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Função metalinguística

A função metalinguística é uma das funções da linguagem. Ela é marcada pela autorreferencialidade. E pode ser usada tanto em textos artísticos quanto utilitários.
Pintura de Van Gogh pintando junto ao conceito de função metalinguística (ou metalinguagem).
A função metalinguística tem caráter autorreferencial, ou seja, o texto fala de si mesmo.

A função metalinguística é uma das funções da linguagem. Ela é caracterizada pela sua natureza autorreferencial, já que um texto metalinguístico tem a função de voltar para si próprio ou falar de si mesmo. Por exemplo, uma canção que faça referência a si própria ou um romance que explique o processo de escrita do próprio romance etc.

Leia também: Elementos da comunicação e sua relação com as funções da linguagem

Resumo sobre a função metalinguística

  • A função metalinguística é uma das seis funções da linguagem.
  • O que caracteriza a função metalinguística é a autorreferencialidade.
  • A metalinguagem é usada tanto em textos artísticos quanto funcionais.
  • A metalinguagem pode estar na música, no cinema, na literatura etc.

Videoaula sobre função metalinguística

O que é a função metalinguística?

A função metalinguística é uma das funções da linguagem. Um texto com tal função coloca em evidência a própria linguagem utilizada. Isso porque a metalinguagem consiste na autorreferenciação, ou seja, o texto se volta para si mesmo. Por exemplo, uma carta que ensina ao seu destinatário como escrever uma carta.

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Características da função metalinguística

A função metalinguística pode estar presente tanto em textos verbais quanto não verbais. Seu uso também pode ocorrer tanto em textos artísticos quanto utilitários, tanto em textos literários quanto não literários. A função metalinguística evidencia a linguagem (cinematográfica, pictórica, poética etc.), daí seu caráter autorreferencial, já que o texto se volta para si mesmo.

Exemplos da função metalinguística

  • Função metalinguística na música

Na letra de música Nossa canção, o eu lírico se refere à própria canção que está sendo cantada:

Olha aqui
Preste atenção
Esta é a nossa canção
Vou cantá-la seja onde for
Para nunca esquecer o nosso amor
Nosso amor

Veja bem

Foi você
A razão e o porquê
De nascer esta canção assim
Pois você é o amor que existe em mim

Você partiu e me deixou
Nunca mais você voltou
Pra me tirar da solidão
E até você voltar
Meu bem, eu vou cantar
Esta nossa canção

AYRÃO, Luiz. Nossa canção. In: CARLOS, Roberto. Roberto Carlos. Rio de Janeiro: CBS Records,1966.

  • Função metalinguística no cinema

No filme A rosa púrpura do Cairo, do cineasta estado-unidense Woody Allen, a garçonete Cecilia assiste, várias vezes, no cinema, a um filme chamado A rosa púrpura do Cairo. Até que o protagonista do filme sai, literalmente, da tela e diz estar apaixonado por ela. Mas o show tem que continuar. Como fazer o protagonista voltar para o filme?

  • Função metalinguística na poesia

No poema “Consideração do poema”, de Carlos Drummond de Andrade, o eu lírico faz menção ao processo de criação de um poema:

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convém.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

[...]

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
[...]

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A rosa do povo. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

  • Função metalinguística na prosa

Capa do livro A hora da estrela, publicado pela editora Rocco, um exemplo de metalinguagem.
O livro A hora da estrela, publicado pela editora Rocco, é uma novela metalinguística.[1]

No livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, o personagem e narrador Rodrigo S. M. fala do processo de criação da própria narrativa:

Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que eu em menino me criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é que os senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos.

Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar palavras que vos sustentam. A história — determino com falso livre-arbítrio — vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de chuva caindo.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

  • Função metalinguística na crônica

Na crônica “O nascimento da crônica”, Machado de Assis fala sobre crônica:

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue; está começada a crônica.

[...]

MACHADO DE ASSIS. Crônicas escolhidas de Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1994.

  • Função metalinguística no dicionário

O verbete “dicionário” é metalinguístico, já que faz parte de um dicionário. Já o verbete “verbete” também é metalinguístico, já que define a si próprio:

dicionário

obra de referência onde se encontram listadas palavras e expressões de uma língua, por ordem alfabética, com informação linguística sobre cada uma delas, como a respetiva significação ou tradução para outra língua, a classe a que pertencem, informação fonética, etimológica etc.

DICIONÁRIO. In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/dicionário.

verbete

1. No campo da lexicografia, cada uma das entradas (palavras listadas) de um dicionário, enciclopédia etc., que contém informações sobre um assunto (o significado de uma palavra, p. ex.).

