Angela Davis

Angela Davis é uma professora universitária, marxista, militante política e ícone do movimento negro e feminista dos Estados Unidos.
Atualmente, Angela Davis palestra em diversos países do mundo. [3]

Angela Davis é uma professora universitária, militante política e figura icônica dos movimentos negro e feminista. Ela nasceu na década de 1940, no Alabama, em um período em que o racismo e a segregação eram legitimados por lei nos Estados Unidos e onde grupos supremacistas, como a Ku Klux Klan, praticavam diversos atentados contra a população negra.

Desde a infância Angela Davis teve contato com as ideias marxistas e passou a militar em movimentos ligados ao Partido Comunista. Após um atentado a bomba da Ku Klux Klan em sua cidade, em 1963, Angela passou a ser militante ativa dos direitos civis, produzindo obras relacionadas ao racismo, ao sexismo e sobre o sistema prisional norte-americano.

Em 1970 se viu envolvida em um longo processo judicial no qual foi acusada de sequestro e de assassinato. O julgamento ganhou repercussão mundial, e Angela acabou sendo absolvida pelo júri. Foi professora universitária até 2008, atualmente ela ministra palestras em diversos países.

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Resumo sobre Angela Davis

  • Angela Davis é uma professora universitária, marxista, militante política e ícone do movimento negro e feminista dos Estados Unidos.
  • Nasceu em 1944, no Alabama. Filha de pais militantes de esquerda e antirracistas.
  • Na época na qual Angela Davis nasceu estava em vigor nos Estados Unidos as leis Jim Crow.
  • Em 1969 Angela Davis passou a lecionar na Universidade da Califórnia, mas por pressão política acabou sendo demitida no ano seguinte.
  • Ela foi membro do Partido Comunista dos Estados Unidos e foi candidata à presidência do partido em duas eleições.
  • Ela foi membro dos Panteras Negras.
  • Em 1970 Angela Davis foi acusada de sequestro e assassinato. Uma das armas utilizadas nos crimes foi comprada por Angela Davis dias antes.
  • Após um longo processo midiático ela foi absolvida pelo júri e se tornou uma pessoa conhecida mundialmente.
  • Foi professora universitária de 1969 até 2008.
  • Sua obra é uma referência para diversos pesquisadores do racismo, violência de gênero e dos sistemas prisionais.

Videoaula sobre Angela Davis

Biografia de Angela Davis

Angela Yvonne Davis, conhecida popularmente como Angela Davis, nasceu em 26 de janeiro de 1944, na cidade de Birminghan, no Alabama, considerado um dos estados mais racistas dos Estados Unidos. Durante a infância ela viveu no bairro que era apelidado de “Dynamite Hill”, bairro de maioria negra que sofreu ataques a bomba praticados por membros da Ku Klux Klan.

Em 1963, o atentado a bomba na Igreja de Birminghan, cidade na qual Angela nasceu, provocou a morte de quatro crianças negras. Na véspera do atentado membros da Ku Klux Klan haviam instalado 19 bananas de dinamite em assentos da igreja com um sistema de detonação embutido nelas. Três das vítimas eram conhecidas de Angela Davis, o que marcou a vida dela e, para muitos, levou-a a entrar de cabeça no movimento pelos direitos civis.

Os pais de Angela Davis eram professores e militantes do movimento negro. Os dois eram membros de um movimento de esquerda que lutava pelo fim das leis segregacionistas dos Estados Unidos.

No ensino médio Angela participou de um intercâmbio no qual crianças negras do Sul estudavam em escolas do Norte, hospedando-se em casas de famílias brancas da região. Ela morou com uma família em Greenwich Village, em Nova Iorque. Lá ela estudou em uma escola progressista que, assim como a sua família, foi importante na formação política de Angela.

No final do ensino médio Angela ganhou uma bolsa de estudos para estudar Literatura Francesa na Brandeis University, em Massachussetts, onde foi aluna de Herbert Marcuse. Após a graduação ela estudou na Alemanha, onde se tornou Phd em Filosofia.

