o local foi utilizado pelos nazistas para outros fuzilamentos, e, quando começaram a ser derrotados na guerra, realizaram a exumação dos corpos para esconder os vestígios do massacre cometido. Outros massacres, de grande proporção como esse, também aconteceram no Leste Europeu, como o ocorrido em Vilnius, na Lituânia.
Após a derrota dos nazistas, o genocídio em Babi Yar foi reconhecido pelo governo soviético como um crime contra o povo soviético, sem reconhecê-lo, porém, como crime contra os judeus. O reconhecimento do Massacre em Babi Yar como parte do Holocausto somente aconteceu em 1991, com a fragmentação da União Soviética e a independência da Ucrânia.
|1| O Massacre de Babi Yar. Para acessar, clique aqui.
|2| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 253-253.
|3| Idem, p. 253.
*Créditos da imagem: Radovan1 e Shutterstock