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Friedrich Engels

Friedrich Engels, filósofo alemão, foi o principal colaborador de Karl Marx e um dos idealizadores do socialismo científico. Sua obra é vasta e profunda, contemplando uma análise econômica da história e a organização social de vários países europeus, como Inglaterra, Alemanha, França e Rússia. Também analisou as guerras sob uma perspectiva econômica, bem como a cosmovisão cristã aplicada a levantes camponeses por sociedades igualitárias.

A obra de Engels dificilmente pode ser dissociada da obra de Marx e seu papel na teorização do marxismo não foi secundário, mas fundamental. Além de estudar, observar, levantar dados, fazer análises e produzir artigos e livros, Engels foi um militante político pela organização do proletariado europeu e pela propagação das ideias marxistas. Participou da formação da Liga dos Justos, da Liga Comunista, da Primeira Internacional Socialista e do Partido Social-Democrata Alemão.

Engels não era reformista, mas revolucionário. Propunha mais que uma revolução política de viés particularista e ambicionava uma revolução social, de viés totalizante, abrangente, que lançasse as bases sociais para uma sociedade sem divisão de classes.

Friedrich Engels, principal colaborador de Marx, em 1836.
Friedrich Engels, principal colaborador de Marx, em 1836.

Biografia de Engels

Friedrich Engels nasceu em Barmen, então Prússia, pertencente ao reino da Alemanha, em 28 de novembro de 1820. Era o primogênito de nove filhos de um rico industrial. Sua família era protestante e adepta de visões liberais.

Na juventude foi trabalhar no escritório de uma empresa de exportação em Bremen, onde morou por três anos. Ali entrou em contato com a rotina dos trabalhadores e impressionou-se com as condições precárias em que trabalhavam e com a miséria em que viviam. Participou de um grupo que estudava a filosofia de Hegel, denominado Jovens Hegelianos, e que tinha uma inclinação política de esquerda. Teve contato também com os Jovens Alemães, grupo de escritores revolucionários, dentre eles o poeta Heinrich Hine.

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Engels passou a escrever artigos para jornais sob o pseudônimo Friedrich Oswald, o que facilitou seu ingresso no círculo hegeliano de Berlim, onde, em 1841, passaria a estudar Filosofia na Universidade de Berlim. Nessa cidade, entre 1841 e 1842, foi voluntário num regimento de artilharia. Após isso, foi enviado por seu pai a Manchester, Inglaterra, para trabalhar numa fábrica de linhas de costura, chegando, por um tempo, a assumir a direção da fábrica.

Nesse período conheceu Mary Burns, operária irlandesa e militante política com quem se relacionou até a morte dela (1863), porém não se casaram formalmente por conta das convicções antiburguesas. Suas vivências e estudos desse período embasaram sua primeira obra publicada em 1845: A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra.

Em 1844 iniciou uma amizade com Karl Marx na capital francesa, Paris. Ambos eram da Prússia Renana, estudiosos de Hegel e de inclinação política à esquerda. Juntos desenvolveram atuação política, bem como estudos, teorias e obras, sendo a principal delas O Manifesto Comunista (1848), que fornecia ao proletariado um projeto político que o orientasse a se organizar e agir de modo a modificar sua condição de vida e trabalho.

Nesse ano, um movimento revolucionário iniciou-se na Franca e espalhou-se pela Europa, porém fracassou, o que levou Engels a exilar-se de seu país natal. Morou na Itália, Suíça e Inglaterra, onde assumiu a direção da empresa têxtil de sua família e colaborou ostensivamente com Marx na estruturação e propagação do movimento comunista. Em 1863, sua companheira, Mary Burns, faleceu e ele passou a se relacionar com sua irmã, Lydia Burns, conhecida como Lizzie, com quem se casou em 1878 horas antes de sua morte.

Em 1878 Engels decidiu abrir mão de suas atividades na empresa familiar e dedicar-se exclusivamente à difusão do comunismo por meio de artigos em jornais e revistas, assim como na aproximação de dirigentes socialistas notórios nos diversos países europeus. Foi um dos criadores da Associação Internacional dos Trabalhadores. Após a morte de Marx, em 1883, Engels finalizou e publicou o segundo e o terceiro volumes da obra mais importante de Marx, O Capital.

Ao contrário do que se pensa, Engels não teve um papel coadjuvante na elaboração do marxismo. Algumas das obras que escreveu sozinho foram cruciais para o desenvolvimento da teoria marxista, tais como Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico e A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Faleceu em 5 de agosto de 1895, em Londres, Inglaterra.

Leia também: Marxismo – a doutrina política elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels

Teoria de Friedrich Engels

Em 1844, Engels escreveu o artigo Esboço de uma Crítica da Economia Política, em que já lançava as bases de uma análise econômica da estrutura da sociedade. Esse artigo impressionou Karl Marx e foi um dos responsáveis pela aproximação entre os dois.

