Simpatias de São João
As simpatias de São João são uma parte importante das Festas Juninas. Na noite do dia 23 e no dia 24 de junho, era comum (e ainda é, a depender da região) nos sertões brasileiros realizar uma série de simpatias, aproveitando o dia da festa de São João. A maior parte dessas simpatias era de adivinhação, principalmente relacionada com o casamento.
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Algumas simpatias de São João
A seguir, veja algumas simpatias de São João.
→ Adivinhações relacionadas com a fogueira
A fogueira é um dos elementos de mais destaque nas Festas Juninas e tem especial ligação com o Dia de São João, pois acredita-se que foi por meio de uma grande fogueira acesa que sua mãe, Isabel, avisou Maria (mãe de Jesus) que o filho tinha nascido.
Muitos folcloristas brasileiros documentaram as práticas adivinhatórias relacionadas com a fogueira na noite do dia 23 para o dia 24 de junho. Entre esses folcloristas, está Câmara Cascudo, que, em seu livro Superstições no Brasil, diz o seguinte:
Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dadas no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentado terá de esperar pelo casamento.|1|
Além dessa simpatia do anel, há outra que acrescenta ovos à água, colhida pelo mesmo Câmara Cascudo, mas dessa vez retirada da obra de outro pesquisador, J. M. Cardoso de Oliveira. Diz o texto:
As moças passavam em cruz sobre as brasas copos cheios d'água, dentro dos quais quebravam ovos, e iam expô-los ao sereno: de manhã os examinariam: e conforme às posições tomadas pela clara e a gema, formando mais ou menos aproximadamente uma igreja, um navio, uma joia, significariam: casamento, viagem, riqueza, e assim por diante.|2|
Esse tipo de adivinhação remonta às antigas consultas a oráculos, como ocorria nas culturas clássicas greco-romanas, e que acabaram sobrevivendo.
→ Adivinhações relacionadas com as refeições
Além das simpatias relacionadas com a fogueira, há também registro de outras associadas às refeições, as quais, segundo Cascudo, são do tipo “que mais preocupa a mocidade em noites de São João”.|3| Uma das variações dessas simpatias está relacionada com o sonho. Veja:
Uma pequena mesa, forrada com uma toalha bem limpa, com talheres, pratos e copos para duas pessoas. Duas velas acesas à cabeceira da mesa, junto da qual fica a cama, onde deve dormir a pessoa que faz a adivinhação. O que tiver de suceder aparecerá em sonho, cujo cenário é a mesa. Quando a moça, que faz a adivinhação, tiver que se casar, aparecerá à mesa, fazendo refeição ao lado do noivo.|4|
Outra variação é narrada pelo Barão de Studart, folclorista cearense, também citado por Câmara Cascudo em Superstições no Brasil. Diz o barão:
[…] no dia de São João deve a jovem guardar um bocado de todo alimento que tomar nas diversas refeições, arranjando, assim, um pratinho é posto sobre a mesa. Indo deitar-se, sonhará a moça com o homem com que um dia se deverá unir pelo matrimônio. E verá distintamente o rosto do rapaz, de maneira a reconhecê-lo, mais tarde no seu prometido.|5|
Para Cascudo, esse tipo de adivinhação tem origem na milenar prática de oferta de alimento aos deuses, comum tanto às culturas europeias e asiáticas quanto a algumas das culturas originárias da América e da África.
→ Simpatias relacionadas com o espelho e com nomes
Outro tipo de simpatia muito comum nas festas de São João diz respeito a olhar-se no espelho à meia-noite do dia 23 de junho. Se a pessoa não ver seu reflexo, é porque morrerá antes do próximo Dia de São João. Há variações dessa simpatia com a substituição do espelho por uma bacia com água, na qual a pessoa deve tentar ver sua imagem à luz das chamas da fogueira.
Há também a simpatia feita para que se descubra o primeiro nome do homem com que a moça deverá casar-se. Diz Cascudo que:
Põe-se água na boca por detrás duma porta. Ou numa janela. O primeiro nome de homem que for ouvido é justamente o nome do futuro marido. Coloca-se moeda da fogueira e pela manhã, retirando-a do braseiro dá-se de esmola ao primeiro pedinte. Pergunta-se o nome. Coincidirá com o do futuro noivo.|6|
Nessa prática de querer saber o nome do marido, Câmara Cascudo enxerga reminiscências do culto antigo ao deus Hermes, o deus mensageiro dos gregos, como fica explicado na passagem abaixo:
Ter as vozes da rua como resposta a uma consulta feita mentalmente é uma reminiscência do oráculo do deus Hermes em Acaia. Consultavam ao deus, com muitas orações, e dizia-se a pergunta ao ouvido do ídolo. Depois o consulente cobria a cabeça com um manto e deixava o templo. No adro, retirava o manto da cabeça e as primeiras palavras que ouvisse era a resposta de Hermes, a solução enviada pelo deus nas vozes do acaso.|7|
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Quem é São João?
São João Batista é um dos santos mais prestigiados das Festas Juninas, ao lado de Santo Antônio de Pádua, de São Pedro e de São Paulo.
João Batista, como é narrado nos Evangelhos, era um pregador do deserto que batizava as pessoas às margens do rio Jordão e foi o responsável por anunciar a vinda de Jesus Cristo como o salvador da humanidade.
As histórias relacionadas com São João há muito tempo fazem parte da cultura popular católica, e muito elementos delas se encontram nas Festas Juninas, em especial no dia reservado para festejar esse santo: 24 de junho. Para saber mais sobre São João, clique aqui.
Notas
|1|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 148
|2|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 149-150
|3|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 151
|4|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 151
|5|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 151
|6|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 153
|7|CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985. p. 153
Fonte
CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed, USP, 1985.