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Prosa

A prosa diz respeito a uma estrutura básica que se contrapõe ao texto em verso, o poema, e que antecede à noção dos gêneros textuais, os quais sabemos que são múltiplos: romances, contos, crônicas, textos jornalísticos, artigos de opinião, manifestos, poemas líricos, poemas satíricos, enfim, trata-se de uma listagem numerosa.

Saiba mais: Gêneros literários: divisão clássica dos gêneros na literatura

O que é prosa?

Chamamos de prosa os textos escritos de forma corrida, organizados em parágrafos, cuja intenção é, grosso modo, a exposição de uma ideia, de fatos ou de uma história. Livros de contos de fada, de ficção ou não ficção, jornais, cartas e e-mails são exemplos de textos em prosa. Aos textos em prosa importa mais a clareza do que o ritmo, a rima ou a sonoridade das palavras.

Tipos de prosa

A prosa está presente desde os textos literários até os textos jornalísticos.
A prosa está presente desde os textos literários até os textos jornalísticos.

Existem dois tipos de prosa: narrativa e demonstrativa.

  • Prosa narrativa

Trata-se dos textos prosaicos históricos ou de ficção. São textos que narram alguma coisa, ou seja, possuem personagens, ambientação das ações etc. Esse tipo de prosa abarca duas categorias — a histórica, que pretende narrar fatos e eventos com base em relatos historiográficos, e a ficcional, que cria personagens e um universo próprio. Veja alguns exemplos.

  • Prosa narrativa histórica

“Em 1581, Felipe II afirmara, perante o tribunal de Guadalajara, que um terço dos indígenas da América já tinha sido aniquilado, e aqueles que ainda viviam eram obrigados a pagar tributos pelos mortos. O monarca disse, além disso, que os índios eram comprados e vendidos. Que dormiam na intempérie. Que as mães matavam seus filhos para salvá-los dos tormentos nas minas. Mas a hipocrisia da Coroa tinha menos limites que o Império: a Coroa recebia uma quinta parte do valor dos metais que seus súditos arrancavam por toda a extensão do Novo Mundo hispânico, além de outros impostos; o mesmo acontecia, no século XVII, com a Coroa portuguesa em terras do Brasil. [...]”

(Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina)

  • Prosa narrativa ficcional

“Maria Raimunda nunca precisou ler as letras nos papéis. Desde que abriu os olhos pretos neste mundo de meu Deus, leu tudo o que há no livro das coisas e das gentes, por dentro e por fora, até onde a vista alcança. Aprendeu cedo que quem tem o coração brando leva mais pisas da vida e por isso é brava que só! Sempre foi. Todo mundo tem um pouco de medo de Maria Raimunda e ela não tem medo de ninguém, só teme a Deus e o perigo de amolecer quando vê menino sem mãe, homem chorando, criança carregando enterro de anjinho, velho sem teto, mulher gestante com variz e fome, essas coisas. Prefere mesmo é ter raiva que dá coragem e força para resolver tudo o que aparece pela frente. [...]”

(Maria Valéria Rezende, “Maria Raimunda”, em Vasto Mundo)

  • Prosa demonstrativa

São os textos que pretendem explicar alguma coisa, passar conhecimento a respeito de algo. É o caso dos textos didáticos, dos tratados, dos ensaios, da oratória, de textos jornalísticos, científicos, técnicos, do editorial, de textos como este que você está lendo. Veja um exemplo:

“Um dos aspectos mais surpreendentes de nossa sociedade é o fato de a ausência de identidade racial ou confusão racial reinante ser aceita como dado de nossa natureza. Quando muito, à guisa de explicação, atribui-se à larga miscigenação aqui ocorrida a incapacidade que demonstramos de nos autoclassificar racialmente. É como se a indefinição estivesse na essência de nosso ser. Seres transgênicos que escapariam de qualquer identidade conhecida, que nenhum atributo racial e étnico utilizado alhures poderia abarcar por tamanha originalidade. É assim para o senso comum, é assim para a maioria dos intelectuais. Diferentemente de outros lugares, a nossa identidade se definiria pela impossibilidade de defini-la. [...]”

(Sueli Carneiro, Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil)

São classificados como prosa literária apenas os textos narrativos ficcionais, isto é, romances, contos, crônicas, novelas. Desse modo, é do estudo dessas formas que se ocupará a literatura. A prosa narrativa histórica e os gêneros da prosa descritiva são também chamados prosa não literária.

Leia mais: Linguagem literária – a variante da língua com viés artístico

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Prosa no Brasil

O primeiro texto em prosa produzido no Brasil foi a Carta de Pero Vaz de Caminha. Esse documento, embora seja uma crônica histórica, um relato, está muito próximo da prosa literária, graças à riqueza de metáforas e à cuidadosa elaboração textual do autor.