Ainda na década de 1960 ela fez outra pós-graduação, na Universidade da Califórnia, onde também militou no movimento negro e em grupos de esquerda. Em 1969 ela se tornou professora da Universidade da Califórnia e passou a ser perseguida pelo governador do estado, Ronald Reagan, que passou a pressionar a faculdade para a sua demissão. Angela levou seu caso para a Suprema Corte, e a universidade foi proibida de demiti-la por questões políticas. Mas, no ano seguinte, após um processo interno em que quatro discursos de Angela foram utilizados como prova, ela foi desligada da universidade.

Ainda em 1970, acontecimentos iniciados dentro de uma prisão culminaram em um grande julgamento midiático, acompanhado por grande parte da população estadunidense e que teve Angela Davis como o principal personagem dessa história.

Em 13 de janeiro de 1970 presos negros e brancos foram separados no pátio da Prisão de Soledad, na Califórnia, para o banho de sol. Uma briga se iniciou, e o oficial Opie G. Miller, que estava no alto de uma torre, passou a atirar nos presos, matando três e ferindo outro, todos eles negros.

Diversos prisioneiros passaram a realizar uma greve de fome em protesto contra os assassinatos e reivindicando que o policial que atirou fosse preso. O júri do Condado de Monterrey absolveu Miller, gerando revolta entre os detentos de Soledad que assistiam o julgamento pela televisão. Um policial da prisão, John V. Mills, foi capturado, agredido e assassinado pelos presos. Três detentos foram acusados do crime, George Lester Jackson, Fleeta Drumgo e John Wesley Clutchette.

Movimentos de esquerda e dos direitos civis iniciaram uma série de protestos em defesa dos Irmãos Soledad, forma pela qual os três réus passaram a ser conhecidos. O movimento alegava que os três foram levados a julgamento por questões políticas, uma vez que eram de esquerda, e que não existiam provas de que eles participaram do assassinato do policial.

Angela Davis em manifestação em apoio aos Irmãos Soledad, em 1970. [2]

Em 7 de agosto de 1970, o irmão de George Jackson, Jonhatan Jackson, invadiu o tribunal do Condado de Marin fortemente armado, libertou e armou o réu James McClain e outros dois presos que estavam no tribunal como testemunhas. O grupo fez refém o juiz Harold Haley, o promotor Gary Thomas e três jurados. Na tentativa de fuga, Jackson e McClain foram mortos, assim como o juiz Harold Haley, morto por um tiro de espingarda na cabeça e de um disparo de .357 no peito. A espingarda foi comprada em nome de Angela, dois dias antes do ataque.

Angela Davis foi acusada de sequestro agravado e homicídio em primeiro grau pela morte do juiz, passando a ser procurada pela polícia a partir de 14 de agosto de 1970. Ela entrou para a lista dos dez fugitivos mais procurados do país quatro dias depois.

Durante dois meses Angela Davis trocou de esconderijo diversas vezes, geralmente casas de amigos ou de membros dos grupos dos quais militava, mas acabou sendo presa por agentes do FBI em 13 de outubro. O presidente Richard M. Nixon elogiou a equipe que prendeu Angela Davis, afirmando que eles haviam prendido “uma perigosa terrorista”.

A prisão de Angela Davis e seu julgamento levaram à criação de uma vasta rede de apoio a ela que contou com diversos movimentos sociais e o apoio de artistas e intelectuais, entre eles Marlon Brando e Noam Chomsky. Na época, John Lennon e Yoko Ono gravaram a música “Angela”, em que a chamaram de “irmã”.

Em fevereiro de 1972 a justiça permitiu que Angela fosse solta mediante o pagamento de uma fiança de 100 mil dólares. A fiança foi paga por um fazendeiro branco, chamado Rodger McAfee. A Igreja Presbiteriana Unida financiou parte da defesa de Angela Davis.