Em seu primeiro livro, A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, Engels descreve e analisa a configuração espacial de cidades inglesas, apontando sua diferenciação territorial conforme classes, ofício e nacionalidade, bem como a incidência de violência policial e condições precárias de moradia e mobilidade nos locais majoritariamente ocupados pela classe trabalhadora. Em suma, é uma análise da situação do proletariado inglês, baseada em observações pessoais, em leituras da bibliografia disponível sobre o assunto e na consulta a documentos oficiais.

Além disso, avaliou a poluição de ruas, do ar, dos rios e abordou a opressão a que as mulheres eram submetidas pelos homens, ideia que foi mais bem trabalhada posteriormente no livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Para ele, o Estado não é provido de uma moral, mas é uma força externa à sociedade que se impõe sobre ela a fim de avalizar a dominação de uma pequena classe sobre a grande maioria, portanto não há conciliação de interesses, mas a proteção da manutenção do poder de uma classe por outra e, portanto, a reprodução da desigualdade social.

Engels também abordou a questão da religiosidade, desenvolvida em seu livro A Guerra dos Camponeses na Alemanha. Ele enxergou no teólogo Thomas Munzer, que liderou camponeses revolucionários no século XVI, alguém que tentou estabelecer concretamente o “reino de Deus” ao lutar por uma sociedade sem propriedade privada e distinção de classe. Também estabeleceu um paralelo entre o cristianismo primitivo e o socialismo. Estudou o militarismo, o contexto de surgimento, as características peculiares e o papel de questões econômicas e políticas em conflitos armados e instituições militares na obra O Papel da Violência na História e em inúmeros artigos.

Monumento a Marx e Engels em Berlim, na Alemanha. [1]
Monumento a Marx e Engels em Berlim, na Alemanha. [1]

Engels e Marx conceberam a teoria que ficou conhecida como marxismo, uma análise econômica da sociedade capitalista e do conflito entre classes como vetor de mudança social. O marxismo concebe a história e a sociedade a partir das condições materiais de existência e da luta de classes. Os pensadores utilizaram como método o materialismo histórico e dialético para analisar as formações econômicas e as relações sociais nas sociedades pré-capitalistas, o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, a exploração do proletariado e a necessidade de organização política da classe operária, bem como estratégias revolucionárias.

Nesse conflito de classes que se desenrola, um grupo social pequeno – por eles chamado de burguesia – apropria-se do lucro (produção excedente), que é fruto do trabalho de um grupo social maior, denominado de proletariado. Essa dominação é assegurada pelo Estado, portanto o caminho da revolução passaria por um Estado que subvertesse essa relação de domínio e criasse condições necessárias para que o Estado em si se tornasse desnecessário.

A luta de classes realizada pelo proletariado a partir de sua tomada de consciência e organização política levaria à superação do capitalismo, à construção do socialismo e, por fim, à constituição de uma sociedade sem classes, o comunismo. Na sociedade ideal preconizada pelo marxismo, ou socialismo científico, não haveria diferença entre classes e o princípio norteador da divisão das riquezas produzidas seria: “de cada qual, segundo a sua capacidade, cada qual, segundo suas necessidades”.

Leia também: Socialismo e comunismo, existem diferenças?

Principais obras

Obras de sua autoria:

  • A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (1845);

  • Princípios Básicos do Comunismo (1847);

  • As Guerras Camponesas na Alemanha (1850);

  • Revolução e Contra-Revolução na Alemanha (1852);

  • Sobre a Questão da Moradia (1873);

  • Do Social na Rússia (1875);

  • Anti-Dühring (1878);

  • Dialética da Natureza (1872 – 1882);

  • Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico (1880);

  • A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884);

  • Para a História da Liga dos Comunistas (1885);

  • Ludwig Feurbach e o fim da filosofia Clássica alemã (1886);

  • O Socialismo Jurídico (1887);

  • O Papel da Violência na História (1888);

  • Contribuição para a História do Cristianismo Primitivo (1995).

Friedrich Engels completou os volumes II e III da obra “O Capital”, após a morte de Marx.
Friedrich Engels completou os volumes II e III da obra “O Capital”, após a morte de Marx.

Obras escritas em parceria com Marx:

  • A Sagrada Família (1845);

  • A Ideologia Alemã (1846);

  • O Manifesto Comunista (1848);

  • Luta de Classes na Alemanha (1844-1850);

  • Luta de Classes na Rússia (1875-1894).

Veja também: Totalitarismo: a centralização de toda forma de atuação estatal

Frases de Engels

“Os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham”.

“Um grama de ação vale mais do que uma tonelada de teoria”.

“O livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”.

“Nada ocorre na natureza de forma isolada. Cada fenômeno afeta outro e é, por seu turno, influenciado por este”.

“Não pode ser livre um povo que oprime outros povos”.

“O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria no interesse da imensa maioria”.

“O Estado moderno nada mais é que um comitê que administra os problemas da classe burguesa”.

“Como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, nasceu em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante, classe que, por intermédio dele, se converte também em classe politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida”.

“Quando for possível falar de liberdade, o Estado como tal deixará de existir”.

Créditos das imagens:

|1| Olesya Baron / Shutterstock.com

Publicado por Milka de Oliveira Rezende

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