[...]

VERBETE. In: AULETE DIGITAL. Disponível em: https://aulete.com.br/verbete.

Como utilizar a função metalinguística?

A função metalinguística é bastante utilizada em textos artísticos, já que ela produz um efeito circular que leva à reflexão. As obras de arte utilizam a metalinguagem como estratégia para conseguir um efeito estético. Por exemplo, um filme cuja história mostra personagens fazendo filmes e evidenciando esse processo ou um poema que mostra como fazer um poema.

Ela também pode ser usada em um texto funcional ou utilitário quando for necessário, isto é, sem a intenção inerente aos textos artísticos. Por exemplo, o verbete “dicionário” é metalinguístico, já que está presente no dicionário. Mas colocar a definição da palavra “dicionário” em um dicionário não é uma escolha, mas sim algo necessário. Portanto, o uso da função metalinguística nem sempre é planejado, mas inevitável.

Outras funções da linguagem

  • Função emotiva: aquela em que a intencionalidade discursiva revela as opiniões, emoções ou sentimentos do locutor. Para saber mais, clique aqui.
  • Função poética: aquela que enfatiza a forma estética e expressiva da linguagem, buscando criar impacto emocional e estético no receptor da mensagem. Para saber mais, clique aqui.
  • Função referencial: aquela centrada no contexto; manifesta-se quando a intencionalidade do discurso é a transmissão de informações acerca da realidade. Para saber mais, clique aqui.
  • Função fática: aquela que enfatiza o canal ou veículo de comunicação, a fim de manter o ato comunicativo em curso.  Para saber mais, clique aqui.
  • Função conativa: aquela cuja ênfase encontra-se no destinatário da mensagem para persuadi-lo e influenciar seu comportamento. Para saber mais, clique aqui.  

Leia também: Principais figuras de linguagem e exemplos de uso

Exercícios sobre função metalinguística

Questão 1 (Enem)

Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo uma outra não prevista.

LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos, valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato de o texto

A) ressaltar a importância da intertextualidade.

B) propor leituras diferentes das previsíveis.

C) apresentar o ponto de vista da autora.

D) discorrer sobre o ato da leitura.

E) focar a participação do leitor.

Resolução:

Alternativa D.

Nessa questão, o texto possui função metalinguística, já que fala sobre texto. A metalinguagem também ocorre em relação à leitura, já que estamos lendo um texto que fala do processo da leitura.

Questão 2 (Enem)

Lusofonia

rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova; moça; menina; (Brasil), meretriz.

Escrevo um poema sobre a rapariga que está sentada
no café, em frente da chávena de café, enquanto
alisa os cabelos com a mão. Mas não posso escrever este
poema sobre essa rapariga porque, no brasil, a palavra
rapariga não quer dizer o que ela diz em portugal. Então,
terei de escrever a mulher nova do café, a jovem do café,
a menina do café, para que a reputação da pobre rapariga
que alisa os cabelos com a mão, num café de lisboa, não
fique estragada para sempre quando este poema atravessar o
atlântico para desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo
sem pensar em áfrica, porque aí lá terei
de escrever sobre a moça do café, para
evitar o tom demasiado continental da rapariga, que é
uma palavra que já me está a pôr com dores
de cabeça até porque, no fundo, a única coisa que eu queria
era escrever um poema sobre a rapariga do
café. A solução, então, é mudar de café, e limitar-me a
escrever um poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se
pode sentar à mesa porque só servem café ao balcão.

JÚDICE, N. Matéria do poema. Lisboa: D. Quixote, 2008.

O texto traz em relevo as funções metalinguística e poética. Seu caráter metalinguístico justifica-se pela

A) discussão da dificuldade de se fazer arte inovadora no mundo contemporâneo.

B) defesa do movimento artístico da pós-modernidade, típico do século XX.

C) abordagem de temas do cotidiano, em que a arte se volta para assuntos rotineiros.

D) tematização do fazer artístico, pela discussão do ato de construção da própria obra.

E) valorização do efeito de estranhamento causado no público, o que faz a obra ser reconhecida.

Resolução:

Alternativa D.

O texto da questão é um poema que fala sobre escrever poema. Portanto, tematiza o fazer artístico ao discutir o ato de construção da própria obra, isto é, do poema.

Créditos da imagem

[1] Editora Rocco (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete M.; PONTARA, Marcela. Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008. v. 1.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

Publicado por Warley Souza
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