Em 4 de junho de 1972 o júri do tribunal, composto apenas por pessoas brancas, declarou que Angela Davis era inocente dos crimes pelos quais foi acusada, sequestro e homicídio.

Cartaz anunciando evento de comemoração pela liberdade de Angela Davis, de 1972.

Após sua absolvição, Angela Davis passou a ministrar palestras nos Estados Unidos e em diversos países do mundo, atividade que mantém ainda hoje. Em 2024, por exemplo, ela ministrou uma palestra no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Angela também foi professora universitária, lecionando em diversas instituições, como o Instituto de Artes de São Francisco, Universidade Estadual de São Francisco e Universidade da Califórnia, onde foi professora de estudos étnicos de 1991 até 2008.

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Ideologia de Angela Davis

Angela Davis sempre uniu sua militância ao mundo acadêmico, pesquisando sobre fenômenos sociais como o racismo e o machismo. Um dos conceitos mais importantes da obra de Angela Davis é o de “interseccionalidade”, conceito que defende que diversos fatores sociais atuam sobre o indivíduo, como raça, orientação sexual, gênero, nacionalidade, entre outros. Esses fatores sociais são responsáveis pelo desenvolvimento da identidade no indivíduo, pela relação com a sociedade da qual faz parte e do acesso a direitos.

Davis também tem o que é para muitos uma proposta radical para o sistema carcerário. Na sua visão, tal sistema foi criado pelo patriarcado branco para manter o corpo de homens e mulheres considerados indesejados pelo sistema presos.

Ela defende a descriminalização do uso e porte de drogas, crimes que são responsáveis por grande parte das prisões nos Estados Unidos. Também defende uma profunda mudança no sistema judiciário, viciado em incriminar negros, e o carcerário, que foca apenas a punição do criminoso, não na sua reabilitação pessoal e social.

A luta contra o sexismo é outra importante bandeira de luta de Angela Davis, que denunciou o sexismo em diversas entidades das quais foi membro, como Panteras Negras, Partido Comunista e universidades nas quais lecionou.

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Militância de Angela Davis

Angela Davis nasceu em uma família cujos pais eram militantes de esquerda e de movimentos antirracistas. Dessa forma, desde a infância ela esteve em contato com a militância. Durante a Crise dos Mísseis, Angela Davis assistiu a um comício onde ouviu o discurso de Herbert Marcuse, que se tornou futuramente seu professor. Angela, em um programa de televisão, afirmou que foi Marcuse que mostrou que ela poderia ser uma acadêmica, estudiosa, ativista e revolucionária.

No início da década de 1960 Angela Davis passou a militar no Partido Comunista dos Estados Unidos e em grupos ligados ao partido. Ela foi candidata à vice-presidência dos Estados Unidos pelo partido nas eleições de 1980 e 1984, recebendo poucos votos.

Após estudar na Europa e retornar para os Estados Unidos, ela se aproximou de grupos dos direitos civis, principalmente do Panteras Negras. No início da década de 1970, após seu julgamento, tornou-se uma figura conhecida mundialmente e aproveitou essa popularidade para difundir seus ideais e continuar sua militância.

Angela também foi uma militante na sala de aula, formando centenas de estudantes universitários desde o final da década de 1960. Ainda hoje, através de suas palestras, muitas delas em universidades, ela continua sua militância, transformando a vida de muitas pessoas.

Importância de Angela Davis na história

Angela Davis é um ícone do movimento negro e do movimento feminista, por sua história, produção literária e acadêmica e militância política.

Ela foi uma das figuras de destaque na luta pelos direitos civis na década de 1960, ao lado de Martin Luther King Jr., de Malcolm X e tantos outros. Graças à luta de Angela, e de todos os outros, as leis Jim Crow foram abolidas nos Estados Unidos, e o FBI passou a investigar e levar à prisão membros da Ku Klux Klan e de outros grupos supremacistas brancos.

Angela Davis também mostrou a importância da pesquisa acadêmica e da divulgação dela para o combate ao racismo, da violência de gênero e de tantas outras formas de opressão.

