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Funções da linguagem

As funções da linguagem são os papéis que a linguagem cumpre enquanto instrumento de comunicação entre dois ou mais indivíduos. Essa comunicação pode ser feita de maneiras particulares, dependendo do tipo de efeito que o remetente (isto é, quem produz um enunciado) quer passar na mensagem para o destinatário (quem recebe o enunciado).

As funções da linguagem são:

  • função referencial;
  • função poética;
  • função fática;
  • função conativa;
  • função emotiva;
  • função metalinguística.
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Leia também: Figuras de linguagem – recursos expressivos que desviam da denotação

Elementos da comunicação

As funções da linguagem estão intimamente relacionadas com a comunicação e seus efeitos de sentido, já que cada elemento da comunicação está associado a uma função da linguagem. Dessa forma, não é recomendável estudá-las sem antes abordar tais elementos comunicativos.

O processo de comunicação envolve alguns elementos para que se estabeleça. O linguista Roman Jakobson teorizou que, para a comunicação ocorrer, é necessário que um remetente (ou emissor) envie uma mensagem a um destinatário (ou receptor), dentro de um contexto (ou referente), por meio de um código passado via contato (ou canal). Veja o infográfico a seguir, que traz todos os elementos da comunicação preconizados por Jakobson:

  • Remetente/Emissor: é quem produz o enunciado e emite a mensagem para estabelecer a comunicação.
  • Destinatário/Receptor: é quem recebe o enunciado emitido pelo remetente.
  • Mensagem: é o enunciado em si, o que foi comunicado pelo emissor ao receptor.
  • Contexto: é o assunto do enunciado, indicando seu significado. Pelo contexto, os interlocutores terão maior clareza sobre a mensagem.
  • Contato: é o canal através do qual se estabelece a comunicação.
  • Código: é o sistema seguido pelos interlocutores para estabelecer a comunicação.

Dessa forma, Jakobson estabelece que a linguagem apresenta seis funções, definidas com base no elemento que predomina no enunciado.

Função referencial ou denotativa

Quando o enunciado se centra no contexto, dizemos que a linguagem possui função referencial ou denotativa. Nesse caso, o emissor transmite a mensagem da maneira mais realista e objetiva possível. Costuma ser a função predominante em notícias de jornais e em artigos científicos. Veja um exemplo|1|:

Taxa oficial de desmatamento é 42% maior do que apontava sistema de alertas do Inpe

A taxa oficial de desmatamento na Amazônia Legal divulgada nesta segunda-feira (18) é 42,8% maior do que os números já divulgados antes nos alertas de desmate.

A comparação leva em conta dois sistemas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): os dados mais recentes são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), que é divulgado uma vez por ano e verificou área de 9.762 km² desmatados entre agosto de 2018 e julho de 2019.


Nesse exemplo, a notícia é descrita do modo mais objetivo possível, com pouca ou nenhuma impressão pessoal do emissor. Trata-se de uma comunicação que apresenta dados e veicula informações, portanto, está focada no contexto. Para aprofundar-se nas características e usos dessa função da linguagem, acesse: Função referencial.

Função poética

Na função poética, o enunciado centra-se na mensagem. Significa que há muito mais preocupação estética e nos efeitos que a mensagem pode causar. Por isso mesmo, costuma ser um enunciado que pode gerar muitas interpretações pessoais. Tende a ser a função predominante em poemas, músicas, quadros e obras artísticas em geral. A seguir, um exemplo:

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

(Cecília Meireles)

O poema é escrito em versos e, em muitos casos, apresenta rimas ou um jogo de sons entre as palavras. Por isso, a forma é um elemento muito importante para esse tipo de comunicação, já que influencia de modo mais explícito a mensagem que se passa. A fim de aprofundar-se nessa função da linguagem, conferindo mais exemplos, leia: Função poética.

