Terceira geração do romantismo
A terceira geração do romantismo brasileiro é comprometida com uma poesia socialmente engajada. As obras dos autores dessa geração são pré-realistas, apresentam crítica social e, em alguns momentos, são abolicionistas. Essa geração é composta por poetas como Castro Alves (Os escravos), Sousândrade (O guesa errante) e Tobias Barreto (Dias e noites).
Leia também: Segunda geração do romantismo — características, autores e obras
Resumo sobre terceira geração do romantismo
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A terceira geração do romantismo brasileiro é uma geração de poetas comprometidos com questões sociais.
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As obras dessa geração apresentam crítica sociopolítica, visão abolicionista e aspecto realista.
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Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto são autores da terceira geração do romantismo brasileiro.
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O livro Os escravos, de Castro Alves, e O guesa errante, de Sousândrade, são as principais obras dessa geração romântica.
Videoaula sobre a terceira geração do romantismo
O que foi a terceira geração do romantismo?
A terceira geração do romantismo brasileiro foi uma geração de poetas românticos comprometidos intelectual e artisticamente com questões sociais. Tais poetas são pré-realistas, pois fazem uma poesia com elementos realistas e, ao mesmo tempo, elementos românticos.
Ao tratarem de questões sociais, suas obras se aproximam do estilo realista, que vai ser inaugurado no Brasil em 1881. No entanto, elas não apresentam a objetividade realista, mas sim a subjetividade romântica, isto é, o excesso de sentimento e a valorização das emoções. É realista também a forma como o poeta trata a temática amorosa, ou seja, o amor é mais sexualizado e menos idealizado.
Portanto, a terceira geração, que esteve em evidência entre os anos de 1870 e 1881, produziu poesias que têm elementos de transição entre o romantismo e o realismo brasileiros. Tal poesia é conhecida como social, sendo essa a sua principal característica. Além disso, é marcante o engajamento dos poetas na causa abolicionista.
Para convencer o leitor a combater a escravidão, o poeta se utiliza de recursos como vocativos (que criam intimidade entre o eu lírico e o leitor), exclamações (as quais marcam a intensidade das emoções), além de imagens hiperbólicas, ou seja, exageradas e marcantes, para impressionar o leitor.
Os poetas da terceira geração receberam forte influência do escritor romântico francês Victor Hugo (1802-1885), o qual valorizava temáticas sociais. Na França, Hugo elegeu a águia como símbolo de liberdade. Já no Brasil, por ser uma ave do continente americano, o condor foi escolhido pela terceira geração romântica para simbolizar a liberdade. Portanto, também é chamada de hugoana ou condoreira.
Veja também: Castro Alves — o “poeta dos escravos”
Características da terceira geração do romantismo
A poesia da terceira geração tem estas características:
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elementos pré-realistas;
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realismo social;
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crítica sociopolítica;
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caráter abolicionista;
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exaltação da liberdade;
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subjetividade;
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valorização das emoções;
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presença de vocativos;
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exclamação abundante;
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uso recorrente de hipérboles;
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tema do amor carnal.
Autores da terceira geração do romantismo
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Sousândrade (1832-1902) — Maranhão
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Tobias Barreto (1839-1889) — Sergipe
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Castro Alves (1847-1871) — Bahia
Obras da terceira geração do romantismo
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Espumas flutuantes (1870), de Castro Alves.
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Dias e noites (1881), de Tobias Barreto.
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Os escravos (1883), de Castro Alves.
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O guesa errante (1884), de Sousândrade.
Poemas da terceira geração do romantismo
→ Vozes da África, de Castro Alves
É do livro Os escravos, de Castro Alves, o famoso poema “Vozes d’África”. Nele, o eu lírico, a própria África, invoca Deus em busca de paz:
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé!...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...[...]
Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes
Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.Por tenda tem os cimos do Himalaia...
Ganges amoroso beija a praia
Coberta de corais ...
A brisa de Misora o céu inflama;
E ela dorme nos templos do Deus Brama,
— Pagodes colossais..A Europa é sempre Europa, a gloriosa! ...
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista — corta o mármor de Carrara;
Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã! ...[...]
Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
Se choro... bebe o pranto a areia ardente;
talvez... pra que meu pranto, ó Deus clemente!
Não descubras no chão...E nem tenho uma sombra de floresta...
Para cobrir-me nem um templo resta
No solo abrasador...
Quando subo às Pirâmides do Egito
Embalde aos quatro céus chorando grito:
“Abriga-me, Senhor!...”[...]
Vi a ciência desertar do Egito...
Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
Trilho de perdição.
Depois vi minha prole desgraçada
Pelas garras d’Europa — arrebatada —
Amestrado falcão!...[...]
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão pra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...CASTRO ALVES. Os escravos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000009.pdf.