Obras de Angela Davis

  • Mulheres, raça e classe: considerada obra fundamental para a compreensão da opressão. Na obra Angela faz uma análise história da opressão, desde a escravidão até o período contemporâneo. Na obra ela defende o abolicionismo penal como importante instrumento para o enfrentamento do racismo institucional.
  • Estarão as prisões obsoletas?: na obra Angela Davis analisa o sistema carcerário dos Estados Unidos através de uma análise histórica. O país possui a maior população carcerária do mundo e, na obra, ela defende que o atual sistema prisional é o mesmo que foi criado na época da escravidão.
  • A liberdade é uma luta constante: é um compilado de textos e outros documentos de Davis e outros intelectuais. Na obra diversas reflexões são feitas sobre a sociedade norte-americana, sobre a escravidão e o apartheid na África do Sul.
  • Mulheres, cultura e política: a obra está organizada em três partes: “Sobre as mulheres e a busca por igualdade e paz”, “Sobre questões internacionais” e “Sobre educação e cultura”. No livro Angela aborda as mudanças políticas e sociais pelas quais o mundo passou nas últimas décadas em relação à igualdade racial, sexual e econômica, ressaltando a importância da militância nesse processo.

Legado de Angela Davis

O maior legado de Angela Davis é a sua luta contra o racismo, o sexismo, o sistema prisional e judiciário dos Estados Unidos e suas contribuições para o feminismo negro. Em 2024, aos 80 anos, Angela continua a mesma militante, defendendo suas causas em palestras que faz em diversos países do mundo, inclusive no Brasil.

Angela Davis também realizou, ao longo de mais de seis décadas, uma vasta produção acadêmica e literária, escrevendo diversos livros, artigos, desenvolvendo pesquisas, participando de debates, entrevistas e documentários. Suas obras são hoje referência para muitos pesquisadores.

Atualmente Angela Davis é um ícone de todos aqueles que lutam contra o racismo, contra o sexismo e outras formas de opressão de um ser humano sobre outro. Seu rosto é figura presente em camisetas, cartazes e bottons em muitas manifestações antirracistas, antissexistas, de ideário de esquerda e libertárias. Angela virou um símbolo de resistência, de luta, união e transformação.

Frases de Angela Davis

  • “Não estou mais aceitando as coisas que não posso mudar. Estou mudando as coisas que não posso aceitar.”
  • “Radical significa simplesmente ‘agarrar as coisas pela raiz’.”
  • “Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo.”
  • “Temos que falar sobre a libertação das mentes e também sobre a libertação da sociedade.”
  • “As prisões não fazem desaparecer problemas sociais, elas fazem desaparecer seres humanos. Falta de moradia, desemprego, dependência química, doenças mentais e analfabetismo são apenas alguns dos problemas que desaparecem da vista do público quando os seres humanos que os enfrentam são relegados a celas.”
  • “Se eles vierem atrás de mim de manhã, eles virão atrás de você à noite.”
  • “Numa sociedade racista não basta ser não racista, temos de ser antirracistas.”
  • “A prisão, portanto, funciona ideologicamente como um local abstrato no qual os indesejáveis ​​são depositados, livrando-nos da responsabilidade de pensar sobre os problemas reais que afligem as comunidades das quais os prisioneiros são retirados em números tão desproporcionais. Esse é o trabalho ideológico que a prisão realiza — ela nos livra da responsabilidade de nos envolvermos seriamente com os problemas da nossa sociedade, especialmente aqueles produzidos pelo racismo e, cada vez mais, pelo capitalismo global.”

Créditos de imagem

[1] Columbia GSAPP / Wikimedia Commons (reprodução)

[2] Ray Graham / Los Angeles Times / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Boitempo Editorial, São Paulo, 2016.

TURE, Kwane. Black Power: a política de libertação nos Estados Unidos. Editora Jandaíra, São Paulo, 2021.

Publicado por Jair Messias Ferreira Junior
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