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Função fática

Quando o enunciado se centra no contato (ou no canal), dizemos que a linguagem possui função fática. Nesse caso, a mensagem está sempre voltada para o contato em si, a fim de certificar-se de que o canal está aberto, funcionando eficientemente, e de prolongar a comunicação. Costuma estar presente em determinados momentos de ligações telefônicas ou contatos por escrito (cartas e e-mails), além de algumas construções orais. Veja o exemplo:

“Alô? Alô, você está me ouvindo?”

Nesse caso, a mensagem do emissor ao receptor está completamente associada ao canal através do qual estão falando (o telefone). Observe o próximo exemplo:

“Pergunta rápida: você está lendo este texto na tela do seu smartphone? Se a resposta for sim, você certamente não é uma exceção.”|2|

No exemplo, a mensagem torna-se fática quando o emissor pergunta através de qual canal o receptor está acessando a mensagem. Para obter mais detalhes sobre essa modalidade, acesse: Função fática.

Função conativa ou apelativa

Se o enunciado centra-se no receptor da mensagem, a linguagem possui função conativa (ou apelativa). Aqui, o enunciado procura estabelecer um vínculo muito forte com o receptor, chamando sua atenção. Por isso, muitas vezes é um enunciado na 2ª pessoa. Essa função está fortemente relacionada a anúncios publicitários. Observe o exemplo:

“Venha para a nossa instituição e torne-se um dos maiores pensadores do país!”

Nesse caso, a mensagem tem função conativa ao dirigir-se ao receptor e propor a ele a possibilidade de destacar-se (tornando-se “um dos maiores pensadores do país”). Vamos a outro exemplo:

“Cuide de seu corpo, pois você mora nele.”

A frase de Abílio Diniz possui função conativa, já que, além de dirigir-se diretamente ao receptor, também chama sua atenção ao estabelecer um vínculo com ele, aconselhando-o a respeito do próprio corpo. Saiba mais detalhes sobre a função de linguagem abordada acessando: Função conativa.

Função emotiva ou expressiva

A função emotiva, por outro lado, está centrada no próprio emissor. Assim sendo, costuma tratar-se de um enunciado repleto de lirismo e de subjetividade, comumente construído na 1ª pessoa. O eu-lírico mostra-se de maneira muito evidente. Costuma estar presente em diários e em obras artísticas narradas em 1ª pessoa ou baseadas na autorrepresentação.

Leia o exemplo a seguir, retirado do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus (chamamos atenção para o fato de que a escrita foge à norma padrão da língua portuguesa):

“Fiquei pensando que precisava comprar pão, sabão e leite para a Vera Eunice. E os 13 cruzeiros não dava! Cheguei em casa, aliás no meu barracão, nervosa e exausta. Pensei na vida atribulada que eu levo. Cato papel, lavo roupa para dois jovens, permaneço na rua o dia todo. E estou sempre em falta.”

No trecho, retirado do diário de Carolina Maria de Jesus, predomina a função emotiva, visto que está em 1ª pessoa e expressa a subjetividade da autora, com seus pensamentos e sentimentos.

Vejamos outro exemplo|3|:

“Só sei que é difícil acreditar que esse cara seja um engenheiro civil de gabarito, que cava estradas no Acre. Vocês, que são vizinhos de porta, já devem ter ouvido essa história da dona Vera, ela conta até pelos corredores.”

O excerto foi retirado do livro Acre, de Lucrecia Zappi. No trecho também há predomínio da função emotiva, visto que está em 1ª pessoa e apresenta o ponto de vista da personagem Oscar, que é o narrador-personagem da obra de Lucrecia. Temos suas impressões e reflexões a respeito de alguém. Para aprofundar-se mais nesse tema, leia: Função emotiva.

Função metalinguística

Quando o código é que se mostra o centro do enunciado, trata-se da função metalinguística. Como o próprio nome diz, o enunciado foca o código por meio do qual se estabelece a mensagem, citando-o e/ou descrevendo-o explicitamente. Está presente sempre que o código é explicitado de alguma forma.