→ A escravidão, de Tobias Barreto
É do livro Dias e noites, de Tobias Barreto, o poema “A escravidão”. Nele, o eu lírico diz que, se Deus permite a existência do crime da escravidão e, assim, envergonha seus anjos, a juventude, praticando a caridade, deve corrigir o erro de Deus. Conclui-se que cabe à nova geração acabar com a escravidão:
Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.Se não lhe importa o escravo,
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...BARRETO, Tobias. Dias e noites. Rio de Janeiro: Imprensa Industrial, 1881.
→ O guesa, de Sousândrade
No seguinte trecho do Canto II, de O guesa errante, de Sousândrade, é possível observar uma visão realista (não idealizada) da vida indígena no continente americano:
Oh! como as noites de Manaus são tristes
Às cismas na soidão dos infelizes!
Quando tu, esperança, não existes
Com teu belo horizonte de matizes,
Saudade minha... — Estão, densa a ribeira,
Fogueiras longe os índios acendendo;
Ruge ao lado, dos grêmios da palmeira,
A rã selvagem, maracá tremendo
Das mãos d’ignoto piaga ali detido
Ante os destinos seus, da tribo extinta
Do egoísmo ao contato, co’o gemido
Que geme o índio inocente, e a dor lhe pinta.
[...]
SOUSÂNDRADE. O guesa. Organização de Luiza Lobo. Rio de Janeiro/ São Luís do Maranhão: Ponteio/ Academia Maranhense de Letras, 2012.
Contexto histórico da terceira geração do romantismo
A poesia da terceira geração do romantismo brasileiro está situada no período de 1870 a 1881. Assim, pertence ao contexto histórico do Segundo Reinado (1840-1889), marcado pela regência de D. Pedro II (1825-1891). Acontecimentos importantes que influenciaram a terceira geração:
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promulgação da lei Eusébio de Queirós (1850);
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Guerra do Paraguai (1864-1870);
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promulgação da lei do Ventre Livre (1871).
As leis que beneficiavam as pessoas escravizadas foram resultadas do movimento abolicionista. Já a Guerra do Paraguai foi responsável pelo endividamento do país e enfraquecimento da monarquia brasileira. Nesse contexto, os poetas da terceira geração se debruçaram sobre a realidade social brasileira, deixando de lado a idealização romântica.
Saiba mais: Indianismo — uma corrente literária do romantismo brasileiro
Exercícios resolvidos sobre a terceira geração do romantismo
Questão 1
Mater dolorosa
Meu filho, dorme, dorme o sono eterno
No berço imenso, que se chama — o céu.
Pede às estrelas um olhar materno,
Um seio quente, como o seio meu.
Ai! borboleta, na gentil crisálida,
As asas de ouro vais além abrir.
Ai! rosa branca no matiz tão pálida,
Longe, tão longe vais de mim florir.
Meu filho, dorme como ruge o norte
Nas folhas secas do sombrio chão!
Folha dest’alma como dar-te à sorte?
É tredo, horrível o feral tufão!
Não me maldigas... Num amor sem termo
Bebi a força de matar-te a mim
Viva eu cativa a soluçar num ermo
Filho, sê livre... Sou feliz assim...
— Ave — te espera da lufada o açoite,
— Estrela — guia-te uma luz falaz.
— Aurora minha — só te aguarda a noite,
— Pobre inocente — já maldito estás.
Perdão, meu filho... se matar-te é crime
Deus me perdoa... me perdoa já.
A fera enchente quebraria o vime...
Velem-te os anjos e te cuidem lá.
Meu filho dorme... dorme o sono eterno
No berço imenso, que se chama o céu.
Pede às estrelas um olhar materno,
Um seio quente, como o seio meu.
CASTRO ALVES. Os escravos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000009.pdf.
Sobre o poema de Castro Alves, é correto afirmar:
A) Apresenta a morbidez típica da terceira geração do Romantismo.
B) Indiretamente, realiza dura crítica à realidade da escravidão.
C) Condena, explicitamente, o infanticídio de crianças negras.
D) Possui caráter indianista, pois apresenta a realidade indígena.
E) A vassalagem amorosa situa-o na terceira fase romântica.
Resolução: Alternativa B.
Ao mostrar uma mãe que, em um ato de amor, matou o filho para ele ser livre em vez de escravizado, o eu lírico faz uma crítica indireta à escravidão, já que evidencia uma consequência dessa prática desumana.
Questão 2
Marque V (verdadeiro) ou F (falso) para as seguintes afirmações:
( ) Álvares de Azevedo é um poeta da terceira geração romântica.
( ) A terceira geração é ultrarromântica e marcada pela alienação.
( ) Um tema da terceira geração romântica brasileira é a escravidão.
A sequência correta é:
A) V, V, V.
B) F, F, V.
C) V, V, F.
D) F, V, F.
E) V, F, V.
Resolução: Alternativa B.
Álvares de Azevedo é um poeta da segunda geração romântica, a qual é ultrarromântica. A terceira geração é politicamente engajada e trata de temas como a escravidão.
Créditos das imagens
[1] Editora Ciranda Cultural (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
LEMOS, Wagner. Sergipe entre Literatura & História: coletânea de artigos. Aracaju: SEDUC, 2021.