Entretanto, durante o período colonial, a prosa literária praticamente não existiu no Brasil. Foi a partir das publicações de O filho do pescador, lançada por Teixeira e Sousa em 1843, e de A moreninha, escrita por Joaquim Manuel de Macedo em 1844, que tem início uma tradição prosaica brasileira. Ambos os romances fazem parte da escola literária do romantismo, que, por sua vez, propõe o romance como forma — o romance nasce a partir do romantismo.

À época, era comum que os romances fossem lançados em formato de folhetim, ou seja, a cada semana, um novo capítulo era publicado em um jornal de grande circulação. Grandes nomes da literatura brasileira, como o próprio Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Lima Barreto e Machado de Assis, tiveram suas obras publicadas primeiramente em folhetim, antes de serem editadas em formato de livro.

Diferenças entre prosa e poesia

A palavra poesia tem origem no vocábulo grego poíesis, cujo significado é o ato da criação, de fazer alguma coisa. Assim a poesia faz com a linguagem: cria novos significados, modifica o uso das palavras, ordena-as de maneira ritmada e melódica. Quando a poesia surgiu como forma, era acompanhada de instrumentos musicais, feita para ser cantada. Os poemas são escritos para serem lidos em voz alta, logo, há um trabalho com a sonoridade dos vocábulos, com aquilo que ultrapassa a função utilitária ou denotativa da linguagem.

Além disso, a poesia costuma ser organizada em versos, que são junções de sílabas poéticas. Veja um exemplo:

[...]

Se fizerem paz commigo
deixo de ser cangaceiro
planto fava, crio bode
a mim não falta dinheiro
boto o cangaço n’um canto
cobro imposto mais não tanto
fica o imposto maneiro.

É o que tenho a fazer
se o plano não for errado
pois o governo acceitando
fica o Brasil descansado

[...]

(As proezas de Antonio Silvino, 1908)

Já a palavra prosa vem do latim oratione prosa, significando “discurso em linha reta”, livre. Predomina o uso denotativo da linguagem, ou seja, as palavras significando suas definições dicionarizadas. Veja um exemplo de prosa que trata do mesmo cangaceiro que o cordel anterior descreve:

“Consciente de que o cerco policial estava se fechando a cada ano, o cangaceiro sentia uma necessidade extrema de negociar a paz com o Governo, o qual, segundo alguns populares haviam lhe dito, também tinha o mesmo desejo. Porém, era preciso constatar a veracidade das falas, confirmar o que de fato queria o Governo, mas sem antes se preparar e prevenir, já que as ações em prol de sua captura estavam se acentuando. Contudo, teria buscado informações acerca de um possível acordo com o governo.”

(Deuzimar Matias de Oliveira, Nas trilhas do cangaceiro Antonio Silvino: tensões, conflitos e solidariedades na Paraíba)

Apesar da diferença estrutural, não é a forma em verso ou em parágrafos que difere essencialmente a prosa da poesia. Não basta quebrar o texto em versos para que se transforme em poema, assim como há vários poemas em forma de prosa. São cada vez menores as fronteiras entre as formas da prosa e da poesia.

Saiba mais: Realismo no Brasil: escola literária em que a prosa foi predominante

Prosa poética

Trata-se dos textos em prosa cujo trabalho com a linguagem aproxima-se da poesia. Há um olhar lírico que norteia a construção desses textos, que fazem uso de recursos típicos do fazer poético, mantendo, contudo, a estrutura prosaica. Veja um exemplo, trecho do grande romance de Guimarães Rosa:

“[...] De Araçuaí, eu trouxe uma pedra de topázio. [...] Isto, sabe o senhor por que eu tinha ido lá daqueles lados? De mim, conto. Como é que se pode gostar do verdadeiro no falso? Amizade com ilusão de desilusão. Vida muito esponjosa. Eu passava fácil, mas tinha sonhos, que me afadigavam. Dos de que a gente acorda devagar. O amor? Pássaro que põe ovos de ferro. Pior foi quando peguei a levar cruas minhas noites, sem poder sono. Diadorim era aquela estreita pessoa — não dava de transparecer o que cismava profundo, nem o que presumia. Acho que eu também era assim. Dele eu queria saber? Só se queria e não queria. Nem para se definir calado, em si, um assunto contrário absurdo não concede seguimento. Voltei para os frios da razão. Agora, destino da gente, o senhor veja: eu trouxe a pedra de topázio para dar a Diadorim; ficou sendo para Otacília, por mimo; e hoje ela se possui é em mão de minha mulher! Ou conto mal? Reconto. [...]”

(Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas)

Poema em prosa

Também é possível escrever poemas sem utilizar a quebra em versos. São chamados poemas em prosa, nos quais predomina a função poética, e são textos menores do que os da prosa poética. Veja um exemplo:

Pousada

Você sofria de amor, quem não via? Casta e recatada como a ilha em face da pousada, você lia, você sofria, você amava. Ou quem sabe nem amava mais, tão exausta andava, mal caminhando até a praia. Com o mar a morrer-lhe aos pés, você não lia, não sofria, não amava. Você pousava.

(Airton Paschoa, Nove poemas em prosa)

Publicado por Luiza Brandino

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