Leia o trecho seguinte de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em que o narrador escreve sobre o próprio processo de escrita do livro:

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”

O conhecimento das funções da linguagem proporciona uma comunicação mais eficiente, conforme o objetivo do locutor.
O conhecimento das funções da linguagem proporciona uma comunicação mais eficiente, conforme o objetivo do locutor.

Exercícios resolvidos

Questão 1

(Copeve-Ufal 2018)

Cotovia

Alô, cotovia!

Aonde voaste,

Por onde andaste,

Que saudades me deixaste?

– Andei onde deu o vento.

Onde foi meu pensamento

Em sítios, que nunca viste,

De um país que não existe…

Voltei, te trouxe a alegria.

(Fonte: Os melhores poemas de Manuel Bandeira. SP: Global, 1994. p. 130.)

Em cada mensagem, pode-se encontrar elementos correspondentes a diferentes funções da linguagem. Pela estrutura linguística, marcada tanto pelas formas verbais e pronominais quanto pelo emprego de figuras de linguagem, na estrofe predominam as funções da linguagem:

a) apelativa e fática, centradas no receptor e no contato.

b) emotiva e poética, centradas no emissor e na mensagem.

c) referencial e apelativa, centradas no contexto e no contato.

d) emotiva e metalinguística, centradas no emissor e no código.

e) poética e referencial, centradas na mensagem e no contexto.

Resolução

Alternativa b, pois o poema é construído de modo a expressar a voz do eu-lírico (função emotiva) e pautado na lógica da métrica e da rima (função poética).

Questão 2

(Enem 2018)

A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo

Resumo: Este artigo tem por finalidade discutir a representação da população negra, especialmente da mulher negra, em imagens de produtos de beleza presentes em comércios do nordeste goiano. Evidencia-se que a presença de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um imaginário racista apresentado sob a forma de uma estética racista que camufla a exclusão e normaliza a inferiorização sofrida pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira. A análise do material imagético aponta a desvalorização estética do negro, especialmente da mulher negra, e a idealização da beleza e do branqueamento a serem alcançados por meio do uso dos produtos apresentados. O discurso midiático-publicitário dos produtos de beleza rememora e legitima a prática de uma ética racista construída e atuante no cotidiano. Frente a essa discussão, sugere-se que o trabalho antirracismo, feito nos diversos espaços sociais, considere o uso de estratégias para uma “descolonização estética” que empodere os sujeitos negros por meio de sua valorização estética e protagonismo na construção de uma ética da diversidade.

Palavras-chave: Estética, racismo, mídia, educação, diversidade.

(SANT’ANA, J. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo. Dossiê: trabalho e educação básica. Margens Interdisciplinar. Versão digital. Abaetetuba, n. 16, jun. 2017 (adaptado).)

O cumprimento da função referencial da linguagem é uma marca característica do gênero resumo de artigo acadêmico. Na estrutura desse texto, essa função é estabelecida pela

a) impessoalidade, na organização da objetividade das informações, como em “Este artigo tem por finalidade” e “Evidencia-se”.

b) seleção lexical, no desenvolvimento sequencial do texto, como em “imaginário racista” e “estética do negro”.

c) metaforização, relativa à construção dos sentidos figurados, como nas expressões “descolonização estética” e “discurso midiático-publicitário”.

d) nominalização, produzida por meio de processos derivacionais na formação de palavras, como “inferiorização” e “desvalorização”.

e) adjetivação, organizada para criar uma terminologia antirracista, como em “ética da diversidade” e “descolonização estética”.

Resolução

Alternativa a, pois a função referencial é caracterizada pela expressão objetiva e imparcial no enunciado, sendo o mais impessoal possível.

Notas

|1|Fonte:https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/11/18/taxa-oficial-de-desmatamento-e-42percent-maior-do-que-apontava-sistema-de-alertas-do-inpe.ghtml

|2| Fonte: https://catracalivre.com.br/equilibre-se/como-controlar-o-seu-vicio-em-smartphone/

|3| ZAPPI, Lucrecia. Acre. São Paulo: Todavia, 2017.

Publicado por Guilherme Viana
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